quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A imprensa esqueceu das outras 11 vítimas fatais nas manifestações?


Por Mauro Donato
O misto de comoção e estardalhaço com que a morte do cinegrafista Santiago Andrade está sendo tratada na mídia é ao mesmo tempo compreensível e incômodo.
Compreensível, pois a morte do cinegrafista é brutal sob todos os ângulos e dispensa mais comentários. Todos já foram feitos.
Incômodo, pois penso que deveria partir da mídia o equilíbrio e o bom senso nesse momento de tensão.
A trinca imprensa-manifestantes-polícia que coabita as ruas desde junho não fala a mesma língua e o clima esquentou de vez.
Um vídeo gravado em frente à delegacia durante o depoimento de Fabio Raposo — o tatuador que estaria envolvido no caso –, em que um manifestante ameaça outro cinegrafista de ser “o próximo” para imediatamente receber a câmera na cabeça, demostra qual o quadro atual.
Escorraçada das ruas durante os protestos, a “grande mídia”, acusada de mentir e manipular, ansiava pela hora do troco. E o fator que proporciona essa catarse foi nada menos que uma morte. Ou seja, nitroglicerina pura.
No entanto, a cobertura da morte de Santiago esqueceu as demais vítimas. Manchetes em letras gigantes anunciando “o primeiro morto por manifestantes” confirmam isso. É o primeiro vitimado por manifestantes, mas o décimo segundo caso de mortes relacionadas com as manifestações. As outras onze não contavam?
Foram vítimas de causas que vão desde inalação excessiva de gás lacrimogêneo a atropelamentos e ainda uma suspeita de assassinato da ativista carioca Gleisi Nana.
Hoje os números de agressões a jornalistas estão nos telejornais sendo que em outubro do ano passado este DCM já denunciava a preocupante escalada. Jornalistas free-lancers e “mídia independente” não são dignos de atenção? As matérias apresentadas em horário nobre na Band e Globo buscaram associar as agressões a manifestantes, distorcendo a estatística que aponta 78% dos ataques vieram da polícia (os números variam entre 117 e 126 casos, conforme a fonte).
Reforço para não ser mal interpretado: o que ocorreu com Santiago é gravíssimo. É o limite. Por isso mesmo que todos devem colocar as mãos na cabeça, refletir e não mais repetir os mesmos erros.
É preciso conter sensacionalismo se não quisermos acelerar medidas tão perigosas e carentes de debate como o projeto de lei que tipifica o crime de terrorismo (PL 499/2013). Por vingança rancorosa (e também para permanecer com seu alinhamento filosófico-político cheio de segundas intenções), a mídia tradicional precisa estancar sua verborragia que condena e criminaliza as manifestações. Criminosos são criminosos, manifestantes não o são.
A coisa chegou a esse estágio atual muito em consequência da narrativa desequilibrada da imprensa e é ela quem tem obrigação de reverte-lo. A decretação de morte cerebral não pode caber à imprensa como um todo.
Lista das vítimas fatais:
Cleonice Vieira Moraes, Marcos Delefrate, Valdinete Rodrigues Pereira, Maria Aparecida, Douglas Henrique de Oliveira, Santiago Andrade, Luiz Felipe Aniceto de Almeida, Igor Oliveira da Silva, Paulo Patrick, Fernando da Silva Cândido, Tasman Amaral Accioly e Gleisi Nana.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Lei “contra o terrorismo”: por que é possível evitar

Ceará, junho de 2013. Aposentado encara tropa de choque durante protestos.
Mobilizações seriam “atos de terror”?

Cresce consciência de que projeto é desnecessário — e pode restringir liberdades e mobilizações sociais. Debate será retomado no Senado semana que vem

Por Antonio Martins
A enorme pressão dos setores mais conservadores da sociedade para a aprovação de uma “lei antiterror” (leia texto rancoroso do jornalista Reynaldo Azevedo) encontrou ontem um obstáculo. Repercutiram no Senado, onde tramita a proposta relativa ao tema (PLS 449 / 2013), as críticas que, originárias de juristas preocupados em garantir a liberdade de manifestação, foram difundidas pelas redes sociais. A votação, que estava prevista para ontem, foi adiada para a próxima semana. Ficaram mais claras as diversas posições existentes no Congresso.
Os senadores mais claramente favoráveis à votação da nova lei são Aloysio Nunes (PSDB-SP) e Romero Jucá (PMDB-RR). Eles ecoam uma tese apelativa formulada por Reynaldo Azevedo, para quem o país precisa da nova norma, “ou a Copa do Mundo corre o risco de se encontrar com o caos”. Já os dois senadores do PT — Paulo Paim (RS) e Jorge Viana (AC) –, que atraíram os holofotes da mídia na véspera, ao defenderem votação imediata do projeto, recuaram parcialmente. Continuam defendendo a suposta importância da lei, mas afirmam que ela precisa garantir de forma explícita, em seu texto, que não haverá restrições à liberdade da manifestação. Viana chegou a declarar, ontem, que “se houver este risco, é melhor não ter lei”. Uma posição ainda mais clara, contra o projeto, foi manifestada pelos líderes do PT, Humberto Costa, e PSOL, Randolfe Rodrigues. O petista postou, em seu twitter: “Acabo de sair da reunião de líderes. No PT, cremos que esse projeto contra terrorismo é muito amplo e pode criminalizar movimentos sociais”. Randolfe foi ainda diretíssimo.  ”Eu não sei o que pode vir de uma lei que quer, claramente, tipificar movimento sociais como terroristas”, disse este último.
Sua posição coincide com o que pensam advogados que atuam com os movimentos sociais. Juliana Brito, que assessora os Comitês Populares contra a Copa, é uma delas. Ela lembrou que já há na legislação atual, dispositivos que permitem punir os autores de crimes previstos no PL 449 — como homicídio, destruição de patrimônio, emprego de explosivo e muitos outros. Mas advertiu: o projeto de “lei antiterror” está redigido de forma especialmente genérica e vaga, de modo a permitir amplo enquadramento — inclusive de manifestantes. Por exemplo: segundo o texto, “terrorismo”, punível com penas de 15 a 30 anos de prisão, é “provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa ou tentativa de ofensa à vida, à integridade física ou à saúde ou à privação da liberdade da pessoa”. Juliana questiona: “É muito abstrato. Podemos compreender então que uma matéria [jornalística] distorcendo a realidade pode espalhar o terror ou o pânico, e aí a empresa responsável também seria enquadrada?”
Apoiando-se nos mesmos argumentos de Juliana, o jurista Pedro Abramovay escreveu ontem uma carta ao senador Jorge Viana (PT-AC), de quem se diz “um grande admirador”. Abramovay analisa o tema a partir do cenário internacional e das inúmeras legislações “antiterror” adotadas após o 11 de setembro. Ele lembra: “O mundo viveu uma onda de legislação antiterrorista após os atentados de 11 de setembro. Penas altíssimas. Países que não tinham nenhum problema com terrorismo passaram a aprovar legislações duras, flexibilizando direitos, criando noções bastante amplas do que vem a ser terrorismo. O resultado foi trágico. De Guantánamo aos centros de tortura espalhados pelo mundo. De grampos generalizados a perseguições a adversários políticos. A justificativa da luta contra o terrorismo deixou o mundo hoje um lugar menos livre. Os valores democráticos estão mais frágeis. E o mundo não está necessariamente mais seguro.”
O adiamento da votação no Senado, e as hesitações dos parlamentares que se mostraram mais afoitos em defender a nova lei são um ótimo sinal. Parece claro que há uma brecha para evitar o retrocesso. Dependerá, é provável, de repercutir mais amplamente argumentos como os de Juliana Brito e Pedro Abramovay — e de produzir mobilização em torno deles.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A cultura do medo e da violência



Como bem definiu o pensador venezuelano Ludovico Silva, a televisão é o espaço privilegiado do sistema para aprisionar as pessoas na mais-valia ideológica


por Elaine Tavares



A mídia comercial, principalmente a televisão aberta, é, sim, uma tremenda usina ideológica. Num país onde a oralidade ainda é o mais eficaz meio de comunicação - em função dos analfabetos funcionais serem milhões - é justamente esse veículo que acaba sendo o meio mais importante de informação da maioria das pessoas. No mais das vezes, se apareceu na TV, o fato assume status de verdade. Se a pessoa não vê na TV, a coisa parece que não aconteceu, daí as estratégias "espetaculares" dos movimentos sociais para poderem aparecer na telinha. Não é sem razão. A Globo já foi mais poderosa no que diz respeito à audiência, mas, mesmo hoje, dividindo espaço com outros canais, como a Record, Band e SBT, segue ditando o modelo de jornalismo e de informação. No geral, todas as emissoras divulgam os fatos com a mesma abordagem, o que, sistematicamente, só fortalece o sistema atual vigente no mundo: o capitalismo - reino do consumo, do egoísmo, do individualismo, no qual o outro é o inimigo a ser eliminado.

Como bem definiu o pensador venezuelano Ludovico Silva, a televisão é o espaço privilegiado do sistema para aprisionar as pessoas na mais-valia ideológica. O trabalhador, já consumido pelo trabalho, chega em casa, depois de uma longa e terrível jornadas nos transportes públicos, e senta-se em frente à TV, única opção de "lazer". Com um copo de água gelada ou uma cerveja, ele pensa estar descansando enquanto as imagens que saltam da tela seguem aprisionando-o no mundo do trabalho. Compre isso, compre aquilo, veja a moda da novela, observe esse costume de vida. Tudo ligado na trama da mercadoria. E a pessoa vai absorvendo, completamente amarrada a grande roda do capital, no giro interminável do consumo. Consome-se até mesmo a própria vida. É claro que a pessoa não é um quadro branco onde as coisas são gravadas. Mas, o poder desse veículo é deveras avassalador. A pedagogia da sedução - usada com maestria pela publicidade - opera no cérebro e conquista os "consumidores" para coisas que sequer necessitam. E, assim, o trabalhador, durante o dia, entrega a mais-valia para o patrão, e à noite, segue entregando a mais-valia para outros patrões. É um círculo macabro. Uma forma bem bolada de domar o “rebanho desgovernado”, que era como o incensado teórico da comunicação, o estadunidense Walter Lippmann, chamava o povo.

A competição

Mas, além da sedução para o reino das coisas, o sistema capitalista preciso atuar em outra área na vida humana, para poder garantir a perpetuação do círculo. Há que incutir o medo do outro, para estimular a competição. Afinal, a regra é simples: para que um tenha muito, outro há que não ter nada. De alguém é preciso "chupar" o trabalho e a alma. O biólogo Humberto Maturana, ao discutir os sistema biológico da vida, insiste em dizer que a competição é uma coisa artificial, anti-humana, criada pelo sistema de opressão. Segundo ele, o que é natural no humano, e mesmo nos animais, é a cooperação. Na cooperação, todos podem ter o que precisam. Na competição, sempre um vai vencer - ter  - e outro vai perder, não-ter. Logo, é uma lógica de exclusão. Mas, se o natural é cooperar, como chegamos a esse mundo violento e competitivo? É, segundo ele, uma construção que tem por objetivo a consolidação de um pequeno grupo de poder. É o centro da opressão.

E, assim, a competição vai sendo incentivada em todas as áreas da vida. Desde a família, onde começa a educação para o sistema, passando pela escola, onde a criança vai se moldando mais ainda para a vida competitiva, chegando, depois, no trabalho, espraiando-se de maneira igual para a vida pessoal, as relações afetivas (não é sem razão que aumentam exponencialmente os casos de assassinato de mulheres, quando essas decidem sair de uma relação. O outro não suporta "perder". Prefere matar).

E todo esse processo de competição é igualmente incentivado e bombardeado na cabeça das pessoas pela maquinaria da indústria ideológica. As novelas, os programas de auditório e, agora, essa nova febre, os "shows de realidade", tipo Big Brother ou a Fazenda. Nesses espaços, que deveriam de entretenimento, toda a sociedade vai sendo alfabetizada e formada na lógica da competição. Para ganhar uma casa do Gugu, há que desbancar o outro. Para ganhar um carro novo no Hulk, há que vencer o outro. Para ganhar um milhão, há que eliminar os próprios amigos. É a pedagogia da selvageria lícita.

A pedagogia do medo

E todo esse processo segue uma ordem muito lógica. O próximo passo é incutir o medo. Fazer com as pessoas pensem que, em todo o canto, por toda a parte, tem alguém querendo "tirar-lhe" alguma coisa. Novamente a indústria ideológica age com sabedoria. Proliferam os programas policialescos, nos quais são apresentados crimes horrendos, assaltos, mortes e toda uma sorte de barbaridades. Assistir a esse programas nos leva a um terror abissal. Porque todos os dias, a todo instante, tem algo muito terrível acontecendo. Sair de casa pode significar a morte. Ficar em casa também. Não há escapatória. Tudo é apresentado como  se fosse algo natural. Todos os casos de violência cotidiana parecem brotar do nada, fruto apenas da "maldade" alheia. Não há relação nenhuma com a pedagogia da sedução - na qual se aprende a querer o que não se precisa - , nem com a pedagogia da competição - na qual o outro é sempre o inimigo. Não há história, não há contexto. É só a violência por si. O que é óbvio, porque se esses programas contextualizassem a violência desenfreada e crescente, ficaria claro para as pessoas os motivos disso. Não há interesse em criar conhecimento sobre a realidade. O objetivo da indústria ideológica é atuar no reino da sensação.


Com a pedagogia do medo vem a lógica da justiça invertida. A pessoa, submetida ao bombardeio ideológico, só consegue ver que a polícia é corrupta, os bandidos andam soltos, não há salvação. O que aparece nesses programas é que os cidadãos estão reféns de uma violência que não tem solução. Começa a se gestar aí o germe do "justiçamento". Se não há justiça, então eu mesmo vou fazer.

Não bastassem os Datenas e Rezendes da vida, ainda tem toda uma linha de filmes, da indústria cinematográfica da matriz do sistema, que exacerba ainda mais essa visão de mundo. Uma olhada nas séries de mais sucesso entre a classe média que pode pagar uma TV à cabo ou digital ( e que mais tarde vêm para a TV Aberta), o que se vê é que as do topo da lista são as dos "justiceiros". Aqueles mocinhos - geralmente brancos e ricos - que caçam e matam os bandidos que a justiça formal deixa escapar. Um caso extremo é o do seriado Drexler (maior audiência nos EUA), no qual um policial é o serial killer (assassino em série). Ele persegue, tortura barbaramente e mata aqueles que a justiça não aprisiona. É um psicopata que inclusive cataloga fotos e amostras de sangue de cada assassinado. Pois esse cara é um herói. E assim, poderíamos elencar outras séries e filmes que povoam nossas televisões, cotidianamente, fortalecendo a pedagogia do "justiçamento".

Por isso que a cena bárbara de um jovem negro sendo espancado por mais de 30 pessoas e amarrado num poste com uma corrente de bicicleta, parece natural a maioria das pessoas. Porque aquele guri negro, morador de rua, feio, maltrapilho, é o "inimigo" que povoa a cabeça de cada um que vive sob a opressão da usina ideológica - aí incluída a família, a escola, as relações pessoais. Então, nada pode parecer mais "certo" do que justiçar, fazer justiça com as própria mãos. Se não há polícia, se a corrupção grassa e eu vivo apavorado com o mundo ao meu redor, a qualquer sinal de ameaça, eu me defendo. É assim que as pessoas pensam. Estão intoxicadas com essa pedagogia voraz, que nos tira a humanidade, isso que Maturana chama de "natural cooperação".  


É o que ocorre também em relação aos homossexuais. As pessoas passam a vida toda ouvindo que aquilo é antinatural, que é vergonhoso, que é pecado, que é sujo, que são uns desavergonhados, umas aberrações, a escória do humano. Então, quando um grupo de jovens agride ou mata um homossexual, eles entendem que estão fazendo uma "limpeza", ajudando a sociedade. Foram alfabetizados nessa concepção. E não é coisa fácil de mudar. Há que se trabalhar toda uma nova pedagogia, que vença essa, que é hegemônica no mundo. Essa visão de mundo grega, que venceu no mundo ocidental, na qual o outro, que é diferente de mim, é o "não-ser", o "inimigo", o que precisa ser eliminado em nome do meu bem-estar. Enrique Dussel, um filósofo argentino, ensina que no mundo antigo, antes da vitória da visão grega, o outro não precisava ser igual a mim. Ele era respeitado como outro, diferente, mas real. Nesse mundo, cujas raízes ele encontra nos povos do deserto, o outro podia ser aceito na convivência, porque a matriz da existência era a cooperação. Dussel crê que essa forma de viver pode ser recuperada, mas não é coisa fácil. Há um longo caminho a percorrer, desfazendo toda essa teia ideológica que vem massacrando a humanidade por tantos séculos.

Hoje, quando as redes sociais deram espaço para a voz de tão distintas gentes, não deveria causar espanto as opiniões de um número expressivo de pessoas respaldando as ações de justiçamento ou de violência contra os que eles consideram "escória", aberrações. No mais das vezes, essas pessoas acreditam piamente - de boa fé -  nas "verdades" que foram sendo sedimentadas ao longo de uma vida. Estranhos, mas muito estranhos mesmos, são aqueles que, de alguma forma, observam essas verdades e duvidam delas, buscando criticamente uma explicação para os fatos, na história, no contexto, no ambiente. Porque não é fácil enxergar as falhas da "matrix", aquelas que nos permitem ver que, para além do mundo de sedução que o capitalismo nos oferece, há toda uma cultura de medo e violência que vem no pacote, fazendo com que vejamos como "inimigos" aquele que não compartilha - por opção ou por condicionantes históricas, econômicas e políticas - dessa ilusão.

O exemplo e a linguagem

Wittgenstein, um filósofo da linguagem, dizia que os limites da linguagem são os limites do mundo. Logo, para ele, se a pessoa não consegue verbalizar ou entender coisas como cooperação, solidariedade, amor, equidade, jamais poderá entender aqueles que falam sobre isso. Maturana, desde a biologia, concorda com o filósofo austríaco, mas oferece uma luz nesse universo que aparece tão determinista. Ele diz que o ser humano só se fez humano a partir do toque sensual, da carícia, do amor. E oferece muitos elementos científicos que podem comprovar sua teoria. Só depois veio a linguagem, essa, tal qual conhecemos. Logo, há uma pré-linguagem, calcada na emoção, no movimento do corpo, na ação. E é desde aí que pode vir a mudança. O que Maturana diz, cientificamente, já disseram os grandes avatares que caminharam sobre a terra, filósofos, homens de fé: o exemplo é poderoso. É a grande linguagem que chega ao mais profundo do humano. Assim, palavras como amor, solidariedade, respeito ao outro, cooperação, não podem ser ditas se não vierem acompanhadas de uma ação correspondente. Os astecas, nossos mais remotos ancestrais, já sabiam disso: "As palavras que não andam, não devem ser pronunciadas".


Com isso, o que quero dizer é que há uma larga batalha a ser travada contra as pedagogias da sedução, do medo e da violência. E ela não será ganha apenas no discurso falado. Ele precisa viver na ação cotidiana, no que se ensina aos filhos, no que se trabalha na escola, nas relações familiares e pessoais, no sindicato, no movimento social, no partido político. Para isso, precisamos da renitência, da ação diária e sistemática, da prática cotidiana desses valores humanos tão ancestrais. Gritar contra o racismo, contra a discriminação, contra a violência ao "outro", desigual. Mas também atuar, em todos os espaços da vida, em consonância com as palavras que usamos. Só assim elas começarão a andar.

Já no campo da política essa mudança não pode acontecer se não houver uma luta radical pelo controle dos meios de comunicação. Há que derrotar o monopólio, o oligopólio, que mantém a usina ideológica em funcionamento. Não basta atuar no campo da “democratização da comunicação”. Ajeitar o que está aí consolidado não é solução. Assim, ou derrubamos o poder dessa elite entreguista que hoje domina a mídia, ou seguiremos jogando palavras ao vento. Palavras que não terão pernas para andar. Soberania comunicacional, produção popular, reforma agrária no ar. Sem isso, o “rebanho desgovernado” de Lippmann seguirá domesticado, reacionário, racista e criminoso.

É tempo de desgovernar...


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Documentário 'A Caminho da Copa' aborda os impactos dos grandes eventos


Polifonia periférica - O documentário "A Caminho da Copa", desenvolvido pelo Ponto de Mídia Livre Pólis Digital, aborda a diversidade de opiniões a respeito dos impactos, positivos e negativos, da preparação dos megaeventos no cotidiano das principais cidades brasileiras. Raquel Rolnik, Carlos Vainer, Juca Kfouri, Toni Sando, Vicente Cândido e moradores de São Paulo e Rio de Janeiro atingidos por obras urbanas ligadas aos eventos da Copa do Mundo e Olimpíadas são entrevistados no filme.







Direção e roteiro: Carolina Caffé e Florence Rodrigues.

O documentário "A Caminho da Copa", desenvolvido pelo Ponto de Mídia Livre Pólis Digital, aborda a diversidade de opiniões a respeito dos impactos, positivos e negativos, da preparação dos megaeventos no cotidiano das principais cidades brasileiras. Raquel Rolnik (relatora especial da ONU para o direito à moradia adequada), Carlos Vainer (economista, sociólogo e docente do IPPUR-UFRJ), Juca Kfouri (ciêntista Social e comentarista esportivo), Toni Sando (Diretor da empresa São Paulo Convention & Visitors Bureau), Vicente Cândido (deputado Federal e formulador da Lei Geral da Copa) e moradores de São Paulo e Rio de Janeiro atingidos por obras urbanas ligadas aos eventos da Copa do Mundo e Olimpíadas são entrevistados no filme.

O PÓLIS DIGITAL é uma plataforma colaborativa, física e virtual, de produções em mídias livres que tratam sobre os temas relevantes da cidade e do contexto global.


Fonte: Diário Liberdade

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Cinco filmes de Eduardo Coutinho para ver na internet



“Cabra Marcado para Morrer”, “Babilônia 2000″, “Edifício Master”, “Jogo de Cena” e “Santo Forte” estão disponíveis na íntegra, na rede
Uma câmera na mão, ideia na cabeça e uma pergunta no ar: o estilo que consagrou Eduardo Coutinho, um dos maiores documentaristas do Brasil, fica como a maior herança deste legítimo representante do cinema verdade.
De renome internacional, Coutinho se destacou pela sua forma “nua e crua” de documentar diálogos, abordagens e retratos dos mais diversos temas, em filmes como “Edifício Master”, “Jogo de Cena”, “Babilônia 2000”, “Peões”, “Santo Forte” e “Cabra Marcado para Morrer” –  sempre marcados pela espontaneidade das cenas, seja do entrevistado ou entrevistador.
Aqui, o Catraca Livre faz um apanhado de sua obra com  títulos desde o início da carreira, nos anos 60, até produções mais recentes… Confira a homenagem!
Cabra Marcado para Morrer

Filme documentário, foi dirigido por Eduardo Coutinho inicialmente em fevereiro1964, sendo obrigado a interromper as filmagens devido ao golpe militar de 31 de março, quando as forças militares cercam a locação no engenho da Galiléia. Dezessete anos depois em 1984 retoma o projeto e chega ao cinema no seguinte em 1985.
Babilônia 2000


Na manhã do último dia de 1999, uma equipe de filmagens sobe o Morro da Babilônia, no Rio de Janeiro. Lá existem duas favelas, Chapéu Mangueira e Babilônia, as únicas situadas na orla de Copacabana e cujos moradores podem acompanhar ao vivo o réveillon de Copacabana.


Edifício Master





Registro do cotidiano dos moradores do Edifício Master, em Copacabana, no Rio de Janeiro, um prédio de 12 andares e 276 apartamentos, onde moram cerca de 500 pessoas. No filme, 37 contam suas histórias de felicidade, tristeza, desilusão, esperança e amor.

Jogo de Cena



O documentário faz um mergulho no universo feminino através de 23 relatos de mulheres, gravados por uma câmera estática, no Teatro Glauce Rocha, no Rio. As histórias foram selecionadas entre outras 60, que chegaram ao diretor depois da publicação de um anúncio no jornal.

Santo Forte



Em meio a visita do papa João Paulo II no Brasil, Eduardo Coutinho visita uma favela do Rio de Janeiro onde a religiosidade das pessoas se misturam entre varias crenças.