sexta-feira, 30 de maio de 2014

Os russos estão chegando


Os russos estão chegando…de novo… E eles continuam com 3 metros de altura!

Por William Blum

Então, o que temos aqui? Na Líbia, na Síria e em outros lugares os Estados Unidos estão no mesmo lado dos caras da Al-Qaeda. Mas não na Ucrânia. A má notícia é que, na Ucrânia, os Estados Unidos estão do mesmo lado dos neo-nazistas, aqueles caras que entre uma manifestação e outra – exibindo suásticas e outros símbolos e clamando pela morte dos judeus, dos russos e dos comunistas -, arrumaram tempo para incendiar o prédio de uma central sindical em Odessa, matando um monte de gente e mandando centenas para o hospital; muitas das vítimas foram espancadas ou alvejadas quando tentavam escapar das chamas e da fumaça; ambulâncias foram impedidas de chegar até os feridos. Procure e ache um veículo da mídia mainstream que tenha feito alguma tentativa séria de cobrir esse horror.


E como esse último exemplo de excepcionalismo da política externa americana aconteceu? Um ponto de partida que pode ser cogitado está no que o ex-secretário de Defesa e diretor da CIA Robert Gates disse em suas memórias recentemente publicadas: “Quando a União Soviética entrou em colapso no final de 1991 [o secretário de Defesa Dick Chaney] queria ver não apenas o desmembramento da União Soviética e do império russo mas da própria Rússia, para que ela nunca mais voltasse a ameaçar o resto do mundo”. Isso pode servir como marco inicial dessa nova guerra fria, enquanto o corpo da anterior ainda estava quente. Logo depois, a OTAN começou a cercar a Rússia de bases militares, bases de mísseis e homens, ansiando pela Ucrânia como parte necessária para fechar o cerco.

Em fevereiro deste ano, funcionários do Departamento de Estado dos Estados Unidos em atitude não-diplomática uniram-se aos manifestantes na capital ucraniana, Kiev, distribuindo ânimo e comida, o que se comprovou com o vazamento da gravação da conversa infame entre o embaixador americano na Ucrânia, Geoffrey Pyatt, e a assistente do Departamento de Estado, Victoria Nuland, ex-embaixadora americana na OTAN e ex-porta-voz da secretária do Departamento de Estado, Hillary Clinton. A conversa versava sobre quem deveria liderar o novo governo da Ucrânia depois que Viktor Yanukovich fosse derrubado; o preferido era Arseniy Yatsenuk.

John Huge, meu querido amigo de Washington, que nos deixou recentemente, gostava de dizer que se quisessem chamá-lo de “teórico da conspiração” ele teria que chamar os outros de “teóricos da coincidência”. Por uma coincidência incrível Arseniy Yatsenuk realmente se tornou o atual primeiro-ministro da Ucrânia. Logo ele estaria metido em encontros privados e coletivas de imprensa com o presidente dos Estados Unidos e o secretário-geral da OTAN, e também com os futuros novos donos da Ucrânia: o Banco Mundial e o FMI, preparando-se para impor sua terapia financeira de choque.

Os manifestantes da Ucrânia não precisam de doutores em economia para saber o que isso pressagia. Eles conhecem a história de empobrecimento da Grécia, da Espanha, etc. Eles também desprezam o novo regime pela maneira que derrubaram um governo democraticamente eleito, com as deficiências que tivesse. Mas a mídia americana esconde essas razões referindo-se quase sempre aos manifestantes como pró-Rússia.

Uma exceção que passou discretamente foi uma reportagem de Donetsk publicada na edição de 17 de abril do Washington Post com dezenas de entrevistas com cidadãos da Ucrânia do leste. Baseado nessas entrevistas o repórter dizia que a inquietude na região se devia ao temor de que houvesse um endurecimento da política econômica com um plano de austeridade do FMI que tornaria suas vidas ainda mais difíceis. “Nesse momento perigoso e delicado, o governo pró-Ocidental está pronto para iniciar uma terapia de choque de medidas econômicas para cumprir as exigências de um empréstimo de emergência do FMI”, escreveu.

Arseniy Yatsenuk, deve-se destacar, tem uma coisa chamada Arseniy Yatsenuk Foundation. Se você entrar no site da fundação, vai ver os logos dos parceiros da fundação. Entre eles está a OTAN, o NED (National Endowment for Democracy), o Departamento de Estado dos EUA, a Chatham House (Instituto Real de Assuntos Internacionais do Reino Unido), o alemão Marshall Fund (um think-tank fundado pelo governo alemão em homenagem ao Plano Marshall dos EUA), e mais um par de bancos internacionais. Precisa comentar?

Pode ser que a aliança com os apoiadores da Al-Quaeda e com os nazistas esteja transmitindo aos funcionários do governo americano a ideia de que eles podem dizer ou fazer qualquer coisas na política externa. Na coletiva de imprensa do dia 2 de maio, o presidente Obama, referindo-se à Ucrânia e ao tratado com a OTAN, disse: “Estamos unidos pelo inabalável artigo 5 do compromisso de segurança dos aliados da Otan” (O artigo 5 diz: Os países-membro concordam que um ataque armado contra um ou mais deles deve ser considerado um ataque contra todos”). Será que o presidente esqueceu que a Ucrânia não é (ainda) um membro da OTAN?

Na mesma coletiva de imprensa, o presidente se referiu ao “governo devidamente eleito de Kiev”, enquanto na verdade esse governo tomou poder via um golpe e imediatamente estabeleceu um novo regime no qual o primeiro-ministro, o ministro da agricultura, o ministro do meio-ambiente são todos de partidos nazistas de extrema-direita.

O horror total que caracteriza a direita ucraniana dificilmente pode ser exagerado. Em março passado, o líder do Pravy Sektor (Ala Direita) convocou seus camaradas, os infames terroristas chechenos, para levar a cabo ações terroristas na Rússia.


Mas pode haver uma diferença importante entre a velha Guerra Fria e a nova. O povo americano, e os de outras partes do mundo, não podem ser facilmente submetidos a uma lavagem cerebral como foram no período anterior.

Entre as coisas estranhas que encontrei ao pesquisar durante uma década para os meus primeiros livros e artigos sobre a política externa dos EUA, foi quão frequentemente a União Soviética parecia saber o que os Estados Unidos estavam prestes a fazer mesmo quando o povo americano não tinha a menor ideia. Entre os anos 50 e 70 de vez em quando um leitor mais atento podia reparar em uma notícia de algumas linhas, no pé de uma página interna do New York Times, dizendo que o Pravda ou o Izvestia diziam que um golpe recente ou um assassinato político na África, na Ásia ou na América Latina tinham sido obra da CIA; o Times talvez completasse dizendo que um representante do Departamento de Estado tinha qualificado a história de “absurda”. E ficava por isso mesmo, sem maiores detalhes; e eles não eram necessários, por que afinal qual cidadão americano daria atenção a isso? Era apenas mais uma propaganda ridícula dos inimigos. A quem eles pensavam estar enganando? A ignorância/cumplicidade de parte da grande mídia americana permitiu que os Estados Unidos se metessem em todo tipo de crime intencional e desvio.

Foi só nos anos 1980, quando comecei a realizar uma pesquisa séria que resultou no meu primeiro livro, Killing Hope, que fui capaz de preencher as lacunas e perceber que os Estados Unidos tinham sido os mentores daquele determinado golpe ou assassinato, e de muitos outros golpes e assassinatos, sem falar nos incontáveis bombardeios, uso de armas químicas e biológicas, eleições fraudadas, tráfico de drogas, sequestros e muito mais que não aparece nem na mídia americana nem nos livros escolares. (E uma parte significativa de ações aparentemente desconhecida também pelos soviéticos).

Mais houve uma avalanche de revelações sobre os crimes dos Estados Unidos nas últimas duas décadas. Muitos americanos e muitos povos do mundo se tornaram mais educados. Eles são mais céticos em relação às declarações dos Estados Unidos e da mídia bajuladora.

O presidente Obama declarou recentemente: “A forte condenação que a Rússia recebeu por parte de países do mundo todo, indica até que ponto a Rússia está do lado errado da história nisso [Ucrânia]”. Maravilhoso vindo de um homem que tem entre seus parceiros jihadistas e nazistas e vem fazendo a guerra em sete países. Nos últimos 50 anos tem algum país cuja política externa tenha sido mais condenada do que os Estados Unidos? Os Estados Unidos do lado certo da história só existem nos livros de história publicados nos Estados Unidos.

Barack Obama, como quase todos os americanos, gosta de acreditar que a União Soviética, talvez com a exceção única da 2.ª Guerra Mundial, sempre esteve do lado errado da história tanto na política externa como na doméstica. No entanto, em uma enquete conduzida por instituto de pesquisas independente da Rússia em janeiro passado, e publicado no Washington Post em abril, 86% dos entrevistados maiores de 55 anos expressaram tristeza pelo colapso da União Soviética; e 37% dos que têm entre 25 e 39 anos também. (Pesquisas similares tem trazido resultado semelhante desde o fim da União Soviética. Essa foi publicada no USA Today em 1999: “Quando o muro de Berlim caiu, os alemães orientais imaginavam uma vida de liberdade onde os bens de consumo fossem abundantes e as dificuldades desapareceriam. Dez anos depois, significativos 51% dizem que eram mais felizes com o comunismo”.)



Ou com diz um provérbio russo: “Tudo que os comunistas disseram sobre o comunismo era mentira mas tudo que eles disseram sobre o capitalismo era verdade”.

Uma semana antes da publicação dessa pesquisa no Post em abril, o jornal publicou um artigo sobre felicidade ao redor do mundo, que trazia essas charmosas linhas: “Essencialmente, a vida sob o presidente Vladimir Putin é uma descida espiral contínua para o desespero.” (…) “O que acontece na Rússia é uma profunda infelicidade” (…) “Na Rússia, a única coisa que se pode esperar é o doce abraço da morte”.

Atenção: não foi publicado como uma peça satírica mas como um estudo científico, com gráficos e tudo, embora pareça saído diretamente dos anos 1950.

Seja qual for o raciocínio, é imperativo que os Estados Unidos desistam do persistente desejo de trazer a Ucrânia (e a Geórgia) para a aliança da OTAN. Nada é capaz de atrair tantos coturnos russos ao solo ucraniano quanto a ideia de que Washington quer colocar tropas da OTAN em cima da linha da fronteira russa e a um cuspe de distância da histórica base russa do Mar Negro, na Crimeia.

O mito do expansionismo soviético

Encontramos também referências constantes na mídia mainstream sobre o “expansionismo russo”e ao “império soviético”, além do velho favorito “o império do mal”. Esses termos derivam grandemente do controle de outrora sobre a Europa Oriental. Mas a criação desses satélites em seguida a 2.ª Guerra Mundial foi um ato de imperialismo ou de expansionismo? Ou esse ímpeto simplesmente está em todo lugar?

Em um intervalo de menos de 25 anos, as forças ocidentais invadiram a Rússia três vezes – nas duas guerras mundias e na “intervenção” de 1918-1920 – e fizeram 40 milhões de vítimas apenas nas duas guerras mundiais. Para levar adiante essas invasões, o Ocidente usou a Europa Oriental como estrada. É para surpreender alguém o fato de os soviéticos quererem fechar essa estrada depois da 2.ª Guerra? Em praticamente qualquer outro contexto, os americanos veriam esse gesto como auto-defesa. Mas no contexto da Guerra Fria esse tipo de pensamento não encontraria abrigo no discurso dominante.



Os estados bálticos da União Soviética – Estônia, Letônia e Lituânia – não faziam parte dessa estrada e frequentemente eram notícia pedindo maior autonomia em relação a Moscou, uma história “natural” para a mídia americana. Esses artigos invariavelmente lembravam o leitor de que “antigamente independentes”, os estados bálticos foram invadidos em 1939 pela União Soviética, incorporados como repúblicas da URSS, e “ocupados” por ela desde então. Outro caso de brutal imperialismo russo. Ponto final.

Acontece que os três países eram parte do império russo de 1721 até a Revolução de 1917, no final da 1.ª Guerra Mundial. Quando a guerra terminou em novembro de 1918, e os alemães foram derrotados, as nações aliadas vitoriosas (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e etc.) permitiram/estimularam as forças germânicas a permanecer nos Bálcãs durante mais um ano inteiro para sufocar qualquer traço de bolchevismo que ali houvesse; isso, com ampla assistência dos países aliados. Em cada uma das três repúblicas, os alemães instalaram colaboradores no poder que declararam independência do novo estado bolchevique que,devastado pela Guerra Mundial, pela Revolução e pela prolongada guerra civil provocada pela intervenção dos aliados, não teve outra alternativa a não se aceitar o fato consumado. O resto da desvalida União Soviética tinha que ser salvo.



Neste infeliz estado de coisas, ao menos para ganhar alguns pontos de propaganda, os soviéticos anunciaram que estavam deixando as repúblicas bálticas “voluntariamente”, de acordo com seus princípios de anti-imperialismo e auto-determinação. Mas não é de se surpreender que os soviéticos continuassem a considerar os países bálticos como parte legítima de sua nação, esperando até que tivessem fortes o suficiente para recuperar o território.

Então tivemos o Afeganistão. Certamente esta foi uma guerra imperialista. Mas a União Soviética tinha convivido pacificamente com o vizinho Afeganistão por mais de 60 anos sem devorá-lo. E quando os russos invadiram o país em 1979, a principal motivação foi o envolvimento dos Estados Unidos em um movimento, em grande parte islâmico, para derrubar o governo afegão pró-Moscou. Não se poderia esperar que os soviéticos tolerassem um estado pró-EUA, um governo anti-comunista em sua fronteira, mais do que se esperaria dos Estados Unidos poderiam que tolerassem um estado vizinho pró-soviético, o governo comunista no México.

Além disso, se o movimento rebelde assumisse o poder, ele provavelmente teria estabelecido um governo islâmico fundamentalista em uma posição de fazer proselitismo aos numerosos muçulmanos nas repúblicas de fronteiras soviéticas.




Fonte: A Pública

quinta-feira, 29 de maio de 2014

6 mentiras publicadas pela TV Revolta


Portal especializado em desmascarar mentiras espalhadas na internet fez um levantamento preocupante: diversos conteúdos publicados pela TV Revolta e compartilhados por milhões de internautas são comprovadamente falsos


A TV Revolta, página notabilizada por um disfarce de niilismo político cujo objetivo, no fundo, é propagar ataques orquestrados e seletivos, tem hoje mais de 3,5 milhões de seguidores no Facebook.

A página foi criada em 2010, mas só em 2014 se transformou em um fenômeno de audiência. Na TV Revolta são veiculadas montagens simples, com frases curtas, contra, entre outros, programas sociais, a democratização da mídia e os direitos humanos. Apesar de ser uma das maiores fanpages da rede social no Brasil, suas publicações nem sempre são verdadeiras.

O site e-farsas, portal especializado em desmentir as falácias que se propagam na rede, fez uma seleção de seis boatos que foram publicados pela TV Revolta como se fossem verdade. As revelações despertam preocupação, já que milhões de usuários estão a compartilhar, muitas vezes, um conteúdo comprovadamente falso.

Seriam os internautas apenas vítimas da página, ou co-responsáveis por também disseminarem postagens inverídicas sem antes realizar uma pesquisa prévia?

Confira abaixo as publicações feitas pela TV Revolta (levantamento do e-farsas) que já foram provadas que são falsas:

1. O ministro da China dá dicas para o Brasil! (32 mil compartilhamentos)

De acordo com uma postagem feita na TV Revolta no dia 15 de maio de 2014, o primeiro ministro da China Wen Jiabao teria dado algumas dicas à presidente Dilma quanto à gestão do país, em recente visita ao Brasil!


2. Travestis pedindo pro Ronaldo esquecer a Copa

A imagem abaixo mostra um trio de travestis segurando uma placa com os dizeres: “Ronaldo, esquece a Copa e volta pro nosso quarto!”


A foto real é essa abaixo, que foi tirada pelo fotógrafo Gilvan de Souza em outubro de 2010 (veja aqui), antes do jogo do Corinthians contra o Flamengo, no estádio do Engenhão (no Rio de Janeiro). Segundo o Lancenet, a brincadeira foi criada por um grupo de torcedores do Flamengo para tentar provocar o jogador, que na época jogava pelo Corinthians.


3. Desvalorização do Real ao longo dos anos (24 mil compartilhamentos)

Essa apareceu na TV Revolta no dia 07 de maio de 2014. Uma colagem de imagens mostrando um carrinho com compras que aparece cada vez mais vazio a cada período desde 1997 até 2014. Com esse “dados”, o autor dá a entender que o poder aquisitivo do trabalhador foi diminuindo de 1997 até os dias atuais.


No entanto, é bom lembrar que esses dados não estão corretos!

Se convertermos o salário mínimo em dólar, teremos o quadro abaixo (que surrupiamos do excelente Blog do Branquinho).


Note que, ao compararmos com o dólar, o salário mínimo parece ser o maior da história. Lógico que ele ainda está muito abaixo do ideal, mas ainda assim, muito melhor do que nos anos anteriores.

O gráfico abaixo foi elaborado pelo Dieese e mostra os aumentos constantes no salário mínimo desde 2002:


Além disso, precisamos lembrar que na época do Governo Itamar Franco (em 1994), o salário mínimo dava para comprar apenas uma cesta básica e hoje dá para comprar duas. Ainda não é muito, mas é o dobro.


A inflação de 1997 a 2013 chegou a 116% (uma média de 7% ao ano), enquanto que no mesmo período houve um aumento no salário mínimo de um pouco mais do que 500%. Uma média de aproximadamente 29,5% ao ano.

4. Bolsa Bandido (9 mil compartilhamentos)


Em postagens frequentes, a TV Revolta critica o Auxílio Reclusão ou o “bolsa bandido” (como é chamado o benefício na fanpage). De acordo com o que é divulgado por aí, o bandido teria direito a receber um salário enquanto está preso e essa mamata chega a dobrar de valor a cada filho a mais que o preso vir a ter.

Essa notícia não é completamente falsa, como já explicamos nesse artigo em fevereiro de 2011, mas não funciona da maneira como é sugerida pelo TV Revolta. O Auxílio Reclusão foi instituído em 1960 e é um valor único mensal que a família do preso recebe (independente da quantidade de filhos do presidiário), desde que o recluso tenha contribuído previamente para a previdência.

Além disso, a cada três meses, os dependentes do preso devem se apresentar em uma Agência da Previdência Social para continuarem a receber o benefício.

5. A moda das calças surgiu entre os detentos gays

Essa é uma lenda que circula pela web desde 2008 e diz que a moda das calças caídas tem origem entre os homossexuais presos nas penitenciarias dos Estados Unidos. O texto afirma que andar com calças abaixo da cintura era um código entre os presos, avisando que aquele homem estava disponível para fazer sexo com outros presos.


Mostramos aqui no E-farsas há poucos dias atrás que as calças caídas surgiram, de fato, nos presídios dos Estados Unidos, mas os presos usam essas peças de roupas dessa maneira porque os cintos foram proibidos dentro das prisões!

6. Tossir durante um ataque do coração (530 MIL COMPARTILHAMENTOS)


Uma publicação feita na TV Revolta em 14 de março de 2014 fala sobre um procedimento que deve ser feito no caso de você estar tendo um ataque do coração. De acordo com o texto, quando você estiver sentindo que está tendo um ataque do coração, basta tossir vigorosamente para que o sangue fique circulando normalmente pelo corpo.

Esse procedimento não funciona! Desde 2003 os médicos não conseguiram provar a eficácia da tosse no momento de um ataque cardíaco. Essa história surgiu em 2003, depois que um grupo de médicos poloneses afirmaram que a tosse poderia fazer com que o sangue ficasse circulando pelo corpo do doente enquanto não chegar a ajuda. Na época, a BBC foi investigar essa história e concluiu que a manobra é inócua e que a tosse pode servir apenas como um placebo, como uma ajuda para manter o paciente consciente.

Conclusão

Muito cuidado ao compartilhar informações de páginas do Facebook. Algumas delas podem ser falsas e você estará ajudando a espalhar mais desinformação pela web!




quarta-feira, 28 de maio de 2014

A Europa que surge após as eleições


Políticas de “austeridade” e ditadura financeira persistem, porém agora sob intensa pressão. Ultra-direita e esquerda autêntica crescem. O “Velho Continente” patina

Por Frédéric Lebaron, no Mémoire des Luttes | Tradução João Victor Moré Ramos |Ilustração David Parkins

Terremoto, agitação, maremoto, trovão, tsunami, decomposição da política nacional: metáforas naturais se multiplicam para descrever os resultados das eleições europeias de 25 de Maio de 2014.

Estes resultados podem ser resumidos por algumas tendências a nível europeu: a manutenção da abstenção a um nível elevado (57% contra 57% em 2009…) avanço importante das forças que desafiam a construção européia; possível surgimento, no Parlamento Europeu (PE), de um grupo enraizado na extrema-direita nacionalista, articulado em torno da Frente Nacional; sucesso da esquerda radical em alguns países do Sul, como a Grécia, Portugal e Espanha. A crise da União Européia convidou-se às urnas, conforme previam as pesquisas.

Se olharmos mais de perto, nem a interpretação dos resultados nem — ainda mais importantes – suas conseqüências são simples. A dispersão significativa de votos também deve se expressar numa dispersão paralela das cadeiras do Parlamento Europeu entre os diferentes grupos políticos. [1]. Ela se repete também no interior desses grupos e, é claro, entre os deputados que não estão ligados a nenhum (os “independentes”).

A nomeação do Presidente da Comissão Européia não é uma conseqüência mecânica do voto e, na ausência de um grupo com clara maioria – o mais numeroso, dos liberais de direita ligados ao Partido Popular Europeu (PPE), deve reunir apenas 212, entre 751 parlamentares — as negociações podem durar dias ou semanas. De forma mais ampla, estarão em jogo a futura “governança” do Parlamento e as instituições da UE, num novo contexto.

Correndo o risco de surpresas, no momento dos superlativos, pode-se questionar até que ponto as eleições de 25 de maio de 2014 significam mudança real. Ou, se, ao contrário elas não acentuarão a característica principal do jogo parlamentar atual nas instituições da UE: a aliança pragmática entre a direita liberal (PPE) e a antiga social-democracia (PSE), fortalecida com os deputados eleitos peloo Partido Democrata italiano. Ambos os grupos, juntos, continuam a uma maioria. Ela é ainda mais clara, se somarmos os Liberais e os Verdes, fervorosos partidários da União Europeia. Em um contexto de marginalização estrutural do Parlamento em relação a outras instituições da UE, somam-se as contradições entre as lógicas nacionais e a europeia.

O mais razoável nesta fase é analisar a evolução de cada grande família política, para compreender melhor as dinâmicas europeias e nacionais que as caracterizam, e as consequências para o espaço político europeu.

A abstenção popular

A continuidade da abstenção em níveis muito elevados era, provavelmente, o resultado mais previsível, e constitui sem dúvidas o dado mais estável da paisagem eleitoral europeia.

Pode haver diferenças entre os novos Estados-Membros, onde o número de eleitores é baixo ou muito baixo (cerca de 13% na Eslováquia, 18% na República Checa), e os países em que o voto é obrigatório (Bélgica, Luxemburgo), ou tradicionalmente superior.

Como os países da Europa Central e Oriental, admitidos na União Européia em 2004 e 2007, são também aqueles onde as classes trabalhadoras são mais fortemente representadas, a abstenção maciça é produto de uma pesada tendência pós-soviética de descompromisso cívico. Some-se ainda o efeito das diferenças de estrutura e de mobilização eleitoral desigual dos grupos sociais, importantes neste tipo de eleição. [2]

PPE: uma hegemonia enfraquecida

Bem à frente do Grupo Socialista em 2009 com 274 deputados, a direita neoliberal e pró-europeia agrupada no Partido Popular Europeu (PPE) sofreu agora uma clara erosão de suas posições. Esta queda está ligada ao mau desempenho em vários países: na Itália, onde a direita pós-Berlusconi ainda engatinha e ofereceu apoio passivo ao novo governo do Partido Democrata, ehefiado por Matteo Renzi — o que não lhe permitiu avançar; na Alemanha, onde o PPE perdeu 2 pontos percentuais e 6 membros do Parlamento Europeu; na França, onde o retrocesso é ainda mais claro, com um percentual de votos de 20, 79%, contra 28% no pleito europeu anterior.

No entanto, os bastiões da direita liberal ainda são fortes na Europa, como mostram as vitórias que ela obteve em muitos países: Áustria, Bulgária, Chipre, Finlândia, Hungria, Letônia, Polônia…

No entanto, o PPE, que dirigia até agora as instituições da UE e promoveu as políticas “de austeridade”, é cada vez mais confrontado com conseqüências sociais e políticas multifacetadas desta atitude. Na França, o seu integrante, o UMP, está sujeito a fortes tensões internas, tanto ideológicas quanto organizacionais.

PSE: um retrocesso apenas parcial

Em alguns países, os partidos socialistas ou social democratas viveram um impressionante revés: é o caso especialmente da Grécia, onde o Pasok, que chegou 36,65% dos votos em 2009, não teve mais de 8,1% % agora; também é o caso da França, onde o percentual do Partido Socialista em 2009 já era muito baixa (e caiu agora de 16% para 14%). Mas o mesmo ocorreu na Holanda e a Irlanda … Em outros países, os resultados são decepcionantes em comparação com as pesquisas pré-eleitorais, como na Eslováquia.

Em contrapartida, o SPD na Alemanha ressurge de forma significativa, com uma fatia de 27,40% dos votos, e a corrente social democrata alcança percentuais mais altas, e mais esperadas em alguns países, como Portugal e Romênia. Já o Partido Trabalhista britânico e o Partido Socialista Espanhol beneficiaram-se da rejeição das políticas de austeridade dos governos de direita. A centro-esquerda italiana teve um resultado muito favorável (mais de 41% dos votos), o que confirma a popularidade do governo Renzi — provavelmente, o mais crítico em relação às políticas de austeridade da UE.

No cômputo geral, deverá haver sutil erosão do grupo social democrata no Parlamento Europeu.

A desaceleração da corrente liberal-centrista

Marcada por sua adesão à União Europeia, a corrente liberal-centrista européia está perdendo força: de seus antigos 85 membros, restam apenas 70 no próximo Parlamento. O colapso do Partido Liberal alemão (FDP), o declínio acentuado dos democratas liberais no Reino Unido e Dinamarca irão contribuir significativamente para esse resultado.

Hoje, o domínio das duas grandes forças (PPE, de centro direita e PSE, ex-social-democrata) é atacado pelos extremos de espectro político, não pelo centro. O movimento liberal centrista, que encarna o projeto europeu na sua forma “idealista”, sofre diretamente este fenômeno.

Estabilidade dos Verdes

Depois de seus excelentes percentuais nas eleições de 2009 (especialmente na França e Alemanha), era difícil para o Partido Verde, forte principalmente no Norte e no Ocidente ricos (Alemanha, França, Reino Unido e países nórdicos), manter seus resultados, num contexto em que a participação no governo em alguns países (até muito recentemente na França) expôs as decepções do eleitorado. Na França, o índice de 9% está longe de ser os de 16% alcançado cinco anos antes.

O resultado dos Verdes é comparável ao desastre que atinge as correntes liberais abertamente pró-europeias, muitas vezes em apuros depois de colidir com um dos partidos dominantes. Mesmo assim, o grupo verde vai experimentar uma estabilidade relativa, com 55 membros, aproximadamente o mesmo número de antes (58), graças a bons resultados na Bélgica e na Áustria.

Crescimento de uma crítica conservadora à União Europeia

O Partido Conservador britânica, muito mais crítica em relação à UE que os partidos correspondentes na França e Alemanha, havia constituído, em torno de si mesma, um grupo parlamentar chamado Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), nas últimas eleições europeias. Fez isso em aliança com os partidos ultra-conservadores poloneses e tchecos. Um dos desafios para este grupo era manter o resultado nas eleições de 2014, dado o aumento de forças ainda mais conservadoras e críticas da UE, como o Partido pela Independência do Reino Unido (UKIP). O resultado europeu dos conservadores britânicos, no poder, caiu de 27% para 24%, o que resultou em queda de 57 para 44, no nnúmero de eurodeputados da ECR. O UKIP, ao contrário viveu um avanço notável: ao se tornar o partido mais votado em seu país, nas eleições europeias (com 27,50% dos votos), ele passará a pesar muito — tanto no campo político nacional, quanto no debate europeu, num contexto em que a adesão do Reino Unido à UE está agora em questão.

O grupo parlamentar Europa da Liberdade e Democracia (EFD), claramente contrário à UE pela direita (e dentro do qual despontam o UKIP, e o Partido do Povo Dinamarquês — DF –, que venceu o pleito eu seu país, com 26,60 % dos votos), poderá ser reforçado pelo surgimento de novos partidos, também formados em torno de uma rejeição ácida à construção européia. É o caso, por exemplo, da Alternativa para Alemanha (AFD), que recebeu mais de 6% dos votos em seu país.

Na Itália, o Movimento 5 Estrelas (MVE, de Beppe Grillo), difícil de classificar e cortejado por uma variedade de forças (incluindo os Verdes) confirmou seu peso eleitoral significativo (25,5%), mesmo que não tenha alcançado avanço importante após as eleições nacionais.

É a ascensão de forças localizadas ainda mais à direita no espectro político tradicional (embora muitas vezes adotassem um discurso radical anti-austeridade, como na França) que limita o crescimento da corrente conservadora anti-UE mais tradicional, não tão diretamente ligada à extrema-direita histórica.

A extrema-direita começa a se estruturar

Incapazes, em 2009, de constituir um grupo parlamentar, as forças da direita radical (em cujo núcleo estão o Front National (FN) francês, o Vlaams Belang belga, o FPO austríaco, e o Partido da Liberdade holandês) foram um dos grandes vencedores nesta eleição. Na França, a pontuação da FN (25%), muito à frente da direita tradicional (UMP, com 20,79 %) e do Partido Socialista (14%), marcou um grande fenômeno político, gerando impactos potenciais em toda a Europa.

O desafio para o FN, no entanto, será constituir um grupo parlamentar suficientemente homogêneo, o que exige presença de representantes em sete países. Ele pode contar com o forte crescimento da FPO, na Áustria. Por outro lado, alguns de seus aliados estão enfraquecidos, como o Vlaams Belang ou o Partido da Liberdade na Holanda.

A radicalização da direita é expressa, também, pelo sucesso do mais radical de seus partidos ideológicos. Na Grécia, o partido nazista Aurora Dourada confirma seu importante papel, com cerca de 10% dos votos. A entrada de um deputado do NDP, Partido Nazista alemão, no Parlamento Europeu (com uma pontuação de 1%), é um evento altamente simbólico. É, sem dúvida, ajudar a despertar memórias na Alemanha da década de 1930.

Ao todo, a crítica de direita à UE deve agrupar cerca de 140 eurodeputados, o que pesará sobre os debates e os rumos do Parlamento.

Uma esquerda em ascensão

Em alguns países, a esquerda ultrapassou passou a social democracia: é o caso do Sinn Fein na Irlanda (17%, um aumento de 6 pontos), o Partido Socialista (marxista) dos Países Baixos (10%, um aumento de 3 pontos). O aumento mais evidente, é claro, é o Syriza que venceu as eleições na Grécia, com um percentual de votos de mais de 26,50%.

No entanto, os resultados são estáveis e relativamente decepcionantes, em grandes países como a Alemanha e a França, (a esquerda teve 7% no primeiro caso e 6,34% no segundo). A esquerda esteve presente em 18 dos 28 países, e só irá eleger eurodeputados um número limitado deles. No plano geral, seu grupo viverá, contudo, uma forte expansão, passando de 35 a 43 deputados.

Terremoto ou continuidade?

Ao que tudo indica, o “terremoto” representado pelas eleições europeias terá consequências fortes especialmente em espaços políticos e meios de comunicação nacionais. É o caso, em especial, do Reino Unido, Grécia e França. Mas não haverá mudança realmente profunda no funcionamento interno da UE .

As eleições não permitiram que surgissem alternativas à crise europeia, embora tenham revelado um espaço político europeu fragmentado e clivado. Pluralista na aparência, a votação reforça ainda mais a paralisia e a desesperança em que a Europa mergulha, a cada dia um pouco mais.

As conseqüências políticas da crise continuam de qualquer forma, e o futuro é difícil de prever. Os efeitos das políticas de “austeridade”, verdadeira bomba fragmentaria, assumem muitas formas, nos contextos nacionais. Tudo isso alimenta o sentimento, cada vez mais difundido, de uma Europa construída em meio ao caos, sem perspectiva real. Será preciso acompanhar, em especial, os desdobramentos do voto grego.

Os mercados financeiros devem comemorar um risco político em parte “sob controle”. A perspectiva é um Parlamento onde o bloco central, embora enfraquecido, continue a controlar o centro do jogo político-institucional europeu. No entanto, será pressionado por forças até agora periféricas, porém cada vez mais estabelecidas e ameaçadoras.


[1] São sete os grupo políticos existentes no Parlamento cuja legislatura termina agora: PPE (direita liberal), S&D (a social-democracia e a centro-esquerda), ALDE (Democratas e Liberais), Greens / EFA (Verdes), ECR (conservadores e reformistas, “eurocriticos”), GUE-NGL (esquerda radical e Ecossocialista), ELD (direita Eurosceptic). Os “independentes” reúnem várias correntes, entre elas a extrema direita francesa.

[2] Uma explosão participativa ocorreu em vários países, incluindo a França, mas é baseada em dinâmicas específicas difíceis de interpretar. Ela foi compensada pelo declínio em outros países.

* Professor de sociologia na Universidade de Versailles-Saint-Quentin-en-Yvelines, membro do laboratório Ocupações-Instituições-Temporarias, e presidente da associação de Conhecimento / Ação.




terça-feira, 27 de maio de 2014

Boitempo lança “Brasil em jogo: o que fica da Copa e das Olimpíadas?”

brasil em jogo


Ao conquistar o direito de sediar a Copa do Mundo 2014 e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016, o Brasil aceitou o desafio de realizar dois megaeventos esportivos globais, que despertam, ao mesmo tempo, paixões e desconfianças. Há argumentos que defendem os eventos como uma janela singular e histórica de oportunidades, mas, longe do consenso, também surgem críticas que consideram tais projetos excludentes, potencializadores da desigualdade social nas cidades-sede e do endividamento público.

A polêmica abre espaço para um amplo debate sobre o que significa para o Brasil sediar os megaeventos esportivos mais simbólicos do mundo na atual conjuntura política, econômica e social. É nesse sentido que a Boitempo Editorial publica a coletânea Brasil em jogo: o que fica da Copa e das Olimpíadas?, editada no calor da hora, com contribuições de Andrew Jennings, Luis Fernandes, Raquel Rolnik, Ermínia Maricato, Carlos Vainer, Jorge Luiz Souto Maior, José Sergio Leite Lopes, Nelma Gusmão de Oliveira, Antonio Lassance, Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, João Sette Whitaker (apresentação) e Juca Kfouri e Gilberto Maringoni (quarta capa). O livro de intervenção chega às livrarias às vésperas da abertura da Copa do Mundo, na primeira semana de junho e traz perspectivas variadas sobre o papel contraditório do esporte na sociedade brasileira e na construção da identidade nacional, os impactos urbanísticos e as transformações dos megaeventos esportivos ao longo da história. A coletânea traz ainda uma cronologia detalhada sobre os megaeventos esportivos, desde a origem até os tempos atuais.

Brasil em jogo é o terceiro título lançado na já consolidada coleção Tinta Vermelha, publicada em parceria com o portal Carta Maior. A obra segue a linha de Cidades rebeldes: passe livre a as manifestações que tomaram as ruas do Brasil (2013), com o mesmo formato e preço (R$10,00 o impresso, R$5,00 o e-book). Para tornar o livro acessível ao maior número de pessoas, autores cederam gratuitamente seus textos e fotógrafos abriram mão do pagamento por suas imagens, possibilitando, assim, à editora colocar o volume no mercado a preço de custo. A proposta tem dado certo: em menos de um ano desde a publicação da primeira tiragem, venderam-se mais de 20 mil exemplares de Cidades rebeldes.

Por ocasião do lançamento de Brasil em jogo, a Boitempo promoverá debates em São Paulo e no Rio de Janeiro, na segunda-feira, 9 de junho de 2014. Em São Paulo, Raquel Rolnik, Jorge Luiz Souto Maior, João Sette Whitaker e Guilherme Boulos (MTST) se reunirão no Anfiteatro de História da FFLCH/USP. No Rio de Janeiro, Jose Sérgio Leite Lopes, Carlos Vainer, Nelma Gusmão de Oliveira e um representante do MTST se encontrarão no Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ. Ambas atividades são gratuitas e acontecerão simultaneamente, às 18h.

Com a colaboração dos autores deste livro e de outros que fazem parte do catálogo da editora, a Boitempo seguirá, até o final da Copa, alimentando a reflexão no Blog da Boitempo, em uma seção especial disponível em:

http://blogdaboitempo.com.br.

Sumário


APRESENTAÇÃO: UM TEATRO MILIONÁRIO


João Sette Whitaker Ferreira


A COPA DO MUNDO NO BRASIL: TSUNAMI DE CAPITAIS APROFUNDA A DESIGUALDADE URBANA


Ermínia Maricato

A arquiteta e urbanista Ermínia Maricato, professora da FAU-USP, analisa em seu artigo as consequências do tsunami de capitais gerado pela Copa do Mundo no Brasil, na organização das cidades-sede e no aprofundamento da desigualdade urbana.


JOGO ESPETÁCULO, JOGO NEGÓCIO


Nelma Gusmão de Oliveira

A dimensão histórica dos megaeventos esportivos é abordada por Nelma Gusmão de Oliveira, doutora em Planejamento Urbano pela UFRJ e professora-adjunta da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Do princípio da formação moral e união entre povos através do esporte, que vem desde a Grécia Antiga, à conciliação com o mercado, ao final do século XX. A pesquisadora compara a evolução da FIFA e do COI na captação de recursos por meio de concessão de direitos de transmissão e marketing e no esforço para conseguir que mais países participassem das competições ao longo das décadas – iniciativas que transformaram o futebol, no caso da FIFA, em uma das maiores commodities do mundo.


LEI GERAL DA COPA: EXPLICITAÇÃO DO ESTADO DE EXCEÇÃO PERMANENTE


Jorge Luiz Souto Maior

Jurista e professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Jorge Luiz Souto Maior critica a lógica de estado de exceção que ronda a Copa do Mundo. Souto Maior entende a Lei Geral da Copa como um acordo, com propósitos econômicos e políticos, que implicou a suspensão da vigência de várias normas constitucionais. Grande exemplo disso é a criação de uma “rua exclusiva” para a FIFA e seus parceiros, que impede o funcionamento de estabelecimentos existentes no local.


TRANSFORMAÇÕES NA IDENTIDADE NACIONAL CONSTRUÍDA ATRAVÉS DO FUTEBOL: LIÇÕES DE DUAS DERROTAS HISTÓRICAS


José Sergio Leite Lopes

O antropólogo José Sergio Leite Lopes, professor do Museu Nacional da UFRJ, utiliza a comparação entre a derrota brasileira em casa, na final de 1950, com outra, na de 1998, como ponto de partida para uma análise sobre as transformações na construção e no sentimento de identidade nacional através do futebol no Brasil. E estende a comparação às disputas de 2002 em diante para falar sobre o novo ciclo de derrotas e a singularidade de sediar a Copa pela segunda vez.


A MÁFIA DOS ESPORTES E O CAPITALISMO GLOBAL


Andrew Jennings

O premiado jornalista investigativo escocês Andrew Jennings reflete sobre a trajetória que o levou a tornar-se o inimigo número um da FIFA e do COI. Concentrando-se em alguns dos mais poderosos figurões do esporte mundial, como Ricardo Teixeira, João Havelange, Joseph Blatter e José Maria Marin, o artigo investiga os bastidores do poder nessa área, ponderando a lacuna entre princípio e prática no esporte corporativo, entre transparência e corrupção, e os impactos da mercantilização do esporte e do jornalismo público.


PARA ALÉM DOS JOGOS: OS GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS E A AGENDA DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL


Luis Fernandes

O secretário executivo do Ministério do Esporte e coordenador dos Grupos Executivos do Governo Brasileiro para a Copa do Mundo de 2014 e para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, Luis Fernandes, defende o que chama de “iniciativas geradoras de legado”, relacionadas aos megaeventos esportivos, nas dimensões urbana, logística e de infraestrutura, econômica, esportiva, social, cultural, ambiental e política. O artigo busca responder aos protestos que desde junho de 2013 vêm cobrando mais investimentos nas áreas da saúde e educação, evidenciando ganhos específicos nessas áreas em decorrência dos megaeventos.


MEGAEVENTOS: DIREITO À MORADIA EM CIDADES À VENDA


Raquel Rolnik

Raquel Rolnik, professora da FAU-USP e relatora especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU para o Direito à Moradia Adequada, complementa a análise de Maricato com um artigo mais abrangente sobre a “financeirização” do processo de produção de moradia e de cidades, que, assim como os grandes eventos esportivos, também constitui um fenômeno globalizado.


COMO SERÃO NOSSAS CIDADES APÓS A COPA E AS OLIMPÍADAS?


Carlos Vainer

O professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ, Carlos Vainer, põe em xeque o chamado legado urbano dos megaeventos promovidos no Brasil no decorrer dos próximos anos. Ao discutir os efeitos e consequências que a Copa, em 2014, e as Olimpíadas e Paraolimpíadas, em 2016, deixarão para o País, Vainer faz uma análise multidimensional de vários aspectos que influenciarão o futuro das cidades brasileiras.


A COPA, A IMAGEM DO BRASIL E A BATALHA DA COMUNICAÇÃO


Antonio Lassance

Propondo uma análise do movimento “anti Copa”, Antonio Lassance, professor de Ciência Política e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), incorpora em seu texto uma visão crítica às manifestações que vêm tomando as ruas de diversas cidades brasileiras, além de seus desdobramentos. Contrapondo argumentos usados por adeptos da campanha, Lassance explora e questiona os ideais de quem torce contra o Brasil.


O QUE QUER O MTST?


MTST

Organizado há quase 20 anos, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto vem recebendo uma crescente atenção por parte dos meios de comunicação, graças aos grandes eventos que o Brasil sediará nos próximos anos e seus efeitos colaterais. Neste novo quadro, o MTST luta para colocar em pauta seus ideais àqueles que antes o deixava à sombra.

Ficha técnica

Título: Brasil em jogo

Subtítulo: o que fica da Copa e das Olimpíadas?
Autores: Vários
Páginas: 96
Preço: R$ 10,00 | Ebook: R$ 5,00
Ano: 2014
Coedição: Boitempo e Carta Maior




segunda-feira, 26 de maio de 2014

7 fatos sobre a crise e os protestos na Ucrânia

Manifestação dos comunistas em Donetsk

Por Vitor Sion

1) Dois países em um: Ao visitar Kiev e Donetsk hoje, a sensação é de estar em dois países diferentes. Dezenas de bandeiras da União Europeia estão espalhadas pela capital ucraniana, enquanto na cidade do leste do país há homenagens e discursos saudosos a Vladimir Lenin e Josef Stalin e à URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Além disso, de um lado há predominância de forte discurso anticomunista, em contraposição ao antiamericanismo de Donetsk, ambos os traços típicos da Guerra Fria.

Atuação dos fascistas em Kiev

2) Organização de acampamentos: Após cinco meses do começo dos protestos que derrubaram Viktor Yanukovich, a Praça Maidan segue ocupada. Diferentemente do que se pode imaginar, porém, os acampados mantêm o local limpo, sem mau cheiro. A disciplina também pode ser vista na proibição de álcool dentro das manifestações, tanto na capital ucraniana como em Donetsk. Dentro dos acampamentos visitados por Opera Mundi, o uso de máscaras era mais forte em Donetsk, onde há medo de futura retaliação judicial, enquanto Kiev há uma maior quantidade de armas de fogo. 

3) Idioma: A tentativa de Kiev de se afastar de Moscou esbarra, inclusive, numa característica cultural de sua população: o idioma. A maior parte dos ucranianos costuma utilizar o russo para se comunicar. As duas línguas são ensinadas na escola, mas o ucraniano é mais aplicado na escrita. Os próprios políticos do governo interino preferiram, em sua maioria, dar entrevistas a Opera Mundi em russo.

Manifestação pró-Rússia na Crimeia

4) Diferenças entre Crimeia e Donetsk: A tomada de controle da Crimeia pela Rússia após o referendo de 16 de março chamou a atenção pela rapidez. Moscou considera a região fundamental para a segurança de seu território e expulsou os militares ucranianos, mais fracos militarmente. Ao evitar conflito com a Rússia, Kiev pesou não apenas a desproporção das Forças Armadas, mas a importância da península para cada país. Economicamente, sem a Crimeia, a Ucrânia perdeu menos de 3% de seu PIB (Produto Interno Bruto). 

Barricadas com pneus são frequentes em Donetsk apenas perto de prédios ocupados;
em Kiev, todo centro da cidade tem interrupções do trânsito
Vitor Sion / Opera Mundi

5) Lideranças e hierarquia: O movimento da Praça Maidan levou à formação de um governo interino, composto por países que defendem a integração à União Europeia. No entanto, a maior praça da Ucrânia permanece ocupada por membros desses mesmos grupos, divididos em barracas com bandeiras e os nomes de sua cidades de origem, acompanhados de representantes da extrema direita e apartidários. Hoje não é possível apontar uma liderança entre os manifestantes, mas a entrada em prédios públicos depende sempre de um chefe.

Barricadas com pneus são frequentes em Donetsk apenas perto de prédios ocupados;
em Kiev, todo centro da cidade tem interrupções do trânsito

6) Roupas camufladas. Nos anos de governo Yanukovich, o Exército da Ucrânia teve seus orçamento e contingente reduzidos. A fraqueza das Forças Armadas é um dos motivos para o surgimento de voluntários que usam roupas camufladas e se proclamam do Exército nacional, sem estar subordinados a qualquer comando.

Os heróis de Kiev são neonazistas

7) Tratamento da imprensa: Há uma diferença clara na forma como a imprensa internacional trata os movimentos de Kiev e Donetsk. De maneira semelhante ao que ocorre no governo interino da Ucrânia, manifestantes de Kiev são considerados heróis e, em Donetsk, criminosos ou infiltrados russos. Assim, as notícias muitas vezes nos levam a conclusões erradas, como a de que Kiev está mais calma que Donetsk. Pelo contrário, Donetsk vive uma normalidade maior do que a capital, onde barricadas estão espalhadas pela cidade, deixando o trânsito caótico.




Fonte: Opera Mundi

domingo, 25 de maio de 2014

Boulos, do MTST, vê Copa e direita esquizofrênica



Líder dos sem teto alfineta: mídia e Aécio dizem defender protestos, mas atacam políticas que podem garantir direitos

Por Rodrigo Gomes, na RBA

Assim como fez o Movimento Passe Livre (MPL) no ano passado, o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, reafirmou hoje (14) a postura “de esquerda” das manifestações que antecedem a Copa do Mundo no Brasil e rejeitou que setores conservadores se apropriem das mobilizações.

Nesta entrevista exclusiva à RBA, concedida logo após a coletiva do MTST no início da tarde de hoje, no centro da capital paulista, Boulos criticou a postura de parte da imprensa e dos pré-candidatos à presidência da República Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB), que pregam que as ações são reflexo de uma insatisfação com o governo de Dilma Rousseff (PT).

O militante explicou ainda que as ações têm objetivos que dialogam com a pauta de reivindicações do movimento e não se prestam a uma difusa mobilização anti-Copa, embora entenda que os movimentos devam aproveitar o megaevento para agir e colocar em debate pautas consideradas importantes.

As pautas de reivindicação do MTST já estão nas ruas há bastante tempo, mas a vitrine da Copa transforma tudo uma grande agenda antiCopa. Como evitar essa situação?

Isso é um problema. Uma coisa é o que o movimento defende e o que o movimento faz. Outra coisa é a forma como parte da mídia e setores conservadores se utilizam disso para fazer a sua própria política. Isso não está sob controle do movimento. Nós cumprimos o papel de deixar claras as nossas pautas, de se mobilizar em torno delas.

Mas o MTST também não pode deixar de fazer mobilizações sob o risco de que essas ações sejam utilizadas por esses setores para objetivos políticos que nós não concordamos. De fato, essa é uma dificuldade hoje, que não só o MTST está passando, como vários outros movimentos populares legítimos, com pautas no campo da classe trabalhadora.

Visivelmente há uma campanha buscando atacar o governo da presidenta Dilma Rousseff a partir da Copa do Mundo. Da nossa parte nós não nos somamos a essa campanha. Nós estamos com aqueles que assumem posturas críticas quanto à realização da Copa. Não vemos o evento como um processo benéfico para a maioria da população trabalhadora brasileira. Temos as nossas reivindicações quanto a isso e nos mobilizamos.

O MTST se declara independente no cenário político. Mas há pré-candidatos à Presidência interessados em pegar carona nas mobilizações para dizer que o povo está insatisfeito “com tudo que está aí”.

Nós achamos completamente ilegítimo. O discurso de Eduardo Campos e Aécio Neves é completamente esquizofrênico. Ao mesmo tempo que dizem estar com as mobilizações, que estão ouvindo a voz das ruas, defendem políticas que impedem qualquer governo de atender às pautas de reivindicação que estão sendo colocadas pela população.

Quando Campos diz que vai reduzir a meta de inflação e aumentar o superávit primário, ou o Aécio convida Armínio Fraga para ser seu ministro da Fazenda, caso eleito, tudo que essas pessoas estão anunciando que não vão fazer é atender às reivindicações dos trabalhadores.

Esse uso é no mínimo oportunista e o MTST considera isso lamentável. E fazemos questão de deixar bem claro que esses grupos políticos não nos representam.

Vocês têm mantido uma mobilização que tem certa constância, de colocar na rua de cinco a dez mil pessoas com certa facilidade. Já as manifestações sobre Copa, em geral, não são tão massificadas. Não está havendo adesão da população?

Na verdade, você tem uma insatisfação bastante considerável em relação à Copa, medida por pesquisas. Agora, se isso não se vincula a uma pauta concreta, o discurso fica vazio e as pessoas não vão às ruas mesmo. Elas se mobilizam por questões claras.

Nós temos a nossa pauta, que se vincula a outras, e vários setores têm as suas. Não temos qualquer pretensão de nos tornarmos o eixo aglutinador de todas as pautas e trazer toda a população para a rua. Até porque, se isso não se der em torno de uma proposta política bem definida e claramente de esquerda, a coisa fica perigosa…

Repete-se o que ocorreu em junho de 2013…

Sim, pode ocorrer o que houve no final de junho. As ações iniciais eram muito legítimas, por conta do aumento da passagem, uma reivindicação concreta. E terminou com cartazes pedindo redução da maioridade penal e a volta da ditadura. Isso nós não queremos causar. Não vamos criar Frankensteins. Vamos fazer mobilizações sobre nossas pautas.

As mobilizações têm girado em torno de empreiteiras que lucraram com a Copa, questões de moradia, direitos dos trabalhadores. Vocês pretendem seguir nessa dinâmica de atender diferentes pautas em cada ação?

Não vamos focar exatamente assim. Começamos pelos construtores porque foram os verdadeiros vencedores da Copa. Foram os que ganharam mais dinheiro abocanhando dinheiro público com as obras. No caso de hoje, o objetivo era fazer ações de maior visibilidade, por isso esse número e a descentralização.

A próxima vem no sentido de trazer pautas de outros setores da classe trabalhadora. A pauta não é exclusiva sobre moradia. O processo vai ser pensado conforme é realizado, não existe um planejamento definido.

Falando em mobilizações de trabalhadores, você avalia que eles estão fora do processo? Tem havido pouco envolvimento da classe trabalhadora organizada? 

Isso vai da dinâmica de cada categoria. As pessoas se mobilizam pelos seus direitos e interesses imediatos. Não tem como inflar e constituir mobilizações individuais. Alguns sindicatos têm buscado fazer ações e enfrentado condições que nem sempre são favoráveis. Outros têm tentado inibir mobilizações e são atropelados, por exemplo, no caso dos garis e dos rodoviários, no Rio de Janeiro, em que a direção sindical tomou uma decisão que não representava a categoria.

Nós evitamos julgar o movimento sindical sobre suas mobilizações, mas é claro que a entrada de trabalhadores organizados enriqueceria esse processo.