tag:blogger.com,1999:blog-73523110399395903772024-03-07T00:33:48.088-03:00O Inverso do ContraditórioApenas uma visão lógica de um mundo ilógico.
"A vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que seduzem a teoria para o misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e no compreender desta práxis." (Marx - Teses sobre Feuerbach)Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.comBlogger960125tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-88289139235973685682020-07-27T15:39:00.000-03:002020-07-27T15:39:34.567-03:00Tínhamos a Oportunidade de Sermos Referência e Viramos um Desastre<div style="text-align: center;"><img alt="Transmissão do novo coronavírus no Brasil começou em fevereiro ..." height="314" src="https://pfarma.com.br/images/noticias/brasil-coronavirus-casos.png" width="588" /></div><div><br /></div><div>Por Gabriela Lotta</div><div><br /></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Nós tínhamos tudo para sermos uma referência internacional no combate à pandemia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">1) Tínhamos pelo menos três semanas de vantagem para aprender com a experiência internacional e nos preparar com compra de equipamentos, reorganização de serviços, controle de fronteiras.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">2) Tínhamos o SUS com mais de 3 milhões de profissionais de saúde, um sistema público, referência internacional, presente em todo território nacional.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">3) Tínhamos um programa de atenção básica à saúde altamente capilarizado, com agentes comunitários que moram dentro dos territórios e poderiam fazer estratégias de educação, rastreamento de contatos, acompanhamento de casos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">4) Tínhamos experiência acumulada e reconhecida internacionalmente de combate a emergências, como a Zika e H1N1.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">5) Tínhamos um corpo técnico altamente qualificado no ministério da saúde, que realizava uma ação coordenada com estados e municípios, com bons sistemas de monitoramento e processos de tomada de decisão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">6) Tínhamos tudo mas também tínhamos um presidente negacionista que não só não ajudou na pandemia como decidiu atrapalhar prefeitos e governadores que agiram. Que decidiu combater o uso de máscara. Que decidiu propagar soluções mágicas e ineficazes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">7) Tínhamos um presidente que decidiu trocar duas vezes de ministro da saúde durante a pandemia. e na terceira decidiu nem decidir quem assumiria. deixou lá um militar sem experiência na saúde e que persegue técnicos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">8) Tínhamos um ministro militar que usou menos de 28% do orçamento da saúde e governadores e prefeitos que, em grande maioria, não bancaram a onda das medidas impopulares de isolamento social.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">9) Tínhamos um presidente que pelo negacionismo e conflito cotidiano conseguiu colocar parte da população contra profissionais da saúde que conseguiu gerar hostilização aos profissionais que são homenageados no país todo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">10) Tínhamos tudo para sermos uma referência internacional no combate à pandemia e viramos um grande desastre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">You can follow <a href="https://twitter.com/intent/user?screen_name=gabilotta">@gabilotta</a>.</div>Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0Estr. do Mendanha, 555 - Campo Grande, Rio de Janeiro - RJ, 23087-283, Brasil-22.884466 -43.5576521-22.91610190021931 -43.591984375390624 -22.852830099780689 -43.523319824609374tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-12922237560517511972020-06-25T19:22:00.001-03:002020-06-25T19:24:42.417-03:00Pandemia: os apocalípticos e os desintegrados<div style="text-align: justify;">Nos conceitos de Umberto Eco, chaves para entender a crise civilizatória. Há quem aposte que o capitalismo sairá revigorado; para outros, surge uma rede mundial de solidariedade. De material, população ainda mais desassistida pelo Estado.</div><div><br /></div><div><img height="420" src="https://outraspalavras.net/wp-content/uploads/2020/06/www.usnews.com_.jpg" width="640" /></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Por <a href="https://outraspalavras.net/author/rodrigomauricio/">Rodrigo Maurício Freire Soares</a></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Algumas reflexões feitas por pesquisadores sobre os efeitos da pandemia da covid-19 têm buscado compreender o momento atual como um momento de ruptura ou de esgotamento do modelo neoliberal vigente desde a queda do muro de Berlim. Como já visto em outros momentos da história, o sistema capitalista sempre foi capaz de apropriar-se de tudo aquilo que os humanos produziram a partir do seu trabalho. Neste sentido, novas apropriações podem passar a existir a partir de agora, sejam elas o espaço privado do professor “uberizado” dentro da sua residência dando aulas virtuais ou as novas formas de entretenimento, que colocam, por exemplo, as “lives” em um patamar de ilusória sociabilidade. Seguindo essa lógica de apropriação de tudo pelo sistema capitalista, é questionável se, de fato, as infraestruturas que estão a serviço de uma indústria do entretenimento, a exemplo de aeroportos, parques, hotéis e restaurantes, se tornarão um investimento morto no futuro pós-pandemia. É possível que, na lógica de uma ressignificação do capital e de suas formas de apropriação, as cidades utilizem aspectos relacionados à higienização, planejamento, ordenamento urbano e uma estrutura de saúde capaz de atender a visitantes como os novos valores de diferenciação das localidades, ou seja, como os ativos simbólicos dos destinos. Não me surpreenderia se as discussões sobre cidade, outrora voltadas para reflexões acerca da cidade da música, da cidade criativa ou da cidade inteligente passassem a apresentar a “cidade-protegida” ou a “cidade-saudável”, como fenômenos sociais contemporâneos. Uma cidade com uma infraestrutura de saúde sólida e mecanismos de controle sobre a saúde dos cidadãos certamente será uma variável para a escolha dos destinos turísticos: “tem o selo de cidade protegida?”</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em seu artigo a Política Anticapitalista em Tempos de Covid-19<a href="https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/na-pandemia-os-apocalipticos-e-os-desintegrados/#sdfootnote1sym">1</a>, David Harvey apresenta as implicações para o sistema capitalista desta crise de abrangência global. O autor aponta questões culturais, políticas e governamentais como decisivas para o aumento da propagação do vírus, que, em um mundo globalizado e de distâncias reduzidas, permitiram uma escalada geográfica sem precedentes. A crise que se iniciou na China teve impactos em cadeias de produção diversas, prejudicando, desde a gigante americana Apple a importantes parceiros comerciais do país asiático, sem distinção. No capitalismo, os insumos e consumidores se desterritorializam e as nações se tornam lugares viáveis ou não para a produção de um chip, uma placa ou uma máscara. As nações, neste contexto, ocupam o lugar de nós de rede da economia global.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O vírus poderá trazer efeitos significativos à economia, desde o encurtamento das cadeias de abastecimento, o aumento de formas de produção menos intensivas em mão de obra (o que geraria desemprego) e maior dependência de sistemas de produção dotados de inteligência artificial. Em outra esfera, a crise tem exposto a precarização das relações de trabalho, sobretudo dos profissionais que estão em uma linha de frente logística, responsáveis pela não interrupção das cadeias de produção e por sustentar uma dinâmica de consumo que permita a determinadas classes sociais receberem produtos em suas casas, mantendo um estado de artificial normalidade. Neste mesmo artigo, Harvey apresenta uma curiosa questão: estaríamos a um passo de nos aproximarmos de uma socialização da economia? Considerando as discussões sobre um “Estado Máximo” e o imperativo fortalecimento de estratégias de proteção e distribuição de renda, essa questão certamente emerge como fundamental nos dias atuais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Contudo, respondê-la talvez seja um exercício ainda um tanto quanto hipotético, assim como o é supormos quando teremos uma vacina testada, segura e, sobretudo, disponível globalmente. A percepção de esgotamento do modelo capitalista, incapaz de sustentar-se em meio a uma resposta a uma crise de saúde pública, é também trabalhada por Boaventura de Souza Santos em sua mais recente publicação intitulada A Pedagogia do Vírus<a href="https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/na-pandemia-os-apocalipticos-e-os-desintegrados/#sdfootnote2sym">2</a>. No capítulo em que aborda as primeiras lições aprendidas com a pandemia, o autor apresenta seis lições até agora observadas por ele, das quais destaco a terceira: “Enquanto modelo social, o capitalismo não tem futuro.” Assim como Harvey, Santos coaduna com o seu pensamento, afirmando que “o capitalismo poderá subsistir como um dos modelos econômicos de produção, distribuição e consumo, mas não como único e muito menos como o que dita a lógica da ação do Estado e da sociedade” (SANTOS, 2020).Outros autores também têm se referido ao momento presente como indicativo de um novo modelo de organização da sociedade, como sinal de “uma crise civilizatória” (MAFFESOLI, 2020).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para além destes aspectos de ressignificação do capitalismo, alguns economistas já tem utilizado o termo “reconversão industrial” ao se referir à necessidade de que seja utilizada a capacidade industrial existente para produzir ventiladores mecânicos, equipamentos médicos e de segurança hospitalar. Como afirmou a economista Monica De Bolle “a reconversão industrial gera empregos, impede a paralisia de fábricas, e permite que a indústria continue a funcionar”. Ou seja, ao invés de carros, é possível que essas indústrias passem a produzir máscaras, ou até mesmo algum outro tipo de dispositivo de alto valor monetário que filtre o ar, e que, com isso, acentue ainda mais as desigualdades sociais. Assim como Byung-Chul Han nos chamou atenção em seu artigo O coronavírus de hoje e o mundo de amanhã para uma divisão de classes entre aqueles que têm carro e aqueles que não possuem – indicando que aqueles que possuem estariam mais protegidos pela redução do contato/convívio com outras pessoas no ambiente do transporte público – poderíamos estar na iminência de vermos novos produtos de proteção individual surgirem e acirrarem as desigualdades sociais. Estar mais ou menos protegido pode ser o novo fetiche do capital. Um smartphone com uma função capaz de diagnosticar se o seu dono está infectado, ou, no jargão atual do jornalismo, se “testou positivo”, seria uma nova funcionalidade para as versões premium do dispositivo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em termos de crença na ciência, por mais paradoxal que esta expressão signifique, temos um contexto de polarização. Poderíamos fazer algumas correlações com ao que nos trouxe Umberto Eco, nos idos de 1970, sobre a existência de “apocalípticos e integrados” em suas discussões acerca da indústria cultural e da cultura de massa. Ele sinalizou, à época, quanto à existência de correntes distintas que veriam a comunicação a partir de um potencial de alienação (apocalípticos) ou de libertação do indivíduo (integrados). A terminologia utilizada sintetizou um debate que remontava os teóricos críticos da Escola de Frankfurt dos anos de 1930 a 1940 (Adorno e Horkheimer) e os Teóricos de Mídia (McLuhan e Innis) dos anos de 1950 a 1960. Se transpusermos a existência também de vieses e perspectivas em relação ao contexto contemporâneo da pandemia, talvez pudéssemos, de forma similar, pensar na existência dos apocalíticos como aqueles que creem numa ruptura brusca dos modos de vida e de organização social a curto e médio prazo e no esfacelamento do modo de vida atual. No outro oposto, teríamos os “integrados”, que acreditariam que um novo modelo de organização social, advindo desta crise civilizatória estaria por sinalizar uma atuação das nações de forma mais solidária, estando estas dispostas à realização de acordos multilaterais e de cooperação em diversas áreas. Este é mais um sintoma de um mundo complexo que, contraditoriamente, tem buscado soluções binárias e polarizadas para a sua compreensão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Talvez como assertiva possível neste cenário de incertezas, podemos afirmar que estamos ainda no início de um movimento espiral da história e quaisquer conclusões são de fato precipitadas. Contudo, nossa realidade aparentemente pode indicar a presença daqueles aos quais eu chamaria aqui de (des)integrados, fazendo uma alusão à tipificação de Eco. Uma parcela fragmentada de nosso tecido social, ainda mais desassistida em tempos de isolamento social, desconectados das redes de apoio social comunitário e sem o auxílio social do Estado. Uma nova condição de não-integração social cuja marca seria a alienação ainda mais acirrada da sua própria força produtiva.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/na-pandemia-os-apocalipticos-e-os-desintegrados/#sdfootnote1anc">1</a> HARVEY, David. Política Anticapitalista Em Tempos De Covid-19. In: DAVIS, Mike, et al: Coronavírus e a luta de classes. Terra sem Amos: Brasil, 2020. p 13-23.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/na-pandemia-os-apocalipticos-e-os-desintegrados/#sdfootnote2anc">2</a> SANTOS, Boaventura de Sousa A Cruel Pedagogia do Vírus. Lisboa, Grupo Almedina, 2020</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Fonte: <a href="https://www.blogger.com/#">Outras Palavras</a></div>Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com1Rio de Janeiro, RJ, Brasil-22.9068467 -43.1728965-51.217080536178841 -78.329146500000007 5.4033871361788464 -8.0166465tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-90552859786125481412020-05-15T17:04:00.000-03:002020-05-15T17:04:05.883-03:00Venezuela e Cuba dão exemplo no combate ao coronavírus, diz analista internacional<div style="text-align: center;">
<img height="402" src="https://www.redebrasilatual.com.br/wp-content/uploads/2020/04/venezuela.jpg" width="640" /></div>
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Por<a href="https://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2020/04/venezuela-cuba-coronavirus/" target="_blank"> Redação RBA</a></div>
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São Paulo – Apesar dos bloqueios econômicos que estão submetidos pelos Estados Unidos, Venezuela e Cuba têm se destacado no combate à pandemia do <a href="https://www.redebrasilatual.com.br/tag/coronavirus/">coronavírus</a>. Não apenas conseguiram conter a disseminação da doença, como estão ofertando ajuda, com envio de medicamentos, equipamentos e pessoal, em especial para os países da região do Caribe.</div>
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Graças às boas relações com a China, a Venezuela recebe diariamente carregamentos com equipamentos, insumos hospitalares e remédios, redistribuindo parte para os países vizinhos. Já Cuba, além de ter desenvolvido o medicamento mais eficaz no combate ao coronavírus – o <a href="https://www.redebrasilatual.com.br/saude-e-ciencia/2020/03/mundo-corre-mas-e-cuba-que-lidera-testes-de-vacina-contra-o-coronavirus/">Interferon</a> –, também tem enviado médico intensivistas, não apenas aos países do Caribe, mas a diversas partes do mundo, inclusive a Itália, um dos mais afetados pela pandemia.</div>
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<b>Venezuela</b></div>
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Com o apoio chinês, a Venezuela é o país que lidera, na América Latina, em número de exames para a detecção da covid-19. Até 11 de abril, o país havia realizado 181.335 testes rápidos, enquanto no Brasil o número total de testes <a href="https://www.redebrasilatual.com.br/saude-e-ciencia/2020/04/sem-testes-brasil-nao-tem-como-medir-tamanho-do-problema/">sequer é revelado</a> oficialmente.</div>
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A partir dos testes em massa, segundo o analista e consultor internacional Amauri Chamorro, o governo venezuelano conseguiu fazer o “cerco epidemiológico” ao coronavírus. Quase metade da população do país, cerca de 12 milhões de pessoas, já foi visitada por profissionais de saúde, que isolam os doentes mais graves e distribuem gratuitamente os medicamentos para os casos mais leves. Há ainda a distribuição de alimentos para evitar que as famílias saiam de casa.</div>
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Nos últimos dias, o governo venezuelano anunciou que doaria para a Colômbia dois dos cinco equipamentos chineses que realizam os testes laboratoriais, depois que o único exemplar do país vizinho parou de funcionar. Devido às rivalidades entre os dois países, o governo colombiano se recursou a aceitar.</div>
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“Há uma hostilidade terrível dos EUA contra Venezuela, Cuba e Irã. São os três países que mais sofrem com o bloqueio financeiro, porém, os dois primeiros têm um dos melhores indicadores na gestão da epidemia. É impressionante o que esses países conseguiram fazer”, destacou o analista, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o <a href="https://www.youtube.com/watch?v=YpVGi3Gy4Lg&t=5276s">Jornal Brasil Atual</a>, nesta terça-feira (14).</div>
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<b>Cuba</b></div>
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Nesta terça (13), 38 médicos e enfermeiros cubanos desembarcaram em Turim, capital do Piemonte, a região mais atingida pela pandemia na Itália. É a segunda delegação de Cuba que chega ao país para reforçar o combate ao coronavírus. A prefeita, Chiara Appendino, pelo Twitter, agradeceu o “extraordinário gesto de generosidade”.</div>
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Vivendo sob o embargo imposto pelos Estados Unidos desde 1959, ano da <a href="https://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2016/11/historia-da-revolucao-cubana-e-a-de-fidel-diz-biografa-2341/">Revolução Cubana</a>, agora são os outros países que buscam formas de burlar o bloqueio econômico à ilha para terem acesso ao Interferon, segundo Chamorro. Segundo ele, é o momento dos demais países e organizações internacionais – como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) – deixarem de se submeter às pressões dos norte-americanos. “Não é mais uma questão política. Estamos falando das vidas de milhões de pessoas.”</div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-56630523057160641732020-04-06T11:24:00.000-03:002020-04-06T11:24:04.083-03:00Zizek sobre o coronavírus: Um golpe letal no capitalismo para reinventar a sociedade<div style="text-align: center;">
<img alt="Zizek vê o poder subversivo do Coronavírus - Outras Palavras" height="353" src="https://outraspalavras.net/wp-content/uploads/2020/03/200303-zizek2.jpg" width="640" /></div>
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O popular filósofo <a href="http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/596809-zizek-ve-o-poder-subversivo-do-coronavirus">Slavoj Zizek</a>, um dos mais fervorosos críticos do <a href="http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597194-naomi-klein-capitalismo-e-coronavirus-o-choque-e-o-proprio-virus">sistema capitalista</a> e das “ideologias” sobre as quais se apoia, escreveu uma coluna sobre o coronavírus para o site Russia Today. Zizek aponta que o coronavírus destampou a realidade insustentável de outro vírus que infecta a sociedade: o capitalismo. Enquanto muitas pessoas morrem, a grande preocupação para estadistas e empresários é o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/596932-economia-global-em-quarentena">golpe para a economia</a>, a recessão, a falta de crescimento do Produto Interno Bruto e coisas desse tipo.</div>
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A reportagem é publicada por Pijamasurf, 16-03-2020. A tradução é do <a href="http://www.ihu.unisinos.br/sobre-o-ihu/rede-sjcias/cepat">Cepat</a>.</div>
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Esse colapso econômico se deve ao fato de que a economia se baseia fundamentalmente no consumo e na perseguição de valores defendidos pela visão capitalista, como a riqueza material. Mas não deveria ser assim, não deveria haver uma tirania do mercado. Zizek sugere que o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597312-a-pior-pandemia-experimentada-pela-humanidade">coronavírus</a> também apresenta a oportunidade de tomar consciência dos outros vírus que se espalham pela a sociedade, há muito tempo, e de reinventá-la:</div>
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“A atual expansão da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597276-coronavirus-o-fim-da-globalizacao-como-a-conhecemos">epidemia de coronavírus</a> detonou as epidemias de vírus ideológicos latentes em nossas sociedades: notícias falsas, teorias da conspiração paranoicas e explosões de racismo”.</div>
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“A bem fundamentada necessidade médica de estabelecer quarentenas fez eco nas pressões ideológicas em estabelecer limites claros e colocar em quarentena os inimigos que representam uma ameaça à nossa identidade. Mas talvez outro - e mais benéfico - vírus ideológico se espalhará e talvez nos infecte: o vírus de pensar em uma sociedade alternativa, uma sociedade para além do Estado-nação, uma sociedade que se atualize como <a href="http://www.ihu.unisinos.br/597253-gestos-de-solidariedade-comecam-a-surgir-em-meio-a-pandemia-do-coronavirus">solidariedade global e cooperação</a>”.</div>
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Zizek considera que é possível comparar o que está acontecendo com um famoso golpe assassino do filme Kill Bill, conhecido como “a técnica do coração explosivo”, com o qual a pessoa que o recebe ainda pode continuar suas atividades por um tempo, beber uma taça de vinho, ter uma conversa etc., embora logo, inevitavelmente, seu coração explodirá e morrerá: “Minha modesta opinião sobre a realidade é muito mais radical: a epidemia de coronavírus é uma forma especial de ‘técnica do coração explosivo’ no <a href="http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597264-o-coronavirus-o-perfeito-desastre-para-o-capitalismo-do-desastre">sistema global capitalista</a>, um sintoma de que não podemos continuar no caminho que seguimos até agora, que mudanças são necessárias”.</div>
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Zizek observa vários paradoxos. Enquanto o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597167-o-egoismo-o-virus-social-que-alimenta-a-epidemia">coronavírus</a> nos obriga a nos isolar, também “nos obriga a reinventar o comunismo com base na confiança nas pessoas e na ciência”. O filósofo acredita que é necessária uma nova compreensão do comunismo e que seria necessário, sobretudo, da comunidade.</div>
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Outro paradoxo, embora talvez também seja uma espécie de hipérbole trágica - ainda que possivelmente redentora -, é que na era em que o ser humano está mais <a href="http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597166-euficoemcasa-transformar-o-medo-do-coronavirus-em-um-recurso-e-possivel-os-conselhos-do-neurologista-sorrentino">isolado</a>, agora precisará se isolar ainda mais. No momento em que mais necessita de contato humano real e não meramente virtual, agora parece que o contato físico será um tabu. Contudo, talvez desse isolamento surgirão novos valores e se reafirmará a importância da comunidade, da convivência e da intimidade. O que é inegável é que é um tempo de reflexão, um tempo em que há menos ruído e, portanto, a possibilidade de maior clareza.</div>
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Fonte: <a href="http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597314-zizek-sobre-o-coronavirus-um-golpe-letal-no-capitalismo-para-reinventar-a-sociedade" target="_blank">Revista IHU</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-22259047485311374682020-02-15T12:29:00.000-03:002020-02-15T12:29:30.761-03:00Empregada doméstica na Disney: afinal dólar alto é bom ou ruim para a economia?<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><img height="480" src="https://img.brasildefato.com.br/media/b597785c502a6836f95abd9b7169a6ea.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" width="640" /></td></tr>
<tr><td class="tr-caption">Não adianta ter uma taxa de juros mais baixas se toda a "economia" com um menor pagamento de juros de dívida pública brasileira continuar indo para o sistema financeiro - Marcello Casal Jr, / Abr<br /><br /></td></tr>
</tbody></table>
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Por Juliane Furno</div>
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Recentemente o ministro da Economia Paulo Guedes proferiu mais uma das suas insensatas declarações. Em primeiro lugar ele assume um tom preconceituoso ao fazer referência às trabalhadoras domésticas, como as que não teriam “direito’ à viagens no exterior.</div>
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O que fica claro quando ele se refere a que “até elas” estavam viajando para fora, em um período de dólar desvalorizado com relação ao real, fazendo alusão a que esse lugar de viagens à Disney é de exclusividade de determinados setores sociais, dos quais elas não fazem parte.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Frases como essa exemplificam uma visão conservadora e servilista da sociedade brasileira, como uma herança escravocrata que foi radicalizada com a tardia regulamentação do trabalho doméstico.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em segundo lugar, o ministro parece desconhecer a realidade da sociedade, uma vez que ele afirma que as trabalhadoras domésticas não viajaram uma, mas duas ou três vezes para a Disney.</div>
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<br /></div>
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Talvez Paulo Guedes não saiba que o rendimento médio das trabalhadoras domésticas em 2014 - por exemplo – era de menos de um salário mínimo mês, o que as impossibilitaria de viajar ao exterior mesmo se tivéssemos paridade cambial com o dólar.</div>
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<br /></div>
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Bom ou ruim para a economia brasileira?</div>
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A fala de Paulo Guedes, na retomada dos trabalhados do Congresso Nacional, recoloca um importante debate para a sociedade. Afinal, o dólar alto ou baixo, com relação ao real, é bom ou ruim para a economia brasileira? Incrivelmente o ministro não está de todo errado, embora a taxa de câmbio não seja o único fator que determina a performance de uma economia.</div>
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<br /></div>
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Na época do Plano Real, o ministro da Economia Fernando Henrique Cardoso apostou em um instrumento chamado “âncora cambial”, na qual ele garantia que, por um período, a taxa de câmbio brasileira seria de “1 para 1” ou seja, um dólar valia um real.</div>
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<br /></div>
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Nesse período, parte da classe média brasileira pode realizar seus sonhos cosmopolitas, como ir a Miami e comprar produtos importados. Isso foi bom para o poder de compra da classe média, mas péssimo para o desenvolvimento econômico do país, porque inviabilizou o principal setor portador de fortes efeitos multiplicadores na economia brasileira, que é a indústria.</div>
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Valorização do real</div>
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<br /></div>
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Ao valorizar o real – além de comprometer as reservas cambais e ao exigir taxas de juros altas para cobrir os déficits em transações correntes – os produtos importados se tornaram mais baratos, estimulando a compra de mercadorias fora do país, o que fez diversas indústrias e empresas quebrarem nesse período.</div>
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<br /></div>
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No entanto, o dólar alto demais como está agora, também causa problemas econômicos, já que perdemos muitos elos da cadeia produtiva nacional após anos de desindustrialização, o que faz com que qualquer mercadoria brasileira – para ser construída – precisa de peças importadas.</div>
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<br /></div>
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Se o dólar está alto demais, o custo de importação desses componentes será repassado para o preço final, fazendo com que as mercadorias aqui fiquem mais caras. Ou seja, a taxa de câmbio deve ser uma determinação política, que se ligue a nossas necessidades de sermos um país industrial e com competitividade internacional.</div>
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<br /></div>
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Juros baixos</div>
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<br /></div>
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Ocorre, por fim, que o cenário macroeconômico atual, com dólar mais apreciado e juros mais baixos não funcionam como “toque de mágica”. Ainda que mesmo a literatura econômica heterodoxa pregue esse binômio, ele – sozinho – não é capaz de resolver os graves problemas atuais.</div>
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<br /></div>
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Não adianta ter uma taxa de juros mais baixas se toda a "economia" com um menor pagamento de juros de dívida pública brasileira continuar indo para o sistema financeiro.</div>
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A PEC do teto dos gastos limitou o gasto primário do governo (saúde, educação etc...) à variação da inflação do ano anterior, mas - curiosamente - disse que o gasto financeiro pode crescer sem constrangimentos. Ou seja, a "economia" que estamos fazendo com pagamentos de juros mais baixas está indo para enriquecer o próprio sistema financeiro, não resultando em nenhuma melhoria para a sociedade brasileira.</div>
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<br /></div>
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Por outro lado, também não adianta uma taxa de juros baixas se o crédito ao consumidor final – o chamado Spread bancário – continua tão alto quanto antes. Isso só serve para enriquecer os bolsos dos capitalistas do sistema financeiro.</div>
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Política industrial</div>
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Além disso, não adianta um dólar mais alto – teoricamente favorável à industria – se o governo Bolsonaro não deu prosseguimento a nenhuma política industrial. Assistimos, recentemente, a uma queda de 1,1% na indústria brasileira, sem contar que já estávamos em uma base industrial extremamente frágil, o que faz esse índice ser ainda mais significativo e atestar um processo de reprimarização da nossa economia.</div>
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Nem adianta um dólar competitivo se estamos destruindo um dos principais sustentáculos da indústria nacional que é o crédito barato, via BNDES.</div>
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<br /></div>
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Em síntese, para ser uma fórmula de condução do desenvolvimento econômico, a relação juros baixos e câmbio apreciado só funciona dentro de uma política de desenvolvimento nacional, que estimule a demanda agregada, a transferência de renda, o mercado interno e com mecanismos de desenvolvimento da indústria brasileira.</div>
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<br /></div>
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Fonte: <a href="https://www.brasildefato.com.br/2020/02/14/empregada-domestica-na-disney-afinal-dolar-alto-e-bom-ou-ruim-para-a-economia" target="_blank">Brasil de Fato</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-68013216364213551642019-08-13T12:40:00.000-03:002019-08-13T12:40:01.603-03:00"Eu, Daniel Blake" - Download do Filme<h5 class="font_5" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; font-family: "Noticia Text", serif; font-size: 14px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-weight: normal; line-height: normal; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; pointer-events: auto; text-align: center; vertical-align: baseline;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span class="color_11" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; font-style: italic; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">"Ouve-se dizer que a ciência está atualmente submetida a imperativos de rentabilidade econômica; na verdade sempre foi assim. O que é novo é que a economia venha a fazer abertamente guerra aos humanos; já não somente quanto às possibilidades da sua vida, como também às da sua sobrevivência."</span></span></span></span></h5>
<h5 class="font_5" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; font-family: "Noticia Text", serif; font-size: 14px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-weight: normal; line-height: normal; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; pointer-events: auto; text-align: center; vertical-align: baseline;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span class="color_11" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; font-style: italic; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">(Guy Debord, </span></span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Comentários sobre a Sociedade do Espetáculo</span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; font-style: italic; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">)</span></span></span></span></h5>
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<img alt="Resultado de imagem para eu daniel blake" height="426" src="https://www.diplomatique.org.br/wp-content/uploads/2017/02/14706925_1187858551287608_8431708400658296819_o.jpg" width="640" /></div>
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O mais recente filme do cineasta britânico Ken Loach nos faz sair do cinema com um nó na garganta. Quem já conhece seu trabalho, sabe o que esperar: personagens do povo, enfrentando as agruras de uma vida com pouco dinheiro, mas com singularidades humanas inequívocas. Assim também é "Eu, Daniel Blake". E ainda que, por vezes, o espectador já adivinhe alguns desenvolvimentos posteriores do roteiro, o filme resulta em uma obra extremamente comovente.</div>
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<br /></div>
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Vamos à sinopse: um carpinteiro com problemas cardíacos, apesar de ser aconselhado a temporariamente afastar-se de suas atividades profissionais, é considerado apto para o trabalho pelo sistema de seguridade social do Estado Britânico. Às voltas com a burocracia para conseguir reverter esse engano e receber a sua pensão temporária, o protagonista depara-se com uma jovem mãe solteira que também sofre com o atendimento a ela dispensado pelo governo. Esse é o ponto de partida para a amizade de Daniel, Katie e seus filhos. E para sabermos como lutarão pela sobrevivência a partir daí.</div>
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<br /></div>
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Para o público brasileiro, "Eu, Daniel Blake" tem o atrativo extra de nos fazer entrar em contato com algumas especificidades do sistema de amparo social britânico, ainda que dramaticamente entremos em contato justamente com a sua derrocada. Após o fim da "Era Blair", o mandato de primeiros-ministros do Partido Conservador passou a privilegiar uma agenda de "austeridade", que corta ou dificulta a obtenção de benefícios. Segundo <a href="http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/05/150501_uk_beneficios_eleicoes_lab">matéria da BBC</a>, em 2013 as economias conseguidas com esse expediente mostraram-se pífias, enquanto o seu impacto no empobrecimento da população já se fazia sentir de maneira pronunciada.</div>
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<br /></div>
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Desde as primeiras falas, que surgem ainda quando os créditos iniciais do filme estão na tela, constrói-se para o espectador o núcleo implícito da história: após anos de trabalho e de pagamentos compulsórios de taxas e impostos que garantiriam sua sobrevivência, Daniel Blake está sozinho. O sistema de valores no qual ele foi formado e no qual acredita simplesmente não existe mais. Ao ficar incapacitado temporariamente para o trabalho, ele tenta manter sua dignidade e apelar aos seus direitos. No entanto, debate-se com uma situação na qual passa a ser visto como um fardo para a sociedade e cujo comportamento desviante precisa ser corrigido. Tudo seria mais fácil se ele humildemente compreendesse isso. Mas ele quer justiça e busca o que é seu por direito. A sua saga, porém, não fala apenas de luta. Talvez a parte mais tocante do filme seja aquela que entrelaça toda a questão política com a importância da solidariedade.</div>
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<br /></div>
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Uma das cenas mais sutis do filme, que não diz respeito à relação franca e generosa que Blake tem com seus vizinhos e conhecidos, é quando ele é obrigado a assistir a uma aula de como formatar o currículo para conseguir manter seu seguro desemprego. Diante de um grupo de pessoas absolutamente perdidas na ausência de perspectivas profissionais, o professor marca no quadro uma frase: "é preciso destacar-se da multidão". Esse recurso de alguma forma explica as dificuldades enfrentadas pelo carpinteiro. Ele se debate com um sistema cultural e político que privilegia uma ideia central: alguns devem perecer para que alguns poucos se destaquem. E os fracassados são algo a se deixar para trás sem dó nem pena. Pior ainda, o fracasso parece ser contagioso. Olhar demoradamente, sentir empatia por alguém que sofre parece conter a ameaça de tornar esse observador, também ele, um sofredor.</div>
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<br /></div>
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A possibilidade de solidariedade fica assim interditada, a noção de cidadania se esvanece, a preocupação com o bem coletivo passa a ser considerada uma ameaça à Economia. Tudo isso se desenha no filme. E para o espectador mais inquieto, também ecoa uma pergunta que não foi feita diretamente no roteiro: a quem isso interessa?</div>
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<br /></div>
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Fonte: <a href="https://www.andreacatropa.com/eu-daniel-blake" target="_blank">Andréa Catrópa</a></div>
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Trailer:</div>
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<iframe width="320" height="266" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/ob_uqy1aouk/0.jpg" src="https://www.youtube.com/embed/ob_uqy1aouk?feature=player_embedded" frameborder="0" allowfullscreen></iframe></div>
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Clique no link para baixar o filme legendado via Torrent: <a href="magnet:?xt=urn:btih:c563822e860e9f8145545ef693217d0abc370f50" target="_blank">Eu, Daniel Blake</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-81092667304583621372019-07-17T17:40:00.000-03:002019-07-17T17:40:25.203-03:00Assim o Facebook te espia, entende e vende<div style="text-align: center;">
<img height="360" src="https://outraspalavras.net/wp-content/uploads/2019/07/Rea%C3%A7%C3%B5es-Facebook-Destaque.jpg" width="640" /></div>
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<br />
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<b>Plataforma analisa cada vez mais as emoções das pessoas para direcionar publicações — inclusive com técnicas de reconhecimento facial. Rentável para anunciantes, aposta é “prender” usuários na plataforma em troca de migalhas de felicidade</b></div>
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Por Ethel Rudnitzki e Rafael Oliveira</div>
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“O Facebook ajuda você a se conectar e compartilhar com as pessoas que fazem parte da sua vida.” É essa mensagem que aparece na sua tela ao se fazer o login na rede social – ou antes de criar a sua conta, se você não for um dos 130 milhões de brasileiros que usam o Facebook.</div>
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<br /></div>
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Mas, além de se conectar com amigos e família, ao criar uma conta ou logar na plataforma, você está compartilhando suas informações com a empresa. O uso dos dados pessoais sempre esteve descrito nos Termos de Utilização e na Política de Dados – para quem tivesse paciência de lê-los. Mas a extensão e as consequências desse uso só começaram a vir à tona com o escândalo da empresa Cambridge Analytica, que mostrou como dados de usuários do Facebook foram usados na segmentação de anúncios para a campanha eleitoral de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.</div>
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<br /></div>
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Um estudo inédito da pesquisadora Débora Machado, da Universidade Federal do ABC (UFABC), revela que o uso de informações pessoais pode ir além. O Facebook tem tecnologias suficientes para saber o que estamos sentindo em cada momento que logamos na plataforma. E mais: a partir disso, pode moldar as nossas emoções em benefício próprio.</div>
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<br /></div>
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A pesquisadora buscou patentes e pedidos de patente registrados pela Facebook Inc. nos Estados Unidos entre 2014 e 2018, encontrando quase 4.000. Entre elas, refinou a pesquisa para aquelas que só diziam respeito à rede social e depois selecionou 39 com potencial de modulação do comportamento do usuário. Destas, cerca de 15% tinham a análise de emoções como parte fundamental do funcionamento – vale lembrar que nem todas se tornaram patentes de fato. “Por mais que aquela tecnologia não esteja sendo utilizada, ou não vá ser utilizada, aquele é um conhecimento que a empresa adquiriu”, explica Débora.</div>
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<br /></div>
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Durante um mês, a Pública analisou algumas patentes sobre modulação de comportamento e adaptação do conteúdo apresentado no feed de notícias para entender como as tecnologias do Facebook podem detectar as emoções dos usuários e o que elas podem fazer com essas informações. A reportagem descobriu 130 invenções da Facebook Inc. com a palavra “emotion” e/ou “feeling” (emoção e sentimento, respectivamente) – uma parcela pequena do total de 3.081 patentes efetivamente registradas desde sua criação, em 2004. O levantamento revelou que 65% (85) das patentes que tratam de emoções foram registradas a partir de 2015, quando a plataforma patenteou a tecnologia da ferramenta “Reactions”, aquelas “carinhas” que demonstram sua reação a um texto – sinal de que desde então o interesse da plataforma por reações emocionais só aumentou.</div>
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<b>Das reactions ao reconhecimento facial</b></div>
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Em fevereiro de 2016, o Facebook lançou as reactions com a ajuda de psicólogos e psiquiatras da Universidade Berkeley, nos Estados Unidos, e de Matt Jones, ilustrador da Pixar que fez a animação Divertidamente.</div>
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<br /></div>
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A ferramenta permite que o usuário reaja com cinco diferentes emoções às publicações na rede social. Além do tradicional “curtir”, a plataforma oferece as reações “amei”, “haha”, “uau”, “triste” e “grr”. A intenção era “fornecer ao usuário mais maneiras para ele expressar suas reações às postagens de uma maneira fácil e rápida”, conforme declarou o desenvolvedor de produto Sammy Krug durante o lançamento mundial da ferramenta. “Ao longo do tempo esperamos aprender como as diferentes reações podem ser ranqueadas diferentemente pelo feed de notícias para fazer um melhor trabalho em mostrar para as pessoas as histórias que elas mais querem ver”, completou.</div>
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<br /></div>
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O reconhecimento facial, sensor de teclado e análise de informações linguísticas são alguns exemplos de como a empresa vislumbra fazer isso. “A maioria das patentes cita um uso de todos os sensores do celular”, diz Débora. “Fala-se bastante de reconhecimento facial, fala-se bastante de reconhecimento de voz. Fala-se também de uma análise da forma que você digita e de sensores como giroscópio, que consegue identificar em qual posição o celular está, a rapidez que você tira ele do bolso, a iluminação ao redor.”</div>
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Uma das patentes analisadas pela Pública se chama “Técnicas para a detecção de emoção e entrega de conteúdo” e foi registrada em fevereiro de 2014. A ferramenta identifica o sentimento que o usuário expressa a cada publicação que ele vê. Para captar isso, o aplicativo pode usar a câmera do dispositivo e reconhecer a expressão facial do usuário e a interação com o post (curtida, reação, compartilhamento ou comentário). Com a emoção reconhecida, o aplicativo leva em conta a informação para apresentar as próximas publicações. No texto da patente há um exemplo: “se um usuário for identificado como entediado, um conteúdo engraçado poderá ser mostrado a ele”.</div>
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Outra patente, chamada “Determinando características de personalidade do usuário a partir de sistemas de comunicação na rede social”, descreve uma tecnologia capaz de identificar informações emocionais do usuário a partir do conteúdo das suas mensagens de texto. Ou seja, a ferramenta lê o que você escreve e interpreta, permitindo que a rede social obtenha informações linguísticas de um aplicativo de mensagens – que pode se aplicar ao Messenger, chat privado do Facebook ou ao “Direct” do Instagram – e as registre junto ao perfil do usuário com classificações como extroversão, sociabilidade, conscientização e estabilidade emocional. “Usando características de personalidade ao selecionar conteúdos, a rede social aumenta a probabilidade de que o usuário interaja favoravelmente com o conteúdo”, diz a descrição da patente.</div>
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<br /></div>
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Se você costuma enviar mensagens a seus amigos se lamentando de estresse, cansaço ou frustrações, ao usar essa tecnologia a plataforma poderá interpretar que você está emocionalmente instável e moldar os conteúdos que combinem com esse estado emocional.</div>
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Outra tecnologia registrada pelo Facebook também detecta emoções nas mensagens de texto, através do teclado do dispositivo. A patente “Melhorando mensagens de texto com informação emocional” permite que a plataforma identifique o ritmo, a pressão e a precisão da digitação do usuário e associe isso a uma característica emocional. Então, a ferramenta pode apresentar a mensagem escrita de maneira a combinar com o que você está sentindo. Se você está digitando rapidamente, a plataforma poderia, por exemplo, alterar a fonte e deixar os caracteres mais aproximados, transmitindo a mensagem visual de pressa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A política de dados do Facebook especifica algumas das ferramentas utilizadas para a coleta de informações dos usuários, incluindo “informações de e sobre os computadores, telefones, TVs conectadas e outros dispositivos conectados à web que você usa e que se integram a nossos Produtos”, além de “acesso à sua localização GPS, câmera ou fotos”. Tecnologias como reconhecimento facial, coleta de metadados de publicações, monitoramento de acesso da plataforma também são citadas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O usuário pode decidir não permitir isso, entretanto. Mas, segundo Débora, “inibir o uso dessas ferramentas deixa a sua experiência nessas plataformas cada vez mais restritas”, e isso funciona como um incentivo à permissão mais ampla. Ela cita o exemplo da câmera: se você restringir o acesso do Facebook à câmera do seu celular, não será mais possível tirar fotos e vídeos e publicar na plataforma.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por sua vez, a empresa apresenta essa informação com a justificativa de “melhorar a experiência do usuário”, “Pesquisar e inovar para o bem social” e “Promover segurança e integridade”, nos seus Termos de Serviço.</div>
<div style="text-align: justify;">
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Outra tecnologia registrada pelo Facebook também detecta emoções nas mensagens de texto, através do teclado do dispositivo. A patente “Melhorando mensagens de texto com informação emocional” permite que a plataforma identifique o ritmo, a pressão e a precisão da digitação do usuário e associe isso a uma característica emocional. Então, a ferramenta pode apresentar a mensagem escrita de maneira a combinar com o que você está sentindo. Se você está digitando rapidamente, a plataforma poderia, por exemplo, alterar a fonte e deixar os caracteres mais aproximados, transmitindo a mensagem visual de pressa.</div>
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A política de dados do Facebook especifica algumas das ferramentas utilizadas para a coleta de informações dos usuários, incluindo “informações de e sobre os computadores, telefones, TVs conectadas e outros dispositivos conectados à web que você usa e que se integram a nossos Produtos”, além de “acesso à sua localização GPS, câmera ou fotos”. Tecnologias como reconhecimento facial, coleta de metadados de publicações, monitoramento de acesso da plataforma também são citadas.</div>
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O usuário pode decidir não permitir isso, entretanto. Mas, segundo Débora, “inibir o uso dessas ferramentas deixa a sua experiência nessas plataformas cada vez mais restritas”, e isso funciona como um incentivo à permissão mais ampla. Ela cita o exemplo da câmera: se você restringir o acesso do Facebook à câmera do seu celular, não será mais possível tirar fotos e vídeos e publicar na plataforma.</div>
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Por sua vez, a empresa apresenta essa informação com a justificativa de “melhorar a experiência do usuário”, “Pesquisar e inovar para o bem social” e “Promover segurança e integridade”, nos seus Termos de Serviço.</div>
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<b>Sorria. Você está sendo “modulado”</b></div>
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<br /></div>
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Diferente da manipulação, a modulação ocorre de maneira sutil e personalizada através de algoritmos que coletam dados dos usuários. “Você não precisa enganar a pessoa, você não precisa dar informações falsas ou dar a entender uma coisa sendo que a verdade é outra. Você na verdade está direcionando ela, orientando ela em uma certa direção, ao mesmo tempo que dá a sensação de que ela está caminhando livremente para onde ela quiser”, explica a pesquisadora Débora Machado, que analisou 39 patentes de ferramentas que modulam o comportamento.</div>
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Um exemplo de patente que pode ser considerada útil para a modulação de comportamento se chama “Filtrando comunicações relacionadas a emoções indesejadas em redes sociais”. A invenção associa emoções a diversas interações dos usuários na plataforma – comentários, mensagens, publicações, curtidas etc. Aquelas interações que forem associadas a emoções consideradas “desejadas” serão reforçadas, e as que forem consideradas “indesejadas” serão preteridas. Como exemplos de emoções indesejadas, a patente cita luto, culpa, raiva, vergonha e medo.</div>
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Para incentivar o seu bom humor, a rede social pode exibir no feed de notícias publicações às quais você reagiu positivamente no passado. A patente cita como exemplo a lembrança de ações anteriores do usuário. Isso já acontece quando o Facebook sugere posts que comemoram um aniversário ou relembram uma publicação antiga – mas não há indícios de que isso é associado ao seu estado de humor.</div>
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A consequência dessa patente, explica a pesquisadora, é que o Facebook pode, através do feed de notícias, privilegiar uma amizade em detrimento de outra ou dar preferência a certos tipos de publicações para determinados sentimentos. E isso não necessariamente corresponde aos interesses do usuário. “Eu identifico que a plataforma está mais interessada em deixar o usuário mais interativo, ou fazer ele executar uma ação específica. Eu não acho que a plataforma está muito preocupada se o que leva ele a comprar um produto, por exemplo, é ele estar triste ou estar feliz”, constata Débora.</div>
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<b>Emoção é dinheiro</b></div>
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Saber quais são as emoções dos usuários é útil para anunciantes. Os anúncios são a principal fonte de renda do Facebook, representando US$ 14,91 bilhões no primeiro semestre de 2019 – 98,8% da receita. Das 130 patentes com a palavra “emoção” registradas pela plataforma, 109 (84%) contêm também a palavra “propaganda” (advertise) em suas descrições.</div>
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“As características de personalidade inferidas são armazenadas junto aos perfis do usuário e podem ser usadas para mirar, ranquear e selecionar versões de produtos [para oferecer ao usuário] e muitas outras funções”, define uma dessas patentes.</div>
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Outras são mais explícitas. A patente “Sinais negativos para segmentação de anúncios” descreve uma ferramenta que registra interações negativas de usuários com certos conteúdos, por exemplo, a expressão de emoções tristes ou bravas, comentários ruins, reação de ira, e cria uma lista de itens com os quais o usuário não se relaciona bem – uma “lista negra”, ou blacklist, no linguajar da patente – e que não devem ser mostrados ao usuário.</div>
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Procurada, a empresa afirmou que não comenta a cobertura específica de suas patentes ou razões para registrá-las. “O Facebook usa uma estratégia de patentes que não cobre apenas tecnologia usada nos produtos e serviços do Facebook, mas inclui também diferentes tipos de tecnologia. Por essas e outras razões, as patentes nunca devem ser entendidas como uma indicação de planos futuros.”</div>
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Além disso, reforçaram que não oferecem aos anunciantes a opção de direcionar anúncios com base na emoção das pessoas.</div>
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O publicitário e vice-presidente executivo da agência WMcCann, Márcio Borges, autor de dissertação sobre reações e engajamento em posts publicitários no Facebook, confirma que a segmentação por emoções não é disponível ao anunciante. “Hoje você não compra isso, mas o Facebook pode usar essas informações como forma de maximizar os resultados.” Atualmente, os anunciantes recebem a segmentação de público com base em comportamentos e interesses identificados pela rede social. “No fundo, essa informação vem pautada pelas reações, mas nós não compramos a segmentação por emoção.”</div>
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A análise das patentes pela reportagem vai na contramão do discurso pela saúde mental promovido pelo Facebook e da promessa de Mark Zuckerberg de estar trabalhando para que os usuários passem menos tempo na rede. As patentes relacionadas a emoções registradas pela marca indicam interesse de prender o usuário o máximo de tempo possível na rede. “Eu entendo que a partir do momento que você cria uma tecnologia que faz de tudo para o usuário ficar ativo e interagindo dentro dela, isso significa que você quer que essa pessoa esteja lá interagindo a maior quantidade de tempo possível”, afirma Débora.</div>
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Os próprios botões “curtir” do Facebook e “amei” do Instagram funcionam de maneira a prender o usuário à plataforma. Quando você posta um conteúdo e recebe uma curtida, o sistema nervoso é estimulado com a produção de dopamina, assim como quando você usa uma droga.</div>
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Algumas patentes de emoção analisadas pela Pública falam claramente em tecnologias capazes de garantir a permanência do usuário na rede social. É o caso da invenção “Apresentando conteúdos adicionais para um usuário de redes sociais baseado em uma indicação de tédio”, registrada em janeiro de 2015. A ferramenta permite que uma rede social identifique níveis de tédio – como recarregamento do feed de notícias e baixa interação com publicações – e iniba essa sensação. “A rede social apresenta conteúdos alternativos através do feed de notícias ao usuário com indicativo de tédio para encorajá-lo a interagir com os conteúdos”, explica o texto da patente.</div>
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De maneira parecida, a ferramenta “Reactions” também pode funcionar de maneira a incentivar a permanência do usuário na plataforma, segundo o publicitário Márcio Borges. “Quando você olha as reações, são quatro positivas ou neutras e duas negativas. É como se fosse padronizada matematicamente uma rede predominantemente positiva, porque você tem mais maneiras de expressar positividade do que manifestar negatividade. A própria maneira com a qual os botões estão dispostos, a ordem que eles vêm, também vêm do campo da positividade para a negatividade. As primeiras opções são positivas e as últimas negativas”, diz.</div>
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Para a pesquisadora Débora Machado, o escândalo da Cambridge Analytica só empurrou o Facebook a buscar mais maneiras de estudar o comportamento. “A partir do momento em que as pessoas se preocupam mais com o que elas divulgam sobre sua própria vida, a rede também tem que encontrar outras formas de coletar informações diversas sobre o que você está sentindo ou pensando, para poder identificar qual a melhor hora de te direcionar algum conteúdo ou te levar a realizar alguma ação específica que seja vantajosa para o modelo de negócio da plataforma ou para o objetivo final do anunciante”, afirma.</div>
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Questionado pela Pública sobre a permanência dos usuários, o Facebook respondeu que trabalha para que eles “tenham conexões significativas” dentro da plataforma e que desenvolve ferramentas para que eles tenham controle sobre a quantidade de tempo que passam nela. “Queremos que o tempo gasto no Facebook seja positivo para as pessoas. No último trimestre de 2018, por exemplo, fizemos alterações para mostrar menos vídeos virais. No total, as alterações que fizemos em 2018 reduziram o tempo gasto no Facebook em cerca de 50 milhões de horas todos os dias”, afirmou a empresa em nota.</div>
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Fonte: <a href="https://apublica.org/2019/07/como-o-facebook-esta-patenteando-as-suas-emocoes/">Agência Pública</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-81844439089450045602019-06-02T22:17:00.001-03:002019-06-02T22:17:23.036-03:00Liberalismo e Nazifascismo possuem mais afinidades do que você imagina<div style="text-align: justify;">
Oposição entre Liberalismo e Nazifascismo é mito: liberais e neoliberais legitimaram o nazifascismo, já os nazifascistas aplicaram políticas de inspiração liberal em suas ditaduras.</div>
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Por Luan Toja<div>
<br /></div>
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<img alt="liberais e fascistas" height="320" src="https://avoyager.net/wp-content/uploads/2019/05/liberais-e-fascistas-capa-750x375.jpg" width="640" /></div>
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Em tempos nos quais o cinismo impera ao ponto de qualquer procedimento de inversão da realidade ser utilizado para justificar ações convenientes, vem sendo bastante difundida uma máxima cuja acepção crava que “o maior inimigo do fascismo é o liberalismo”. No entanto, é uma pena para os desonestos intelectuais de plantão, que há sempre a possibilidade dos fatos serem trazidos à tona para desmistificarem tais falácias.</div>
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<b>Um liberal na gênese do Fascismo</b></div>
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Comecemos pela história de Vilfredo Pareto, economista liberal e sociólogo italiano de origem francesa. Nascido em Paris, em meados do século XIX, Pareto foi inimigo mortal de todo e qualquer protótipo de <a href="https://voyager1.net/tag/socialismo">socialismo</a>, contrário a qualquer forma de <a href="https://voyager1.net/tag/intervencionismo">intervencionismo</a> no mercado e defensor da dominação das elites, além de ter sido um dos teóricos que produziram a ideologia precursora do fascismo. É possível que sua convicção na superioridade de uma classe de elite tenha contribuído para a elevação do <a href="https://voyager1.net/tag/fascismo">Fascismo</a> na <a href="https://voyager1.net/categoria/mundo/italia">Itália</a>.</div>
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<a href="https://avoyager.net/wp-content/uploads/2019/05/paretto.jpg"><img height="200" src="https://avoyager.net/wp-content/uploads/2019/05/paretto.jpg" width="145" /></a></div>
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<span style="font-size: x-small;">Vilfredo Pareto, economista liberal e um dos ideólogos do movimento fascista.</span></div>
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<br /></div>
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Pareto argumentou que a democracia era uma ilusão (da mesma forma que ultraliberais e neoliberais dizem hoje) e que uma classe dominante sempre irá subsistir enriquecendo-se cada vez mais, ou seja, como todo liberal, acreditava que as desigualdades sociais faziam parte de uma ordem natural. Para ele, a questão-chave era como ativamente agiam os governantes. Por esta razão, ele reivindicou uma redução drástica do <a href="https://avoyager.net/tag/estado">Estado</a> e conceituou o regime de Benito Mussolini como uma transição para esse Estado mínimo, de modo a libertar as forças econômicas</div>
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<br /></div>
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<i>Nos primeiros anos de seu governo, Mussolini literalmente executou a política prescrita por Pareto, destruindo a liberdade política. Mas, ao mesmo tempo, substituindo a gestão estatal pela gestão privada, diminuindo os impostos sobre a propriedade, favorecendo o desenvolvimento industrial e impondo uma educação religiosa nos dogmas. (BORKENAU, Franz. Pareto. Nova Iorque: John Wiley & Sons, 1936. p. 18.)</i></div>
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<br /></div>
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É verdade que Pareto considerou o triunfo de Mussolini como uma confirmação de algumas das suas ideias, especialmente pelo fato do líder da Itália Fascista demonstrar a importância da força e compartilhar seu desprezo por um sistema igualitário. Posteriormente, ele aceitou uma nomeação “real” para o senado italiano de Mussolini e morreu menos de um ano após a instauração do novo regime. Contudo, a importância dele para o fascismo foi equivalente a de <a href="https://avoyager.net/tag/karl-marx/">Karl Marx</a> para o socialismo científico.</div>
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<br /></div>
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<b>O Liberalismo como agenda das políticas econômicas de Mussolini</b></div>
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<br /></div>
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Não obstante, no período de 1922 a 1925, Mussolini e seu governo totalitário deram continuidade à política econômica do laissez-faire, por meio da coordenação de um ministro de finanças liberal, Alberto De Stefani. Sua administração reduziu impostos, regulamentações, restrições comerciais e procurou promover uma maior competitividade entre as empresas.</div>
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<br /></div>
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<i>Depois da nomeação de Mussolini como primeiro-ministro, os industriais sentiram-se ainda mais recompensados com a designação de Alberto De Stefani, um intransigente liberal, como ministro das Finanças — para alegria de Luigi Einaudi (membro do Partido Liberal Italiano). De Stefani reduziu impostos, aboliu isenções fiscais que beneficiavam contribuintes de baixa renda, facilitou as transações com ações e a evasão fiscal reintroduzindo o anonimato (abolido por Giolitti), eliminou a regulamentação dos aluguéis, privatizou os seguros de vida (introduzidos por Giolitti) e transferiu a gestão do sistema de telefonia para o setor privado.(SASSOON, Donald. Mussolini e a ascensão do Fascismo. Rio de Janeiro: Agir, 2009. p. 120)</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ademais, a ascensão do Fascismo (tal como a do nazismo de Adolf Hitler na Alemanha) só foi possível com a colaboração e o suporte financeiro de grandes corporações ainda hoje poderosas: BMW, Fiat, IG Farben (Bayer), Volkswagen, Siemens, IBM, Chase Bank, Allianz, entre outros grupos de mídia, que financiaram esses regimes com o objetivo de frear o avanço do socialismo soviético na Europa.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Os industriais ainda não confiavam em Mussolini, pois sabiam que fora socialista e ainda usava uma retórica socialista. Mussolini deu-se conta disto, tratando, em 1921, de adaptar sua linguagem para o liberalismo econômico e abandonar os princípios de intervencionismo estatal até então apregoados por ele. Em 1922, para todos os efeitos, aderira plenamente ao liberalismo econômico, sendo elogiado por um intransigente liberal em matéria econômica como Luigi Einaudi, que no dia 7 de junho de 1922 acusou o prefeito de Bolonha de bolchevismo por tentar conter a violência fascista.</i></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(…)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<i>Antes de 1922, os industriais ignoravam o fascismo ou se mostravam indiferentes. Ao longo de 1922, mantiveram-se basicamente calados sobre o advento do fascismo. Era quase como se tivessem medo de tomar partido ou não conseguissem reunir coragem para apoiar abertamente o fascismo. À medida que os fascistas se fortaleciam, os industriais passaram a simpatizar com eles, como tantos outros que até recentemente defendiam a importância da democracia. No momento em que Mussolini foi designado primeiro-ministro, a maioria dos capitalistas passou a apoiá-lo praticamente sem reservas. No dia 29 de outubro de 1922, a Confindustria [p. 119] aprovou de maneira entusiasmada o novo governo (antes mesmo que Mussolini aceitasse formalmente a nomeação).</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(…)</div>
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<br /></div>
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<i>Isso não quer dizer que os industriais (ou, antes, sua associação, a Confindustria) tivessem se tornado pró-fascistas. Se dependesse de sua preferência, o novo governo seria chefiado por um liberal. Quer dizer apenas que eles também estavam convencidos da generalizada convicção de que não só não deviam ser tomadas iniciativas contra os fascistas, como era necessário entrar em acordo com eles, pois haviam se tornado a principal força anti-socialista do país.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>(SASSOON, Donald. Mussolini e a ascensão do Fascismo. Rio de Janeiro: Agir, 2009. pp. 115, 116, 118 e 119)</i></div>
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<br /></div>
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No dia 20 de setembro de 1922, em discurso pronunciado na cidade de Udine, Mussolini uma vez declarou:</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<img height="200" src="https://voyager1.net/wp-content/uploads/2017/01/mussolini.jpg" width="199" /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">O ditador Benito Mussolini (Predappio, 29/07/1883 – Mezzegra, 28/04/1945</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Queremos retirar do Estado todos os seus poderes econômicos. Basta de ferroviários estatais, carteiros estatais, seguradores estatais. Basta deste Estado mantido à custa dos contribuintes e pondo em risco as exauridas finanças do Estado italiano.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No filme Fascismo Inc., o cineasta Chatzistefanou esmiúça a também estreita colaboração de industriais e banqueiros com os nazistas para perseguir e destruir o sindicalismo e os socialistas, a quem chamavam de “terroristas”. Detalhe: Hitler extinguiu o Partido Comunista alemão um dia depois de tomar posse.</div>
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<br /></div>
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<b>Teóricos neoliberais justificaram e legitimaram o Nazifascismo</b></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<img height="320" src="https://avoyager.net/wp-content/uploads/2019/05/dollfuss-e-mussolini.jpg" width="640" /><span style="font-size: x-small;">Da esquerda para a direita: Engelbert Dollfuss, Benito Mussolini e Gyula Gömbös. Líderes fascistas tiveram apoio de liberais neoclássicos também, como Ludwig von Mises.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O apoio ao fascismo não se limitava aos liberais do início do século XX. Os liberais neoclássicos que deram origem à corrente ideológica que se tornou hegemônica hoje, o neoliberalismo, também defendiam o fascismo e sua variante nazista como projetos políticos necessários para manter a ordem capitalista.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É o que podemos conferir nesta declaração de <a href="https://avoyager.net/tag/friedrich-hayek/">Friedrich Hayek</a>, membro da Escola Austríaca, sobre a sua impressão do nazismo:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<img height="200" src="https://avoyager.net/wp-content/uploads/2019/05/hayek.jpg" width="199" /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">O economista Friedrich Hayek, Viena, 8/05/1899 — Friburgo em Brisgóvia, 23/03/1992.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>É importante recordar que, muito antes de 1933, a Alemanha alcançara um estágio em que não lhe restava senão ser governada de forma ditatorial. Ninguém duvidava então de que a democracia entrara em colapso, ao menos por certo tempo, e de que democratas sinceros como Brüning eram tão incapazes de governar democraticamente como o eram Schleicher ou von Papen. Hitler não precisou destruir a democracia; limitou-se a tirar proveito da sua decadência e no momento crítico conseguiu o apoio de muitos que, embora o detestassem, consideravam-no o único homem bastante forte para pôr as coisas em marcha.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(HAYEK, Friedrich. O caminho da servidão. 5. ed. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1990. p. 90)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A complacência de teóricos liberais neoclássicos com relação ao Fascismo prossegue com <a href="https://avoyager.net/tag/ludwig-von-mises/">Ludwig von Mises</a>. Outro ícone da <a href="https://avoyager.net/tag/escola-austriaca/">Escola Austríaca</a>, Mises atuou como conselheiro econômico do governo fascista de Engelbert Dollfuss na Áustria. Em seu livro “Liberalismo — Segundo a tradição clássica”, ele reitera que o Fascismo foi um movimento político que teve como um de seus principais objetivos o combate ao bolchevismo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<img height="200" src="https://avoyager.net/wp-content/uploads/2019/05/mises.jpg" width="200" /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">O téorico liberal neoclássico Ludwig von Mises (Lviv, 29/09/1881 — Nova Iorque, 10/10/1973).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>As ações dos fascistas e de outros partidos que lhe correspondiam eram reações emocionais, evocadas pela indignação com as ações perpetradas pelos bolcheviques e comunistas. Ao passar o primeiro acesso de ódio, a política por eles adotada toma um curso mais moderado e, provavelmente, será ainda mais moderado com o passar do tempo.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>(…)</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Tal moderação resulta do fato de que os pontos de vista tradicionais do liberalismo continuam a exercer influência inconsciente sobre os fascistas.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>(…)</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Ora, não se pode negar que o único modo pelo qual alguém possa oferecer resistência efetiva contra assaltos violentos seja por meio da violência. Contra as armas dos bolcheviques, devem-se utilizar, em represália, as mesmas armas, e seria um erro mostrar fraqueza ante os assassinos. Jamais um liberal colocou isto em questão.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(VON MISES, Ludwig. Liberalismo – Segundo a Tradição Clássica / Ludwig von Mises. — São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010. pp. 75 e 76)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nesta obra, Mises também não hesitou em legitimar, elogiar e, até mesmo, enaltecer o Fascismo:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Não se pode negar que o fascismo e movimentos semelhantes, visando ao estabelecimento de ditaduras, estejam cheios das melhores intenções e que sua intervenção, até o momento, salvou a civilização europeia. O mérito que, por isso, o fascismo obteve para si estará inscrito na história. Porém, embora sua política tenha propiciado salvação momentânea, não é do tipo que possa prometer sucesso continuado. O fascismo constitui um expediente de emergência.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A origem totalitária do Neoliberalismo</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<img height="320" src="https://avoyager.net/wp-content/uploads/2019/05/pinochet-e-friedman.jpg" width="640" /><span style="font-size: x-small;">Pinochet (à direita) e Friedman (de terno escuro).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O conluio entre liberais e fascistas no combate ao socialismo não para por aí. Antes do general de extrema-direita Augusto Pinochet liderar o golpe militar chileno que destituiu, violentamente do poder, o presidente socialista Salvador Allende — com aprovação da burguesia e apoio financeiro dos Estados Unidos —, surgiu em alguns setores ligados à política externa dos EUA e da Grã-Bretanha um movimento cuja intenção era encaixar os governos desenvolvimentistas do Terceiro Mundo na lógica binária da <a href="https://avoyager.net/tag/guerra-fria/">Guerra Fria</a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para os falcões que enxergavam o mundo apenas de forma bipolar, o nacionalismo seria o primeiro passo rumo ao totalitarismo comunista. Portanto, erradicar o desenvolvimentismo no Cone Sul, que era onde ele havia fincado raízes mais profundamente, tornara-se uma meta. Agências como a Administração para a Cooperação Internacional dos Estados Unidos (mais tarde USAID) estavam engajadas em combater o desenvolvimentismo e o marxismo no plano intelectual, bem como suas influências sobre a economia latino-americana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No que tange ao <a href="https://avoyager.net/orbita/mundo/chile/">Chile</a>, o plano consistia em o Imperialismo Ianque financiar estudantes chilenos para aprender economia na mais reconhecidamente anti-comunista escola do mundo — a Universidade de Chicago — de forma a combater ideologicamente as ideias de economistas “vermelhos” latino-americanos, tais como Raúl Prebisch.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Naquela universidade, predominava o pensamento do economista Milton Friedman, um dos expoentes da Escola Monetarista e ferrenho defensor da liberdade irrestrita de mercado e do laissez-faire. Os Chicago Boys se tornaram verdadeiros embaixadores de ideias econômicas que na América Latina ficaram conhecidas como “neoliberalismo”. Muitos deles aderiram ao movimento fascista chileno Pátria e Liberdade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Às vésperas do golpe, elaboraram um programa econômico que nortearia as ações da junta militar. Tal programa, um calhamaço de quinhentas páginas, ficou conhecido como “O Tijolo”. Dos dez autores de “O Tijolo”, oito eram Chicago Boys. O teor desse documento era muito similar ao livro de Friedman “Capitalismo e Liberdade” e propunha, dentre outras coisas, privatizações, desregulamentação e cortes nos gastos sociais, a clássica tríade do livre mercado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em princípio, as ideias dos Chicago Boys não encontraram campo fértil no Chile — mesmo com massivo apoio dos EUA —, como atestou a vitória da coalizão Unidade Popular, de Allende, nas eleições de 1970. Só depois do golpe de Estado foi possível pôr em prática suas ideias. Orlando Letelier certa vez afirmou que “os ‘Garotos de Chicago’, como são conhecidos no Chile, convenceram os generais de que estavam preparados para suprir a brutalidade dos militares com os ativos intelectuais que possuíam”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De fato, no 11 de setembro de 1973, a caserna deu as mãos à austeridade econômica para dar origem a uma das mais violentas ditaduras da história, que também contou com a assessoria e apoio aberto de Friedrich Hayek, cujo maior exemplo de sua aprovação ao governo de Pinochet pode ser extraído da vergonhosa entrevista que concedeu ao jornal chileno EL Mercúrio em abril de 1981. Depois de apoiar o nefasto regime totalitário, justifica:</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Uma sociedade livre requer certas morais que em última instância se reduzem à manutenção das vidas; não à manutenção de todas as vidas, porque poderia ser necessário sacrificar vidas individuais para preservar um número maior de vidas. Portanto, as únicas normas morais são as que levam ao ‘cálculo de vidas’: a propriedade e o contrato”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Naquele momento, em que o Hayek dava tranquilamente sua entrevista, muitas vidas estavam sendo sacrificadas nos porões da ditadura fascista do general Pinochet.</div>
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<br /></div>
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Assim, ao contrário do que muitos pensam, a primeira experiência neoliberal não se deu na Inglaterra de Thatcher ou nos Estados Unidos de Reagan. Nasceu, isso sim, gêmea de um sangrento regime militar. Em 1977, de quebra, Pinochet ainda entregou o Ministério das Finanças ao Chicago Boy Sérgio de Castro.</div>
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<br /></div>
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<b>Considerações finais</b></div>
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<img height="320" src="https://avoyager.net/wp-content/uploads/2019/05/pinochet-e-thatcher.jpg" width="640" /></div>
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<br /></div>
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A essa altura do texto já fica fácil compreender por quê:</div>
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<br /></div>
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- O primeiro bloco de privatizações aconteceu na primeira nação fascista que o mundo conheceu, a Itália, nos anos 1920 (a publicação inglesa The Economist cunhou o termo “privatização” para denominar a política econômica fascista);</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O segundo bloco de privatizações em massa (que inclusive superou a italiana fascista) ocorreu na segunda, a Alemanha nazista, nos anos 1930;</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e após nascerem em berço fascista durante os anos que antecederam a 2ª Guerra Mundial, as privatizações voltaram a aparecer nos anos 1970, no governo fascista do ditador chileno Augusto Pinochet.</div>
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<br /></div>
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Não pretendemos aqui, entretanto, colocar um sinal de igualdade entre Liberalismo e Fascismo. Porém, de fato, o liberalismo não se constituiu em um entrave ao fascismo nascente. Pelo contrário, ele, inclusive, forneceu as justificativas ideológicas para sua expansão europeia — e mais tarde sul-americana.</div>
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<br /></div>
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A História comprova-nos que Fascismo e Liberalismo podem atuar em consonância. Ora, se eles não são iguais, tampouco existe entre eles uma muralha intransponível. Isso se explica, fundamentalmente, nas alianças feitas entre essas ideologias sempre quando lhes foi conveniente, sobretudo — como é, inclusive, admitido por teóricos liberais — no propósito do combate a seus maiores inimigos comuns: os sociais-democratas, socialistas, comunistas, bolcheviques, marxistas… Isto é, todos aqueles que tinham uma visão crítica do capitalismo, seja propondo sua superação por meios revolucionários ou mesmo propondo políticas reformistas.</div>
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<br /></div>
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Fontes</div>
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<br /></div>
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• Encyclopaedia Britannica – <a href="https://www.britannica.com/biography/Vilfredo-Pareto">Bio de Vilfredo Pareto</a></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
• PARESCHI, Lorenzo; TOSCANI, Giuseppe – Interacting Multiagent Systems: Kinetic Equations and Monte Carlo Methods</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
• EATWELL, Roger; WRIGHT, Antony – Contemporary Political Ideologies. London: Continuum. (páginas 38–39).</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
• AMOROSO, Luigi (janeiro de 1938). “Vilfredo Pareto”. Econometrica.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
• UFSC – <a href="https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/128146/Monografia%20do%20Tito%20Luiz%20Pereira.pdf?sequence=1&isAllowed=y">AUTORITARISMO E CHOQUE</a> (PDF)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
• Jacobin – <a href="https://www.jacobinmag.com/2014/04/capitalism-and-nazism/">Capitalism and Nazism</a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
• USP – <a href="http://sites.usp.br/prolam/wp-content/uploads/sites/35/2016/12/RESENDE_GONCALVES_Anais-do-II-Simposio-Internacional-Pensar-e-Repensar-da-America-Latina.pdf">A formulação do pensamento neoliberal na América Latina em perspectiva comparada: o pensamento econômico de Eugênio Gudin (Brasil), Martinez de Hoz (Argentina) e Sergio de Castro (Chile)</a> (PDF)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
• Cambridge Journal of Economics – <a href="https://academic.oup.com/cje/article-abstract/35/5/937/1695860">The first privatisation: selling SOEs and privatising public monopolies in Fascist Italy (1922–1925)</a></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
• BARBIERI, Giovanni. Pareto e il fascismo.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
• BORKENAU, Franz. Pareto. Nova Iorque: John Wiley & Sons, 1936.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
• SASSOON, Donald. Mussolini e a ascensão do Fascismo. Rio de Janeiro: Agir, 2009.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fonte: <a href="https://avoyager.net/historia/pare-de-achar-que-liberalismo-e-fascismo-sao-opostos/" target="_blank">Voyager</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-73208129425517235322018-07-17T18:50:00.000-03:002018-07-17T18:50:27.515-03:00A democratização do Estado<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para democracia brasil" height="378" src="https://www.as-coa.org/sites/default/files/styles/article_detail/public/field/image/AP%20Brazil%20optimized.jpg?c=d77455a682287601681f7722272484f8" width="640" /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Por Hamilton Garcia de Lima</div>
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<br /></div>
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A democracia representativa no Brasil é uma experiência historicamente recente, cuja inauguração pode ser associada ao fim da monarquia escravista (1888-89) e ao processo de urbanização e diversificação econômico-social que a partir daí se encorpou. Se comparada à da Inglaterra, bem mais antiga, é também bastante mais irresoluta. Os ingleses, depois de um longo período de disputas religiosas (1547-58), conflitos políticos agudos e guerras civis (1640-89) — com um Rei decapitado (1649) e uma República autoritária (Cromwell, 1653-58) —, encontraram seu modelo numa Igreja reformada (1559) e numa Monarquia Constitucional governada por um Parlamento representativo sob a égide da Declaração de Direitos (1689), que afirmava a liberdade dos indivíduos como base inalienável das formas de governo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No nosso caso, nem a Igreja foi reformada nem o poder absoluto do Estado foi decapitado; tudo se deu, como reza nossa tradição, de maneira segura e sincrética, mantendo-se os indivíduos subjugados ao poder oligárquico, fonte primeira do poder de Estado. Depois de derrubada a Monarquia por uma conjuração militar-civil (1889), na qual o povo assumiu o papel de expectador — tanto ativo como passivo —, inaugurou-se um período (Primeira República) em que as oligarquias agrárias ganharam autonomia (federalismo) e as burguesias, voz ativa no cenário político das mais importantes cidades (liberalismo), sem, contudo, ameaçar o poder estabelecido sobre o vasto território — inclusive os currais eleitorais, beneficiados pela vigência do voto aberto e a ausência de autoridade corregedora isenta — e as mentalidades (Igreja Católica).</div>
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<br /></div>
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Não obstante o conservadorismo do pacto elitista inaugural da República — com a fracassada pretensão reformista de certos setores militares (positivistas) —, as novas classes sociais urbanas manifestariam seu descontentamento político, mesmo tendo contra elas o liberalismo de fachada instituído pela Constituição de 1891 e a dura repressão das forças policiais. Medidas como o fim do voto censitário, dos privilégios nobiliárquicos e da dominância eclesiástica sobre as localidades e a educação — entre outras iniciativas legais modernizadoras —, mesmo descasadas de reformas econômico-sociais progressistas (agrária, urbana, tributária, financeira, etc.), foram suficientes para, pelo menos, inaugurar um período de aspirações democráticas, que acabaria por desnudar o descompasso entre a superestrutura jurídico-política e as mudanças econômico-sociais, de sentido democratizante, provocadas pelo avanço do capitalismo — descompasso este que, não obstante os avanços percebidos desde 1985 (Nova República), está na base da instabilidade política dos nossos dias.</div>
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<br /></div>
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As curtas experiências liberal-democráticas vividas após as intervenções civil-militares de 1930 e 1945 — logo descontinuadas por intervenções análogas de polaridade invertida e sentido diverso, em 1937 e 1964 — demonstraram a fragilidade (e a força) de nossa tradição republicana. Nelas, podemos enxergar as marcas profundas do nosso modo de sercontemporâneo, radicado na formação social polarizada por quatro séculos de latifúndio, em que tanto a sociedade civil se forjou comprimida pelo esmagador peso do agrarismo colonial, como a sociedade política (Estado) se amalgamou ao compromisso neopatrimonial, mesmo quando sob a liderança de seus setores dissidentes (populismo).</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto 1930 e 1945 nos revelaram uma sociedade civil trabalhadora frágil, incapaz de conter os arroubos jacobinos de suas lideranças — rupturismo que propiciou o retrocesso autoritário após a aventura “revolucionária” de 1935 e depois, em sentido inverso, levou os comunistas a apoiar o ditador que antes queriam derrubar, precipitando a intervenção militar redemocratizadora —, 1937 e 1964 mostraram a inapetência da sociedade civil burguesa em lidar com as pressões legítimas (e ilegítimas) pela democratização vindas de baixo, cedendo ou estimulando o protagonismo conservador de caserna ao invés de pactuar a reforma das instituições republicanas da qual participavam — entre elas, o Parlamento e o Judiciário —, de modo a reverter seu embotamento histórico (patrimonialismo).</div>
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<br /></div>
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A semelhança com a crise de hoje não é mera coincidência: a sociedade civil trabalhadora continua presa fácil de lideranças retrovisoras (bolivarianistas) e de um populismo que, embora descido às fábricas, ainda veste o manto sagrado dos pais dos pobres, enquanto as principais instituições republicanas (redemocratizadas) claudicam pela insuficiência das reformas até aqui efetuadas, abrindo amplo espaço para o conservadorismo de caserna, agora autonomizado pela fórmula político-eleitoral do bolsonarismo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De auspicioso, apenas a emergência de uma nova sociedade civil burguesa disposta a renovar as lideranças políticas do liberalismo, contra a vontade de seus partidos tradicionais; um novo ativismo do Ministério Público e do Judiciário, que — dentro de seus limites funcionais e ainda adstritos à esfera federal — permitem o avanço das reformas institucionais que Executivo e Legislativo tentam barrar; e uma liderança militar (Alto Comando) até aqui inclinada a apoiar ambas as novidades e agir, se necessário, apenas na condição de última instância.</div>
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<br /></div>
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Tal conjunção, que tem constituído até aqui a verdadeira âncora de nossa ainda frágil liberal-democracia — diga-se de passagem, contra a vontade de boa parte das esquerdas, inclusive a desconfiança de certos setores seus de viés liberal —, carece, é verdade, de uma concertação política mais ampla do que a permitida pelos parâmetros corporativos dos operadores do direito; mas isto parece estar sendo superado, não obstante sua mais nítida expressão eleitoral, Joaquim Barbosa, ter desistido da postulação por conta de uma aparente falta de vocação.</div>
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<br /></div>
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O que é importante nisso tudo é que a sociedade civil, por meio da política bem pensada e articulada, pode vencer a pesada herança semirrepublicana que resiste no Estado, nas corporações e nas mentes de todos os quadrantes ideológicos, mas para isso vai ter que se livrar dos mitos e das concepções ideológicas anacrônicas e pseudorrealistas que a impedem de enxergar o cenário em toda a sua inteireza e complexidade, inclusive contemplando os remédios contra a pior de todas as heranças: a marginalização social por meio da pauperização econômica e da alienação laboral-educacional, que exigem a reinvenção do liberalismo (liberalismo-social) e do progressismo-nacional (neodesenvolvimentismo).</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Fonte: <a href="https://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=2258" target="_blank">Gramsci e o Brasil</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-46338300278632279662018-05-19T11:48:00.000-03:002018-05-19T11:48:01.325-03:00O que é a “Geringonça portuguesa”?<div style="text-align: center;">
<img height="430" src="https://cdn-images-1.medium.com/max/800/1*k_-eeRfJNWgS_OW_6GgiNg.jpeg" width="640" /></div>
<span style="font-size: x-small;"><div style="text-align: center;">
Antonio Costa (Valter Campanato / Agência Brasil)</div>
</span><div class="graf graf--p graf-after--p graf--trailing" id="5109" name="5109" style="--baseline-multiplier: 0.17; line-height: 1.58; margin-top: 29px;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
“Geringonça” é o apelido dado ao governo que assumiu o poder em Portugal em novembro de 2015. O gabinete é liderado pelo primeiro-ministro Antonio Costa, do Partido Socialista (PS), de centro-esquerda, e se sustenta em acordos com três siglas cujas ideias são em geral classificadas como de extrema-esquerda no contexto europeu — o Partido Comunista Português (PCP), o Bloco de Esquerda e o partido Os Verdes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A Geringonça se formou de maneira improvável. Após governar Portugal por quatro anos entre 2011 e 2015, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, do Partido Social Democrata (PSD), de centro-direita, venceu as eleições legislativas de 4 de outubro de 2015 com 38,5% dos votos (coligado com o Partido Popular), cerca de seis pontos à frente do PS, que disputou sozinho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Passos Coelho não conseguiu, no entanto, manter a maioria no parlamento português, a Assembleia da República, que havia lhe permitido implantar a política de austeridade exigida pela União Europeia em meio à crise da dívida no continente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em 10 de novembro de 2015, o gabinete provisório da centro-direita foi derrubado por uma coalizão de partidos de esquerda e extrema-esquerda, que detinham maioria na formação pós-eleitoral da assembleia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
União das esquerdas</div>
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<br /></div>
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A derrubada do governo de centro-direita só foi possível por conta da união das esquerdas em torno do nome de Antonio Costa e do Partido Socialista. Tal acordo se deu meio a uma saraivada de críticas.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Economicamente, analistas avaliavam que a coalizão esquerdista colocaria o país em apuros, uma vez que Costa prometia “virar a página da austeridade” e reduzir o alcance de uma política econômica que agradava ao mercado financeiro, mas que aumentou o desemprego no país.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<img height="532" src="https://cdn-images-1.medium.com/max/800/1*49lg4Cv3TVhGqySyUbYhdA.jpeg" width="640" /></div>
<span style="font-size: x-small;"><div style="text-align: center;">
Cartoon de Vasco Gargalo realizado para uma reportagem do canal RTP que regista o segundo aniversário dos inéditos acordos de Governo entre PS, Bloco de Esquerda, PCP e Verdes (Reprodução)</div>
</span><div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Politicamente, a coalizão era criticada por ser apontada como frágil, uma vez que havia muitas diferenças entre os integrantes da união. Neste contexto, Paulo Portas, então presidente do CDS — Partido Popular, um partido conservador, fez um duro discurso contra Antonio Costa e afirmou que a coalizão não era “<a href="http://www.tvi24.iol.pt/videos/politica/a-vossa-manobra-nao-e-bem-um-governo-e-uma-geringonca/5641ea7b0cf23a5869d21451">um governo, mas uma geringonça</a>”. Tratava-se de uma paráfrase de uma crônica de <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Vasco_Pulido_Valente">Vasco Pulido Valent</a>e, no jornal Público.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Literalmente, geringonça significa o que é malfeito, com estrutura frágil e funcionamento precário; um aparelho ou mecanismo de construção complexa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O epíteto, então depreciativo, passou a ser adotado por comentaristas políticos e também por integrantes da “geringonça”, e hoje ganhou uma conotação positiva, por designar a força de um governo apontado como fraco em sua origem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fonte: <a href="https://medium.com/geringon%C3%A7a/o-que-%C3%A9-a-geringon%C3%A7a-portuguesa-73abc8907436" target="_blank">Medium</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-18307295277890970832018-04-03T11:42:00.000-03:002018-04-03T11:42:29.428-03:005 FATOS QUE VOCÊ PRECISA SABER ANTES DE CRITICAR A DESMILITARIZAÇÃO DA POLÍCIA<div style="text-align: center;">
<a href="https://voyager1.net/wp-content/uploads/2017/02/PM-capa.jpg"><img height="366" src="https://voyager1.net/wp-content/uploads/2017/02/PM-capa-750x430.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
Nos últimos anos o debate sobre a desmilitarização da PM vem crescendo cada vez mais em todo o país. E não é pra menos. Segundo levantamento revelado pela edição 2014 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o <a href="https://voyager1.net/tag/brasil/">Brasil</a> tem a polícia que mais mata e mais morre no mundo. Só a polícia do Rio de Janeiro mata quase o dobro que a polícia de todos os <a href="https://voyager1.net/tag/eua/">EUA</a>, segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública).</div>
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<br /></div>
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Hoje, temos três Propostas de Emenda Constitucional (PEC 430, de 2009; PEC 102, de 2011; e a PEC 51, de 2013) que tratam da desmilitarização da polícia e que visam alterar o artigo 144 da Constituição Federal. No entanto, à medida em que a repercussão a respeito do assunto se intensifica, as dúvidas em relação a ele também acentuam-se na mesma proporção. Por essa razão, elencamos 5 questões essenciais para o melhor entendimento dessa reivindicação, visando contribuir para um melhor debate público sobre esse tema que interessa a todos nós e que pode ser um caminho para vivermos numa sociedade mais justa e segura.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<b>1 – Desmilitarizar não é extinguir nem desarmar a polícia</b></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<img height="320" src="https://voyager1.net/wp-content/uploads/2017/02/fim-da-PM.jpg" width="640" /></div>
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<br /></div>
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A principal delas é sobre o que seria de fato a “desmilitarização”. Muitos a confundem com desarmamento ou extinção da polícia, na maioria das ocasiões, induzidos ao erro por setores conservadores da sociedade. Desmilitarizar a PM não é nada mais do que transformá-la numa instituição civil (atualmente ela é vinculada ao Exército), como são todos as outras que cuidam da segurança pública, para assim permitir que seus membros detenham os mesmos direitos e deveres básicos do restante da população.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E embora países como a Grã-Bretanha, Irlanda, Islândia, Noruega, Nova Zelândia e uma série de nações insulares no Pacífico contem com muitos policiais que patrulham desarmados, não é esse o objetivo da medida. Ela visa apenas abolir da polícia o seu modo de operação bélico que vem do sistema militar das Forças Armadas e de sua ação hierarquizada. Ambos foram intensificados na reformulação da segurança pública promovida pelo golpe ditatorial de 1964. No Brasil, infelizmente, a formação dos(as) agentes de segurança ainda é feita, via de regra, mantendo esse modelo, ou seja, baseada na ideia da guerra contra um “inimigo”. E quem é esse inimigo? Dependendo da sua condição social e econômica, pode ser você.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>2 – Sete em cada dez PMs são favoráveis à desmilitarização</b></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<img height="320" src="https://voyager1.net/wp-content/uploads/2017/02/policia-a-favor-desmilitarizacao.jpg" width="640" /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Segundo a pesquisa “Opinião dos Policiais Brasileiros sobre Reformas e Modernização da Segurança Pública”, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, pela Fundação Getúlio Vargas e Secretaria Nacional de Segurança Pública, 77,2% dos policiais defendem o fim do modelo militarista. Em pontos percentuais, a aceitação é ainda maior no Rio de Janeiro: 79,1% disseram “sim” à desmilitarização. O levantamento ouviu 21.101 pessoas em 2014.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>3 – A desmilitarização ampliará os direitos dos PMs</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<img height="320" src="https://voyager1.net/wp-content/uploads/2017/02/direitos-da-polica.jpg" width="640" /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com a desmilitarização os recrutas não serão submetidos a treinamentos violentos e a maus tratos, eles terão seus direitos respeitados e serão preparados para respeitar os direitos dos cidadãos; os policiais terão liberdade para se expressar e exigir condições dignas de trabalho; os profissionais não serão mais submetidos à Justiça Militar e a punições descabidas, como prisão por atraso (aliás, abusos de autoridade, tão comuns à hierarquia militar, não serão permitidos).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pegando como base a PEC 51/2013, toda organização policial também deverá ter uma linha de promoções unificada. Hoje, por exemplo, existem linhas de carreira separadas para oficiais e praças, e dificilmente um policial iniciante chega a coronel. A mesma coisa acontece nas polícias civis, entre agentes e delegados. A carreira única não abrange funções auxiliares.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Além do mais, a proposta garante a manutenção de todos os direitos trabalhistas dos profissionais da segurança, pois o objetivo é que os policiais sejam, devidamente, mais valorizados perante a sociedade e o poder público. 1 de 62</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A título de comparação seguem alguns Direitos Humanos que os policiais civis possuem e que os policiais militares não:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Liberdade de expressão;</div>
<div style="text-align: justify;">
– Não ser arbitrariamente preso (no quartel);</div>
<div style="text-align: justify;">
– Poder se organizar em sindicato para defender coletivamente seus direitos e interesses.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sendo assim, não só a sociedade – que terá uma polícia treinada não para a guerra, mas para a proteção dos direitos e promoção da cidadania – sairá ganhando. Os servidores também serão extremamente beneficiados.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>4 – A ONU recomenda a desmilitarização</b></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<img height="320" src="https://voyager1.net/wp-content/uploads/2017/02/mae-protege-filho-da-PM.jpg" width="640" /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A <a href="https://voyager1.net/tag/onu/">ONU</a> sugere o fim da militarização das polícias em todo o globo e, em 2012, no relatório, divulgado pelo seu Conselho de Direitos Humanos, pediu ao Brasil maiores esforços para combater a atividade dos “esquadrões da morte” e a supressão da Polícia Militar, acusada de numerosas execuções extrajudiciais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esta foi uma de 170 recomendações que os membros do Conselho de Direitos Humanos aprovaram como parte do relatório elaborado pelo Grupo de Trabalho sobre o Exame Periódico Universal (EPU) do Brasil, uma avaliação à qual se submetem todos as nações.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na ocasião, países como Dinamarca, Coréia do Sul, Austrália e Espanha também aconselharam uma total reformulação no modelo de polícia adotado por nosso país.</div>
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<br /></div>
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<b>5 – Muitos países já aderiram à desmilitarização</b></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<img height="320" src="https://voyager1.net/wp-content/uploads/2017/02/policia-RU.jpg" width="640" /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na Argentina não há força policial com caráter militar. No Reino Unido também não, mas sua Royal Military Police (RMP) ainda existe apenas para policiar a comunidade militar em todo o mundo.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A Bélgica não tem mais uma força policial militar. Há um serviço policial baseado nos princípios de policiamento comunitário, o que significa que a polícia funciona como um órgão de prestação de serviço para cada cidadão e não mais como um instrumento de força para o governo local ou nacional.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para surpresa dos mais conservadores e admiradores dos Estados Unidos, nesse país também não existe segmento de cunho militar na segurança pública. Há, porém, a chamada Guarda Nacional, composta por pessoas que se alistaram, mas não foram chamadas para servir o Exército, a Marinha ou a Aeronáutica. A guarda é chamada para atuar em casos de grandes desastres ou catástrofes, que coloquem em risco a segurança nacional (como furacões na Flórida). Esse modelo estadunidense é bem parecido com o que propõe a PEC 51, dando ainda mais controle para os municípios.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na terra do Tio Sam, na <a href="https://voyager1.net/tag/inglaterra/">Inglaterra</a> e em outros países que adotam o sistema anglo-saxão, as policias são compostas exclusivamente por civis e são de ciclo completo, isto é, o policial ingressa na carreira para realizar funções de policiamento ostensivo e, com o passar do tempo, pode optar pela progressão para os setores de investigação na mesma polícia.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O êxito da desmilitarização pode também ser conferido no balanço da 7ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2013, que revelou que 70,1% dos brasileiros não confiam na polícia. O número foi 8,6% maior do que o registrado em 2012, quando 61,5% da população desconfiava da atuação policial. Paradoxalmente, o índice de aprovação é inverso nos EUA e no Reino Unido. Cerca de 80% dos cidadãos americanos e britânicos dizem confiar em suas polícias.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ademais, na maioria dos países que possuem polícia militar, esta fica responsável pelo policiamento interno dos quartéis ou em regiões de fronteiras nacionais.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Fontes:</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
• Terra – <a href="https://noticias.terra.com.br/brasil/policia/policia-brasileira-mata-e-morre-mais-do-que-em-outros-paises,9828b860e660a410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html">Polícia brasileira mata e morre mais do que em outros países</a></div>
<div style="text-align: justify;">
• UOL – <a href="http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/11/11/em-10-anos-policia-do-rj-mata-quase-o-dobro-da-policia-de-todos-os-eua.htm">Em 10 anos, polícia do RJ mata quase o dobro que a polícia de todos os EUA</a></div>
<div style="text-align: justify;">
• Senado Federal – <a href="http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/114516">PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO nº 51, de 2013</a></div>
<div style="text-align: justify;">
• Câmara dos Deputados – <a href="http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=458500">Proposta de Emenda à Constituição 430/2009</a></div>
<div style="text-align: justify;">
• Senado Federal – <a href="http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/102919">PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO nº 102, de 2011</a></div>
<div style="text-align: justify;">
• G1 – <a href="http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/05/paises-da-onu-recomendam-fim-da-policia-militar-no-brasil.html">Conselho da ONU recomenda fim da Polícia Militar no Brasil</a></div>
<div style="text-align: justify;">
• UOL – <a href="https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/07/30/um-terco-dos-policiais-brasileiros-pensa-em-deixar-corporacao-diz-pesquisa.htm">Pesquisa diz que 77,2% dos policiais são a favor da desmilitarização da PM</a></div>
<div style="text-align: justify;">
• G1 – <a href="http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/07/pms-do-rio-apoiam-desmilitarizacao-da-policia-em-pesquisa-da-fgv.html">PMs do Rio apoiam desmilitarização da polícia em pesquisa da FGV</a></div>
<div style="text-align: justify;">
• BBC – <a href="http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160115_policiais_sem_armas_lk">Saiba quais são os países onde os policiais não usam armas</a></div>
<div style="text-align: justify;">
• FOLHA – <a href="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/8/26/caderno_especial/2.html">Saiba como funciona a polícia em cinco países</a></div>
<div style="text-align: justify;">
• Época – <a href="http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/05/precisamos-desmilitarizar-policias-diz-especialista-europeu.html">“Precisamos desmilitarizar as polícias”, diz especialista europeu</a></div>
</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por <a href="https://voyager1.net/politica/5-fatos-sobre-a-desmilitarizacao-da-policia/" target="_blank">Voyager1</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-30299150180845717682018-01-10T19:52:00.001-02:002018-01-10T19:52:48.838-02:00Da sociedade disciplinar à tirania do gozo obrigatório<div style="text-align: center;">
<img alt="maça vale" height="465" src="http://outraspalavras.net/wp-content/uploads/2017/11/ma%C3%A7a-vale-485x353.jpg" width="640" /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mundo neoliberal é marcado pela exigência de satisfação irrestrita. Estimula-se um novo consumismo – agora mais excludente, embora cool; agora mais consciente, embora continue profundamente alienado</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por Thiago Canettieri, no <a href="http://indebate.indisciplinar.com/2017/10/16/a-falsa-felicidade-do-neoliberalismo/">InDebate</a>, parceiro de Outras Palavras</div>
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Imagem: Michelangelo Pistoletto, A Maçã Reintegrada</div>
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<br /></div>
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O neoliberalismo como movimento contemporâneo de ordem simbólica do capitalismo aparece como totalidade que estrutura as dimensões mais subjetivas da vida. A razão neoliberal e sua forma-de-vida decorrente indicam um sistema normativo que se desenvolve no seio do capitalismo, aprofundando-o. Esse princípio foi sintetizado pela própria Margareth Thatcher ao definir o objetivo do neoliberalismo: “mudar a alma e o coração”.</div>
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<br /></div>
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Assim, o neoliberalismo persiste porque é uma norma de vida que impõe um universo de competição generalizada e que cria circunstâncias globais para tal (tanto na escala do planeta como nos aspectos políticos, econômicos, sociais e subjetivos). Com isso, a lógica da concorrência passa a ser a norma de conduta e a empresa opera como o modelo de subjetivação hegemônico.<a href="https://outraspalavras.net/brasil/da-sociedade-disciplinar-a-tirania-do-gozo-obrigatorio/#_ftn1">[1]</a></div>
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<br /></div>
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O que acontece nessa perspectiva é a conformação da lógica empresarial como uma “ordem” moral que é colada – a partir de vários expedientes – na subjetividade de cada indivíduo. Forma-se um espírito de empresa, que é o que garante o funcionamento da sociedade neoliberal. Como? A relação consigo próprio, a relação com seus familiares e amigos, e com qualquer outro indivíduo passa a ser operacionalizada a partir de uma lógica própria da empresa, como uma forma de “governo de si”, que passa a ser balizada a partir das práticas de mercado. O resultado desta operação é ascensão do mercado como espaço de veridisdição, ou seja, de produção de verdades.<a href="https://outraspalavras.net/brasil/da-sociedade-disciplinar-a-tirania-do-gozo-obrigatorio/#_ftn2">[2]</a></div>
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<br /></div>
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Esse novo sistema de disciplina é fundamentado pela ideia de que o governo de si e dos outros se realiza a partir da estruturação do campo de ação, controlando o regime de desejo (pela recompensa, punição ou substituição do objeto). E toda a estruturação da ideologia serve para aceitar a instituição do mercado como a regra do jogo, capaz de implantar coerções de mercado que forçam o indivíduo a adaptar-se a ele.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A novidade do neoliberalismo é a radicalização e o aprofundamento da lógica capitalista de subjetivação conformada pelo mercado. Muitos situam o começo do neoliberalismo nos primeiros anos da década de 1970, mas cabe dar um passo atrás. Alguns anos antes, o mundo efervescia contra as estruturas disciplinares do capitalismo – o maio de 1968 francês talvez se configure, dentre essas explosões, como a que ganhou maior destaque. Acontece aí talvez o ponto de inflexão com a apresentação de novas demandas por parte do corpo social que foram capturadas dentro do regime do Gozo e da circulação de afetos no capitalismo. Foi talvez nesse momento que a ordem simbólica se reorganizou em uma nova constelação.</div>
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<br /></div>
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Se os séculos XIX e a primeira metade do século XX eram marcados por rígidas estruturas disciplinares pelas quais o superego/supereu<a href="https://outraspalavras.net/brasil/da-sociedade-disciplinar-a-tirania-do-gozo-obrigatorio/#_ftn3">[3]</a> interditava os indivíduos, gerando assim a forma clássica do sofrimento que Freud captou por meio da ideia de histeria e de outras neuroses, o neoliberalismo traz consigo uma forma muito específica de organizar os afetos e os sofrimentos da sociedade. Na contemporaneidade, o supereu aparece como um imperativo de gozo. A consequência paradoxal e trágica é uma corrida desenfreada ao gozo que acaba, evidentemente, na impossibilidade de satisfação, pois o supereu ligado ao registro real é uma instância distinta da lei reguladora, referida ao registro simbólico, e exige cada vez mais. O supereu ligado ao registro real veicula uma lei insana, que não oferece uma medida ao gozo, mas incita a esse mesmo gozo.</div>
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<br /></div>
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O neoliberalismo inaugura uma forma de subjetivação organizada pelo imperativo do gozo, mas um gozo que nunca se realiza plenamente, provocando uma espécie de expropriação do próprio gozo. O que o neoliberalismo promove é uma articulação de sentidos que determina uma forma bem específica de circular os afetos.</div>
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<br /></div>
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O mundo neoliberal é marcado por uma exigência de satisfação irrestrita. A sociedade do consumo, do excesso, do iphone 3 (3G e 3GS), 4, 5, 6, 7, X pode ser descrita como A Sociedade do Gozo. O supérfluo, o descartável, o excesso são as marcas dessa relação, e esses “aparelhinhos mágicos”, os gadgets, ilustram bem a economia do gozo. Mas, diante das contradições imposta pelo consumo desvairado – tanto no nível material como o simbólico, uma nova constelação para o circuito de subjetivação se forma: o consumo consciente. biodegradável, verde, com doações para os países do terceiro mundo.</div>
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<br /></div>
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As mercadorias, diante do vazio que o consumo desvairado proporcionou desde as décadas finais de 1970, permitiu uma reorganização simbólica para que o ato egóico do consumo já contenha o preço do seu oposto – carrega um adicional, uma espécie de caridade. Cabe verificar a lógica circular a que isso acaba levando: o consumo é percebido como o próprio remédio para o consumo – mas no fim, é apenas mais daquilo que causa o próprio problema. Assim, a mercadoria vem marcada com o seu excesso. O imperativo do gozo tenta ser estancado como que por uma sutura artificial – a caridade. E o problema da mercadoria, seu fetichismo fantasmagórico e sua função no circuito da acumulação, passa despercebido e intocável. A saída ideológica para o problema do consumismo é, invariavelmente, o próprio consumismo – mas agora mais excludente, embora cool; agora mais consciente, embora continue profundamente alienado.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E talvez sua representação esteja, exatamente – e ironicamente – na capital da moda. Na praça da estação central de Milão, é possível ver uma grande maçã branca – assim como a da Apple, a representação do imperativo consumista do gozo inconsequente – só que ela está suturada por um complexo sistema de grades e ferros que sustentam um implante, uma prótese. Mas o artista, Michelangelo Pistoletto, fez questão de deixar à mostra que ela não completa perfeitamente a fruta, que o material inserido no corpo é artificial e nunca será completo novamente. E o problema não se soluciona.</div>
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<br /></div>
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Com isso, o capitalismo passa por um reordenamento de sua constelação simbólica ao longo do século XX, que consolidou uma nova forma de subjetivação ligada ao ideal de felicidade. Ela se torna um imperativo para a vida (e para o próprio capitalismo). Assim, a felicidade é lançada como objetivo e passa a ficar evidente em cada espaço – passa a existir uma necessidade de sua afirmação positiva. Todavia, há aí um logro, e a promessa de felicidade a partir dos objetos de consumo (e de se fazer consumível segundo os padrões ditados pelo capitalismo) não se realiza. Assim, a felicidade nunca é completa, mas sempre falida.</div>
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<br /></div>
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A consequência disso é o fato – documentado pela própria Organização Mundial da Saúde – de que a depressão é o resultado paradoxal do imperativo categórico da contemporaneidade de busca da felicidade. Assim, não seria errado afirmar que vivemos numa sociedade da insatisfação administrada, na qual “o empuxo de produção e desempenho vem sendo suplementado por ingestão de substâncias, legais[4] e ilegais, em forma de doping tolerado, senão estimulado em nome de resultados.”[5] Dessa forma, para o neoliberalismo, diante da busca incessante da felicidade administrada nunca realizada, há necessidade de regular também o sofrimento, como experiência do sujeito.</div>
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<br /></div>
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A arte também oferece diagnósticos desse sentido, como o cineasta, escritor e poeta Paolo Pasolini identificou em seus livros Escritos Corsários e Cartas Luteranas. Nos anos 1970, ele já identificava o que ele chamou de “mutação antropológica” da sociedade italiana em direção ao o que ele chamava de um “novo fascismo” imposto pela globalização. O artista acreditava que esse processo estava criando um influxo semiótico por meio da publicidade de massas e da televisão, criando uma figura que chamou de “os sem futuro”: eram jovens com uma acentuada tendência à infelicidade, com pouca raiz cultural ou territorial, e que assimilavam de maneira automatizada, sem distinção de classe, os valores e a estética promovidos pelos novos tempos de consumo.</div>
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<br /></div>
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O que se tem, portanto, como resultado desse modo de socialização autodepreciativo amarrado a uma ideia de felicidade plasmado pelo consumo é o vertiginoso aumento do quadro de patologias psíquicas, marcadamente a ansiedade, a depressão e até o suicídio. Esse cenário parece ser uma constante em todo o mundo e está estreitamente vinculado às condições de hipercompetição e a precarização promovida pelo ethos neoliberal. Os jovens, impelidos a buscar um emprego que não conseguirão encontrar, exceto em condição de precariedade e subsalário, sofrerão consequências emocionais, como ansiedade, depressão e paralisia do desejo, estabelecendo, muitas vezes, com o outro, uma relação de competição, transformando-os em inimigos.</div>
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<br /></div>
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Até mesmo uma organização como a OMS alerta para esse cenário. A depressão é uma das doenças que mais cresce (20% na última década), e estima-se que afete 4,5% da população mundial (<a href="http://g1.globo.com/bemestar/noticia/depressao-cresce-no-mundo-segundo-oms-brasil-tem-maior-prevalencia-da-america-latina.ghtm">o Brasil está acima da média, com quase 6%</a>). Ainda, é uma das doenças que mais mata no mundo. Atrás apenas das patologias cardiovasculares, a <a href="http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2017/03/1871343-depressao-e-a-maior-causa-de-incapacitacao-no-mundo-diz-oms.shtml">depressão alcançou o patamar de maior causa de incapacitação no mundo</a>. O suicídio também cresceu, em especial entre os jovens de 15 e 29 anos (<a href="http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39672513">10% na última década</a>) e se tornou a principal causa de morte desta faixa etária. Para entender o cenário de epidemia dessas doenças mentais, deve-se levar em conta a forma de sociabilidade que se construiu diante do movimento do capitalismo tardio.</div>
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<br /></div>
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E essa situação só parece aumentar diante da crise estrutural do capital. Frente aos limites de sobreacumulação, a cartilha neoliberal é imprimida com ainda mais força sobre as populações, como no golpe judiciário-parlamentar vivido no Brasil e voltado a passar reformas para atender interesses dos capitalistas em busca de oportunidades de investimentos mais vantajosas que, necessariamente, significam nas entrelinhas <a href="http://indebate.indisciplinar.com/2017/03/31/crise-golpe-e-acumulacao/">retirada de direitos</a>. Por exemplo, a reforma trabalhista que o Brasil se orgulha em apresentar como solução para a crise, <a href="https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/27/internacional/1493296487_352960.html">inspirada naquela realizada na Espanha</a>, não leva em conta toda a história – ou, perversamente, a esconde. O resultado da reforma na Espanha foi o aumento do desemprego entre os jovens (chegando a quase 60% do grupo etário) e bateu outro recorde – por três anos consecutivos: o do índice de suicídio.</div>
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<br /></div>
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Este é o retrato do medonho capitalismo tardio contemporâneo que o Brasil pretende copiar. No nível do discurso, é colocada a dimensão da felicidade possível de ser acessada pelo consumo. Ainda que essa felicidade seja fadada ao fracasso, marcada por um imperativo de um ente externo e abstrato, a crise do capital obriga o desmantelamento até do mínimo de consumo, tendo como único resultado possível o aumento, ainda mais vertiginoso, do alcance pandêmico das normalopatias neoliberais.</div>
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<a href="https://outraspalavras.net/brasil/da-sociedade-disciplinar-a-tirania-do-gozo-obrigatorio/#_ftnref1">[1]</a> Para mais, ver o livro de Dardot e Laval A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal (Boitempo, 2016).</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://outraspalavras.net/brasil/da-sociedade-disciplinar-a-tirania-do-gozo-obrigatorio/#_ftnref2">[2]</a> Argumento desenvolvido por Foucault em O nascimento da Biopolítica (Martins Fontes, 2008).</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://outraspalavras.net/brasil/da-sociedade-disciplinar-a-tirania-do-gozo-obrigatorio/#_ftnref3">[3]</a> Atualmente, os tradutores da obra de Jacques Lacan têm optado pela palavra supereu em detrimento de superego (termo reservado à obra de Freud). O supereu inclui tanto a voz que proíbe, a voz da lei, reguladora, simbólica, quanto a voz do gozo, real, obscena e feroz, que veicula a lei da pulsão de morte.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://outraspalavras.net/brasil/da-sociedade-disciplinar-a-tirania-do-gozo-obrigatorio/#_ftnref4">[4]</a> Principalmente os psicofármacos, com destaque para os chamados “antidepressivos”.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://outraspalavras.net/brasil/da-sociedade-disciplinar-a-tirania-do-gozo-obrigatorio/#_ftnref5">[5]</a> O neoliberalismo e seus normalopatas, Christian Dunker no Blog da Boitempo, 03 nov 2016 – <a href="https://blogdaboitempo.com.br/2016/11/03/o-neoliberalismo-e-seus-normalopatas/">https://blogdaboitempo.com.br/2016/11/03/o-neoliberalismo-e-seus-normalopatas/</a></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Fonte: <a href="https://outraspalavras.net/brasil/da-sociedade-disciplinar-a-tirania-do-gozo-obrigatorio/">Outras Palavras</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-29773546380241817252017-12-10T20:33:00.000-02:002017-12-10T20:33:13.895-02:00Crianças mimadas, adultos tiranos<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><img height="403" src="http://outraspalavras.net/wp-content/uploads/2017/10/171031-Botero1-e1509488150619.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" width="640" /></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Fernando Botero - Família presidencial (1967)</span></div>
<div>
<br /></div>
</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>A pretexto do bullying, pais passaram a interferir no mundo infantil. É péssimo: ninguém deve ser poupado de desgostos e frustrações; e nada melhor que a roda comunal, também entre crianças</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por Maria Bitarello </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Minha irmã andava chegando em casa chateada. Cabisbaixa e evasiva, não queria mais ir à aula. A escola tinha se transformado num sofrimento diário, e minha mãe percebeu. Ela confessou que, de fato, havia uma menina infernizando sua vida no jardim de infância: Lorelei, a tirana do parquinho. Com uma capanga miniatura a tiracolo, tentava oprimir e humilhar aquela garotinha de cabelos negros e sobrancelhas espessas com as armas de que dispunha: intimidação, ofensas verbais, emboscadas. Minha irmã, nada combativa, uma criança introspectiva e tímida, sofria em silêncio. Minha mãe compartilhou sua apreensão com minha tia, contemplando possibilidades – de mudá-la de escola a conversar com a professora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas uma também minipessoa, que entreouviu a conversa, tinha outro plano. Minha prima, da mesma idade da minha irmã, interrompeu as duas: “deixa comigo que vou resolver essa parada”. As mães toparam. No dia seguinte, a prima indômita e topetuda (e tão alta quanto a Lorelei) prensou as duas garotas num canto na hora do recreio e sentenciou: “se vocês não deixarem minha prima em paz vão se ver comigo”. E pronto. Problema solucionado. Elas recuaram, minha irmã foi deixada em paz e, melhor de tudo, não foi necessária a interferência de nenhum adulto.</div>
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<br /></div>
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A escola, como a turma que brinca na rua, é um microcosmo do mundo adulto, do mundo todo. Um lugar ou um grupo como qualquer outro e que, portanto, tem suas regras de funcionamento e aplicação internas – e suas crueldades particulares. O que acontece ali diz respeito a seus integrantes e é tão duro quanto o que nos espera pela vida afora. E pra que as crianças cresçam pra se transformar em adultos autônomos e capazes de viver em comunidade, precisam ir praticando cidadania, coexistência, negociação, discernimento, resolução de conflitos e solução de problemas na medida que sua maturidade emocional permitir. E as mães precisam se conter e não entrar em resgate dos filhotes ao primeiro sinal de infortúnio.</div>
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<br /></div>
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Há sofrimento na vida. Não há como se separar disso. E por mais que o instinto materno possa urrar dentro do peito querendo privar a cria de todo e qualquer mal, não há remédio. Seu filho também vai sofrer nessa vida, como todos nós. E mimá-lo será um desserviço a ele. Se for blindado de desgostos e frustrações, se alguém sempre vier em sua defesa sanar suas desavenças, ele tem grandes chances de virar 1) um adulto mimado e bocó ou 2) um adulto mimado e tirano – e esses são os piores. Ao contrário da criança birrenta, o adulto que esperneia não é uma fase que passe – vira um traço de seu caráter. Então o negócio é trabalhar a mola emocional desde cedo.</div>
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<br /></div>
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Em Minas, onde cresci, o bando de crianças que brincava na rua era um mundo em si. Ninguém levava as questões dali pra casa, pros pais. Se alguém tinha um problema com outrem, melhor era conversar ou brigar ou beijar, enfim, o que fosse preciso, mas sem adultos. Machucados eram escondidos, lágrimas secadas e desavenças disfarçadas. Ou assim pensávamos. Vai ver que as mães sacavam tudo, apesar da dissimulação. Só sei que nunca, em toda minha infância, minha mãe interveio em algum problema que tive com alguém na escola, na rua, no prédio, na praia durante as férias.</div>
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<br /></div>
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Porque isso de chamar os pais pra resolver seus pepinos não se faz, todo mundo sabe disso. É uma questão de honra, uma maneira de se fazer as coisas. Na minha escola, uma criança cuja mãe ou pai interferisse em sua dinâmica social estaria condenada à zombaria massacrante dos colegas pelo resto de seus dias escolares. Sua reputação ficaria arruinada e ela seria considerada, com razão, uma “filhinha de mamãe”. Não sei hoje, já que os tempos mudaram; e também os pais e filhos. Nem posso imaginar como crianças de agora briguem por snapchat – a tela que evita o tête-à-tête e permite que a covardia se torne um traço ordinário do caráter. O indesejado é deletado e pronto.</div>
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<br /></div>
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O que sei é que quanto mais penso nisso, mais me convenço de que a roda comunal, a conversa de igual pra igual na família, no trabalho, no teatro, na escola é a melhor resposta ao bullying, à covardia, aos haters da internet, à polarização sem diálogo que vivemos hoje. É imperativo ver e sentir a outra pessoa na sua frente: ouvi-la, tentar entender seus motivos, se colocar em seu lugar. Olhos nos olhos, e colocando o seu na reta. E reitero: é preciso começar cedo. Pode sair briga, choro e até uns tapas, e tudo bem – isso também é diálogo. A roda, quando toda a tribo se senta e todos se olham nos olhos, é uma aposta no amor; é um “sim” num mar de “nãos”.</div>
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<br /></div>
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Fonte: <a href="http://outraspalavras.net/posts/as-criancas-mimadas-e-os-adultos-tiranos/">Outras Palavras</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-5088681924588734622017-11-02T17:25:00.000-02:002017-11-02T17:25:35.231-02:00Capitalismo e corrupção<div style="background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Noto Serif", serif; font-size: 16px; padding: 10px 0px; text-align: center; vertical-align: baseline;">
<em style="border: 0px; box-sizing: border-box; font-family: inherit; font-weight: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><img alt=""Corrupt Legislation" de Elihu Vedder" height="439" src="http://passapalavra.info/wp-content/uploads/2017/07/elihuvedder.jpeg" width="640" /></em></div>
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<br /></div>
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Nem campo democrático-popular, nem a burguesia e o Estado: os trabalhadores devem se organizar de maneira independente econômica e politicamente. </div>
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<br /></div>
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Por Lucas Carlini e Daniel Lage</div>
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Não devemos confundir corrupção, isto é, mecanismos ilícitos de favorecimento das empresas na sua relação com o Estado, com atos que os trabalhadores realizam para tentar burlar regras as quais os prejudicam (não pagar impostos ou não pagar passagem no ônibus, por exemplo). A primeira movimenta bilhões, os outros são apenas tentativas individuais e inócuas de atentar uma ordem que não lhe favorece. Aliás, tais atitudes, longe de resolverem o problema, muitas vezes podem prejudicar outros trabalhadores.</div>
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<br /></div>
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Isto posto, devemos entender que – parafraseando Pedro Henrique Pedreira Campos (2015) – as irregularidades envolvendo empresários e Estado não são um desvio anômalo, mas sim mecanismos de que dispõem os capitalistas na acumulação de capital. Esses mecanismos podem servir tanto para “elevar as margens de lucro, neutralizar a concorrência”, quanto para repartir a mais-valia entre os agentes (públicos e privados) que auxiliaram nas condições para extraí-la.</div>
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<br /></div>
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Entendida sob a lógica da reprodução do capital, a corrupção não deixará de existir sob o capitalismo, por mais democrático que ele seja. A própria imprensa burguesa o atesta:</div>
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<br /></div>
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<i>Algum dia a Lava-Jato terá fim, mas a corrupção não. Aliás, a corrupção é um tema recorrente desta coluna, sempre com a visão de que, em primeiro lugar, ela nunca acaba. Corrupção é como os crimes ou acidentes: é possível diminuí-los, mas jamais zerá-los.(23/12/2015 – O VALOR).</i></div>
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<img height="320" src="http://passapalavra.info/wp-content/uploads/2017/07/ShepardFairey.jpg" width="239" /></div>
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No entanto, vemos que, a depender do Estado-nacional, a forma predominante de relação das grandes empresas com os políticos dos altos escalões muda: com predomínio do ilícito ou do lícito, mais ou menos regulamentada. Em outras palavras, corrupção mais ou menos sofisticada. Ao olharmos para a Lava-Jato e o processo político em curso, tais nuances nos são muito importantes.</div>
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<br /></div>
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Em um artigo para o VALOR, em 17 de dezembro de 2015, o professor na Escola de Economia de São Paulo da FGV e ex- Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, se propõe a explicar os ganhos institucionais da Lava-Jato e as vantagens do “combate à corrupção”. O professor Holland defende a tese do economista ganhador do prêmio Nobel, Douglass North, de que o crescimento econômico (leia-se o desenvolvimento capitalista) é expressão direta de melhores instituições. Nas palavras do ex-secretário:</div>
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<br /></div>
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<i>[…]a chave do sucesso econômico está nas regras ou arranjos institucionais que estimulam ou inibem atividades nesse sentido. O que a literatura econômica em geral considera causas do crescimento nada mais são do que consequências do desenvolvimento institucional.</i></div>
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<br /></div>
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O próprio autor, porém, reconhece a contradição de sua tese:</div>
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<br /></div>
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<i>Deve-se reconhecer que essa causalidade no sentido de instituições para crescimento não é isenta de controvérsia. Afinal, pode-se entender que é por conta do crescimento que uma dada população tem mais incentivos para desenvolver arranjos institucionais mais sólidos, com menos rupturas contratuais e maior estabilidade de regras. Afinal, o que levaria alguém a acreditar que países como Zimbábue, com renda per capita inferior a US$ 1 mil, teria incentivo a aperfeiçoar suas regras de mercado, se o país nem sequer tem mercado razoavelmente desenvolvido? Seus habitantes demandam condições básicas para sobreviver. Contudo, por que países como a Etiópia, com renda per capita de quase a metade de Zimbábue, têm controle da corrupção bem melhor, conforme os indicadores de qualidade das instituições desenvolvidos pelo Banco Mundial? Ou se preferir, por que o Brasil, com renda per capita média de US$ 11.400, em 2014, tem controle de corrupção similar a El Salvador, Zâmbia ou Etiópia, países bem mais pobres?</i></div>
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<br /></div>
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Tal contradição demonstra que o autor, ao não levar em conta o desenvolvimento histórico do Estado em cada país, a forma pela qual se estabeleceram e avançaram as relações capitalistas e a história particular da luta de classes em cada Estado-nação, não consegue explicar as diferenças superestruturais entre Brasil, países da América Central e da África. Ou seja, não são instituições “melhores” que favorecem o desenvolvimento do capital, mas é o próprio desenvolvimento do capital que exige instituições apropriadas a suas necessidades.</div>
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<br /></div>
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Finalmente, pela força dos dados empíricos, associa a “melhoria” das instituições ao desenvolvimento capitalista no longo-prazo, embora relute em admitir a determinação do segundo:</div>
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<br /></div>
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<i>De fato, até certo nível de renda per capita, grosseiramente algo como até US$ 10 mil, há muita dispersão nos indicadores de controle da corrupção. Os sinais não são evidentes. Mas, a partir deste limite há uma correlação alta e positiva entre controle de corrupção e renda per capita, independente do que causa o quê.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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Mesmo não analisando a relação entre superestrutura e infraestrutura econômica corretamente, o autor percebe um fenômeno interessante da realidade, qual seja: a partir do avanço das relações capitalistas nos diferentes países, isto é, a presença de monopólios internacionais e nacionais atuando em seu território e exportando capitais, a superestrutura precisa se desenvolver e arranjar a melhor maneira pela qual as diferentes empresas irão se relacionar com o Estado, pois se isso não ocorrer, pode haver um entrave ao pleno avanço do capital e às disputas entre as grandes empresas. Ora, a este ponto chegou o Brasil.</div>
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<br /></div>
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No final de seu texto, o autor atribui ao combate à corrupção um possível ganho de produtividade na economia brasileira “para as gerações futuras”, o que é óbvio se considerarmos que um arranjo adequado das leis e da forma política permite o pleno desenvolvimento das relações capitalistas. No entanto, essa constatação também corrobora o que notamos, de que em tempos de taxas de lucros estreitas, grandes propinas ajudam a acirrar as disputas imperialistas, além de representarem possíveis investimentos produtivos que acabam como despesas para os capitalistas fazerem negócios.</div>
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<br /></div>
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Mesmo que superestimadas, as quantias são exorbitantes:</div>
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<br /></div>
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<img height="536" src="http://passapalavra.info/wp-content/uploads/2017/07/infogr%C3%A1fico.png" width="640" /></div>
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<br /></div>
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Os acontecimentos recentes na Lava Jato suscitaram diversas interpretações. Do ponto de vista dos defensores da indústria nacional – muitos deles no campo político da esquerda -, acusam a Lava Jato de que as multas impostas à Odebrecht pelos atos de corrupção são uma nítida tentativa de destruir os monopólios brasileiros e nos relegar ao subdesenvolvimento, vistas a sua seletividade e as multas (acursadas de serem as maiores da história) aplicadas pelo imperialismo norte-americano.</div>
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<br /></div>
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Para desmontarmos tais argumentos, devemos entender o que é o Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) no qual o grupo brasileiro foi enquadrado. É uma lei estadunidense que pune as empresas listadas nas bolsas dos EUA e que tenham se envolvido em corrupção (propina) no exterior. Diferente do que acusam os nacionalistas, tal lei pune grandes empresas há anos (inclusive dos EUA) e a multa ao grupo Odebrecht não é a maior já aplicada, como mostra o ranking no site da FCPA:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
1. <a href="http://www.fcpablog.com/blog/2008/12/16/final-settlements-for-siemens.html">Siemens</a> (Germany): $800 million in 2008.</div>
<div style="text-align: justify;">
2. <a href="http://www.fcpablog.com/blog/2014/12/22/alstom-pays-772-million-for-fcpa-settlement-sfo-brings-new-c.html">Alstom</a> (France): $772 million in 2014.</div>
<div style="text-align: justify;">
3. <a href="http://www.fcpablog.com/blog/2009/2/12/kbr-and-halliburton-resolve-charges.html">KBR / Halliburton</a> (USA): $579 million in 2009.</div>
<div style="text-align: justify;">
4. <a href="http://www.fcpablog.com/blog/2016/12/22/teva-announces-519-million-fcpa-settlement.html">Teva Pharmaceutical</a> (Israel): $519 million in 2016.</div>
<div style="text-align: justify;">
5. <a href="http://www.fcpablog.com/blog/2016/12/21/doj-and-sec-take-small-slice-of-odebrecht-braskem-35-billion.html">Odebrecht / Braskem</a> (Brazil): $419.8 million in 2016.</div>
<div style="text-align: justify;">
6. <a href="http://www.fcpablog.com/blog/2016/9/29/och-ziff-settles-with-sec-doj-for-412-million.html">Och-Ziff</a> (USA): $412 million in 2016.</div>
<div style="text-align: justify;">
7. <a href="http://www.fcpablog.com/blog/2010/3/1/bae-pleads-guilty.html">BAE</a> (UK): $400 million in 2010.</div>
<div style="text-align: justify;">
8. <a href="http://www.fcpablog.com/blog/2013/5/29/total-sa-pays-398-million-to-settle-us-bribe-charges.html">Total SA</a> (France) $398 million in 2013.</div>
<div style="text-align: justify;">
9. <a href="http://www.fcpablog.com/blog/2016/2/18/vimpelcom-reaches-795-million-resolution-with-us-dutch-autho.html">VimpelCom</a> (Holland) $397.6 million in 2016.</div>
<div style="text-align: justify;">
10. <a href="http://www.fcpablog.com/blog/2014/1/9/alcoa-settles-fcpa-charge-pays-384-million-to-doj-sec.html">Alcoa</a> (U.S.) $384 million in 2014.[1]</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Além disso, acusam a Lava-Jato e o Departamento de Justiça dos EUA de investigar somente a Odebrecht e as empresas nacionais, porém não é verdade.</div>
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<br /></div>
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<i>Fazem parte da lista das empresas investigadas nos Estados Unidos a Petrobras, a Eletrobras e uma série de gigantes internacionais que foram apanhadas pela Operação Lava Jato, como a Rolls Royce (Inglaterra), Sevan Marine e Vantage Drilling Company (ambas da Noruega), SBM Offshore (Holanda), Technip SA (França) e Keppel Corporation (Cingapura)(13/01/2017 – FOLHA SP).</i></div>
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<br /></div>
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Devido às investigações da Lava Jato, a Rolls Royce já pagou US$ 26 milhões ao Brasil e ainda vai pagar US$ 169,9 milhões ao Departamento de Estado dos EUA e 497,3 milhões de libras (US$ 603,5 milhões) à autoridade contra fraudes do Reino Unido. A SBM offshore também já pagou uma multa e aguarda a liberação para voltar às atividades. A demora para que essas empresas e as brasileiras voltem a ter relações normais com o Estado brasileiro se deve, por um lado, a uma questão de avanço institucional na regulação do capital, já se pondo em curso uma “melhora” jurídica[2] no sentido de lidar com tais casos. Por outro lado, devido à instabilidade política, que ainda não apresenta vias de superação.</div>
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<br /></div>
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Portanto, a visão de mundo que reduz a Lava Jato a um braço do ataque imperialista dos Estados Unidos mostra-se agora equivocada ou oportunista. No primeiro caso, é um erro de interpretação dos movimentos do capital e suas exigências institucionais, pois vê entrave ao desenvolvimento do capital no que é, em verdade, alavanca para tal desenvolvimento e acumulação. No segundo caso, é mera agitação burguesa para envolver parte da classe trabalhadora em sua causa, isto é, mobilizar a nação na defesa dos monopólios nacionais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Posto isso, é interessante citar o caso recente da Volksvagen, no qual a empresa fraudou o mecanismo de emissão de poluição de seus carros e foi descoberta. Teve que realizar um recall de todos seus carros e avalia que o custo de tal operação já chegou aos € 18,2 bilhões. Não obstante,</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>está perto de um acordo para o pagamento de US$ 4,3 bilhões em indenização e admissão de culpa pelo processo criminal movido pelo Departamento da Justiça norte-americano pelo escândalo de fraude de emissão de poluentes em veículos da montadora.(FOLHA SP – 11/01/2017)</i></div>
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<br /></div>
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Será que na Alemanha, assim como no Brasil de hoje, também não há organizações gritando a plenos pulmões, em nome dos trabalhadores alemães, que os EUA querem relegar a Alemanha ao subdesenvolvimento, à dependência e à periferia do capital, destruindo suas empresas e seu desenvolvimento autônomo, o qual permite ganhos aos trabalhadores e à economia alemã? Certamente isso ocorre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em tempo de monopólios, o discurso social-democrata e seu viés nacionalista se põe a serviço dos interesses da burguesia e prepara o terreno para uma maior permeabilidade do discurso fascista, seja na Alemanha, na Itália ou no Brasil.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Manifesto à “Nação Brasileira” lançado em fevereiro deste ano pela Frente Parlamentar da Engenharia é mais um exemplo de como a social-democracia coloca os trabalhadores a reboque dos interesses burgueses. Contou com a assinatura do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA), da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e da Federação Única dos Petroleiros (FUP), além de deputados dos mais diversos partidos.</div>
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<br /></div>
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<i>Promover acordos de leniência para as empresas envolvidas no escândalo da Lava Jato a fim de preservar a produção e o emprego no País, defender o conteúdo local e reverter a posição da Petrobras para a abertura de investimentos estrangeiros no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ) estiveram entre as propostas debatidas e que integraram deputados e senadores na manhã desta quinta-feira (9), durante a reunião da Frente Parlamentar Mista de Engenharia, Infraestrutura e Desenvolvimento Nacional.(ABIMAQ – 17/02/2017)</i></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As pautas defendidas nesse documento são dos interesses das empreiteiras brasileiras e de parte dos grandes empresários, nada têm a ver com os interesses dos operários da Petrobras, do COMPERJ ou de qualquer lugar do Brasil. Seja com conteúdo local ou sem ele, o desemprego continuará assolando a classe trabalhadora e a produção continuará a andar de acordo com os ciclos da economia capitalista, não de acordo com as necessidades dos trabalhadores. Pois sejam empresas estrangeiras ou nacionais, os trabalhadores do COMPERJ continuarão a ser explorados impiedosamente. Dessa maneira, podemos observar que é característico dos oportunistas confundir as pautas dos empresários com a dos trabalhadores e, portanto, cumprir o papel de desarmar o movimento operário brasileiro para os desafios da conjuntura em tempos de crise econômica. Por isso devemos combater o campo democrático-popular tanto quanto a burguesia e seu Estado: não cabe aos trabalhadores se aliarem a este ou aquele setor da burguesia (nacional ou não) nem defender suas demandas, mas sim se organizar de maneira independente tanto econômica quanto politicamente.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ora, se tamanhas multas não podem ser explicadas nem pela sua seletividade nem pela sua magnitude, como devemos encará-las? Os EUA são o grande regulador da disputa imperialista internacional e têm a legitimidade do mundo para cumprir esse papel, seja porque as empresas querem lançar suas ações na bolsa de NY (a maior do mundo), seja porque querem atuar em seu território, seja porque querem vender ao seu mercado (o maior do mundo), seja porque seu poderio militar exige um certo respeito. Dessa maneira, as multas aplicadas são um recado a todas as empresas que ousarem não atuar conforme os ditames do imperador e tentarem se dar bem debaixo de suas asas. A seletividade existe, pois o FCPA não investiga as petroleiras estadunidenses na Arábia Saudita, por exemplo, porém essa é uma das vantagens de ter o império nas mãos, e não um ataque específico em relação ao Brasil.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O FCPA também é mais um mecanismo do Estado norte-americano de exportar a crise do capital para o resto do mundo e utilizar as cifras para contê-la no seu território. A somatória das multas aplicadas após a crise de 2008 até 2016 é de aproximadamente U$9 bilhões. Tal quantia foi retirada diretamente de grandes concorrentes dos estadunidenses pelo mundo e tornada disponível à sua economia e suas empresas.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não podemos deixar de considerar que a Odebrecht foi a primeira empresa latino-americana a pagar uma multa de peso ao FCPA, numa lista que na sua dianteira conta com Siemens, Alstom e Halliburton. Esse é um fato simbólico que explicita a entrada de vez do Brasil na disputa imperialista internacional, ainda que como um player menor. Essa entrada é marcada por um recado carinhoso da maior potência mundial: seja meu aliado ou pereça![3]</div>
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<br /></div>
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Notas</div>
<div style="text-align: justify;">
[1] Se somadas as quantias pagas pela Odebrecht/Braskem aos EUA, Suiça e Brasil chegamos a 6 bilhões de reais que serão pagos em muitos anos. Apesar de ser uma grande quantia, ela não inviabiliza a continuidade do grupo.</div>
<div style="text-align: justify;">
[2] As diversas instituições públicas que regulamentam o mercado, como CVM e CADE, estão atualizando-se e modificando ou criando legislações ligadas a temas como delações premiadas, acordos de leniência e recuperação judicial.</div>
<div style="text-align: justify;">
[3] Não nos detemos na delação premiada da J&F neste texto porque, até o concluirmos, a empresa havia acabado de assinar o acordo com o Estado brasileiro e ainda estava negociando com outros Estados. No entanto, valem duas observações: 1) a J&F não assinou acordos primeiramente com os EUA porque suas ações negociadas na bolsa de NY são da sua divisão internacional, não envolvida nos casos de corrupção, diferentemente da Petrobras e da Odebrecht, que negociavam diretamente na bolsa de lá; 2) a multa do grupo foi de R$10,3 bilhões em 25 anos, o equivalente a 5,62% de seu faturamento em 2016. Defender que isto é um plano imperialista pra destruir os monopólios brasileiros é subestimar muito o poderio do imperialismo, ou apenas mais uma manifestação do necrorreformismo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fonte: <a href="http://passapalavra.info/2017/07/113314" target="_blank">Passa Palavra</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-13814779589902778622017-09-04T13:48:00.001-03:002017-09-04T13:48:20.129-03:00“A classe média é feita de imbecil pela elite”<div style="text-align: center;">
<img alt="Impeachment" height="426" src="https://www.cartacapital.com.br/sociedade/jesse-souza-201ca-classe-media-e-feita-de-imbecil-pela-elite201d/impeachment/@@images/8f5dda87-02c3-4180-a924-1d041e7e96e6.jpeg" width="640" /></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Os extratos médios, diz o sociólogo, defendem de forma acrítica os interesses dos donos do poder e perpetuam uma sociedade cruel forjada na escravidão</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
______________________________________</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em agosto, o sociólogo <a href="https://www.cartacapital.com.br/economia/ipea-tera-guinada-progressista-com-futuro-presidente-5677.html/jesse-de-souza">Jessé Souza</a> lança novo livro, A Elite do Atraso – da Escravidão à Lava Jato. De certa forma, a obra compõe uma trilogia, ao lado de A Tolice da Inteligência Brasileira, de 2015, e de A Ralé Brasileira, de 2009, um esforço de repensar a formação do País.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Neste novo estudo, o ex-presidente do <a href="https://www.cartacapital.com.br/economia/ainda-sobre-o-ipea">Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada</a> aprofunda sua crítica à tese do patrimonialismo como origem de nossas mazelas e localiza na <a href="https://www.cartacapital.com.br/politica/ecos-da-escravidao-2">escravidão</a> os genes de uma sociedade “sem culpa e remorso, que humilha e mata os pobres”. A mídia, a Justiça e a intelectualidade, de maneira quase unânime, afirma Souza na entrevista a seguir, estão a serviço dos donos do poder e se irmanam no objetivo de manter o povo em um estado permanente de letargia. A classe média, acrescenta, não percebe como é usada. “É feita de imbecil” pela elite.</div>
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<br /></div>
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CartaCapital: O <a href="https://www.cartacapital.com.br/revista/830/impeachment-e-insensatez-4371.html">impeachment</a> de Dilma Rousseff, afirma o senhor, foi mais uma prova do pacto antipopular histórico que vigora no Brasil. Pode explicar?</div>
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Jessé Souza: A construção desse pacto se dá logo a partir da <a href="https://www.cartacapital.com.br/sociedade/ato-pela-inclusao-do-jovem-negro-na-educacao-leva-mais-de-600-as-ruas-de-sp">libertação dos escravos</a>, em 1888. A uma ínfima elite econômica se une uma classe, que podemos chamar de média, detentora do conhecimento tido como legítimo e prestigioso. Ela também compõe a casta de privilegiados. São juízes, jornalistas, professores universitários. O capital econômico e o cultural serão as forças de reprodução do sistema no Brasil.</div>
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<br /></div>
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Em outra ponta, temos uma classe trabalhadora precarizada, próxima dos herdeiros da escravidão, secularmente abandonados. Eles se reproduzem aos trancos e barrancos, formam uma espécie de família desestruturada, sem acesso à educação formal. É majoritariamente negra, mas não só. Aos negros libertos juntaram-se, mais tarde, os migrantes nordestinos. Essa classe desprotegida herda o ódio e o desprezo antes destinados aos escravos. E pode ser identificada pela carência de acesso a serviços e direitos. Sua função na sociedade é vender a energia muscular, como animais. É ao mesmo tempo explorada e odiada.</div>
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<br /></div>
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CC: A sociedade brasileira foi forjada à sombra da escravidão, é isso?</div>
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JS: Exatamente. Muito se fala sobre a escravidão e pouco se reflete a respeito. A escravidão é tratada como um “nome” e não como um “conceito científico” que cria relações sociais muito específicas. Atribuiu-se muitas de nossas características à dita herança portuguesa, mas não havia escravidão em <a href="https://www.cartacapital.com.br/internacional/portugal-descobre-o-brasil-de-novo">Portugal</a>. Somos, nós brasileiros, filhos de um ambiente escravocrata, que cria um tipo de família específico, uma Justiça específica, uma economia específica. Aqui valia tomar a terra dos outros à força, para acumular capital, como acontece até hoje, e humilhar e condenar os mais frágeis ao abandono e à humilhação cotidiana.</div>
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<br /></div>
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CC: Um modelo que se perpetua, anota o senhor no novo livro.</div>
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JS: Sim. Como essa herança nunca foi refletida e criticada, continua sob outras máscaras. O ódio aos pobres é tão intenso que qualquer melhora na miséria gera reação violenta, apoiada pela mídia. E o tipo de rapina econômica de curto prazo que também reflete o mesmo padrão do escravismo. </div>
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<br /></div>
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CC: Como isso influencia a interpretação do Brasil?</div>
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JS: A recusa em confrontar o passado escravista gera uma incompreensão sobre o Brasil moderno. Incluo no problema de interpretação da realidade a tese do patrimonialismo, que tanto a direita quanto a esquerda, colonizada intelectualmente pela direita, adoram. O conceito de <a href="https://www.cartacapital.com.br/politica/a-luta-contra-o-patrimonialismo">patrimonialismo</a> serve para encobrir os interesses organizados no chamado mercado. Estigmatiza a política e o Estado, os “corruptos”, e estimula em contraponto a ideia de que o mercado é um poço de virtudes.</div>
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<br /></div>
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A irritação aumentou quando os pobres passaram a frequentar as universidades. Por quê? A partir desse momento, investiu-se contra uma das bases do poder de uma das alas que compõem o pacto antipopular, o acesso privilegiado, quase exclusivo, ao conhecimento formal considerado legítimo. Esse incômodo, até pouco tempo atrás, só podia ser compartilhado em uma roda de amigos. Não era de bom tom criticar a melhora de vida dos mais pobres.</div>
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<br /></div>
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CC: O moralismo seletivo de certos setores não exprime mais um ódio de classe do que a aversão à corrupção?</div>
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JS: Sim. Uma parte privilegiada da sociedade passou a se sentir ameaçada pela pequena ascensão econômica desses grupos historicamente abandonados. Esse sentimento se expressava na irritação com a presença de pobres em shopping centers e nos aeroportos, que, segundo essa elite, tinham se tornado rodoviárias.</div>
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CC: Como o moralismo entra em cena?</div>
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JS: O moralismo seletivo tem servido para atingir os principais agentes dessa pequena ascensão social, <a href="https://www.cartacapital.com.br/revista/875/lula-e-2018-6951.html">Lula</a> e o PT. São o alvo da ira em um sistema político montado para ser corrompido, não por indivíduos, mas pelo mercado. São os grandes oligopólios e o sistema financeiro que mandam no País e que promovem a verdadeira corrupção, quantitativamente muito maior do que essa merreca exposta pela Lava Jato. O procurador-geral, <a href="https://www.cartacapital.com.br/revista/884/richa-vira-alvo-de-rodrigo-janot">Rodrigo Janot</a>, comemora a devolução de 1 bilhão de reais aos cofres públicos com a operação. Só em juros e isenções fiscais o Brasil perde mil vezes mais.</div>
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<br /></div>
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CC: Esse pacto antipopular pode ser rompido? O fato de os antigos representantes políticos dessa elite terem se tornado alvo da <a href="https://www.cartacapital.com.br/politica/os-perigos-da-lava-jato">Lava Jato</a> não fragiliza essa relação, ao menos neste momento?</div>
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JS: Sem um pensamento articulado e novo, não. A única saída seria explicitar o papel da elite, que prospera no saque, na rapina. A classe média é feita de imbecil. Existe uma elite que a explora. Basta se pensar no custo da saúde pública. Por que é tão cara? Porque o sistema financeiro se apropriou dela. O custo da escola privada, da alimentação. A classe média está com a corda no pescoço, pois sustenta uma ínfima minoria de privilegiados, que enforca todo o resto da sociedade. A base da corrupção é uma elite econômica que compra a mídia, a Justiça, a política, e mantém o povo em um estado permanente de imbecilidade.</div>
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<br /></div>
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CC: Qual a diferença entre a escravidão no Brasil e nos Estados Unidos?</div>
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JS: Não há tanta diferença. Nos Estados Unidos, a parte não escravocrata dominou a porção escravocrata. No Brasil, isso jamais aconteceu. Ou seja, aqui é ainda pior. Os Estados Unidos não são, porém, exemplares. Por conta da escravidão, são extremamente desiguais e violentos. Em países de passado escravocrata, não se vê a prática da cidadania. Um pensador importante, Norbert Elias, explica a civilização europeia a partir da ruptura com a escravidão. É simples. Sem que se considere o outro humano, não se carrega culpa ou remorso. No Brasil atual prospera uma sociedade sem culpa e sem remorso, que humilha e mata os pobres. </div>
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<br /></div>
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CC: Algum dia a sociedade brasileira terá consciência das profundas desigualdades e suas consequências?</div>
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JS: Acho difícil. Com a mídia que temos, desregulada e a serviço do dinheiro, e a falta de um padrão de comparação para quem recebe as notícias, fica muito complicado. É ridícula a nossa televisão. Aqui você tem programas de debates com convidados que falam a mesma coisa. Isso não existe em nenhum país minimamente civilizado. É difícil criar um processo de aprendizado.</div>
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<br /></div>
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CC: O senhor acredita em eleições em 2018?</div>
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JS: Com a nossa elite, a nossa mídia, a nossa Justiça, tudo é possível. O principal fator de coesão da elite é o ódio aos pobres. Os políticos, por sua vez, viraram símbolo da rapinagem. Eles roubam mesmo, ao menos em grande parte, mas, em analogia com o narcotráfico, não passam de “aviõezinhos”. Os donos da boca de fumo são o sistema financeiro e os oligopólios. São estes que assaltam o País em grandes proporções. E somos cegos em relação a esse aspecto. A privatização do Estado é montada por esses grandes grupos. Não conseguimos perceber a atuação do chamado mercado. Fomos imbecilizados por essa mídia, que é paga pelos agentes desse mercado. Somos induzidos a acreditar que o poder público só se contrapõe aos indivíduos e não a esses interesses corporativos organizados. O poder real consegue ficar invisível no País.</div>
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<br /></div>
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CC: O quanto as manifestações de junho de 2013, iniciadas com os protestos contra o reajuste das tarifas de ônibus em São Paulo, criaram o ambiente para a atual crise política?</div>
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JS: Desde o início aquelas manifestações me pareceram suspeitas. Quem estava nas ruas não era o povo, era gente que sistematicamente votava contra o projeto do PT, contra a inclusão social. Comandada pela Rede Globo, a mídia logrou construir uma espécie de soberania virtual. Não existe alternativa à soberania popular. Só ela serve como base de qualquer poder legítimo. Essa mídia venal, que nunca foi emancipadora, montou um teatro, uma farsa de proporções gigantescas, em torno dessa soberania virtual.</div>
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<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><img alt="Debret.jpg" height="426" src="https://www.cartacapital.com.br/sociedade/jesse-souza-201ca-classe-media-e-feita-de-imbecil-pela-elite201d/Debret.jpg/@@images/0e5d4139-2a17-4098-a1fd-3d73a522e285.jpeg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" width="640" /></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Um resumo das relações sociais no Brasil</td></tr>
</tbody></table>
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<br />CC: Mas aquelas manifestações foram iniciadas por um grupo supostamente ligado a ideias progressistas...</div>
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JS: Só no início. A mídia, especialmente a Rede Globo, se sentiu ameaçada no começo daqueles protestos. E qual foi a reação? Os meios de comunicação chamaram o seu povo para as ruas. Assistimos ao retorno da família, propriedade e tradição. Os mesmos “valores” que justificaram as passeatas a favor do golpe nos anos 60, empunhados pelos mesmos grupos que antes hostilizavam Getúlio Vargas. Esse pacto antipopular sempre buscou tornar suspeito qualquer representante das classes populares que pudesse ser levado pelo voto ao comando do Estado. Não por acaso, todos os líderes populares que chegaram ao poder foram destituídos por meio de golpes. </div>
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Fonte: <a href="https://www.cartacapital.com.br/sociedade/jesse-souza-201ca-classe-media-e-feita-de-imbecil-pela-elite201d">Carta Capital</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-27601415269555967572017-07-20T12:56:00.000-03:002017-07-20T12:56:42.437-03:00Coleção Primeiros Passos e Os Pensadores para Download<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para coleção primeiros passos" height="426" src="http://www.netmundi.org/home/wp-content/uploads/2017/04/header-colecao-primeiros-passos.jpg" width="640" /></div>
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A série de livros Primeiros Passos é uma importante coleção da Editora Brasiliense que, há mais de 30 anos, reúne textos sobre diversos temas: O que é capitalismo? O que é filosofia? O que é racismo? O que é Cultura?</div>
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Lançada em 1970 e em formato de bolso, a coleção foi um sucesso, por exemplo, apenas durante o ano de 1999, vendeu meio milhão de exemplares… Tratam-se de textos curtos, porém concisos, sobre temas contemporâneos. Outra característica importante desta coleção é a indicação de uma bibliografia complementar disponibilizada ao final de cada volume, para aqueles que queiram se aprofundar no tema em questão.</div>
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PARA FAZER O DOWNLOAD DA COLEÇÃO – <a href="https://mega.nz/#F!U1UwiZjS!XIwmd2Y9_QjHrTy9zL4XXg">CLIQUE AQUI!</a></div>
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<img alt="Resultado de imagem para coleção os pensadores" height="474" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8iUJiRIJXs0nuPUpnaeK2yH90S8Fv4oliNdz1rrU6dJfAKRy2qnYHPX_vdBcv3Na9ltDHWVdwHw88Vhl67gNVxovXJdlb_SqgbNrE0BMAG8rQdsOuje90mEWhXFynqSSJWu9fRsmZUO6P/s640/Pensadores.jpg" width="640" /></div>
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Dos pré-socráticos aos pós-modernos! Coleção “Os Pensadores -: 55 livros sobre os pensadores das principais escolas filosóficas em PDF, disponível para download.</div>
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A Coleção “Os Pensadores” é uma coleção de livros que reúne as obras dos filósofos ocidentais desde os pré-socráticos aos pós-modernos. O interessante desta coleção é que ela reúne em cada exemplar um pequeno apanhado sobre a biografia do autor em questão e um, dois ou três livros deste mesmo autor, normalmente os títulos mais conhecidos.</div>
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Publicada originalmente pela editora Abril Cultural, entre os anos de 1973/1975 era composta de 52 volumes. A edição que indicamos é de 1984 e é composta por 56 títulos.</div>
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PARA FAZER O DOWNLOAD DOS LIVROS – <a href="https://mega.nz/#F!NklEVJYY!qfznnm8WAOF6oARZ9VN9oA">CLIQUE AQUI!</a></div>
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Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-65291122189756679762017-05-05T18:17:00.000-03:002017-05-05T18:17:07.565-03:00Relatório de uma viagem à República Popular Democrática da Coreia<div style="text-align: center;">
<img alt="Relatório de uma viagem à República Popular Democrática da Coreia" height="337" src="https://gz.diarioliberdade.org/media/k2/items/cache/04ab05b97ce517dadc8f8e7309004233_L.jpg" width="640" /></div>
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Por Gabriel Martinez e Guilherme Carvalho</div>
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No dia 12 de abril de 2017 o Centro de Estudos da Ideia Juche - Brasil enviou uma delegação composta de dois representantes à Pyongyang, capital da República Popular Democrática da Coreia por ocasião das comemorações do 105º aniversário do Presidente Kim Il Sung.</div>
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A delegação estava formada por Gabriel Gonçalves Martinez, Presidente do Centro de Estudos da Ideia Juche e Guilherme Carvalho, membro do respectivo do Centro. Os dois membros da delegação também são militantes da União Reconstrução Comunista.</div>
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O trem número K27, que cumpre o trajeto de Beijing até Pyongyang, saiu da Estação Central de Beijing às 17:20 em ponto. A composição do trem era divida entre vagões chineses e norte-coreanos. A maioria dos passageiros chineses, desciam nas estações anteriores a cidade de Dangong, que faz fronteira com a RPDC. Em nosso vagão, havia norte-coreanos e algumas delegações estrangeiras que estavam indo para a RPDC participar das comemorações do 105º aniversário do Presidente Kim Il Sung. A duração total da viagem é de aproximadamente vinte e seis horas, com diversas paradas curtas na China e já dentro do território da RPDC. A parada mais demorada se dá em Dangong, pois todos os passageiros precisam sair do trem para passar pelo processo de imigração. Depois, já em Sinuiju, também é necessário fazer outra parada, onde os oficiais norte-coreanos fazem uma inspeção do trem e checam nossas documentações, como visto e passaporte. A viagem, apesar de longa, é bastante tranquila, com cabines confortáveis, serviço de bordo, restaurante, banheiro, etc. A passagem do território chinês para o território norte-coreano se dá por meio da Ponte de Amizade China-Coreia, que atravessa o Rio Yalu (Amrok). Esta ponte é considerada um símbolo histórico da amizade entre o povo chinês e o povo coreano, que lutaram juntos na Guerra da Libertação da Pátria (Guerra da Coreia).</div>
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Ao chegarmos em território norte-coreano é possível observar as diferenças gritantes que existem entre China e RPDC. Dandong é uma cidade relativamente grande, com diversas construções modernas, arranha-céus, parecida com outras grandes cidades chinesas. Já Sinuiju, é uma cidade bem menor, com um forte aspecto de cidade industrial. É possível observar em Sinuiju a tentativa por parte do governo em reformar os estabelecimentos públicos, ao mesmo tempo que é possível também observar o aspecto obsoleto de algumas instalações industriais.</div>
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No entanto, ao avançar dentro da cidade, se vê diversos tipos de conjuntos habitacionais, centros culturais, museus, escolas e depósitos industriais. Como qualquer outra cidade da RPDC, para onde quer que se olhe é possível ver cartazes de propaganda revolucionária exaltando o Partido do Trabalho da Coreia, a Comissão Nacional de Defesa, as liderenças revolucionárias e a ideologia do que os coreanos chamam de Kimilsunismo-Kimjongilismo. Ainda dentro da cidade, vê-se plantações e instalações agrícolas. O que salta aos olhos é a maneira como os coreanos aproveitam cada palmo de terra para plantação. O espaço do campo é aproveitado entre as estruturas de plantação, a irrigação e a própria linha ferroviária encarregada de escoar a produção agrícola. Observamos que os camponeses ainda estavam preparando a terra para a plantação. Utilizavam formas rudimentares de arado, como o arado a boi, mesclado com a utilização de alguns tratores. Algo que chamou bastante foi de que praticamente todo o trajeto pelo interior da RPDC era destinado à produção agrícola. Se via extensões gigantescas de terra, sem cercas, onde os camponeses trabalham de forma coletivizada, preparando a terra para o período de plantio. Ao redor do campo vimos alguns vilarejos, compostos de pequenas casas, algumas em estado deteriorado e outras sendo reformadas. De qualquer forma, apesar de ser visível a dificuldade que os coreanos enfrentam para superar os problemas na agricultura, não vimos miséria extrema e muito menos pessoas morrendo de fome nas beiras do trilho do trem.</div>
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Ao terminarmos o trajeto no interior do país, chegamos em uma região mais urbanizada, mas que ainda assim possuía um certo aspecto rural, já próximo da cidade de Pyongyang. Chegando em Pyongyang é possível observar a diferença que existe entre a cidade e o campo na RPDC. Pyongyang é uma cidade belíssima, com infraestrutura em crescente processo de modernização. Se vê um número grande de prédios com apartamentos populares, ruas asfaltadas, maior tráfego de automóveis, parques, aeroporto, instalações militares, hospitais e grandes avenidas. É uma cidade relativamente grande, que não deve nada a muitas cidades de países capitalistas, com a diferença de que ela é mais bonita, planejada e organizada.</div>
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Ao chegarmos na estação de trem de Pyongyang, fomos recebidos pelo nosso guia, Paek Tae Bong. Paek aprendeu a falar espanhol em Cuba, país onde viveu por 4 anos, mas nos contou que estava praticamente há 15 anos sem praticar o idioma. Isso não nos impediu que nos comunicássemos perfeitamente, pois o seu nível de espanhol era realmente bom. Ele também nos contou que aquela era a sua primeira vez que estava trabalhando como guia para uma delegação estrangeira, confessando-nos que estava um pouco nervoso. Da estação de trem nos dirigimos para o Hotel Koryo, lugar que iríamos ficar durante os próximos sete dias e onde a maioria das delegações estrangeiras de grupos de estudo da ideia Juche estavam hospedadas. No caminho até o Hotel, vimos uma van com uma equipe da brigada de agitação do Partido do Trabalho da Coreia, onde uma companheira coreana lia mensagens no sistema de som da van, exortando para que o povo seguisse as orientações do Partido contra as manobras do imperialismo norte-americano e se preparasse para as comemorações do aniversário de Kim Il Sung.</div>
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Chegando no Hotel Koryo, encontramos companheiros de outras delegações e depois nos dirigimos para o nosso quarto. Ficamos hospedados em um quarto no 33º andar, um dos últimos andares do hotel. Neste dia não tivemos nenhuma atividade especial e aproveitamos o resto da noite para descansar da longa viagem que fizemos e nos preparamos para o dia seguinte.</div>
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No outro dia, logo pela manhã, nos dirigimos ao Palácio de Cultura do Povo, onde participamos do Seminário Internacional da Ideia Juche e camaradas de diversos centros de estudos da Ideia Juche do mundo, bem como membros da Academia Coreana de Cientistas Sociais, fizeram os seus discursos falando sobre a importância da ideia Juche e os desdobramentos da luta anti-imperialista no mundo. Foi uma importante ocasião para debatermos as experiências de cada grupo de estudos e traçarmos linhas de atuação comum para o próximo período. Ainda no dia 14, pela tarde, fomos ao Centro de Exposições de Pyongyang para participarmos da tradicional exposição das flores Kimilsungia. A Kimilsungia é um tipo de orquídea que recebeu este nome por iniciativa de Sukarno, ex-presidente da Indonésia, que presenteou Kim Il Sung com esta flor quando o Presidente da RPDC visitou o país. No pavilhão da exposição era possível ver diversos arranjos florais enviados por fábricas, empresas, instituições culturais, escolas e universidades de toda a RPDC. Depois, ao voltarmos para o Hotel, participamos de um banquete em homenagem ao aniversário do Presidente Kim Il Sung, que contou com a presença de Kim Ki Nam, Vice-Presidente do Comitê Central do Partido do Trabalho da Coreia e da Associação de Cientistas Sociais da Coreia. Kim Ki Nam é um dos dirigentes mais importantes do Partido e do governo da RPDC. Ainda durante o banquete, foi confirmado pelos diretores da Associação Coreana de Cientistas Sociais, que no próximo dia, pela manhã, participaríamos do aguardado desfile militar na Praça Kim Il Sung.</div>
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No dia seguinte, todas as delegações estrangeiras se dirigiram para a Praça Kim Il Sung para assistir ao desfile. É importante ressaltar que o desfile foi realizado em meio ao agravamento da tensão militar entre a RPDC e os Estados Unidos. A imprensa ocidental, em seu alarde típico, previa um ataque preventivo iminente à RPDC, por parte dos Estados Unidos, da mesma maneira que este tinha feito na Síria alguns dias antes. Durante o desfile, pudemos presenciar com nossos próprios olhos o poderio do Exército Popular Coreano e a unidade do povo entornam da direção do Partido e de Kim Jong Un. Durante aproximadamente duas horas, diversas unidades do Exército desfilaram pela praça. Depois do desfile militar, houve um gigantesco desfile de massas, que contou com a presença de inúmeros destacamentos de trabalhadores das mais diversas áreas, como operários, camponeses, estudantes, cientistas, esportistas, que carregavam estandartes que correspondiam as palavras de ordem emanadas pelo 7º Congresso do Partido do Trabalho da Coreia, realizado em 2016. Um dos momentos altos do desfile foi o aparecimento de Kim Jong Un na tribuna, saudando as delegações estrangeiras que assistiam ao desfile. Na parte da tarde, visitamos o Palácio do Sol, lugar onde repousam os corpos de Kim Il Sung e Kim Jong Il. No palácio, há diversas galerias que exibem medalhas, prêmios e presentes dados para os dois dirigentes, por organizações políticas, governos, empresas e personalidades de diversos países. Também pudemos um painel que mostra os lugares que ambos dirigentes visitaram durante suas vidas.</div>
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Pela noite, retornamos a Praça Kim Il Sung para participarmos do espetáculo cultural artístico de massas. Neste espetáculo houve apresentações de música e dança, executadas por grupos de estudantes das várias universidades da RPDC.</div>
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No dia 16 pela manhã, visitamos a região de Mangyongdae e a casa onde nasceu Kim Il Sung. Mangyongdae é um lugar muito visitado pelos norte-coreanos, pois é considerado o berço da revolução coreana. Nesta casa, Kim Il Sung viveu junto com seus pais, avós e primos. A casa ficava dentro de uma fazenda de propriedade de um latifundiário. A família de Kim Il Sung era uma família de camponeses pobres que arrendavam a terra para poder viver e trabalhar. Aos 13 anos, Kim Il Sung sai de Mangyongdae e se dirige à China, para estudar e militar pela independência de seu país contra o domínio colonial japonês. Na antiga casa de Kim Il Sung podemos ver os instrumentos de trabalho utilizado por sua família, bem como outros tipos de utensílios domésticos.</div>
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Depois de visitarmos Mangyongdae, as delegações estrangeiras se dirigiram novamente ao Palácio de Cultura do Povo, onde foi realizado o segundo dia de atividades do Seminário Internacional da Ideia Juche. Neste dia outros delegados estrangeiros fizeram suas exposições, descrevendo suas experiências no trabalho de divulgação da ideia Juche em seus respectivos países. Entre os delegados, havia representações da Rússia, Espanha, Inglaterra, Índia, Nepal, Paquistão, Japão, México, etc. Após o seminário, ao final do dia, fomos às estátuas de Kim Il Sung e Kim Jong Il, localizadas ao pé da colina Moran, para fazermos uma oferenda de flores em memória dos dois dirigentes máximos da Revolução Coreana.</div>
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O dia 17 de abril teve um caráter mais recreativo. Foi um dia de confraternização entre as delegações e os diretores e acadêmicos da Academia Coreana de Cientistas Sociais. Participamos de atividades esportivas e desfrutamos de um almoço com churrasco ao estilo coreano. A atividade foi realizada nos arredores do Estádio Primeiro de Maio, o maior estádio do mundo. Durante a confraternização, realizada dentro de um campo de futebol, cada delegação teve que preparar uma canção do seu país e uma canção coreana. De nossa parte, cantamos a canção coreana Vamos defender o Socialismo!, que apareceu pela primeira vez na RPDC durante a chamada Árdua Marcha, período onde a Coreia enfrentou uma grave crise, decorrente do desaparecimento da União Soviética e dos países do Leste Europeu, ao mesmo tempo em que enfrentava severos desastres naturais que prejudicaram enormemente a economia do país.</div>
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O dia 18 amanheceu chuvoso e com fortes ventos. Mesmo assim, não podíamos cancelar nossas atividades diárias. Para este dia, estava programada uma visita ao gigantesco Museu da Guerra de Libertação da Pátria, que mostra a história de luta do povo coreano contra a agressão japonesa e principalmente norte-americana. O museu conta com diversas galerias que apresentam as várias etapas da luta do povo coreano contra o imperialismo. É possível ver diversos aviões, helicópteros, tanques, mísseis submarinos capturados pelo Exército Popular Coreano durante a guerra. Chama à atenção o barco norte-americano USS Pueblo, capturado em 23 de janeiro de 1969, durante uma tentativa de incursão do exército imperialista norte-americano em águas territoriais da RPDC. Este navio é exibido como um troféu de guerra. Dentro dele pudemos ver diversos equipamentos de espionagem utilizados pelo exército imperialista. Foram capturados pelo Exército Popular Coreano 83 membros da tripulação, entre eles seis oficiais, sendo um deles morto no conflito da captura. O USS Pueblo era um navio de espionagem, dedicado a obter informações de inteligência para o exército estadunidense. Ao entrarmos no museu nos apresentaram um pequeno documentário sobre os antecedentes históricos da Guerra da Coreia. Também pudemos ver uma galeria dedicada aos lutadores internacionais que participaram na luta de libertação da Coreia, entre eles soldados e oficiais soviéticos e chineses.</div>
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Após a visita ao Museu de Guerra de Libertação da Pátria, nos dirigimos ao Grande Palácio de Estudos do Povo. Esta enorme construção foi inaugurada em abril de 1982, para comemorar o 70º aniversário de Kim Il Sung. Esta biblioteca é considerada como o centro nacional para o estudo da ideia Juche e foi construída pelo governo da RPDC como uma forma de incentivar a intelectualização de toda a sociedade. A biblioteca conta com salas de computação, aprendizagem de línguas estrangeiras, literatura revolucionária, literatura estrangeira, música e conta com um acervo de mais de 30 milhões de livros. Também assistimos dois documentários sobre a atuação do Partido do Trabalho da Coreia, produzido pela Academia Coreana de Cientistas Sociais e participamos de um ato de lançamento do livro de um camarada nepalês, membro da Associação Nepalesa de Jornalistas Amigos da RPDC e do Partido Comunista do Nepal – Maoísta.</div>
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A última atividade do dia foi a visita do Movimento da Juventude. Neste museu recém-reformado, pudemos ver toda a trajetória dos movimentos revolucionários da juventude coreana, desde o período da fundação de organizações como a União para Derrotar o Imperialismo, a União da Juventude Anti-Imperialista e a União da Juventude Comunista. O museu também apresenta a atividade de Kim Il Sung, Kim Jong Il e Kim Jong Un, no processo de liderança do movimento revolucionário da juventude já no período de construção da sociedade socialista.</div>
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Na manhã do dia 19, visitamos o Complexo de Ciência e Tecnologia, uma gigantesca construção que visa ser um centro de difusão de conhecimento científico básico. O complexo conta com uma imensa livraria eletrônica, onde os visitantes e usuários dos computadores podem acessar o banco de dados dos principais centros educacionais de nível superior do país, assim como submeter artigos e trabalhos online por meio da rede intranet. Algumas salas são dedicadas para usuários portadores de necessidades especiais. Tivemos oportunidade de ver uma sala equipada com computadores com teclado especial e impressoras em Braille. Os usuários do complexo também podem ter aulas com importantes professores universitários. Há um espaço dedicado às crianças chamado Salão dos Sonhos das Crianças, onde elas podem interagir com diversos experimentos científicos, como o funcionamento da órbita dos planetas, a composição geográfica da Coreia, força cinética, etc.</div>
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Após a visita ao Complexo de Ciência e Tecnologia nos dirigimos ao novo Hospital Infantil Okryu. O hospital está localizado na região de Munsu e conta com uma moderna estrutura hospitalar, onde as crianças realizam todos os tipos de exames e medicina preventiva. Como em todos os hospitais da Coreia, também no Hospital Infantil de Okryu, as crianças e as famílias que usam o hospital não arcam com nenhum custo financeiro para utilizá-lo. Dentro do hospital, fomos convidados por repórteres da Rádio Voz da Coreia para concedermos uma entrevista relatando nossas impressões da visita à RPDC. Na ocasião, tivemos oportunidade de denunciarmos as manobras do imperialismo estadunidense, bem como demonstrar nosso completo apoio a causa de construção do socialismo na Coreia.</div>
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Por fim, nossa última visita oficial na RPDC foi à ida ao recém-reformado Zoológico Central de Pyongyang. Para chegarmos nele, passamos pela Avenida Mirae, inaugurada em Novembro de 2015. Esta rua possui seis faixas e conta com diversos prédios modernos e apartamentos para os cientistas e funcionários da Universidade Kim Chaek. Também tivemos a oportunidade de ver a recém-inaugurado bairro de Ryomyong. A nova região conta com mais de 40 novos condomínios, sendo 33 deles reformados. Além disso, ainda conta com 36 áreas públicas, como parques, lojas, restaurantes, bares; 6 escolas, 3 jardins de infância e 3 creches.</div>
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<b>Considerações finais</b></div>
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Visitar a República Popular Democrática da Coreia consiste em uma experiência única para qualquer pessoa. Em nossa opinião, o que podemos observar é que o povo coreano segue em seu caminho de construção da sociedade socialista. Evidente que, como todo processo, também este não está isento de suas contradições, o que não inválida a experiência de construção socialista em sua totalidade, como querem os liberais e revisionistas, que clamam para que os norte-coreanos sigam o chamado caminho das “reformas”, a exemplo de alguns países que se dizem socialistas. A economia da RPDC segue sendo formada por dois setores básicos, que são o setor estatal de todo o povo e o setor cooperativo. O governo da RPDC busca promover o desenvolvimento da economia, sem sacrificar os fundamentos básicos de que devem reger qualquer economia socialista. Ao invés de apontarem para uma suposta necessidade de se “abrir para o mundo exterior” e para o mercado (leia-se, restaurar o capitalismo), a linha atual dá ênfase a necessidade do país caminha sobre suas próprias pernas, aplicando o que eles sempre defenderam como ideia Juche, uma ideia que se apoia no conceito de soberania, independência e autossuficiência. Dada as circunstâncias onde a RPDC não pode contar com ajuda externa e devido a um criminoso bloqueio econômico contra o país (agora aplicado até por supostos aliados).</div>
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No aspecto das relações sociais e humanas, também vemos que na RPDC a materialização dos valores básicos do coletivismo e do humanismo são postos em prática. Ainda que existam fortes resquícios da velha sociedade, o que é normal em um país com pesada herança e tradição feudal e cercado pelo mundo imperialista, é visível a construção de uma sociedade que se baseia em valores qualitativamente superiores aos valores vigentes nas sociedades burguesas. O individualismo, por exemplo, longe de ser apresentado como uma condição natural e inexorável do comportamento e da natureza humana, é apresentado pelo povo coreano como algo a ser superado, e no lugar, construir uma sociedade coletivista onde as relações humanas não se guiam apenas pelos aspectos financeiros, mas por valores como o do companheirismo, solidariedade, que é resumido no princípio de “um por todos e todos por um”. Ou seja, o que sabe mais, ajuda o que sabe menos, e o mais experiente, ajuda o menos experiente. Ao contrário do capitalismo, onde os homens se digladiam em busca de conquistas mesquinhas e vazias e onde não há lugar para todos.</div>
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A construção da sociedade socialista é uma tarefa complexa. O povo que se engaja neste caminho, enfrentará inevitavelmente todos os tipos de provocações, ataques e manobras de desestabilização política e ideológica por parte do imperialismo. Sem uma correta direção revolucionária, que aponte para as massas o correto caminho a ser seguido, é impossível que uma revolução se defenda e triunfe. A República Popular Democrática da Coreia, apesar de ser um pequeno país asiático, mostra ao mundo que o socialismo libera aquilo que existe de mais avançado no interior de cada povo e cada cultura. Mesmo um pequeno país tem muito ao que ensinar aos povos do mundo. Nesse sentido, é fundamental que ao analisarmos a experiência de construção do socialismo na Coreia, nos distanciemos de certos preconceitos inculcados na mente de muitas pessoas, mesmo algumas que se consideram de esquerda. A situação de isolamento, bloqueio e provocações vividas pelo povo coreano, nos faz sermos mais tolerantes com os seus eventuais erros ou medidas que podem ser consideradas “polêmicas”.</div>
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Construir o socialismo nas condições em que os coreanos se encontram, não é algo simples. Que a RPDC ainda exista como país socialista e independente, que defende a bandeira vermelha revolucionária, já é um fato que por si só é extremamente positivo, e que deveria atrair a simpatia e a solidariedade de todos aqueles que se dizem ao menos anti-imperialistas. Por isso, não colocamos “poréns” na defesa que fazemos do país. Na luta real contra o imperialismo, não existe espaço para vacilações, principalmente quando essas vacilações são frutos das pressões ideológicas do imperialismo, que a todo o momento tenta pautar o que nós, os comunistas e revolucionários, devemos considerar como correto ou não.</div>
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Esperamos que o nosso relato de viagem sirva como um estímulo para que mais companheiros se interessem em conhecer a realidade e a história da RPDC, rompendo com a rede de difamações e mentiras levantadas pelo imperialismo e os meios de comunicação que atuam ao seu serviço.</div>
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Pequim, 02 de Maio de 2017</div>
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Fonte: <a href="https://gz.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/item/153633-relatorio-de-uma-viagem-a-republica-popular-democratica-da-coreia.html">Diário Liberdade</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-34675843681710576372017-04-01T15:19:00.000-03:002017-04-01T15:19:34.915-03:00QUEM DEU O GOLPE NA VENEZUELA?<div style="text-align: justify;">
<b>(Ou nada é fácil diante de um cerco implacável)</b></div>
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<img alt="Resultado de imagem para maduro supremo" height="384" src="https://ogimg.infoglobo.com.br/in/19123636-a2c-12f/FT1086A/420/201604141846520111_AP.jpg" width="640" /></div>
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Por Gilberto Maringoni</div>
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Há uma luta política duríssima em curso na Venezuela. A suspensão temporária da Assembleia Nacional pela Suprema Corte é sua mais recente e dramática face.</div>
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De um lado, há um governo acuado por uma crise econômica causada pela queda dos preços do petróleo, entre 2014-16, pela falta de comando político estável e pelo desaparecimento de sua principal liderança, Hugo Chávez, morto há quatro anos.</div>
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De outro, existe uma oposição vitaminada por expressiva vitória eleitoral, em dezembro de 2015, na qual obteve 112 cadeiras contra 55 do governo. Três deputados foram impugnados no estado de Amazonas, sob acusação de fraudes eleitorais.</div>
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<b>TOTAL DIFERENÇA</b></div>
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Os três fazem toda a diferença nas votações: com eles, a Mesa de Unidade Democrática (MUD), leque de forças que comanda o Legislativo alcançaria mais de dois terços dos membros da casa, o que lhe facultaria decidir sobre matérias constitucionais.</div>
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A disputa se acirrou. No início de janeiro último, os antichavistas alcançaram 106 votos para declarar a vacância da cadeira presidencial, por “abandono do cargo”.</div>
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A iniciativa não prosperou por falta de respaldo nos fatos. Nicolás Maduro não teve nenhuma falta da ordem alegada pela coalizão opositora.</div>
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As movimentações de tais setores para derrubar o governo agora só podem ser feitas ao arrepio da Constituição. Até abril de 2016 – metade da gestão Maduro – era possível obter tal intento pela via do referendo revogatório, previsto na Carta. A MUD não obteve assinaturas em número suficiente, segundo a Suprema Corte. Se a medida for realizada agora e Maduro cair, quem assume é seu vice, Tareck El Aissami.</div>
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Em 6 de janeiro, desafiando a lei, a MUD empossou os três políticos impugnados.</div>
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<img alt="Resultado de imagem para maduro supremo" height="426" src="https://ep00.epimg.net/internacional/imagenes/2016/03/02/actualidad/1456885871_248224_1456886152_noticia_normal.jpg" width="640" /></div>
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<b>A LETRA DA CONSTITUIÇÃO</b></div>
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A possibilidade de efetivá-los facultaria à oposição encurtar o mandato presidencial, através de emenda constitucional. Mas a posse dos três em si é ilegal.</div>
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Para impedir um golpe contra si, Maduro valeu-se de prerrogativas inscritas na Constituição::</div>
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“Artigo 335. O Tribunal Supremo de Justiça garantirá a supremacia e efetividade das normas e princípios constitucionais; será o intérprete máximo e último da Constituição e velará por sua interpretação e aplicação uniformes. As interpretações estabelecidas pela Sala Constitucional sobre o conteúdo ou alcance das normas e princípios constitucionais são vinculantes para as outras câmaras do Tribunal Supremo e demais tribunais da República.</div>
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Artigo 336. São atribuições da Sala Constitucional do Supremo Tribunal de Justiça:</div>
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1. Declarar nulidade total ou parcial das leis nacionais e demais atos com força de lei dos corpos legislativos nacionais que colidam com esta Constituição.</div>
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(...)</div>
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9. Dirimir controvérsias constitucionais que possam surgir entre qualquer órgão do poder público”.</div>
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A SC apelou à Assembleia Nacional que anulasse a posse dos deputados. Esta não o fez.</div>
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Pode-se debater se a medida de suspender a AN foi exagerada ou não. Mas não se pode tirar de vista que a MUD tentou dar um golpe. Diante de tal ilegalidade, o governo apelou à Justiça.<br />
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<img alt="Resultado de imagem para maduro supremo" height="355" src="https://ep01.epimg.net/internacional/imagenes/2016/02/27/actualidad/1456608633_490106_1456608711_noticia_normal.jpg" width="640" /></div>
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<b>NEOLIBERALISMO OU ESTADO SOCIAL?</b></div>
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As opções colocadas diante da Venezuela não são simples. É possível que o governo perca as eleições presidenciais de 2019. É parte do jogo. Mas, diante do avanço avassalador da extrema-direita no continente, Nicolás Maduro não quer pagar para ver em seu país a concretização de diretrizes econômicas que empobrecem a população, privatizam ativos públicos, retiram direitos dos trabalhadores e tolhem perspectivas de desenvolvimento.</div>
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Não se trata de fantasias. É exatamente o que está acontecendo na Argentina, no Brasil, no Paraguai e em Honduras.</div>
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Pode-se e deve-se criticar acidamente o atual governo venezuelano por muitas coisas.</div>
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Só não se pode condená-lo por lutar como um leão – isolado por um cerco político e midiático no cenário internacional - para manter as conquistas de 18 anos de um processo político que buscou tirar de cena a dinâmica destrutiva do neoliberalismo.</div>
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Fonte: Perfil Pessoal Facebook</div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-69671666602843650602017-03-08T12:01:00.000-03:002017-03-08T12:01:22.146-03:00A ORIGEM PROLETÁRIA E SOCIALISTA DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER<div style="text-align: center;">
<img alt="Imagem relacionada" height="351" src="https://socialismohoje.files.wordpress.com/2014/03/photo-3-petrograd-e1394269087697.jpg" width="640" /></div>
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Anaí Caproni</div>
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Apesar de ser celebrado, hoje, oficialmente no mundo todo, sendo inclusive data oficial reconhecida pela ONU e por inúmeros países do globo, são raríssimas as informações a respeito da origem da luta das mulheres pelo 8 de março, não existindo nenhuma história organizada sobre os fatos e discussões que levaram ao estabelecimento desta data como o dia internacional de luta na consciência das mulheres.</div>
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O silêncio sobre a história de um dia tão comemorado e instrumento de campanhas supostamente em defesa da mulher pelo mundo todo, chama a atenção dos espíritos mais críticos e daqueles que lutam para resgatar a história do movimento operário, das suas lutas e das suas grandes realizações. O 8 de março é justamente mais uma destas grandes iniciativas da classe operária mundial que, com a Revolução Russa de 1917, firmou-se como um instrumento de defesa internacional das mulheres. Posteriormente o imperialismo adaptou-se à esta conquista operária, procurando apagar suas origens revolucionárias, transformando o 8 de março em mais um instrumento da democrática política do imperialismo de ataque às mulheres, encoberta com os discursos e campanhas demagógicas sobre os “direitos da mulher”.</div>
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<b>O 8 de março</b></div>
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A data do 8 de março está ligada à luta das operárias têxteis de Nova Iorque. Foi uma das primeiras greves destas operárias têxteis novaiorquinas, no ano de 1857 que deu origem à data. Nesta greve as operárias permaneceram paradas durante semanas, sendo brutalmente reprimidas pela polícia e perseguidas pelos patrões em uma grande manifestação exatamente nesta data. transformando-se num símbolo de luta para as trabalhadoras e as socialistas norte-americanas. Esta greve é comumente confundida com o trágico incêndio da fábrica de vestimentas novaiorquina Triangle em 1911 – em decorrência das péssimas condições de trabalho – que matou mais de 100 operárias, acontecimento que ganhou tamanha notoriedade, pela denúncia feita pelos socialistas, quando estas começaram a realizar as primeiras manifestações para marcar o dia de luta das mulheres, que se apresenta, para muitos, como a explicação para a extraordinária repercussão trazida pela paralisação de 1857. Na realidade a greve das operárias têxteis, no século passado, foi a primeira faísca da luta feminina que se transformaria no início deste século num movimento internacional com manifestações de centenas de milhares de mulheres reivindicando o fim da discriminação.</div>
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A importância da greve das operárias em 1857 refere-se ao fato de que o movimento foi pioneiro ao levantar as reivindicações femininas em um momento em que a entrada das mulheres no mercado de trabalho era ainda mais a exceção do que a regra.</div>
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No início do século, em 1907, no dia 8 de março, uma comemoração desta greve vai iniciar, nos EUA, um ciclo de mobilizações de massas de mulheres, expressando o fenômeno mais geral da integração em massa das mulheres no mercado de trabalho e a superexploração da sua mão-de-obra pelo capitalismo. Neste ano as operárias e os socialistas de Nova Iorque vão convocar no dia 8 de março, para lembrar a greve de 1857, uma grande “Marcha da Fome”, para reivindicar a diminuição da jornada de trabalho para 10 horas, melhores salários e condições de trabalho sendo brutalmente reprimidas pela polícia de Nova Iorque. Em 1908, novamente no 8 de março, as mulheres vão sair às ruas para comemorar as mobilizações de 1857 e de 1907. Neste momento, também, o Partido Socialista Norte-americano vai criar o comitê de mulheres pelo voto levantando além das reivindicações econômicas como salários iguais para trabalhos iguais e o fim do trabalho infantil, uma campanha política pelo sufrágio feminino.</div>
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Em 1909, novamente por iniciativa dos socialistas, o trabalho entre as mulheres será ampliado com o importante êxito obtido com a realização do primeiro dia Nacional das Mulheres, realizando manifestações em todo o país no último domingo de fevereiro, repetindo estas comemorações todos os anos até 1913, quando os movimentos adquirem o caráter de protesto contra a guerra que já se apresentava como uma terrível ameaça. Já em 1910 com o crescimento do movimento de mulheres, Lena Lewis, uma das principais representantes do movimento feminista norte-americano vai declarar que não era uma época para celebrar nada, mas um dia para antecipar as lutas que viriam quando “poderemos eventualmente e para sempre erradicar o último vestígio do egotismo masculino e seu desejo de dominar as mulheres”.</div>
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<b>O Dia Internacional da Mulher</b></div>
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A criação do dia internacional de luta da mulher é obra do II Congresso Internacional das Mulheres Socialistas, realizado em 1910 na Dinamarca, por iniciativa das militantes revolucionárias da II Internacional. Nesta conferência foi aprovada a proposta feita por Clara Zetkin, responsável pela organização do trabalho de mulheres da social democracia alemã e editora do jornal de mulheres do partido, Igualdade. Segundo ela era necessário estabelecer um dia como referência mundial de luta para as mulheres na medida em que tanto na Europa como nos EUA os partidos socialistas já vinham realizando manifestações com este caráter, reunindo milhares de mulheres para lutar por reivindicações fundamentais como a redução da jornada, o voto feminino etc.</div>
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A proposta do partido alemão era de que as comemorações realizassem-se no domingo, seguindo analogamente a política defendida por este partido em relação às comemorações do 1º de Maio algumas décadas antes, ou seja, fazer manifestações após o expediente, no caso da mulher, no domingo, para evitar um confronto aberto com a burguesia numa situação onde consideravam que não havia condições para impor uma derrota ao governo, particularmente na Alemanha.</div>
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Participaram da conferência cerca de 100 mulheres representando 17 países, incluindo as três primeiras mulheres socialistas eleitas para o parlamento finlandês. Como plataforma para a organização das manifestações do dia internacional da mulher foi aprovada a luta pelo direito de voto feminino, o sufrágio universal e o seguro-maternidade para todas as mulheres casadas com filhos, em oposição a uma proposta de que o benefício fosse concedido independentemente do estado civil da mãe, proposta defendida pelas russas representadas por Alexandra Kollontai.</div>
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<b>Mobilizações de massa</b></div>
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Em 1911 a 1º comemoração do dia internacional da mulher, organizada pelo Secretariado Feminino da II Internacional, ocorreu no dia 19 de março na Alemanha, Dinamarca, Áustria, Suíça, EUA e vários outros países europeus, sendo realizado nesta data em homenagem à revolução de 1848 na Alemanha, onde foi conseguido o direito de voto feminino, revogado posteriormente pela derrota da revolução. Segundo a revolucionária russa Alexandra Kollontai este primeiro “dia internacional das mulher excedeu todas as expectativas. (… ) “A Alemanha e a Áustria eram um mar ondulante de mulheres. Reuniões eram organizadas em todos os lugares. (…) “Nas pequenas cidades, até mesmo nas aldeias, os salões estavam tão cheios que havia pedidos para os trabalhadores homens cederem seus lugares para as mulheres. Os homens ficaram em casa com as crianças para variar, e suas esposas, as escravizadas donas-de-casa, foram às reuniões. Durante as maiores manifestações de rua, nas quais tomavam parte 30 mil pessoas, a polícia decidiu remover as faixas dos manifestantes: as trabalhadoras se opuseram. Na luta que se seguiu, o derramamento de sangue foi evitado apenas com a ajuda dos deputados socialistas no parlamento”.</div>
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A manifestação reuniu 1 milhão de mulheres em todo o mundo, caracterizando-se como a erupção de uma gigantesco movimento de massas, reivindicando o direito de voto, o de ocupar cargos públicos, direito ao trabalho, treinamento profissional, fim da discriminação nos locais de trabalho etc.</div>
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Uma semana depois da manifestação, no dia 25 de março, o já mencionado incêndio na empresa Triangle, em Nova Iorque, matou 140 operárias têxteis, em função das péssimas condições de trabalho que vigorava em todas as fábricas, causando uma grande comoção entre um movimento de mulheres massivo e radicalizado com a terrível confirmação das denúncias feitas dias anteriores.</div>
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Esta tragédia marcou de forma indelével o dia internacional da mulher como um símbolo da situação de exploração das mulheres e do acerto das denúncias e reivindicações feitas pelas mulheres socialistas dos principais países do mundo.</div>
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<b>Uma conquista da Revolução Russa</b></div>
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O dia Internacional da Mulher vai se estabelecer definitivamente no 8 de março com a vitória da revolução na Rússia. Não por coincidência, foi a manifestação convocada pelas operárias ligadas ao socialismo russo, o estopim da Revolução de Fevereiro de 1917, ao se transformar em um greve geral na enorme concentração operária do bairro Viborg em S. Petersburgo, principal cidade industrial do país.</div>
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Com a vitória da ditadura do proletariado, o governo soviético transformou a data em feriado comunista, procurando impulsionar a luta internacional das mulheres, não apenas por que foram elas as iniciadoras da revolução mas porque são a camada mais explorada da classe operária constituindo potencialmente um vasto movimento revolucionário e, segundo Lênin, sem elas “não haveríamos vencido, ou haveríamos vencido a duras penas”.</div>
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A revolução que começou no dia 8 de março através do protesto das mulheres, diante das filas de racionamento de pão provocadas pela miséria vinda com a I Guerra Mundial. A partir daí o movimento se estendeu para as fábricas e quartéis derrubando a monarquia secular que governava a Rússia, esta revolução viria a ser também a maior conquista que as mulheres de todo o mundo jamais obtiveram em toda a história da humanidade na luta pela sua libertação.</div>
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A vitória da revolução trará uma série de mudanças fundamentais na situação da mulher soviética, lutando contra a estrutura de total submetimento representada pela cultura semi-asiática do país e pelo atraso econômico representado pela maioria camponesa e pelo subdesenvolvimento urbano. As primeiras medidas adotadas pelo governo revolucionário foram o direito integral ao divórcio a partir do pedido de qualquer dos cônjuges, superando no início do século as legislações vigentes em todo o mundo ainda hoje, as quais forçam o convívio entre pessoas apesar do laço afetivo e consentimento mútuo não existir mais. No Brasil, como na maior parte do mundo, o divórcio é uma autorização que depende de decisão judicial, após um período de separação de fato, e não um direito inquestionável da pessoa, na medida em que se refere a uma decisão absolutamente particular dos casais.</div>
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No caso do aborto o governo revolucionário garantiu o direito integral à sua realização, inclusive através da rede pública de saúde, gratuitamente, em todo o país, atendendo uma das reivindicações mais importantes para as mulheres: o fim da gravidez indesejada, uma violência contra a mulher, uma vez que o Estado intervém repressivamente na vida íntima das mulheres obrigando-as a tomarem uma decisão contra a sua vontade, e que no caso da maior parte das mulheres significa o abando do trabalho, do estudo, e o reforço da exploração e embrutecimento proveniente do trabalho doméstico e da dependência do marido. Em 1917, o governo de Lênin e Trostki já derrubava totalmente a distinção entre os filhos nascidos de uma união legal e os filhos “ilegítimos”.</div>
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Outra das grandes conquistas trazidas pela revolução foi a total igualdade jurídica entre os homens e mulheres, com direitos políticos integrais, o incentivo à sua elevação cultural, a proibição da discriminação sexual, numa época em que as mulheres eram consideradas juridicamente incapazes, como no Brasil, onde o código civil até poucas décadas atrás considerava o homem como chefe de família, e, somente na sua ausência, a mulher poderia tomar decisões de forma independente.</div>
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A política do governo bolchevique em defesa da mulher, igualando-a juridicamente ao homem e atendendo reivindicações fundamentais, ganhou adeptas no mundo todo estimulando o movimento de mulheres de uma forma nunca vista antes, uma vez que era a expressão do interesse de milhares de mulheres que entravam em massa no mercado de trabalho, tornando-se politicamente a referência mundial de luta pelos direitos da mulher.</div>
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Posteriormente, com a vitória da burocracia stalinista contra-revolucionária na União Soviética a legislação a favor da mulher vai ser paulatinamente revogada, retirando-se o direito ao aborto, impondo restrições ao divórcio, retirando conquistas da mulher e comprovando a idéia de que a opressão da mulher nada mais é um aspecto da política contra-revolucionária da burguesia mundial, da qual a burocracia stalinista foi nada mais e nada menos que um agente no interior do Estado operário.</div>
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<b>Uma adaptação do imperialismo</b></div>
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Os EUA até o final dos anos 60 se opunham, a que fosse comemorado o dia internacional da mulher, pelo seu caráter revolucionário o que se acentuou no marco da política de luta mortal contra a revolução mundial através da Guerra Fria.</div>
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Será o ascenso revolucionário que percorreu o mundo em 68 vai trazer novamente as comemorações do 8 de março para o terreno das manifestações de massa fazendo surgir no mundo inteiro amplos movimentos de libertação da mulher, bem como teorias feministas de caráter pequeno-burguês que evoluíam no vazio deixado pela crise de direção histórica da classe operária.</div>
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Com o mundo convulsionado pelas mobilizações políticas do final dos anos 60 e na década de 70 o imperialismo vai mudar de política, adotando a democracia como política de controle e estrangulamento das tendências revolucionárias presentes na situação política mundial, política esta simbolizada pela política de “direitos humanos” do presidente norte-americano Jimmy Carter.</div>
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A decretação pela ONU, do ano de 1975, como Ano Internacional da Mulher vai corresponder a esta mudança de política, a qual significa que o imperialismo apoiará demagogicamente – uma vez que nada é feito de fato – algumas reivindicações populares, para romper o isolamento em que as mobilizações colocaram a direita anticomunista, promovendo uma nova roupagem para a mesma política de ataque às mulheres e aos explorados. Esta política será possível, também, devido ao declínio dos movimentos de mulheres da década de 60 e 70, agora dominados pelas personalidades burguesas, pela cooptação governamental e pela política democratizante do imperialismo.</div>
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A década de 1975 a 1985 será considerada pela ONU a década da mulher e será organizada a 1º Conferência Mundial da Mulher no México.</div>
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Em 1977 a Unesco declarará oficialmente o 8 de Março como o dia internacional da mulher e nos anos de 1980, 1985 e 1995 serão organizadas respectivamente as conferências mundiais da Mulher em Copenhague, Nairóbi e Pequim.</div>
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Estas iniciativas serviram para tentar apagar a história dos verdadeiros movimentos de defesa da mulher, os socialistas e a Revolução Russa, ao mesmo tempo em que reciclou a imagem repressiva e reacionária da burguesia imperialista para conseguir submeter a mulher a uma situação de exploração (com a revogação das suas conquistas sociais históricas) de submetimento aos homens, à legislação reacionária, à ideologia da mulher como instrumento.</div>
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Fonte: <a href="http://www.causaoperaria.org.br/textos/?p=2392" target="_blank">Causa Operária</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-59043150717561452016-11-11T15:59:00.000-02:002016-11-11T15:59:13.679-02:00Por que a educação em Cuba é uma história de êxitos e o que ela pode ensinar ao mundo<div style="text-align: center;">
<img alt="Estudantes cubanas, Havana, 2011" height="433" src="https://gz.diarioliberdade.org/media/k2/items/cache/16ce844c591b1be68f88c92db1582649_XL.jpg" width="640" /></div>
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Por Clive Kronenberg* | Tradução do Diário Liberdade</div>
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Cuba leva muito a sério o tema da educação. Se converteu em uma prioridade depois que Fidel Castro liderou o triunfo da Revolução em 1959. A educação ajudou o país a se desfazer do rótulo de território mais desigual do Caribe hispânico durante os períodos coloniais e pós-coloniais de princípios do século XX.</div>
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As bases da nova ordem social – e socialista – de Fidel se fundamentavam na ideia comum de que só uma educação de qualidade poderia acabar com a grave situação de pobreza, ignorância e subdesenvolvimento que o país sofria.</div>
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Cuba investiu muito dinheiro para conseguir que seu sistema educativo fosse de qualidade. Durante as décadas de 1980 e 1990, a relação entre os gastos em educação e o produto interno bruto se encontrava entre as mais altas do mundo.</div>
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Cuba tem muito a ensinar à África e ao mundo no que se refere a priorizar e reformar o sistema educativo. Seu enfoque educativo contribuiu para a mudança social. Podem ser tiradas lições valiosas dessa experiência que poderiam ser úteis para o continente africano e, como demonstrei em meus estudos, particularmente para a África do Sul.</div>
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Após o governo socialista de Fidel Castro chegar ao poder, Cuba revolucionou o ensino por meio de três métodos:</div>
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<b>1. Alfabetização</b></div>
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Em 1961, foi lançada a Campanha de Alfabetização, que sentou as bases da importância da educação para uma sociedade em conflito e em transição. Durante um ano, se concentrou a atenção em um milhão de analfabetos e se mobilizou 250 mil professores e milhares de estudantes.</div>
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No final de 1961, 75% desse milhão de pessoas havia alcançado um nível de alfabetização rudimentar. Foram realizados seguimentos meticulosos da educação da população adulta.</div>
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<b>2. Acesso universal</b></div>
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Enquanto a campanha de alfabetização seguia seu curso, o índice de matriculação dos colégios aumentava consideravelmente (e se multiplicou por dois uma década depois).</div>
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O governo apresentou programas para as meninas que viviam no campo, as trabalhadoras domésticas, as prostitutas e para aquelas que haviam deixado o colégio antes de se formar. Esses programas, junto com a recém-fundada Organización de Guarderías, tinham como objetivo assegurar que a educação fosse acessível a todos. Essas medidas também se concentraram nas pessoas que viviam em zonas rurais isoladas.</div>
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O trabalho duro de Cuba deu seus frutos. Desde meados da década de 1990, o índice de admissão escolar se manteve em 99% tanto para meninos como para meninas, em comparação com 87% do resto da região latino-americana. Nessa época, 94% dos estudantes chegavam ao quinto grau, em contraste com 74% da região. Os índices de matrícula nas escolas secundárias variavam de 78% para os meninos a 82% para as meninas, enquanto no resto da região esses índices eram de 47% e 51%, respectivamente.</div>
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<b>3. Importância dos professores</b></div>
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Cuba sabe o quão são importantes os bons professores. Durante uma extensa investigação, descobri que as instituições de ensino para professores utilizam, quando possível, os métodos e estratégias de ensino melhor documentados e mais avançados. Para ser professor em Cuba é preciso ser inteligente, ter um bom caráter, estar disposto a contribuir ao desenvolvimento social e ter boa relação com as crianças.</div>
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No início do século, Cuba presumia ser o país com mais professores per capita do mundo: um para cada 42 estudantes. Na Conferência Internacional de Pedagogia que teve lugar em Havana em 2015, foi revelado que, esse ano, a proporção de estudantes e professores era de um professor para cada 12 alunos.</div>
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<b>A educação para a transformação social</b></div>
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Os métodos que Cuba utiliza são respeitados e empregados fora de suas fronteiras. Até 2010, seu método de alfabetização havia sido adotado em 28 países da América Latina, Caribe, África, Europa e Oceania. Esse método ajudou a formar milhões de pessoas não escolarizadas.</div>
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Graças às conversas que mantive com os responsáveis pela educação cubana durante minhas viagens de investigação, descobri que Cuba quer que o resto dos países que estejam passando por dificuldades aprendam com sua experiência. Opinam que é lamentável que quase 800 milhões de pessoas – dois terços delas são mulheres – sejam analfabetas. Também é imperdoável que quase 70 milhões de crianças não tenham acesso à educação básica.</div>
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Todos os cubanos defendem que é preciso ajudar a desenvolver as mentes das pessoas para que elas depois possam contribuir com um mundo livre de medos, ignorâncias e doenças. No final das contas, a educação empodera os seres humanos e lhes dá a oportunidade de se converter em perseguidores e guardiões do progresso e da paz.</div>
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O firme compromisso do governo cubano com a educação é inegável. A relativamente modesta situação econômica da ilha faz com que os triunfos educativos sejam ainda mais surpreendentes. Isso estabelece a base objetiva para um estudo mais profundo de seus métodos, especialmente por parte de países com dificuldades.</div>
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No final das contas, as conquistas de Cuba não são fruto de milagres ou coincidências. São o resultado de anos de esforço, de trabalho, de sacrifício e do cumprimento de compromissos cruciais com métodos muito eficazes.</div>
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* Doutor e pesquisador da Universidade Técnica da Península do Cabo, na África do Sul.</div>
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Fonte: <a href="https://gz.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/item/90874-por-que-a-educacao-em-cuba-e-uma-historia-de-exitos-e-o-que-ela-pode-ensinar-ao-mundo.html">Diário Liberdade</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-49077313610494370192016-10-04T12:39:00.000-03:002016-10-04T12:39:21.946-03:00Existe “ideologia de gênero”?<div style="text-align: justify;">
Em entrevista à Pública, a doutora em Educação Jimena Furlani, que desenvolveu extensa pesquisa sobre o assunto, explica os equívocos do conceito.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMZit9BMAWMfXueaSjGRijoWROfOMmHqNu1QKL4nwkv-KUCOGWl7PvzJRiihPJK6DrwmmDFFeF5hyHBf_daQ61ZEcKmpToBSskiWhk_sMuE2i9aeVUvb191N8PEwSQthaFBafmBeVCECNp/s1600/Ideologia-de-Genero.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="332" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMZit9BMAWMfXueaSjGRijoWROfOMmHqNu1QKL4nwkv-KUCOGWl7PvzJRiihPJK6DrwmmDFFeF5hyHBf_daQ61ZEcKmpToBSskiWhk_sMuE2i9aeVUvb191N8PEwSQthaFBafmBeVCECNp/s640/Ideologia-de-Genero.jpg" width="640" /></a></div>
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O debate sobre a inclusão dos temas de gênero e sexualidade nos planos de educação (nacional, estaduais e municipais) foi um dos principais fatores de ascensão do Escola Sem Partido, como admite seu fundador Miguel Nagib: “A tentativa do MEC e de grupos ativistas de introduzir a chamada ‘ideologia de gênero’ nos planos nacional, estaduais e municipais de educação ‒ o que ocorreu, principalmente, no primeiro semestre de 2014 e ao longo de 2015 ‒ acabou despertando a atenção e a preocupação de muitos pais para aquilo que está sendo ensinado nas escolas em matéria de valores morais, sobretudo no campo da sexualidade”, disse o procurador em entrevista a Pública (<a href="http://apublica.org/2016/08/escola-sem-partido-caca-bruxas-nas-salas-de-aula/">a reportagem pode ser lida aqui</a>). Para quem não se lembra, a bancada evangélica, senadores, deputados estaduais e vereadores evangélicos, católicos e conservadores conseguiram, após campanha fervorosa, vetar o termo “gênero” do Plano Nacional de Educação (PNE) e, então, dos planos estaduais e municipais de educação de todo o país. Na época, era possível encontrar militantes pró-vida gritando “não ao gênero” diante de assembleias legislativas e pastores televisivos como Silas Malafaia, o deputado do PSC Marco Feliciano, o deputado do PP Jair Bolsonaro e o senador Magno Malta do PR bradando contra a “ideologia de gênero”, que traria a destruição da família e a doutrinação de crianças. A CNBB, na época, também divulgou nota afirmando que a ideologia de gênero “desconstrói o conceito de família, que tem seu fundamento na união estável entre homem e mulher”. Nas missas e cultos, cartilhas foram distribuídas alertando pais e mães sobre o perigo silencioso que rondava suas casas – seus filhos seriam doutrinados a virar “outra coisa” que contrariasse seu sexo biológico. Mas o curioso é que “ideologia de gênero” não aparece nenhuma vez nos planos de educação ou nos estudos de gênero, e o termo nunca foi usado pelas ciências humanas. O texto vetado colocava como meta “a superação de desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual”. Intrigada com isso, a professora doutora Jimena Furlani, da Universidade do Estado de Santa Catarina, que atua na formação de educadores e profissionais da saúde e segurança pública para as questões de gênero, sexualidade e direitos humanos, desenvolveu uma extensa pesquisa, que publicou em uma série de vídeos (<a href="https://www.youtube.com/watch?v=5ro1O10l0v8">que você pode ver aqui</a>). Em entrevista à Pública, ela conta que se espantou ao de repente “acordar ideóloga de gênero e doutrinadora de crianças” e por isso começou essa investigação. Leia a entrevista:</div>
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<img alt="Resultado de imagem para ideologia de genero" height="564" src="https://assets.papodehomem.com.br/2015/09/08/00/12/28/d04587ce-168d-47d7-9afb-d0a7fe57624b/f0806-155170_292659444176327_1712278500_n.jpg" width="640" /></div>
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<b>O que é “ideologia de gênero”, afinal? De onde ela surgiu?</b></div>
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A ideologia de gênero é um termo que apareceu nas discussões sobre os Planos de Educação, nos últimos dois anos, e tem sido apresentado a nós como algo muito ruim, que visa destruir as famílias. Trata-se de uma narrativa criada no interior de uma parte conservadora da Igreja Católica e no movimento pró-vida e pró-família que, no Brasil, parece estar centralizado num site chamado Observatório Interamericano de Biopolítica. Em 2015 especialmente, algumas pessoas se empenharam em se posicionar contra a “ideologia de gênero”, divulgando vídeos em suas redes sociais: o senador pastor Magno Malta, o deputado Jair Bolsonaro, o deputado pastor Marco Feliciano, o pastor Silas Malafaia, a pastora Damares Alves, a pastora Marisa Lobo. Meus estudos mostraram que o termo é usado em 1998, em uma Conferência Episcopal da Igreja Católica realizada no Peru, cujo tema foi “A ideologia de gênero – seus perigos e alcances”. Parece que seus criadores se baseiam em dois livros para compor essa narrativa chamada “ideologia de gênero”: primeiro, no livro de Dale O’Leary intituladoAgenda de gênero, de 1996. O’Leary é uma militante pró-vida que participou das Conferências da ONU (do Cairo em 1994 e de Pequim em 1995) como delegada. Ela faz um relato dessas conferências, descreve, sob o seu ponto de vista, a ação das feministas em apresentar o conceito gênero e como, a partir dali, a ONU assume a chamada perspectiva de gênero para as políticas públicas sobre os direitos das mulheres. O outro referencial usado na construção dessa narrativa é o livro de Jorge Scala, cuja primeira edição é intitulada Ideologia de gênero: o gênero como ferramenta de poder, de 2010, que no Brasil, curiosamente, é intitulado Ideologia de gênero – o neototalitarismo e a morte da família, de 2015. O autor é um advogado argentino, conhecido defensor de causas antiaborto e contra os direitos das mulheres, membro do movimento pró-vida, que apresenta uma série de interpretações dos estudos de gênero, extremamente problemáticas e convenientemente articuladas para desqualificar tais estudos e apresentá-los como danosos para a sociedade. Portanto, parecem ser esses os principais referenciais usados na criação da narrativa chamada “ideologia de gênero”, que nos últimos dois anos vem sendo divulgados e exaustivamente repetidos em vídeos, textos, cartilhas, documentos da CNBB, palestras etc. Uma retórica que afirma haver uma conspiração mundial entre ONU, União Europeia, governos de esquerda, movimentos feminista e LGBT para “destruir a família”, mas que, em última análise, objetiva, sim, propagar um pânico social e voltar as pessoas contra aos estudos de gênero e contra todas as políticas públicas voltadas para as mulheres e a população LGBT, sobretudo nas questões relacionadas aos chamados novos direitos humanos, por exemplo, no uso do nome social, no direito à identidade de gênero, na livre orientação sexual.</div>
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<b>E qual a diferença entre ideologia de gênero e estudos de gênero?</b></div>
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Primeiro, entender que todos nós seres humanos possuímos um sexo e um gênero. Enquanto o “sexo” é o conjunto dos nossos atributos biológicos, anatômicos, físicos e corporais que nos definem menino/homem ou menina/mulher, o gênero é tudo aquilo que a sociedade e a cultura esperam e projetam, em matéria de comportamento, oportunidades, capacidades etc. para o menino e para a menina. O conceito gênero só surgiu porque se tornou necessário mostrar que muitas das desigualdades às quais as mulheres eram e são submetidas, na vida social, são decorrentes da crença de que nossa biologia nos faz pessoas inferiores, incapazes e merecedoras de menos direitos. O conceito gênero buscou não negar o fato de que possuímos uma biologia, mas afirmar que ela não deve definir nosso destino social. Originalmente, as reflexões acerca da influência da sociedade e da cultura, no conjunto das definições que nos dizem o que é “ser homem” e o que é “ser mulher”, se iniciaram nas ciências sociais e humanas, como sociologia, história, filosofia e antropologia, mas, hoje, os estudos de gênero se constituem num campo multidisciplinar, composto por várias abordagens e presentes em todas as ciências – nas naturais, nas exatas, nas jurídicas, nas da saúde, nas da comunicação, do esporte etc. Hoje os estudos de gênero se aproximam também das discussões com outras identidades, como raça-etnia, classe social, religião, nacionalidade, condição física, orientação sexual etc., sendo, por isso, chamados de estudos de interseccionalidade. O conceito gênero permite, ainda, explicar os sujeitos LGBT, especialmente os sujeito trans, na medida em que discutem, por exemplo, a identidade de gênero e o uso do nome social. Portanto, a perspectiva de gênero está na base dos novos direitos humanos e na justificativa das políticas de amparo às mulheres que repercute nas discussões acerca do conceito de vida e das leis sobre direitos sexuais e reprodutivos, e aborto e à população LGBT. Sem dúvida, se considerarmos que o conceito gênero permite as discussões acerca da posição da mulher na sociedade, da aceitação dos novos arranjos familiares, das novas conjugalidades nos relacionamentos afetivos, ampliação da forma de ver os sujeitos da pós-modernidade e no reconhecimento da chamada diversidade sexual e de gênero, então, não há campo do conhecimento contemporâneo mais impactante e perturbador para as instituições conservadoras e tradicionais que os efeitos reflexivos dos estudos de gênero. Isso nos faz entender porque o empenho tão enfático, persistente e até, em algumas situações, antiético das instituições que criaram e divulgaram essa narrativa denominada “ideologia de gênero”. Na minha opinião, há usos distintos da chamada “ideologia de gênero”. Parece que, no âmbito da cúpula da Igreja Católica, trata-se de uma questão dogmática e relacionada aos valores da ideologia judaico-cristã, que, segundo seus representantes, estariam sendo ameaçados pelo conceito gênero por causa das mudanças no comportamento das mulheres e nas leis sobre aborto, por exemplo, da aceitação das várias famílias e do reconhecimento dos direitos da população LGBT. Outro uso vem de representantes evangélicos: embora existam aqueles católicos que se aproveitam eleitoralmente dessa narrativa, usar a “ideologia de gênero” e sua suposta “ameaça” às crianças e à família tem sido mais presente em candidatos evangélicos – vide a chamada bancada cristã, que não apenas no Congresso Nacional, mas em todos os legislativos do país, deve aumentar, nas próximas eleições, à custa de campanhas cujo foco de “convencimento” deverá ser combater a ideologia de gênero.</div>
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<br /></div>
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<b>E são os evangélicos que mais combatem a ideologia de gênero no Congresso…</b></div>
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<br /></div>
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Muitos pastores, em 2015, lançaram vídeos falando a respeito da ideologia de gênero, “explicando sua ameaça” às crianças e às famílias, com argumentos, visivelmente idênticos, em falas que não diferiam muito e confundiam e alarmavam mais do que explicavam o conceito gênero. Diziam coisas como: “Segundo a ideologia de gênero, você não vai mais poder dizer que é menina ou menino; a escola vai te doutrinar dessa forma. Tudo isso porque querem destruir sua família”. Dando continuidade à explicação, afirmavam: “Eles (os perversos ideólogos de gênero) querem negar nossa biologia”! Esse argumento da negação da biologia não é apenas absurdamente equivocado em relação aos estudos de gênero, mas constitui-se num ato deliberado de má-fé – uma desonestidade intelectual daqueles que criaram e divulgam a ideologia de gênero no Brasil. Os estudos de gênero não negam a biologia por um motivo muito simples: é preciso que ela exista para que possamos dizer que gênero é tudo o que não é biológico, ou seja, gênero difere da biologia, gênero é um conceito da sociedade e da cultura, gênero é, exatamente, o contrário. Não faz nenhum sentido dizer que os estudos de gênero negam a biologia; os estudos de gênero discordam é do determinismo biológico – quando a biologia é utilizada pra definir nosso destino social. Tenho que admitir que a construção dessa estratégia foi muito inteligente! Destaca-se o brilhantismo em construir uma narrativa, suficientemente ameaçadora para sociedade, na medida em que ela se volta para a criança e a família no seu intuito destruidor. Não há nada que mobilize mais as pessoas, principalmente pais e mães, do que alardear que “algo” ameaça suas crianças e que há um complô mundial para destruir sua família.</div>
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<br /></div>
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<b>Se a ideologia de gênero foi um projeto do PT, quer dizer que, com a saída do PT do governo, ela não existe mais?</b></div>
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Palavras como gênero, identidade de gênero, orientação sexual e educação sexual foram excluídas dos planos nacional, estaduais e municipais de educação. O suposto pernicioso governo federal, o partido político e suas políticas de educação foram igualmente banidos do poder e do MEC. Para conter os revolucionários professores, especialmente aqueles que possuem sensibilização com o respeito às diferenças e discutem as formas de preconceito no cotidiano escolar, busca-se aprovar o projeto Escola Sem Partido – aliás, excelente aliado daqueles que criaram e divulgam a existência da ideologia de gênero. Se o governo do PT que criou a ideologia de gênero não está mais no poder, se tudo está sob controle e as políticas de educação do MEC, os livros didáticos e a formação de professores não mais conterão a perspectiva de gênero, então, por que é preciso manter vivo esse monstro? Por que pastores continuam dizendo em seus vídeos, missas, cultos que irão combater a ideologia de gênero? Primeiro, para manter a assustadora narrativa ideologia de gênero. Segundo, para apresentar-se como paladino da justiça, como aquele que vai combater e defender as criancinhas e a família brasileira da ideologia de gênero. Terceiro, para assim pedir o voto e se eleger. Quarto, para, ao ser eleito, impedir ou fazer retroceder conquistas, nas leis, para mulheres, a população LGBT e o reconhecimento das religiões de matrizes africanas; e, quinto, para aprovar leis como o Estatuto da Família, alterar a Constituição Federal, instituir uma teocracia cristã no Brasil. Sim, estou bem pessimista. A ideologia de gênero se tornou um excelente cabo eleitoral, e não há nenhum interesse em mostrar para as famílias, pais e mães, que não há nenhuma ação concreta que busque a destruição da família e que ninguém na escola vai dizer que um menino não é menino ou que uma menina não é menina.</div>
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<br /></div>
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<b>E tudo vem no mesmo pacote, né? O Estatuto da Família, a proibição da discussão de gênero. O Escola Sem Partido também vem junto nesse projeto?</b></div>
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<br /></div>
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Uma análise que podemos fazer é entender que o tempo presente reuniu, conforme a expressão de Michel Foucault, “condições de possibilidades históricas” para que esse movimento conservador tivesse tanta projeção no Brasil. O senhor Miguel Nagib cria o Escola Sem Partido no ano de 2004 e, praticamente por dez anos, não houve uma projeção nacional de seu movimento. Nos últimos anos, o descontentamento com o governo federal, somado à convergência de inúmeras críticas e análise conjunturais, em vários campos, como economia, política e educação, favoreceu o surgimento e a união de forças conservadoras e tradicionais contra as políticas de igualdade, respeito às diferenças, direitos humanos e políticas afirmativas. Penso que a questão é muito mais complexa do que parece. Poderíamos, inclusive, polarizá-la entre a discussão de distintos projetos de governo e de visões de mundo: de um lado, os de direita e, de outro lado, os de esquerda. Precisamos falar sobre isso!</div>
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<b>O que significa, na prática, tirar a discussão de gênero dos documentos oficiais?</b></div>
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Nas discussões e aprovações dos Planos de Educação ficou evidente que combater a “ideologia de gênero” significava retirar de qualquer documento as palavras gênero, orientação sexual, diversidade sexual, nome social e educação sexual. Mesmo que as palavras, nas frases, não implicassem nenhuma ameaça objetiva, evitar que as palavras fossem visibilizadas na lei certamente dificultaria aqueles que pretendessem trabalhar esses temas na educação, e, sem muitos argumentos, as palavras foram excluídas. No entanto, é preciso lembrar que retirar essas palavras da lei não elimina os sujeitos da diversidade sexual e de gênero do interior da escola brasileira e de todas as sociedades humanas. Crianças e jovens, assim como professores, pais e mães, possuem suas identidades de gênero, são sujeitos de afetos e convivem num mundo diverso. Aliás, não é a existência do conceito de gênero que “fez surgir” na humanidade pessoas homossexuais, travestis, lésbicas, transgêneros, transexuais ou bissexuais, por exemplo. Os estudos de gênero existem para estudar esses sujeitos, compreender a expressão de suas identidades, propor conceitos e teorias para sua existência e ajudar a construir um mundo onde todos/as se respeitem. Da mesma forma, não foi a existência do conceito gênero que “transformou” as mulheres em contestadoras. A condição histórica e material, de subordinação e de sofrimento existencial, das mulheres, em todas as culturas, é que as impulsionou e impulsiona a lutar pelas mudanças sociais que lhes garantam uma cidadania mais plena. O conceito de gênero pode ser banido do planeta, que mesmo assim a humanidade continuará se expressando em sua diversidade e buscando direitos humanos para todos.</div>
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<b>E nessa briga vale tudo, né? Inventar cartilhas falsas, falar que é contra “gênero” sem nem saber do que realmente se trata…</b></div>
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As cartilhas foram apócrifas e anônimas. Eu fiz <a href="http://papodecorujas-jimenafurlani.blogspot.com.br/">um documento-análise</a> e no primeiro eu disse que ninguém sabia quem era, não tinha data nem gráfica. No inicio deste ano, eu descobri em um vídeo do professor Felipe Nery que a cartilha foi elaborada no Observatório Interamericano de Biopolítica. Você não tem na historia alguém que cria uma teoria e não assume essa teoria. E, pior, transfere essa teoria para os outros. Quando começou essa história de “ideologia de gênero”, eu acordei, de um dia para o outro, ideóloga de gênero, doutrinadora de crianças. Isso me motivou a iniciar pesquisas para entender de onde veio isso. Eu sempre falo que todo mundo já ouviu falar que os seres vivos se modificam ao longo do tempo num processo que se chama evolução e que transmitem isso aos mais aptos, e eu vou perguntar quem disse isso e as pessoas vão me responder Charles Darwin, e quem concorda com isso é chamado darwinista. Agora, a ideologia de gênero eles não assumiram que inventaram. A gente que tem que descobrir e contar para as pessoas que isso não existe nos estudos de gênero, que é uma interpretação propositalmente construída de forma negativa. As cartas não estão na mesa, eles não assumem que ninguém está doutrinando crianças na escola, que eles querem que não se fale de gênero na escola para que as crianças não acolham os sujeitos da diversidade, para que não aceitem que as pessoas possam ser vistas definitivamente sem preconceito. Que eles não aceitam os direitos humanos ampliados. Tem um vídeo que, ao mostrar um casal de transexuais, vem um comentário de que se trata de uma aberração humana, já que Deus criou o homem e a mulher. A gente conclui dele que eles são contra o conceito gênero porque Deus não criou travesti, transexual, transgênero, e, por isso, essas pessoas não merecem ter direitos.</div>
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<b>E as pessoas são enganadas nessa confusão.</b></div>
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É claro que eles não acham que vão estar garantidos só com a confusão teórica que fazem. Eles condenam uma série de palavras que dizem fazer parte do pacote de ideologia de gênero para doutrinação das crianças e destruição das famílias. Eles condenam as palavras diversidade, homofobia, perspectiva de gênero, identidade de gênero, tudo que a gente tem utilizado para que as pessoas entendam a discussão dos direitos e da diversidade. E aí a pergunta é: “Qual é a proposta de acolhimento de vocês pra esses sujeitos, então? Ou querem fazer como aquele candidato à Presidência da República e mandar todo mundo para uma ilha?”. Eles querem que essas pessoas sumam, mas não assumem isso. O Escola Sem Partido ajuda a manter esse discurso de proibição da discussão e de segregação e, por isso, recebeu atenção.</div>
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Fonte: <a href="http://apublica.org/2016/08/existe-ideologia-de-genero/" target="_blank">A Pública</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-71627564902724371082016-08-05T10:06:00.000-03:002016-08-05T10:06:12.936-03:00O legado das remoções no Rio: violência, dívidas e povo na mão de milícias<div style="text-align: center;">
<img height="428" src="https://comitepopulario.files.wordpress.com/2013/02/dsc_03221.jpg" width="640" /></div>
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Giulia Afiune, Jessica Mota e Natalia Viana</div>
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Da Agência Pública</div>
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Atrás da porta de metal da rua Camerino, no centro do Rio de Janeiro, duas escadas carcomidas levam ao segundo andar, onde, na ausência de janelas, tudo é malcheiroso e escuro. Ali, no meio de outras cinco ou seis famílias, moram as crianças Jackson, Jasmin, Jamile, Carolaine, Iuri, Karolyn, Cauane e Janderson, filhos de<a href="http://apublica.org/100/?p=776&lang=pt"> Jailson Lourenço da Costa</a>, um negro alto, bonito, analfabeto. Eles dividem dois cômodos no cortiço ao preço de R$ 700 mensais; um deles acolhe geladeira, fogão e o colchão dos pais. No outro há uma cômoda, uma TV e uma cama compartilhada por todos os filhos. “Querendo ou não, um rola pro chão e a friagem bate”, preocupa-se o pai.</div>
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Faz sete anos que Jailson foi expulso do casarão azul, sobrado antigo que fica no traçado do VLT (veículo leve sobre trilhos), uma das atrações do Porto Maravilha – por sua vez, um dos grandes legados da Olimpíada de 2016 para o Rio, <a href="http://www.apo.gov.br/wp-content/uploads/2015/05/Plano_Politicas_Publicas_Municipio.pdf">de acordo com a prefeitura</a>. “Eles falaram que ia fazer reforma do cais do porto e ia passar aquele bonde, e não podia ter moradia ali”, lembra. O casarão, abandonado, havia sido ocupado por moradores da região: ambulantes, catadores, trabalhadores com parcos salários como ele. Foi ali que Jailson conheceu sua mulher. Em junho de 2009, foram removidos em apenas dez dias. A promessa era que “eles [a prefeitura] iam dar essa casa no Minha Casa Minha Vida pra cada um morar, sendo que não deu nada, cancelou, depois disso não deu nada pra ninguém”. Há três anos, a família mora no cortiço da rua Camerino. “Eu não posso falar pra senhora que eu sou feliz, que eu não vejo meus filhos muito felizes, não tem espaço, não tem nada. Tenho que ficar chamando a atenção. Se tivesse uma casa grande, eles iam ficar brincando e eu não ia ficar brigando tanto com eles, né?”.</div>
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“Sinto saudade do casarão mesmo, de morar lá, era bom. Era tranquilidade”, lamenta.</div>
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Por trás das saudades de Jailson e de milhares de famílias removidas para dar lugar ao espetáculo dos Jogos Olímpicos de 2016, há diversas violações de direitos humanos que permearam todo o processo, intrinsecamente ligado também à participação do Rio como sede da Copa do Mundo de 2014.</div>
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As famílias entrevistadas pela Pública para o projeto 100 – até o momento foram 62 entrevistas, todas feitas pessoalmente – relataram violências psicológicas e físicas. Treze dentre as 62 famílias ouvidas até a data de publicação disseram ter sido diretamente ameaçadas para deixar suas casas. “Falaram que iam botar a polícia em cima da gente, que iam derrubar a casa com a gente dentro”, relembra Eunice dos Santos, ex-moradora da Estrada da Boiúna, hoje no residencial Colônia Juliano Moreira, do programa Minha Casa Minha Vida, na zona oeste. Márcia da Silva relembra o trauma da filha, com então 3 anos, ao ver a antiga casa sendo demolida. A menina começou a ter pesadelos recorrentes. “O pediatra disse que talvez fosse precisar de tratamento psiquiátrico”, conta Márcia. Outras pressões foram mais veladas, porém contínuas. “As ameaças eram mais psicológicas. Diziam: ‘ah, mas você vê bem, que tá todo mundo saindo em volta, você tem que pensar na família, porque sua família pode sofrer depois as consequências”, relata <a href="http://apublica.org/100/?p=760&lang=pt">José Ronilson da Silva</a>, residente na Vila Autódromo.</div>
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No dia 3 de junho de 2015, a Guarda Municipal agrediu moradores deste vilarejo, onde moravam cerca de 500 famílias à beira da lagoa de Jacarepaguá e onde hoje está fincado o Parque Olímpico, durante uma tentativa de demolição. Imagens dos vizinhos de Ronilson com as cabeças ensanguentadas e marcas de bala de borracha nos braços <a href="https://www.youtube.com/watch?v=LVgg5f4nhFg">circularam pelas redes</a>. A persistência dos moradores em ficar no local resultou em uma pequena, mas simbólica vitória: 30 casas foram construídas para aqueles que ficaram na Vila Autódromo. Além das moradias, duas escolas e áreas de lazer compõem o plano de urbanização da comunidade, anunciado pela prefeitura em março de 2016, quando a maior parte das famílias já havia deixado o local.</div>
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<img height="430" src="https://forumcomunitariodoporto.files.wordpress.com/2013/09/anistia-internacional.jpg" width="640" /></div>
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<b>Não há dados</b></div>
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Durante a gestão do prefeito Eduardo Paes, do PMDB, o Rio de Janeiro viu um ciclo de remoções massivas sem precedentes na história. Sua real dimensão ainda é desconhecida. Apenas em julho de 2015, a prefeitura disponibilizou <a href="https://medium.com/explicando-a-pol%C3%ADtica-de-habita%C3%A7%C3%A3o-da-prefeitura">em um blog</a> dados gerais: entre 2009 e 2015, foram reassentadas 22.059 famílias no Rio. A Prefeitura sustenta que 72,2% do total, ou 15.937 famílias, foram removidas por estarem sob risco de desabamentos, alagamentos, ou por estarem morando em condições insalubres. A gestão municipal reconhece apenas como demolições ligadas aos megaeventos aquelas realizadas na Vila Autódromo. “Nenhum outro processo de reassentamento em curso hoje na cidade tem vínculo com as instalações esportivas criadas para os Jogos”, diz o texto da prefeitura.</div>
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<br /></div>
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Não é o que se verifica nas entrevistas com as vítimas. A grande maioria dos removidos foi avisada do despejo por empregados da prefeitura, que disseram claramente se tratar de obras relativas aos Jogos Olímpicos. Em alguns casos, como no galpão abandonado que ficava na rua Ipadu, 700, em Curicica – removido para dar lugar ao BRT Transolímpica, o dossiê, documento inicial do processo de remoção, trazia o logo dos Jogos Olímpicos. Josué Lima, ex-morador da favela Metrô Mangueira, resume: “Não gosto de lembrar, não. A gente construiu a nossa vida lá. E ver ser destruída por causa de Olimpíada não é legal. Se fosse por causa de uma guerra, por causa de uma bomba, a gente aceitaria, mas por causa de Olímpiada…?”.</div>
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<br /></div>
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A prefeitura jamais publicou os dados oficiais detalhados sobre as remoções olímpicas. Não se sabe, por exemplo, quantas pessoas foram removidas das comunidades que estavam na rota de algumas obras-chave para os Jogos. De acordo com dados do relatório “Olimpíada Rio 2016, os jogos da exclusão”, publicado em novembro de 2015 pelo Comitê Popular da Copa e Olimpíada do Rio de Janeiro, se contarmos apenas três grandes investimentos<a href="http://www.apo.gov.br/wp-content/uploads/2015/05/Plano_Politicas_Publicas_Municipio.pdf"> listados como Legado dos Jogos Olímpicos</a>, mais as obras para a reforma do estádio do Maracanã, que vai abrigar a abertura e encerramento do evento, foram 2.548 famílias expulsas. Esse levantamento contempla as comunidades da região do Recreio, por onde passou o BRT (bus rapid tranport) Transoeste, o bairro de Curicica, cortado pelo BRT Transolímpica, o morro da Providência, na área do Portro Maravilha, onde houve remoções por causa da instalação de um teleférico, além de outras ocupações naquele mesmo perímetro, como a do casarão azul de Jailson.</div>
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Segundo a prefeitura, no mesmo blog, apenas 2.125 famílias foram reassentadas por causa de obras de mobilidade e infraestrutura.</div>
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A Pública fez dois pedidos pela Lei de Acesso à Informação, mas não obteve resposta.</div>
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<img height="275" src="http://rioonwatch.org.br/wp-content/uploads/2015/08/collage-e1438789184511.png" width="640" /></div>
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<b>Desinformação é arma</b></div>
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A falta de informação sobre os despejos foi uma constante no processo das expulsões olímpicas e levou a organização Artigo 19, que defende o direito à informação, a apontar para “um quadro crítico de falta de transparência e de restrição a informações públicas sobre importantes obras de infraestrutura que estão modificando o espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro e a vida de seus moradores, sob a justificativa da preparação para um megaevento esportivo”. Em um relatório sobre o BRT Transolímpica – primeira grande obra relativa aos Jogos 2016, que começou a ser construída em 2012– , a ONG afirma que houve uma “generalizada falta de informações” para os moradores das comunidades da região. Não havia um site específico para pedidos de acesso à informação, e todos tinham de ser feitos pessoalmente, em papel, na prefeitura. De 39 pedidos feitos a quatro secretarias municipais e ao gabinete do prefeito, apenas um foi integralmente respondido. O relatório conclui que, após meses fazendo pedidos de informação, era impossível saber qual seria o traçado final do BRT, embora centenas de famílias já tivessem sido expulsas.</div>
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“Na verdade, a gente ficamos sabendo através de boatos na internet que ia haver uma desapropriação, que ia passar uma linha e a gente ia sair”, lembra <a href="http://apublica.org/100/?p=684&lang=pt">Ozineide Pereira da Silva</a>, que morou 20 dos seus 30 anos em um enorme galpão ocupado na Ipadu, número 700, em Curicica. “Até que um dia a prefeitura teve lá fazendo cadastro, tirando foto da nossa casa, e falou que a gente ia sair e que ia indenizar a gente.” Entre o primeiro susto e a desapropriação efetiva, passaram-se mais de dois anos, sem nenhuma informação precisa: “Eu fiquei sabendo que ali ia sair mesmo em 2013. Em 2014, pelo mês de julho, que elas começaram ir na nossa casa. Aí, em agosto, comecou todo o processo de documento, e a gente recebeu em 2015”, diz.</div>
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<br /></div>
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Para a pesquisadora Mariana Cavalcanti, que acompanhou de perto o processo das remoções em Curicica, “a falta de informação foi uma estratégia deliberada da prefeitura”, diz. Ela conta que os moradores da Vila União de Curicica, próxima à comunidade de Ozineide, ficaram sabendo da ameaça do BRT quando um vídeo propagandístico da prefeitura foi postado na internet, mostrando o traçado original planejado, em meio a promessas de valorização e benefícios para a população. “As pessoas viram que o BRT ia simplesmente passar pelo meio da comunidade.” “É como se você fizesse uma brincadeira, cortasse a cidade como se fosse Deus”, completa o sociólogo Paulo Magalhães, que na época era consultor da vice-presidência da Caixa Econômica Federal e acompanhou de perto as negociações.</div>
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<br /></div>
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A falta de informações confiáveis acompanha ainda hoje os moradores removidos da Vila União e do Ipadu, mesmo depois de terem ido morar no condomínio Colônia Juliano Moreira através do programa Minha Casa, Minha Vida. Durante a entrevista à Pública, Ozineide mostra o único papel que recebeu – um “dossiê”, sem nenhum valor legal. Até hoje, nem ela nem seus vizinhos receberam o contrato que atesta serem os ocupantes legais do imóvel. “Eu tenho medo. Porque aqui a gente não paga, porque foi uma troca de chave. Mas e depois o governo muda, depois vai saber. A gente assinou, mas eles não deram nenhum contrato pra gente. Não tenho nada que diga que isso aqui é meu.”</div>
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<br /></div>
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A situação é mais grave porque, como constatou a reportagem da Pública (<a href="http://apublica.org/2016/06/apos-remocoes-para-transolimpica-prefeitura-do-rio-descumpre-acordo-e-deixa-moradores-endividados/">leia aqui</a>), muitos moradores do Colônia começaram a receber cobranças do Banco do Brasil no valor de R$ 75 mil – como se efetivamente tivessem devendo um dinheiro que jamais terão. O valor deveria estar sendo pago pela prefeitura, à qual o Banco do Brasil atribui o problema. Resultado: muitos moradores estão com o nome sujo no SPC, o Sistema de Proteção ao Crédito .</div>
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<br /></div>
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Muitos têm medo de falar, não querem aparecer em fotos ou vídeos. Ou porque já foram ameaçados ou porque podem vir a ser. A própria reportagem da Pública, durante a apuração deste especial, recebeu um “recado”. Uma moradora de um dos condomínios disse que ligou para ela a sobrinha de Marli Ferreira Lima Peçanha, que era assessora do gabinete do prefeito em 2015 e hoje é coordenadora de Articulação Social da Secretaria de Habitação. É ela quem lida pessoalmente com diversos casos de remoções. Seu nome é citado recorrentemente por moradores, que contam terem recebido dos funcionários públicos promessas que não se cumpriram . “Você não está autorizada a fazer entrevista aqui”, nos falou a mandante do recado.</div>
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<img height="228" src="http://www.brasil247.com/images/cache/1000x357/crop/images%7Ccms-image-000439050.jpg" width="640" /></div>
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<b>Ameaça constante</b></div>
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A ameaça reiterada de remoção, ao longo de décadas, foi mencionada por entrevistados de todas as comunidades. Não à toa, todas elas estavam não só no caminho dos BRTs e obras para os Jogos, mas em áreas de grande valorização imobiliária. O pesquisador Lucas Faulhaber relata no seu livro SMH 2016 – Remoções no Rio de Janeiro, uma coautoria com a jornalista Lena Azevedo, que em 2014 o Rio possuía o metro quadrado mais caro do país, uma média de R$ 10.250, após um aumento dos preços residenciais em 700% em 2010, segundo levantamento da Secov-Rio.</div>
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<br /></div>
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“Em 2006, o César Maia, com o pretexto de que não poderia ter comércio nas comunidades, veio e derrubou a casa das pessoas. Quando foi final de 2008 pra 2009, a Subprefeitura da Barra começou de novo a vir aqui falar besteirinha. Primeiro mandou um monte de… diz que era assistente social, pegaram todos os dados da comunidade e entregaram tudo pra subprefeitura. Então, quando a subprefeitura chegou em cima da gente [em 2012], sabia da nossa vida mais do que a gente”, diz o capixaba <a href="http://apublica.org/100/?p=88&lang=pt">Jorge Santos</a>, ex-morador da Vila Recreio II.</div>
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<br /></div>
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O fundador da Vila Autódromo, o pescador <a href="http://apublica.org/100/?p=749&lang=pt">Steliano Francisco dos Santos</a>, relatou ter recebido as primeiras ameaças de despejo apenas seis meses depois de ter montado o primeiro barraco da comunidade.“Aí parava, passava seis meses, vai, sai hoje, sai amanhã… e nunca sai. E eu ficando. Nisso foram 36 anos”, lembrou, em entrevista feita no começo de 2014. Ele faleceu pouco depois de ter sua casa demolida.</div>
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<br /></div>
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Diante das renitentes ameaças, quando a hora “do bicho pegar” – nas palavras de seu Steliano –, muitas famílias aceitaram a única proposta feita pela prefeitura. Jorge Lima, não. Ele ajudou a organizar a mobilização das famílias da favela Metrô Mangueira, que conseguiu uma das maiores conquistas: dois condomínios populares a apenas algumas ruas de distância. E se lembra da “frase sempre usada” pelos funcionários da prefeitura, nas primeiras visitas. “Aquela frase que eles repetiam: “ou Cosmo ou rua”. “Cosmo” significava serem transferidos para um dos condomínios do Minha Casa Minha Vida no bairro de Cosmos, na zona oeste, a 60 quilômetros de distância.</div>
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<br /></div>
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Hoje, os que se dizem mais contentes são justamente aqueles que saíram de uma situação de moradia degradante para os apartamentos do Minha Casa Minha Vida em regiões próximas de onde moravam, como no morro da Providência e no metrô Mangueira. “A gente bateu o pé que não ia sair dali e aí teve o assunto de que iam liberar esse aqui pra gente, aí falei: ‘Maravilhoso’”, diz o ex-morador do Mangueira, <a href="http://apublica.org/100/?p=287&lang=pt">José Miranda</a>. “Em matéria de moradia, está muito melhor; em matéria de conforto, está muito melhor.”</div>
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<br /></div>
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Não foi o caso da maioria dos entrevistados. Nossa reportagem ouviu, por exemplo, famílias removidas do bairro do Recreio transferidas para Campo Grande, a 28 quilômetros de distância, e famílias removidas do centro da cidade para o bairro de Senador Camará, a cerca de 40 quilômetros de distância. Os ex-moradores da ocupação Machado de Assis, no local do Porto Maravilha, quando moravam no centro, estavam do lado de seus trabalhos. Agora, têm de acordar às 4 da manhã para ir para o mesmo lugar, se é que não perderam o emprego. “O ambiente, pra mim, é normal. Tô superbem. Mas que eu preferia estar lá no centro, eu preferia. Lá, em qualquer lugarzinho, eu colocava um isopor com cerveja, com biscoito, qualquer esquinazinha ali eu já tinha um trabalho. Pra ajudar na renda dentro de casa”, diz Simone da Conceição, que hoje mora no Minha Casa Minha Vida em Senador Camará. “Só me arrependo em matéria de trabalho. Lá eu já tinha uma ocupação certa pra mim, sendo mulher com 40 anos de idade.”</div>
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<br /></div>
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Sônia Braga, ex-moradora da comunidade Vila Harmonia, no Recreio, e hoje também em Senador Camará, disse que as condições não eram adequadas quando as famílias foram reassentadas – e tiveram um alto custo pessoal. “Aqui não tinha ônibus, não tinha van, não tinha nada. Eu não ia botar meu filho pra sair de madrugada num lugar deserto. A prefeitura falou que ia colocar ônibus e não colocou. Meu filho ficou quase dois anos sem estudar.”</div>
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A segurança do bairro onde todos se conheciam há 10, 20, 30 anos desapareceu. O pé no chão de terra do quintal também. As árvores que faziam sombra, os bichos, os quintais, como o de Jane Nascimento, que davam espaço para seu trabalho. “O espaço fora da sala, quarto, cozinha não é mais meu. Eu não posso receber um caminhão pra me entregar um material para fazer uma placa”, explica a artesã e ex-moradora da Vila Autódromo. “’Dessocializou’ minha vida toda, acabou com tudo.”</div>
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<img height="426" src="http://guiadoestudante.abril.com.br/blogs/atualidades-vestibular/files/2016/07/especula%C3%A7%C3%A3o-imobili%C3%A1ria.jpg" width="640" /></div>
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<b>A Vila Autódromo</b></div>
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Durante a pesquisa que originou seu livro, o arquiteto e urbanista Lucas Faulhauber conseguiu identificar diversas estratégias adotadas pela prefeitura e outros órgãos para a remoção de uma comunidade. Entre elas, a visita de agentes públicos disfarçados, sob pretextos inventados, para medir e fotografar as casas e entrevistar as pessoas; a repressão da guarda municipal contra moradores; as demolições de casas já negociadas, deixando a comunidade em frangalhos e cheia de entulhos, lixo, baratas e ratos; e as negociações individualizadas, que minaram a força da organização coletiva para garantir um melhor “negócio” para a prefeitura. Dessa maneira, os que já haviam aceitado os termos da administração passavam a pressionar também vizinhos e familiares.</div>
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Apenas uma comunidade passou por absolutamente todas essas etapas, a mais emblemática das remoções olímpicas: a Vila Autódromo. Os entrevistados pela Pública relataram situações de intrigas plantadas pelos funcionários da prefeitura, como <a href="http://apublica.org/100/?p=757&lang=pt">Heloísa</a><a href="http://apublica.org/100/?p=757&lang=pt">Helena Costa Berto</a>, que diz ter sido acusada de ter embolsado a indenização de outra pessoa. Ela mostrou à Pública uma mensagem de WhatsApp de um membro da administração municipal que fazia uma ameaça velada. De maneira semelhante, um parente de uma liderança da Vila Autódromo contou à reportagem que estava disposto a processá-la porque teria “perdido” uma indenização milionária: ela, que o abrigava, negou-se a sair da casa e abriu mão de qualquer indenização para permanecer na Vila.</div>
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É inegável que os moradores da Vila Autódromo receberam compensações muito maiores do que os de outras comunidades. Em especial, aqueles que resistiram por mais tempo. Colaboraram para isso a união dos moradores, que, sobre escombros continuavam fazendo festejos juninos na terra enlameada, o apoio de estudantes, midialivristas e pesquisadores à sua causa, e o fato de ser a única comunidade que afetava diretamente os planos da gestão de Eduardo Paes e das construtoras para os Jogos Olímpicos e os condomínios de luxo à beira da Lagoa, que virão depois. Mesmo essas compensações, mais adequadas ao valor do terreno valorizado pelos empreendimentos, foram absolutamente desiguais e marcadas por violência psicológica. Houve pessoas que receberam indenizações de R$ 700 mil; outras, propostas de até R$ 2,5 milhões. Outras, ainda, receberam sete apartamentos no Minha Casa Minha Vida. Os nomes não serão publicados a pedido delas.</div>
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Diante desse quadro de coerção, negociações individualizadas e falta de transparência, é notável a postura da <a href="http://www.jusbrasil.com.br/diarios/88096375/dom-rj-normal-18-03-2015-pg-58">assessora do prefeito</a> Marli Ferreira Lima Peçanha, filmada pela reportagem da Pública em 25 de fevereiro deste ano (<a href="http://apublica.org/2016/02/uma-demolicao-dentro-do-parque-olimpico/">assista aqui</a>). Diante da demolição da casa de dona Heloísa, onde funcionava também seu terreiro de candomblé, Marli bradava para quem quisesse ouvir: “Eu sinto o cheiro desse povo de longe. Não dou papo. Aqui é tudo farinha do mesmo saco. Eles não moram aqui e vivem disso”. Não é o tratamento profissional que se espera de um agente público.</div>
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Questionada via Lei de Acesso à Informação sobre a origem dos recursos usados para indenizações na Vila Autódromo, a prefeitura não respondeu até a publicação desta reportagem.</div>
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<img height="312" src="http://imguol.com/c/noticias/13/2015/11/13/8nov2015---casas-que-foram-destruidas-na-favela-da-vila-do-autodromo-para-dar-lugar-a-construcoes-que-fazem-parte-do-parque-olimpico-no-rio-de-janeiro-1447432143711_615x300.jpg" width="640" /></div>
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<b>O maior legado das remoções olímpicas: uma multidão nas mãos das milícias</b></div>
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O jornalista desavisado que tentar entrar em alguns dos condomínios do Minha Casa Minha Vida da zona oeste vai rapidamente se deparar com três coisas. A primeira é que todos são cercados, com portões que controlam a saída e a entrada dos moradores. Não há porteiros. A segunda é que há sempre alguns jovens fortes encostados nos prédios ou em carros, observando o movimento. E a terceira é que os moradores têm muito medo de dar entrevistas.</div>
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A reportagem da Pública conheceu a realidade do medo impingido pela milícia quando esteve por duas vezes no Condomínio Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Na primeira vez, um rapaz alto, de blusa regata, nos chamou para explicarmos o que fazíamos ali. Não se apresentou, mas assentiu. Os moradores falaram da milícia de maneira velada, reclamando que “não há mais tanta liberdade”, “as crianças não podem ficar na rua depois das 22 horas” ou “tem gente demais querendo mandar aqui”. Numa segunda visita, a vigilância foi mais ostensiva: enquanto nossa repórter conversava com um morador no primeiro andar, dois jovens vigiavam do andar térreo, deixando o homem e sua esposa profundamente consternados. “Não é o miliciano, é o filho do miliciano”, ele disse. Assustados, não quiseram dar entrevista nem contar sua história.</div>
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O medo do poder da milícia ecoa outro medo, sempre constante nas favelas cariocas, o medo do tráfico. Nas palavras da pesquisadora Mariana Cavalcanti, “comunidade pobre no Rio sempre tem dono”, e o controle de prédios inteiros do Minha Casa Minha Vida por milícias formadas por ex-policiais e bombeiros é o revés dessa realidade. Segundo os relatos ouvidos, os milicianos impõem a ordem, cobram taxas de gás, luz, TV a cabo, dão toques de recolher, espancam e expulsam moradores que se insurgem contra eles. Assim garantem, na própria visão, a “ordem” e a “segurança”, deixando o tráfico longe dali.</div>
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Na origem das atuais milícias que controlam a zona oeste da cidade está a polícia mineira, que se enraizou na zona oeste a pretexto de combater a criminalidade nos anos 2000. Em setembro de 2008, quando era candidato a governador do estado, o prefeito Eduardo Paes explicou ao jornal RJTV, da Rede Globo, a eficácia desse tipo de milícia: “Você tem áreas em que o Estado perdeu a soberania por completo. A gente precisa recuperar essa soberania. Eu vou dar um exemplo, pois as pessoas sempre perguntam como recuperar essa soberania. Jacarepaguá é um bairro que a tal da polícia mineira, formada por policiais e bombeiros, trouxe tranquilidade para a população. O morro São José Operário era um dos mais violentos desse estado e agora é um dos mais tranquilos. O morro do Sapê, ali em Curicica. Ou seja, com ação, com inteligência, você tem como fazer com que o Estado retome a soberania nessas áreas”, disse. Após o episódio, Paes negou diversas vezes defender a ação das milícias.</div>
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O peemedebista iniciou sua carreira política naquela mesma região em 1993, como subprefeito da Barra e de Jacarepaguá aos 23 anos. É ainda ali onde mantém seu maior apoio eleitoral – quando foi reeleito em 2002, 822 mil entre os cerca de 2 milhões de votos obtidos vieram da zona oeste. Uma das áreas em que ele teve maior percentual de votação foi Santa Cruz, onde atualmente foram implantados diversos condomínios do Minha Casa Minha. Obteve quase 77% dos votos válidos.</div>
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Não é à toa que a presença de milícias é bem mais marcante na zona oeste do Rio. Se a maioria dos novos empreendimentos do Minha Casa Minha Vida está nessa região, também não é surpresa que a grande maioria desses prédios esteja submetida a elas. Segundo dados da Prefeitura, de um total de 16.309 mil pessoas removidas através do programa, metade foi para a zona oeste e a outra metade foi dividida em condomínios no centro, zona norte e Jacarepaguá.</div>
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O gabinete do prefeito informou ainda o número de famílias assentadas em alguns empreendimentos vistados para o projeto 100. Três dos mais populosos conjuntos de condomínios – os de Campo Grande, Senador Camará e Cosmos, que receberam juntos 5,121 famílias reassentadas – estão no extremo da zona oeste da cidade. Esses condomínios foram habitados por pessoas que já passaram por todos os processos descritos nessa reportagem. Há relatos em ambos de presença de milícia.</div>
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Neste mapa produzido pela Pública, com a origem e o destino das remoções de comunidades ligadas à Olimpíada, percebe-se o massivo deslocamento que ocorreu para a zona oeste. A Pública utilizou como base as localizações dos condomínios do Minha Casa, Minha Vida construídos até o primeiro semestre de 2015, apuradas pelos jornalistas Luã Marinatto e Rafael Soares, do Jornal Extra, e informações reunidas no dossiê do Comitê Popular.</div>
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Num notável esforço de reportagem durante o primeiro semestre de 2015, os jornalistas do Jornal Extra <a href="http://extra.globo.com/casos-de-policia/todos-os-condominios-do-minha-casa-minha-vida-no-rio-sao-alvos-do-crime-organizado-15663214.html">constataram</a> que, até então, todos os 64 condomínios do Minha Casa Minha Vida que já haviam sido inaugurados no Rio destinados aos beneficiários mais pobres eram alvos de grupos criminosos. Mais da metade – 38 conjuntos habitacionais na zona oeste – era, na data da apuração, controlada por milícias. Entre eles os condomínios Livorno, Trento e Varese, em Cosmos, e Treviso, Terni e Ferrara, em Campo Grande, que receberam removidos da Olimpíada. Em Cosmos, <a href="http://extra.globo.com/casos-de-policia/na-zona-oeste-milicia-domina-38-conjuntos-do-minha-casa-minha-vida-ate-pinta-seu-simbolo-nos-condominios-15701296.html">os repórteres flagraram</a> edifícios que tinham o símbolo de um famoso miliciano, o ex-PM Ricardo Teixeira da Cruz, o Batman – um morcego negro, sobre a frase: “bem-vindos”.</div>
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A ausência de garantias básicas aos moradores removidos – como informações sobre as contas, o condomínio, prazo para o imóvel passar ao seu nome e contrato de entrega de chave – ajuda a deixá-los vulneráveis às exigências da milícia. “A subprefeitura local tem um poder enorme”, explica o sociólogo Paulo Magalhães, que observou a dinâmica da região após ser contratado pela Invepar para fazer um plano de investimento social privado em virtude da construção da Transolímpica. “E faz a política articulada com dois mercados grandes – o mercado de segurança e o mercado imobiliário formal”. Ambos os interesses, diz Paulo, são concatenados. “O marketing da milícia é vender um terreno onde você não tem problemas de segurança”.</div>
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É a nova face de um expediente tão antigo que permeou todas as fases da história do Rio de Janeiro. As remoções forçadas já aconteciam em 1808, quando o rei de Portugal dom João VI se mudou para Brasil e usurpou casas dos moradores do centro da cidade para instalar sua luxuosa corte. As casas eram marcadas com a sigla “PR”, de “Príncipe Regente”, uma violência simbólica, mas real, reeditada durante as remoções olímpicas: até 2013, todas as casas a serem demolidas eram marcadas com a sigla SMH – Secretaria Municipal de Habitação.</div>
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“A história do Rio de Janeiro é calcada em cima de construção e expulsão daqueles que construíram”, reflete Sandra Maria, uma das moradoras da Vila Autódromo que contou sua história para este especial. “Os ex-escravos construíram o centro do Rio de Janeiro e depois foram expulsos dele. Aí constrói o morro de Santo Antônio e depois é expulso dele. A zona sul foi construída pelo trabalhador expulso do centro. O pobre, no Rio de Janeiro, não tem direito a morar próximo das áreas privilegiadas. Não pode morar perto da praia, não pode morar perto da cachoeira, não pode morar perto da floresta. Chega uma hora que você questiona: qual é o valor da história de um povo?” Foi essa percepção, conta ela, que a fez decidir juntar-se à briga dos demais moradores, e permanecer até ter sua casinha na pequena vila que hoje ladeia o Parque Olímpico.</div>
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“Alguém precisa mudar a história desta cidade”, diz.</div>
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Fonte: <a href="http://apublica.org/100/">A Pública</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-47701558637887634892016-07-05T18:01:00.000-03:002016-07-05T18:01:20.315-03:00Boulos: onde está o “rombo” da Previdência<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAR2rHZTNUsYMzcTKrWuiih9Z5Udxg1pvYv7CHcKVoT079IuU6wARLEB-ts9skuM9EqyYbJfxr_4qpgsjyLamIylkorZV-fKIzR8LzTVhc6XjHnWZKnlfVjbHJ4X2VkgNKpj9Zfs0vGEQ9/s1600/515_126518153.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAR2rHZTNUsYMzcTKrWuiih9Z5Udxg1pvYv7CHcKVoT079IuU6wARLEB-ts9skuM9EqyYbJfxr_4qpgsjyLamIylkorZV-fKIzR8LzTVhc6XjHnWZKnlfVjbHJ4X2VkgNKpj9Zfs0vGEQ9/s640/515_126518153.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption">PARECE, MAS NÃO É: Grafite de Edgar Mueller no solo. Artista de rua alemão é conhecido por criar ilusionismo em três dimensões</td></tr>
</tbody></table>
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Vasto estudo da economista Denise Gentil demonstra: Seguridade é superávitária. Ilusão de “déficit” deve-se ao desvio sistemático de receitas para pagamento de juros</div>
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Por Guilherme Boulos | Imagem Edgar Mueller</div>
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O governo interino de Michel Temer anunciou para as próximas semanas o envio de um projeto de Reforma da Previdência ao Congresso Nacional. A proposta capitaneada por Henrique Meirelles deve incluir idade mínima para aposentadoria e aplicação das novas regras já aos trabalhadores na ativa.</div>
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<br /></div>
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A missão, diga-se, foi preparada pela presidenta Dilma, que defendeu a reforma na abertura do ano legislativo como parte das fracassadas tentativas de angariar apoio no mercado. Agora, o interino e seu ministro-banqueiro querem impô-la goela abaixo dos trabalhadores.</div>
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<br /></div>
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Paralelamente intensifica-se a mistificação da opinião pública, forjando um consenso de que o ataque às aposentadorias é uma preocupação com o futuro e que, sem ele, o país caminharia à bancarrota.</div>
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<br /></div>
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O primeiro mito é de que os brasileiros se aposentam mais cedo que a maior parte dos trabalhadores do mundo. E que, com o aumento da expectativa de vida por aqui, nos tornamos um caso único e insustentável.</div>
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<br /></div>
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Vamos aos números. Nas regras atuais, para obtenção de aposentadoria integral, os homens precisam da combinação de 60 anos de idade com 35 de contribuição, e as mulheres, 55 de idade com 30 de contribuição. É o chamado fator 85/95, aprovado em 2015. A expectativa de vida média no país é hoje de 75 anos.</div>
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<br /></div>
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O economista da Unicamp Eduardo Fagnani fez o comparativo: “No caso da aposentadoria por tempo de contribuição, o patamar 35/30 anos é superior ao estabelecido na Suécia (30 anos) e se aproxima do nível vigente nos EUA (35 anos), Portugal (36), Alemanha (35 a 40) e França (37,5), por exemplo. Como se sabe, esses países têm renda per capita bastante superior à brasileira e a expectativa de vida ao nascer é superior a 80 anos”.</div>
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<br /></div>
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O Brasil, diz ele, tornou-se um ponto fora da curva pela razão inversa. A aprovação do fator previdenciário em 1998 estabeleceu padrões de aposentadoria mais duros que a média internacional, em prejuízo dos trabalhadores.</div>
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<br /></div>
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O segundo mito, repetido à exaustão, é o do rombo da Previdência Social. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciou recentemente que a Previdência terá um déficit de R$136 bilhões neste ano, seguindo a trajetória dos anos anteriores. As receitas da Previdência, portanto, seriam sistematicamente menores que o gasto com aposentadorias. Daí a necessidade da reforma.</div>
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<br /></div>
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Num extenso trabalho, a economista da UFRJ Denise Gentil mostrou que <a href="http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/previdencia-novas-provas-de-que-deficit-e-distorcido/">esse cálculo é falacioso</a>. Acima de tudo, desrespeita a normatização do sistema de Seguridade Social pela Constituição.</div>
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<br /></div>
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A contabilização do déficit considera como receita da Previdência apenas os ingressos do INSS que incidem sobre a folha de pagamento. Desconsidera outras fontes estabelecidas expressamente pelo artigo 195 da Constituição, tais como a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e as receitas de concursos de prognóstico (resultado de sorteios, como loterias e apostas).</div>
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<br /></div>
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Essas fontes estão atreladas constitucionalmente ao sistema de Seguridade Social. O dito rombo da Previdência é resultado do direcionamento indevido delas a outras finalidades, notadamente o pagamento da dívida pública.</div>
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A professora Denise <a href="http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/previdencia-novas-provas-de-que-deficit-e-distorcido/">estudou</a> um período de 15 anos, esmiuçando como a manobra que mistura o orçamento da Seguridade Social com o orçamento fiscal produz a ideia do rombo.</div>
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E não se trata apenas de uma sutileza contábil. O que está em jogo é a disputa do fundo público entre o necessário pagamento das aposentadorias ao trabalhador brasileiro e o financiamento de agiotas internacionais, com os juros escorchantes da dívida.</div>
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Meirelles e sua turma têm um lado bem definido nesta disputa. Com os argumentos falaciosos do “rombo” e das “distorções”, querem na verdade retirar direitos adquiridos, penalizando os setores mais vulneráveis. Aliás, não os vemos questionar o pagamento de pensões vitalícias a familiares de militares nem o acúmulo de benefícios pelos ministros do Superior Tribunal Militar.</div>
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Colocando os mitos de lado, a marca desta reforma da Previdência é atacar os direitos dos trabalhadores, mantendo intocados os privilégios.</div>
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Fonte: <a href="http://outraspalavras.net/brasil/boulos-onde-esta-o-rombo-da-previdencia/">Outras Palavras</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-18696283831234953072016-06-24T12:40:00.000-03:002016-06-24T12:40:41.083-03:00Uma revolução acontece no México — mas a mídia “não sabe”<div style="text-align: justify;">
O que começou como uma greve dos professores contra a privatização da Educação no país, se espalhou em manifestações, bloqueios e comunas. O EZLN, histórico grupo revolucionário, notificou o governo que não irá tolerar a violência institucional praticada contra a população.</div>
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Em um comunicado divulgado na sexta-feira, 17 de junho, os zapatistas colocaram as seguintes questões relacionadas com a greve em curso dos professores nacionais no México:</div>
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“Eles apanharam, jogaram gás neles, os prenderam, os ameaçaram, sofreram disparos, calúnia, com o governo declarando estado de emergência na Cidade do México. Qual é o próximo passo? Irão desaparecer com os professores? Será que vão matá-los? A reforma educacional vai nascer por cima do sangue e cadáveres dos professores?”</div>
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<br /></div>
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No domingo, 19 de junho, o Estado respondeu a estas perguntas com um enfático “Sim”. A resposta veio na forma de fogo de metralhadora da Polícia Federal dirigidas contra professores e moradores que defendem o bloqueio de uma estrada em Nochixtlán, uma cidade no sul do estado de Oaxaca.</div>
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<br /></div>
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Inicialmente, o Ministério de Segurança Pública de Oaxaca afirmou que a Polícia Federal estava desarmada e “nem mesmo carregava bastões”. Após ampla evidência visual e uma contagem de corpos de manifestantes mortos no “confronto”, o Estado admitiu que policiais federais abriram fogo contra o bloqueio, matando seis. Enquanto isso, os médicos em Nochixtlán divulgaram uma lista de oito mortos, 45 feridos e 22 desaparecidos. Na segunda-feira, o Coordenador Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), disse que dez foram mortos no domingo, incluindo nove de Nochixtlán.</div>
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<br /></div>
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Os professores pertencentes à CNTE, uma facção mais radical de cerca de 200 mil dentro dos 1,3 milhões do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Educaçãpo (SNTE), o maior sindicato da América Latina, estão em greve por tempo indeterminado desde o dia 15 de maio. Sua demanda principal é a revogação da “Reforma Educacional”, iniciada pelo presidente do México, Enrique Peña Nieto em 2013.</div>
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<br /></div>
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Um plano neoliberal baseado em um acordo de 2008 entre o México e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a reforma visa padronizar e privatizar o sistema de educação pública do México, bem como enfraquecer o poder do sindicato dos professores. Os professores também estão exigindo mais investimento em educação, liberdade para todos os presos políticos, além da verdade e justiça para os 43 desaparecidos de Ayotzinapa.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<img height="444" src="https://cdn-images-1.medium.com/max/800/1*ck09SHKtaWC7t9-EYRiwjw.jpeg" width="640" /><span style="font-size: x-small;">Protesto contra a reforma educacional na Cidade do México | Foto: Yahoo</span></div>
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<br /></div>
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Um ataque tarde da noite no dia 11 de junho contra o acampamento dos professores em um bloqueio no Instituto de Educação Pública (IEEPO) concentrou mais de mil policiais, que moveram as barricadas e retiraram rapidamente os professores e moradores do local. Um dia depois, os dois principais líderes da CNTE em Oaxaca e Cidade do México foram presos, além de 24 mandados de prisão emitidos para as outras lideranças.</div>
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<br /></div>
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Dezenas de bloqueios foram feitos pela população até o dia 14 de junho, quando dezenas de milhares saíram às ruas para comemorar o aniversário da rebelião em Oaxaca feita em 2006, com a construção de uma comuna que durou cerca de cinco meses.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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A CNTE controla 37 pontos críticos nas rodovias em todo o Estado, bloqueando com 50 caminhões-tanque expropriados. Os bloqueios foram tão eficazes que a ADO, uma grande linha de ônibus de primeira classe, cancelou indefinidamente todas as viagens da Cidade do México para Oaxaca, fazendo a Polícia Federal usar aviões para enviar reforços na cidade de Oaxaca, Huatulco (na costa) e Ciudad Ixtepec.</div>
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Domingo à noite, a policia começou a cortar a energia para vários setores da cidade, afetando o transporte público, e aumentando os temores de que as forças federais e estaduais tentassem tomar a cidade e o acampamento dos professores na praça principal (Zócalo).</div>
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Já na segunda-feira, pelo menos 40 mil pessoas marcharam em Oaxaca para protestar contra a violência do Estado no domingo. Oitenta grupos da sociedade civil emitiram um “alerta humanitário devido ao ataque do Estado armado contra a população civil”. O governador de Oaxaca, Gabino Cué, afirmou que os professores estão em minoria nos bloqueios — tentando deslegitimar a luta.</div>
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<img height="436" src="https://cdn-images-1.medium.com/max/600/1*GBr3E85Z5crx67TSFTgCcQ.jpeg" width="640" /></div>
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<span style="font-size: x-small;">Foto: Jorge Luis Plata/Reuters</span></div>
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Na cidade de San Cristóbal de las Casas, integrantes do EZLN alertaram o ofensiva do governo mexicano contra os professores e a população de Oaxaca.</div>
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Em um comunicado oficial, o grupo zapatista diz “não tolerar a violência praticada de forma rotineira contra os educadores e os estudantes”, e que a cada vez que o conflito se aproxima de territórios ocupados pelo grupo, “maiores as chances de um eventual confronto para proteger a população civil contra o Estado assassino e policial”.</div>
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Oficialmente, o EZLN não pega em armas desde a metade dos anos 90, após uma ofensiva do grupo revolucionário em Chiapas. Desde lá, diversas tentativas de negociar um processo de paz foram esgotadas, por conta da pressão do exército nos arredores das cidades ocupadas pelo grupo.</div>
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Mesmo com a possibilidade de uma verdadeira revolução ocorrer no México, ainda mais urgente que a situação e os protestos na Venezuela, o assunto não virou manchete nos meios de comunicação do Brasil.</div>
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Fonte: <a href="https://medium.com/democratize-m%C3%ADdia/uma-revolu%C3%A7%C3%A3o-acontece-no-m%C3%A9xico-mas-a-m%C3%ADdia-n%C3%A3o-sabe-64aaa20f697#.42adzgwaj" target="_blank">Medium</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7352311039939590377.post-38723401763566694542016-03-01T18:53:00.002-03:002016-03-01T18:53:19.760-03:00Com a palavra, os idiotas<div style="text-align: justify;">
<b>As redes sociais são veículo fundamental para diversas causas, mas libertaram uma fúria reacionária que pode gerar efeitos preocupantes.</b></div>
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<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><img alt="Trump e Bolsonaro" height="425" src="http://www.cartacapital.com.br/sociedade/com-a-palavra-os-idiotas/trump-e-bolsonaro/@@images/f81c7f0f-ec65-4fbc-8ca4-f53a45ecde05.jpeg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" width="640" /></td></tr>
<tr><td class="tr-caption">Trump e Bolsonaro: vida curta?</td></tr>
</tbody></table>
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por <a href="http://www.cartacapital.com.br/colunistas/mauricio-moraes">Mauricio Moraes</a></div>
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"As mídias sociais deram a palavra a uma legião de imbecis que antes só falavam numa mesa de bar depois de uma taça de vinho, sem causar qualquer prejuízo à coletividade". A frase do escritor italiano <a href="http://cartacapital.com.br/cultura/morre-escritor-italiano-umberto-eco">Umberto Eco</a>, morto na semana passada, não poderia ser mais certeira para o atual momento brasileiro. Em tempos de crise sobram ódio e oportunismo nas redes e falta racionalidade política.</div>
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A frase de Eco pode até soar como ideia antiquada de um vovozinho que não entendeu o rolê, que não sabe como as redes deram voz a quem nunca conseguiu falar. Que foi pelas redes que os jovens pediram mais mobilidade urbana, que os LGBTs disseram a que vieram, que <a href="http://www.cartacapital.com.br/sociedade/machismo-o-jogo-virou">as mulheres se organizaram em um novo feminismo</a>. Tudo isso é verdade, mas Eco também tinha sua razão.</div>
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A prova é o triunfo cada dia mais eminente de<a href="http://www.cartacapital.com.br/revista/866/os-brutos-tambem-votam-6493.html">Donald Trump</a>, o fanfarrão perigoso que corre o risco de ser o candidato republicano e até mesmo o próximo presidente dos Estados Unidos. Para quem acompanha de longe, Trump é apenas uma piada de mal gosto, o cara que quer construir um muro entre o México e os Estados Unidos e expulsar os muçulmanos do país. </div>
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Mas Trump não é propriamente um imbecil, muito pelo contrário. É um espertalhão que lidera cidadãos cansados do sistema. Ele aposta nos milhares de comentaristas raivosos que, com medo do comunismo, da ditadura gay e outras paranoias, buscam um salvador da pátria. Qualquer <a href="http://www.cartacapital.com.br/sociedade/um-ditador-para-salvar-o-brasil">semelhança com a política brasileira não é mera coincidência</a>. </div>
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O <a href="http://www.cartacapital.com.br/internacional/trump-desmoraliza-a-lei-de-godwin-3166.html">sucesso de Trump</a> causa calafrios quando se pensa nas eleições de 2018 no Brasil. Corremos o risco de termos um Jair Bolsonaro competitivo? O vácuo de liderança política no País com a <a href="http://cartacapital.com.br/especiais/operacao-lava-jato">Lava Jato</a> desconstruindo o PT e espirrando lama em todos os grandes partidos, do PSDB ao PMDB, abre caminho para os piores populistas. Sem contar que a atual crise econômica ainda nem se fez sentir de verdade. </div>
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Antes de seguir falando sobre idiotas como se não fosse um deles, é preciso ter humildade e reconhecer que todo mundo está sujeito a deter certo grau de idiotice dentro de si (aquele 1% que te faz compartilhar um link duvidoso).</div>
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Até para não cair na soberba típica de alguns colunistas conservadores, que consideram idiota qualquer eleitor de esquerda. A idiotice é gradativa e universal e está acima das ideologias. </div>
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No Brasil, a idiotice (nos termos de Eco) têm andado junto com o oportunismo e pautado a agenda política do País. Basta ver o vídeo do deputado <a href="http://www.cartacapital.com.br/politica/o-que-pensa-paulinho-da-forca-4886.html">Paulinho da Força</a> (SD) convocando o panelaço contra o PT, contra a corrupção. Faz sentido as pessoas se indignarem com os escândalos envolvendo este ou aquele partido. Mas é pura ironia ver os "patriotas" baterem panelas inspirados pelo braço direito do Eduardo Cunha das Contas Suíças. </div>
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As redes sociais, para o bem e para mal, são democráticas e mostram o que realmente somos – uma sociedade feita, também, de comentaristas de internet. Há pouco tempo ainda se falava de uma tal "opinião pública", que era tão somente a opinião de uma elite letrada com voz na imprensa, nas universidades e nos círculos políticos e empresariais. Era uma opinião no geral polida. Até virem as redes sociais e abrirem a porteira para o público de verdade se expressar. </div>
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E o mais espantoso é como as "verdades" se constroem e se sedimentam. Não faz muito tempo eu tomava como piada o discurso daqueles que diziam que o Brasil estava se tornando um país comunista, uma <a href="http://www.cartacapital.com.br/politica/o-que-e-bolivarianismo-2305.html">república bolivariana</a>. Era artificio barato de retórica, só poderia ser. Até que me dei conta recentemente de que essas pessoas realmente acreditam nisso. </div>
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Para contra argumentar, informação não é suficiente. Na briga pela "opinião das redes", a estratégia inclui táticas de guerrilha, golpes baixos e factóides. Há quem prefira se isolar, bloquear quem não lhe agrade, fechar-se numa bolha e viver feliz com as curtidas de quem pensa igual a si. Inócuo.</div>
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Se até agora temos celebrado as redes sociais por tudo de bom que produziu, espero não termos um dia de lamentar.</div>
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Ainda acredito que Trump não vencerá, que Bolsonaro terá fôlego curto. E confio que o bom senso há de fazer bom uso do espaço que lhe cabe nessa rede. Mas atenção nunca é demais. Com um discurso ultraconservador e populista contra a corrupção, o comediante Jimmy Morales foi recentemente eleito presidente da Guatemala. Não parece nada engraçado. </div>
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Fonte: <a href="http://www.cartacapital.com.br/sociedade/com-a-palavra-os-idiotas">Carta Capital</a></div>
Pablo Martinshttp://www.blogger.com/profile/07898942991807901923noreply@blogger.com1