Por Hugo Souza
A exemplo dos seus vizinhos de Península Ibérica, nomeadamente o
povo português, os espanhois vêm protagonizando nos últimos meses - a
bem da verdade, nos últimos anos - ações coordenadas de classe em
defesa dos seus direitos historicamente conquistados e do patrimônio
público nacional, no contexto da crise profunda e generalizada dos
monopólios.
Crise esta que, na Espanha, bem como em Portugal e
em outros países ora sob um arrocho sem precedentes na história do
capitalismo europeu, assume a nuance de "crise da dívida", expressão
que denota a absoluta incapacidade de os Estados conseguirem pagar suas
dívidas públicas sem a ajuda de terceiros, nomeadamente o FMI e o
Banco Central Europeu, sendo isto resultado do aumento irracional dos
níveis de endividamento nas últimas décadas para manter girando a
roldana da economia burguesa há tempos agonizante, o que escancara a
irracionalidade do próprio sistema de exploração do homem pelo homem.
Quando o rastilho de pólvora da crise internacional estourou no Estado
espanhol (e em Portugal, na Grécia, na Irlanda, etc), as classes
dominantes começaram a lançar mão de medidas antipovo sem fim,
anunciadas quase que diariamente, um golpe atrás do outro, tudo sob o
chapéu de sucessivos "pacotes de austeridade".
É contra esta
infâmia que o povo europeu não sai das ruas, em protestos cada vez mais
agigantados. No dia 10 de março, o território espanhol tremeu sob as
marchas de cerca de 300 mil trabalhadores em mais de 60 cidades
diferentes. Os manifestantes marcaram um "basta" à escalada do
desemprego, que na Espanha já aflige seis milhões de pessoas (mais de
26% da população; mais de 50% entre os jovens, ou seja, pessoas com
menos de 25 anos de idade) e expressaram seu repúdio aos sucessivos
cortes na educação, na saúde e da seguridade social.
França: operários ocupam entidade patronal
Dois dias antes das marchas coordenadas na Espanha que fizerem tremer a
espinha do "primeiro-ministro" Mariano Rajoy, no vizinho espanhol do
leste uma ação classista encheu o proletariado local de orgulho e
inspiração. No dia 8 de março cerca de 200 operários da fábrica da
montadora de carros Peugeot/Citroën em Aulnay-sous-Bois, Paris, capital
francesa, ocuparam as instalações da União das Indústrias e Artes da
Metalurgia, uma entidade patronal, em protesto contra o fechamento da
fábrica, intenção que a Peugeot/Citroën pretende levar a cabo em 2014.
Na fábrica que a companhia transnacional quer fechar, contando com a
cumplicidade da administração "socialista" de François Hollande, para
incrementar os lucros dos seus acionistas trabalham nada menos do que
2.800 pessoas. A ocupação da União das Indústrias e Artes da Metalurgia
se deu no contexto de um incremento das ações dos operários em defesa
do seu emprego. Entre estas ações está uma greve de fôlego, que naquele 8
de março já durava oito semanas. No alto da fachada da entidade
patronal ocupada, os trabalhadores estenderam uma enorme faixa com os
dizeres: "Os operários não são desordeiros, os desordeiros são os
patrões".
Portugal também voltou a ser palco de um grande
protesto contra as medidas antipovo sem fim. No dia 15 de março
milhares de pessoas se reuniram em Lisboa para protestar contra o
draconiano processo de demissão coletiva de funcionários públicos e
contra os drásticos cortes de salários e de direitos dos trabalhadores.
Um dia antes, em 14 de março, uma multidão formada por pessoas de
várias nacionalidades da Europa ocupou as cercanias da sede da União
Europeia, em Bruxelas, na Bélgica, no momento do início do Conselho
Europeu, que reuniu na capital belga os chefes de Estado e de governo
da UE, para protestar contra a precarização geral do trabalho, contra
as demissões em massa e o arrocho salarial.
Acossados e acuados,
os poderosos da União Europeia já sentem os joelhos fraquejarem ante a
autoridade das ruas. Ali mesmo, em Bruxelas, no primeiro dia do
Conselho Europeu, enquanto a massa fazia barulho do lado de fora, do
lado de dentro das paredes da União Europeia do capital monopolista o
primeiro-ministro de Luxemburgo e presidente do Eurogrupo, Jean-Claude
Juncker, confidenciou à imprensa burguesa o seu maior temor: "corremos o
risco de ver uma revolução".
Fonte: A Nova Democracia
Nenhum comentário:
Postar um comentário