sexta-feira, 31 de julho de 2015

Vito Giannotti: imprescindível

Foto: Gabriela Venzke

Vito não era de meias palavras e, com bom humor, nos dava grandes lições.

Por Bruna Andrade*

“Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos dias e são muito bons; porém, há os que lutam toda a vida. Esses são os imprescindíveis” (Bertolt Brecht). Vito Giannotti certamente foi um dos imprescindíveis a quem se referia Brecht. Na sexta-feira, 24, ele nos deixou após 72 imprescindíveis anos de luta.

Nascido na Itália, Vito chegou ao Brasil em 1964, aos 21 anos. Trabalhou como metalúrgico em São Paulo, onde iniciou sua luta ao lado dos trabalhadores brasileiros na Oposição Metalúrgica e na Central Única dos Trabalhadores. Em meados da década de 1990, ao lado de sua companheira de vida, Cláudia Santiago, fundou o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), referência para a comunicação sindical e popular.

Através do NPC, ele passou os últimos anos viajando pelo país e ajudando, nas suas palavras, “os trabalhadores a melhorar, a aumentar, a potencializar sua comunicação”. Para ele, a comunicação era central na luta da classe trabalhadora. Defensor da democratização da mídia, inspirou muitos comunicadores populares, incentivou e ajudou na criação de diversos veículos contra-hegemônicos pelo país.

Tive a oportunidade de encontrar esse grande lutador em dois momentos das nossas trajetórias: no Curso Anual do NPC de 2013, no Rio de Janeiro, e em Porto Alegre, no mesmo ano, quando o entrevistei. Na época, eu integrava a equipe da revista de um sindicato. Entregamos alguns exemplares para ele que, no dia seguinte, durante uma oficina nos disse com seu jeitão: “está uma boooosta”. Assim, enfaticamente. Como não poderia deixar de ser, nos ajudando a construir a revista que estava nascendo, Vito nos devolveu os exemplares com rabiscos e colagens indicando muitas melhorias que poderíamos fazer. Como dizia, a comunicação dos trabalhadores tem que ter a linguagem dos trabalhadores.

Vito não era de meias palavras e, com bom humor, nos dava grandes lições. Durante a entrevista que me concedeu, ele falou uma frase que parece muito engraçada, mas que resume bem toda a sua luta para qualificar a comunicação dos trabalhadores: “um sindicato é um saco de batatas se não tiver uma comunicação adequada”. Com esse pensamento, além dos cursos, ele também publicou dezenas de livros sobre e para a classe trabalhadora, como “Cem anos de luta operária” e “O que é jornalismo sindical”.

Ele lutou por toda a vida. Vito deixa um grande legado e muitos ensinamentos para todos os, como ele, empenhados na construção de um mundo mais justo. Com a partida desse importante companheiro, aumentam as nossas responsabilidades, sobretudo na construção de uma comunicação verdadeiramente democrática e transformadora.

Vito Giannotti, presente!


*Bruna Andrade é redatora do Jornalismo B.