sexta-feira, 18 de julho de 2014

A esquerda e o iphone



Confesso que não sabia bem o que era um iphone até ouvir esse tipo de frase de efeito: “é comunista/socialista, mas usa iphone”. Só então descobri que era uma marca comercial específica de smartphone, que não é a mesma coisa que um ipod.

Descobri isso graças à wikipedia, uma enciclopédia virtual construída por cooperação voluntária, usando um computador fabricado por alguma empresa capitalista, mas inventando em universidades públicas, através do sistema operacional Linux, software livre, produzido por cooperação voluntária, acessando a internet, rede de comunicação criada no setor público militar dos Estados Unidos, e das redes de telecomunicação via satélite, uma invenção soviética. No dia em que fiz essa descoberta sobre smartphones e ipods, comi três refeições de alimentos produzidos pela agropecuária, uma invenção das comunidades tribais neolíticas. Tenho certeza que vários produtos que utilizei hoje tem origens heterogêneas, em culturas capitalistas, socialistas, feudais, escravistas, camponesas, nômades, etc, originadas em uma, aperfeiçoadas em outras, e assim por diante.

É praticamente impossível mapear a origem da técnica e o processo econômico pelo qual passaram os produtos que eu utilizo no meu cotidiano. Pelo meu conhecimento histórico e sociológico, presumo que algumas coisas que consumo passam, em pelo menos um elo da produção, pela devastação ecológica e trabalho escravo ou precário. Alguns são de grandes marcas, outros de pequenos produtores, alguns de cooperativas.

O que eu nunca fui capaz de descobrir é qual é a contradição entre ser de esquerda e usar algum produto tecnológico. Pessoas de mentalidade conservadora/direitista pensam saber o que é ser de esquerda e poder ensinar para quem é de esquerda o que significa sê-lo. E o que parece se depreender de uma postura de esquerda coerente, segundo os reacionários, é ser um eremita. Afinal, nada melhor para a direita se toda a esquerda fosse morar em comunidades hippies ou em Cuba. Os ricos respirariam aliviados, pois seus inimigos não criariam problemas gravíssimos, como denunciar injustiças e participar de mobilizações populares.

Não direi que estão completamente incorretos em algumas críticas. Não sou extremista. É realmente “feio” alguém da esquerda anticapitalista ter um comportamento consumista, fazendo questão de esbanjar riquezas e acumulando coisas desnecessárias.

Muito pior que isso, no entanto, é defender abertamente e incentivar o consumismo individualista e desenfreado como privilégio de alguns bem-nascidos, estigmatizando quem sofre com baixos salários ou desempregado como “vagabundos” e coisas semelhantes. É muito mais “feio” naturalizar desigualdades extremas, patrimônios exorbitantes e exclusão social. Porque aí não se trata apenas de um comportamento privado “feio”. É também o comportamento público horrendo. É uma conduta integralmente perversa.

Uma parte importante da esquerda busca uma reforma dentro dos limites do capitalismo, para redução das desigualdades, exclusão e exploração mais extremas. Outros tentam ir além, procurando meios de superação do modo de produção capitalista. A questão chave é a redistribuição dos produtos e meios do trabalho que se encontram concentrados nas mãos, principalmente, de quem não trabalha, mas é proprietário do capital.

De uma perspectiva de esquerda, ou seja, do igualitarismo social, não há lugar para repúdio à tecnologia, apenas as suas funções e usos numa sociedade injusta. Não condenamos todo e qualquer uso da energia nuclear, se denunciamos o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki como um ato genocida. A energia nuclear tem muitos usos pacíficos. Da mesma forma que os iphones e ipods provavelmente tem outros usos, além da ostentação consumista.

O problema para a esquerda não é a tecnologia dos ipods e iphones, é a falta de acesso universal à alimentação, moradia, vestuário, transporte coletivo, educação, saúde, aposentadoria e trabalho digno. E também a cultura e meios de comunicação. É a existência de uma ínfima minoria riquíssima, em contraste com grandes massas relativa ou absolutamente pobres e desamparadas.

O que impõe limites à difusão dos ipods e iphones não é a esquerda. É o planeta. Os recursos são limitados, e a generalização de um padrão de consumo como o dos estadunidenses (que são pouco menos de 5% da população mundial e concentram 25% da renda, além de consumir 30% do petróleo), exigiria quatro planetas. Aí é que há limitação legítima do consumo: pela sustentabilidade ecológica de longo prazo. É por isso que melhorar e expandir o transporte coletivo e ciclovias é preferível a universalizar o casso pessoal. Em qualquer um desses casos, trata-se de uma questão coletiva, objeto de políticas públicas, e não de escolhas privadas.

Isso significa que o homem ou mulher de esquerda, como já disseram muitos reacionários, deveria doar sua renda individual? Esse ato seria indiferente. Não é raro que o esquerdista que siga esse conselho seja em seguida acusado de demagogo… Parece que é impossível a pessoa de esquerda ser coerente, não acham? Na verdade, a filantropia é uma escolha privada. A opção pela esquerda é política, diz respeito a decisões de alcance coletivo, e, primeiramente, ao modo de governar e utilizar o Estado.

A economia capitalista certamente não funcionaria caso todos os ricos fossem adeptos da total filantropia, e escolhessem viver com uma renda equivalente a um salário modesto, dividindo todo o resto. Afinal, quem trabalharia para produzir a riqueza?

A esquerda não defende a filantropia, que é uma escolha privada, possível apenas para quem já tem muito mais do que precisa. A filantropia se baseia uma relação de dependência entre o doador e o beneficiário. Às vezes o filantropo tira maior benefício para si deste ato, pois adquire prestígio e influência (e em muitos casos, consegue esconder a sonegação de grandes somas). A esquerda promove a solidariedade, que é a ajuda mútua entre iguais, e políticas públicas, ativas e coativas de redistribuição de renda.

Sim, coativas. Um imposto de renda progressivo é coação. Qualquer imposto é coercitivo – então que ao menos seja justo. Esse imposto arrecadado deve ser direcionado para um investimento social eficiente, que beneficie aos mais pobres (Bolsa-Família, reforma agrária, etc) ou a todos (educação e saúde públicas, transporte coletivo, etc).

Antes que digam que isso é um atentado à liberdade, gostaria de lembrar que a propriedade privada é tremendamente coativa. A propriedade privada é exclusiva: o bem é apropriado por um, que faz dele o que bem entender, quando é excluído do usufruto de todos os outros. Grande parte da violência policial e encarceramento é repressão aos crimes contra a propriedade privada. Grande parte da criminalidade de rua é tentativa de obter propriedade privada por meios ilegais. Qual liberdade proprietária tem o miserável, que nada tem para si? A liberdade individual do pobre é ser escravizado pela necessidade. Uma redistribuição de riquezas desigualmente distribuídas é a maior promoção da liberdade, pouco importando que seja realizada mediante coerção política e jurídica.

Ser de esquerda, portanto, não é ser contra qualquer tecnologia X por ter sido inventada numa sociedade capitalista, feudal ou escravista, mas, pelo contrário, lutar pela socialização dos benefícios do progresso tecnológico. E desde que (re)descobrimos a finitude dos recursos do planeta, de um modo que não comprometa o futuro dos nossos filhos, netos e bisnetos.




quinta-feira, 17 de julho de 2014

Partido Comunista da Ucrânia será oficialmente banido



Por Carlos Serrano Ferreira*

Enquanto a ofensiva genocida de Kiev contra o povo das Repúblicas Populares de Donestk e Lugansk continua, mais uma medida antidemocrática é tomada pelo governo de fascistas e imperialistas: o ministro da justiça, Pavlo Petrenko, entrou com uma ação junto à Corte do Distrito de Kiev pedindo o banimento do Partido Comunista Ucraniano sob a alegação de que estariam a apoiar a divisão do país [1].

Se esse banimento for declarado será o sintoma de uma escalada repressiva na Ucrânia que não para e que avança na perseguição das forças de esquerda pelo governo golpista. Outro partido anticapitalista, o Borotba, já tem sua direção na clandestinidade e muitos de seus militantes tiveram que abandonar a Ucrânia. Estes foram declarados ilegais pelos grupos fascistas, sendo atacados fisicamente pela Guarda Nacional, guarda-chuva oficial das milícias fascistas, e tiveram suas sedes destruídas[2]. O partido teve que lançar um comunicado oficial chamando a todos os militantes e simpatizantes a que entrassem na clandestinidade e abandonassem suas casas [3].

O PCU já sofrera as mais brutais agressões, com militantes atacados e sedes queimadas – e mesmo a casa do líder do partido, Pyotr Simonenko, foi incendiada [4]. Isto fez com que a vida do partido tivesse que migrar completamente para a Ucrânia Oriental. No Parlamento, Simonenko foi atacado por dois deputados fascistas do Svoboda enquanto discursava em defesa da “federalização do país e a concessão do status de língua oficial ao idioma russo” [4]. Pela total falta de segurança para o líder comunista realizar sua campanha presidencial – tendo sido mesmo perseguido por fascistas após sua saída de uma entrevista televisiva – teve que retirar sua candidatura [5].

Já no início de maio os deputados da Rada Suprema (parlamento nacional) expulsaram os comunistas de uma sessão a portas fechadas, infringindo o próprio regulamento interno que prevê a possibilidade de expulsão de um deputado de uma sessão, mas não de uma facção parlamentar inteira. Com essa manobra o governo buscava garantir a maioria de votos de que necessitava para aprovar seus intentos de guerra, como o restabelecimento do serviço militar obrigatório, para assim reforçar sua ofensiva genocida [6]. E foram várias as sucessivas declarações do então presidente interino Alexandr Turchínov exigindo a ilegalização do PCU [7].

A verdade é o contrário das alegações das “autoridades” de Kiev: quem levou o país à divisão foi a ação dos imperialistas e fascistas que perseguem a esquerda e as minorias nacionais, bem como lançam uma ofensiva genocida contra o povo do Leste. Quem divide o país são os golpistas que retiram o caráter oficial das línguas minoritárias e negam a única política que poderia devolver a paz ao país: a federalização da Ucrânia. Quem dividi o país são os golpistas de Kiev que se aliam aos oligarcas do Leste para reprimir a população, como Ihor Kolomoisky, indicado por eles para ser o governador de Dnipropetrovsky e apontado como um dos principais líderes da máfia ucraniana [8]. Este já propôs a construção de um muro separando a Ucrânia da Rússia, financia as milícias fascistas e ofereceu pela morte do líder antifascista Oleg Tsarev um milhão de dólares [8].

O governo de Kiev está sob controle do partido da guerra: oligarcas em geral e do setor militar em particular, milícias fascistas do Maidan, a máfia ucraniana e os EUA. Estes lucram com a guerra e a morte e se fortalecem politicamente. O novo prefeito da capital, Vitali Klichko, representante dos interesses imperialistas alemães no país, que tinha declarado que iria dissolver os acampamentos do Maidan [9] – uma terra de ninguém, de bandidos e fascistas – não os dissolverá mais, tendo já sido ameaçado de ter a prefeitura queimada caso o fizesse [10]. O cessar-fogo foi boicotado pelas milícias e pelos próprios oficiais do exército, desmoralizando o presidente Poroshenko, que teve que recuar e levantar o mesmo [11].

Ao contrário das medidas de Kiev, a única maneira de reconstruir a unidade do país passa não pela ilegalização da esquerda ucraniana, que luta por democracia e em defesa dos trabalhadores do país e das minorias ameaçadas. A única forma de reconstruir a unidade é garantindo os direitos democráticos e a federalização. A única forma de conquistar a paz é combatendo as milícias fascistas e colocando na ilegalidade os partidos fascistas como o Svoboda e o Pravy Sektor, que espalham o terror pelo país.

Nessa hora sombria em que novamente a esquerda é ameaçada pelas hordas fascistas, e que o terror castanho anda livremente pelas ruas de Kiev e matam no Leste, é necessário que todos os comunistas e verdadeiros democratas do mundo se unam em defesa da esquerda ucraniana. Contra ilegalização do PCU! Contra a perseguição à esquerda ucraniana!

* Carlos Serrano Ferreira é pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Hegemonia e Contra-Hegemonia da UFRJ (LEHC-UFRJ) e militante do PCB-RJ.

[1]AFP. Ukraine seeks to ban Communist Party. 8 de julho. Disponível em: www.business-standard.com/article/pti-stories/ukraine-seeks-to-ban-communist-party-114070801494_1.html.

[2] INITIATIV. Antifascistas na Ucrânia: Entrevista a um responsável do Borotba no exílio. Tradução do Diário Liberdade. 23 de junho. Disponível em: www.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/413-antifascismo-e-anti-racismo/49421-antifascistas-na-ucrânia-entrevista-a-um-responsável-do-borotba-no-exílio.html.

[3] BOROTBA. Ukraine: Junta launches repressions against Borotba activists Statement of the union ‘Borotba’ (Struggle). Disponível em: http://borotba.org/ukraine-_junta_launches_repressions_against_borotba_activists_statement_of_the_union_borotba_struggle.html.


[5] CENSOR.NET. Activists of Automaidan blocked Simonenko’s car and smashed the windows. 17 de maio. Disponível em: http://inforesist.org/en/activists-of-automaidan-blocked-simonenkos-car-and-smashed-the-windows/.

[6] RIANOVOSTI. El Parlamento de Ucrania expulsa a los comunistas y restaura la mili. 6 de maio. Disponível em:http://sp.ria.ru/international/20140506/159972738.html.

[7] Dois exemplos disto, feitos em seqüência em maio passado, podem ser encontrados aqui: RIANOVOSTI.Presidente interino llama a proscribir el PCU por supuesto separatismo. 13 de maio. Disponível em:http://sp.ria.ru/international/20140513/160045358.html e RIANOVOSTI.El presidente interino de Ucrania exige prohibir al Partido Comunista. 19 de maio. Disponível em: http://sp.ria.ru/international/20140519/160125734.html.

[8]VOLTAIRE. Ukraine: Ihor Kolomoisky offers $ 1 million to murder Oleg Tsarev. 17 de maio. Disponível em:www.voltairenet.org/article183839.html.

[9] RIANOVOSTI. Klichko planea liberar el centro de Kiev de los restos del Maidán. 26 de maio. Disponível em:http://sp.ria.ru/international/20140526/160205699.html.

[10] RIANOVOSTI. La situación en El centro de Kiev sigue peligrosa, reconoce su alcade. 7 de julho. Disponível em:http://sp.ria.ru/international/20140707/160695082.html.

[11] RIANOVOSTI. Poroshenko quiere tregua en el este pero parte de los militares no le obedecen.http://sp.ria.ru/international/20140630/160605294.html.




Fonte: PCB

quarta-feira, 16 de julho de 2014

As promessas não cumpridas da Revolução Francesa

“A Liberdade Guiando o Povo”, por Eugène Delacroix.


O 14 de julho de 1789 é uma data que não vai sair da minha cabeça. Lembro-me de tê-la memorizado, ao lado de outras, nas aulas de história do ginásio (o que hoje seria o Ensino Fundamental II). Pois esta é a data que, esquematicamente, marca a passagem da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. Pelo menos assim era nos meus tempos de ginasial, em que lembrar-me dessa informação garantiu uns pontinhos nas provas. Mas hoje, alguns anos e experiências depois, consigo entender melhor todo o significado dessa data.

Primeiro, que a data é o menos importante. Evidentemente, a queda da Bastilha, prisão em que eram encarcerados os inimigos do Antigo Regime na França, foi um evento simbolicamente fantástico. Afinal, ele representou o desmantelamento do absolutismo francês e apontou o mesmo caminho para o resto da Europa. E, portanto, a superação do mundo feudal pela modernidade burguesa. Mas daí a implicar a substituição da Monarquia pela República e, mais profundamente, a participação popular, existe uma grande distância.

E, talvez seja justamente por esses dois últimos elementos que a Revolução Francesa foi, no plano político, um movimento pioneiro e inspirador em todo o mundo. Graças a esse pioneirismo, a revolução foi capaz radicalizar-se num grau até então inimaginável. Assim, as forças contrarrevolucionárias demoraram a conter a radicalização do movimento, que atingiu seu ápice na República Jacobina (1793-1794). Momento que geralmente é lembrado pelo Terror e a fúria da guilhotina a ceifar os inimigos do Estado – inclusive o rei –, mas é esquecido em seu caráter popular e vitorioso na contenção dos conflitos internos e externos que ameaçavam a consolidação da Revolução.

De todo modo, do ponto de vista das ideias, a contribuição do movimento revolucionário na França é inquestionável. Ele encarnou as ideias do Iluminismo e lhes deu uma forma mais fiel, ultrapassando as limitações do Despotismo Esclarecido, que florescia em outras partes da Europa do século XVIII. Afinal, como ser verdadeiramente livre sendo súdito? Ora, isso é uma contradição em termos. Desse modo, uma de suas influências mais significativas foram os ideais que lhe serviram de bandeira: Liberdade, Igualdade e Fraternidade – e que, enfim, dariam as cores da bandeira tricolor francesa.

Robespierre
Robespierre, líder jacobino. Foto: jeunespgnpdc

Assim, aqueles ideais de 1789 – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – permanecem vivos até hoje. Não que eles tenham sido alcançados. Pelo contrário, eles são as promessas não cumpridas da Revolução. A vitória da burguesia e, consequentemente, do modo de produção capitalista, parece mesmo ter substituído aquelas palavras de ordem.

A liberdade, se ainda permanece na pauta, está presente em sua versão do liberalismo econômico. A liberdade enquanto conceito moral caiu de vez. As únicas coisas que existem, agora, são escolhas racionais. Assim, a liberdade que resta está na livre iniciativa e no livre comércio – o sacrossanto livre mercado. Em resumo, o ser humano é livre para escolher se toma uma Coca-Cola ou uma Pepsi.

A igualdade, por sua vez, tornou-se sinônimo de socialismo ou comunismo. O que, segundo os ideólogos do capital, é uma ideia ultrapassada, vide o fracasso da União Soviética. Melhor substituí-la pela austeridade. Essa sim é uma ideia redentora, que veio para salvar as nações da ineficiência de seus Estados parasitários: esses Leviatãs famintos por sugar seus pobres contribuintes. Se uma ou outra Grécia atravessam verdadeiras convulsões sociais por conta dessas medidas impopulares… bem, isso é culpa da preguiça dos gregos, que não querem trabalhar mais por um salário menor – isso é o que diriam os defensores da austeridade.

A fraternidade, então, deu lugar à competitividade. Isso mesmo. Não olhe o próximo como irmão porque ele é seu rival e pode tomar o seu lugar. Aliás, ajudá-lo pode estimular a indolência e, como qualquer economista sabe, a economia de um país não pode sobreviver à concorrência internacional sem constantes ganhos de produtividade. Por isso, esteja disposto a trabalhar mais e ganhar menos. E sem reclamar, por favor. Afinal, neste mundo só sobrevivem os mais fortes.

Com toda essa ironia só quero mostrar quanto o triunfo burguês permitiu o abandono de ideias que foram fundadoras deste mundo em que a burguesia reina como classe dominante. Por isso, em que pese o caráter burguês da Revolução Francesa, é preciso sim resgatar seus ideais, naquilo que eles têm de subversivo e apontam na direção de uma outra sociedade.

Porque vale a pena lutar pela liberdade, em sua condição de superação da necessidade, das carências humanas. Vale a pena buscar o reino da liberdade, qual seja, uma sociedade em que todas as pessoas se vejam livres das privações. Isso não é garantia de felicidade, mas é um importante passo.

Uma tal liberdade não pode prescindir do ideal de igualdade. E quando falo de igualdade, não me refiro unicamente à isonomia, ou seja, a igualdade perante à lei. Mas da igualdade de fato, da possibilidade de todas as pessoas desfrutarem igualmente do nível de civilização alcançado pelo conjunto da sociedade. Isto é, que todas as pessoas possam satisfazer suas necessidades – sejam elas originadas no estômago ou na fantasia, como diria Marx.

Tais ideais, por sua vez, só podem ser atingidos mediante um espírito de solidariedade. Um espírito de cooperação, de união de esforços na direção de uma meta comum: criarmos uma sociedade em que o desenvolvimento de cada um seja a condição para o desenvolvimento de todos – como preconiza o Manifesto Comunista.

Por isso é importante lembrar de 1789. E buscar em seus ideais uma inspiração para lutar pela instauração de uma sociedade mais justa.




terça-feira, 15 de julho de 2014

Camila Jourdan, presa política


Quem é a professora de Filosofia encarcerada no Presídio de Bangu, sem que Polícia ou Justiça fluminenses apresentem indício de ilegalidade que tenha cometido.

Por Ronai Rocha, editor de Coisas do Campo | Imagem Alexandre Noronha Machado

Camila Jourdan formou-se em Filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2002. Fez seu mestrado na PUC do Rio, em 2005, e também na PUC concluiu em 2009 seu Doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Depois, foi bolsista CAPES-PRODOC na Universidade Federal do Paraná, entre 2009 e 2010. Nos dias de hoje é professora adjunta do Departamento de Filosofia da UERJ e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Eu a conheci aqui em Santa Maria, nos encontros anuais dos Colóquios CONESUL sobre filosofia das ciências formais, onde apresentou, por mais de uma vez, o resultado de suas pesquisas.

Camila Jourdan está presa, hoje, no Rio de Janeiro, em Bangu. Foi submetida a exames de corpo de delito e permanecerá, junto a dezoito outras pessoas, na prisão por cinco dias. Todos são acusados de formação de quadrilha, pelo que se lê na imprensa. Nos termos do jornal El Pais, de hoje (13.07), são “19 ativistas anti-Copa do Mundo ‘suspeitos de participar em atos violentos’, informaram fontes oficiais. Os militantes (…) respondem por crimes de formação de quadrilha armada, com pena prevista de até três anos de reclusão.”

Há um clima no Rio de Camila, hoje. Segundo o mesmo jornal El País, “para cada três felizardos que assistirem no domingo a grande final do Maracanã, haverá um policial (ou soldado) vigiando.” Foram mobilizados milhares de policiais, soldados e agentes, com a missão de evitar incidentes durante a partida”, etc… E, por óbvio, hoje é a ultima chance de algum protesto relacionado ao Fifacountry que vivemos nesse mês.

Camila Jourdan participava de protestos contra a Copa. Basta olhar a página dela no Face para ver que sim. Ela faz parte de um contingente de brasileiros que não contém a indignação nos limites privados. Ela ia para as ruas e fazia lá o seu protesto. Como é garantido a todos nós. Nesse momento, está metida num pacote de acusações demasiadamente pesadas e graves para que a gente fique esperando no que vai dar. Não vai passar desapercebido a ninguém que há uma rara combinação de contexto (a final da Copa) e a fragilidade das evidências que pretensamente sustentam a acusação de crime que leva a anos de prisão. Me contem outra. Eu sou um velho conservador, não preciso ser lembrado disso. Mas mais do que conservador, sou velho o suficiente para não cair no conto de que nossa democracia é frágil ao ponto de precisar dessas peneiras policiais grossas, que arrestam Camila e outros.

Faz poucos dias que um brasileiro precisou dar uma aula sobre a revolução francesa para provar que era um professor e não era um marginal, escapando assim de um linchamento popular. Nem todos os linchamentos são apenas populares. Alguns são mais sofisticados.

O que todos nós, amigos e colegas de Camila Jourdan esperamos é que nossa democracia, ainda pouca e frágil para tantas esperanças, seja madura o suficiente para não esmagar a nossa colega de colóquios e debates nas malhas de um equívoco estúpido. Camila muito nos honra e representa com sua coragem de ir para a rua e tem centenas de amigos que estão com ela nessa hora. Não queremos confundir essa brutal mis-en-cene (trapalhada? tragédia?) com encruzilhadas da democracia.

Terminado o jogo final da copa, quem sabe, termina esse sobre-esforço de criminalização de gente como Camila. Voltaremos ao Brasil, mesmo que com perdas. Afinal, um país que condenar Camila Jourdan por crime de formação de quadrilha ficará menor diante do si-mesmo que pode ser.



segunda-feira, 14 de julho de 2014

Vídeo mostra agressão de policial militar a mulher em manifestação

Policial chuta manifestante durante protesto na Saens Peña Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo


RIO - DENÚNCIA: PMERJ AGRESSOR DE MULHERES


ROGÉRIO COSTA DE OLIVEIRA
Soldado da PMERJ - Lotação: BPGE
Carteira Funcional: 97.897

PMERJ, conhecido agressor de mulheres em protestos, foi o mesmo que agrediu os midiativistas Nadini Carega e Wilson Ventura, do Coletivo Mariachi, entre vários outros manifestantes, e ameaça recorrentemente ativistas de espancamento durante os protestos no Rio de Janeiro.

Nunca anda sozinho e só ataca em bando de mais de 5 PMs.

Nessa imagem ele é flagrado na manifestação do dia 13/JUL, na Praça Saens Peña, agredindo uma adolescente que segurava um cartaz sozinha no protesto no momento em que o Choque começou a dispersar os manifestantes.

Pedimos por favor que divulguem essas imagens e o vídeo.