sábado, 27 de abril de 2013

Produção criminosa de roupas em São Paulo

Grandes empresas da moda estariam fomentando o tráfico de pessoas para abastecer uma rede de exploração lucrativa que culmina no trabalho escravo de imigrantes



Por Márcio Zonta

Há duas semanas, mais seis imigrantes bolivianos flagrados em condição análoga à escravidão foram resgatados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de uma oficina clandestina de costura na cidade de São Paulo. Com mais essa abordagem do MTE, no ano de 2013, contabiliza-se quarenta imigrantes resgatados na capital paulista submetidos à mesma forma de exploração no trabalho. Procedentes geralmente do Peru, Bolívia e Paraguai, os imigrantes trabalham em locais insalubres, trancafiados e sem ventilação na região central da cidade, principalmente nos bairros do Pari, Brás e Bom Retiro.

Leia mais: 

A jornada de trabalho diária alcança de 14 a 16 horas sem acesso aos direitos trabalhistas vigentes no Brasil. Segundo o MTE, a cidade de São Paulo possui entre 8 e 10 mil oficinas de costura clandestinas, ocupadas em média por entre quinze e vinte costureiros. Os casos que se tornaram recorrentes na mídia somente nos últimos anos fazem parte de uma contínua exploração, que existe há mais de vinte anos na capital paulista.

Para especialistas ouvidos pela reportagem do Brasil de Fato, a prática exploratória ganhou outro artifício nos dias atuais, envolvendo o crime de tráfico de pessoas para abastecer uma rede de exploração, beneficiária a famosas grifes de moda e do varejo nacionais e internacionais instaladas no Brasil.

Retornando de uma viagem recente à Bolívia, onde discutiu o assunto com parlamentares bolivianos, o deputado Claudio Puty (PT-PA), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito do Trabalho Escravo, revela que investigações apontam o envolvimento de grandes empresas da moda na exploração trabalhista ilegal de imigrantes no país.

“Apuramos em São Paulo que empresários brasileiros, bolivianos e coreanos estão à frente das oficinas que exploram esses trabalhadores, no entanto, seriam os intermediários de grandes empresas que pagam R$ 0,20 pela confecção de uma peça de roupa e vendem em grandes lojas de marcas por R$ 100 ou mais”, destaca.

Esquema

Na Bolívia, Peru e Paraguai, empresas de costura que atuam de fachada seriam as principais aliciadoras para fornecer mão de obra à rede de exploração nas oficinas clandestinas em São Paulo. “Essas empresas ministram cursos de costureiro preparando as pessoas para serem trazidas ao Brasil”, revela Roque Renato Pattussi, coordenador do Centro de Apoio ao Migrante (Cami).

Um contrato verbal no país de origem, entre aprendizes e donos das firmas de costura, acordaria um salário de 150 dólares por mês em São Paulo, além da garantia de alimentação e moradia sem custo ao trabalhador. Assim, uma vez instalados nesses locais de trabalho na chegada em São Paulo, os imigrantes estariam contidos à cadeia de produção de grandes marcas da moda e do ramo do varejo.

“Na maior parte dos casos, os maiores beneficiários são os grandes magazines”, acusa Elias Ferreira, advogado e secretário- geral do Sindicato das Costureiras de São Paulo. Elias relata que muitas dessas companhias de moda, que usufruem da indústria têxtil, sabem da existência do trabalho escravo na cadeia de produção de seus produtos.

“Fazendo o papel investigativo, localizamos as oficinas clandestinas, informamos ao Ministério Público, Ministério do Trabalho e Polícia Federal e muitas vezes averiguamos que as empresas sabem, porém há casos em que há o desconhecimento do fato”, constata.

Para Pattussi, não há duvida: a legião de imigrantes vindos dos países fronteiriços com o Brasil tem endereço certo. “São trazidos às oficinas clandestinas de costura em São Paulo, que em sua grande maioria estão ligadas à cadeia de produção das grandes lojas”, enfatiza.

Tráfico de pessoas

Além do trabalho análogo à escravidão nas oficinas de costura clandestinas, a rede de exploração forja ainda outro crime: o tráfico de pessoas. Aliciados com a promessa de moradia, alimentação e salário, os imigrantes contraem dívidas com passagens, visto e toda permanência em São Paulo, sendo muitas vezes mantidos nesses espaços em decorrência de servidão por dívida.

Diante dessas circunstâncias, o tráfico de pessoas seria o alicerce para garantir um contingente de bolivianos, peruanos e paraguaios para mão de obra nas oficinas envolvidas no esquema de exploração.
“O crime de traficar pessoas nesse caso se constitui como uma condição, um meio que serve ao contexto de exploração do trabalhador no ramo têxtil de São Paulo”, elucida Juliana Armede, advogada e coordenadora dos programas de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e do Combate ao Trabalho Escravo da Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo.

Os diversos casos acompanhados pela advogada na Secretaria de Justiça apontam que o esquema de exploração de imigrantes costureiros na cidade fomenta o delito. “De maneira concreta, nós identificamos na cidade de São Paulo que o tráfico de pessoas, no âmbito latino-americano, sobretudo envolvendo os bolivianos, está destinado diretamente às oficinas clandestinas”, assegura Juliana.

Os responsáveis

Daslu, Sete Sete Cinco, GEP, Zara, Marisa, C&A, Pernambucanas, Collins, são algumas das empresas famosas nacionais e internacionais do ramo da moda que já tiveram seus nomes atrelados ao trabalho escravo.

O grupo espanhol Inditex, proprietário da marca Zara, registrou lucro recorde em 2012. Apesar da crise econômica na Europa, a empresa faturou 2,361 bilhões de euros. No ano passado, a companhia de moda espanhola abriu 482 novas lojas espalhadas em diversos países. Seu dono, Amancio Ortega, está entre os cinco homens mais ricos do mundo.

Segundo Juliana, as empresas cuja cadeia de produção esteja envolvida com trabalho escravo também teriam que ser responsabilizadas pelo tráfico de pessoas, como componente do processo de exploração trabalhista ilegal. “É necessário que responsabilize a empresa que ratifica a exploração, sobretudo, de um tráfico de pessoas do ponto de vista trabalhista”, menciona.

Todavia, não se pode garantir que mesmo as empresas já flagradas com trabalhadores em condição análoga à escravidão, em sua cadeia de produção, não repita mais o crime. A fiscalização constante do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Polícia Federal e do Sindicato das Costureiras de São Paulo, tem feito as oficinas clandestinas mudarem para outras localidades, não garantindo sua eliminação.

“Devido à inspeção do poder público e de entidades de classe, muitas dessas oficinas migraram para Carapicuíba, Osasco, Itaquaquecetuba e Campinas. Ir para o interior de São Paulo é uma maneira de se esconder melhor e dificultar possíveis denúncias dos trabalhadores envolvidos, além de dificultar o contato dos imigrantes com outras pessoas, como acontece facilmente no centro de São Paulo”, denuncia Pattussi.

(Foto: Anali Dupré/Repórter Brasil)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Mulheres no funk: poderosas ou dominadas?

Philippe Lima/Ag News


Seriam as garotas meras oprimidas nos bailes? Exerceriam, ao contrário, o papel de novas feministas? Uma pesquisadora do Rio acha que é preciso desfazer os dois mitos

Por Gabriela Leite

O estudo do funk, estilo musical muito popular e que sofre grande preconceito no Brasil, já existe nas faculdades de antropologia desde a década de 80. Mas faltam pesquisas sobre o papel da mulher neste ambiente. É o que diz Mariana Gomes, estudante de mestrado da Universidade Federal Fluminense em seu projeto “My pussy é o poder: A representação feminina através do funk no Rio de Janeiro: Identidade, feminismo e indústria cultural”. Para ela, que se diz fã do ritmo em seu blog, o funk pode ser responsável pela liberação sexual da mulher, mas é preciso compreender seus limites.

 

Tratado na mídia de forma sensacionalista (destacou-se sua suposta apologia a uma das cantoras), o projeto de Mariana deixa bem claro: precisamos compreender com mais profundidade o fenômeno. No funk carioca, a mulher não costuma ocupar papel de protagonista, mas de objeto de desejo — o que a coloca como ser passivo. Quando cantoras ganham destaque no gênero (como ocorre com Tati Quebra Barraco, Valesca Popozuda e outras MCs), elas de certa forma invertem os papeis e passam a expressar sua sexualidade de forma aberta e irreverente. Porém, Mariana questiona a forma como são recebidas pela sociedade, e se fazem mais que reafirmar esteriótipos machistas. As funkeiras subvertem ou seguem a lógica do mercado? Tais perguntas pretendem guiar o estudo.

 Foto de Mc Beyonce

Mariana quer quebrar esteriótipos — tanto os que dizem que as mulheres são apenas oprimidas no funk quanto os que as colocam como as novas feministas. É preciso compreender a fundo as questões envolvidas, deixando de lado o preconceito que considera que funk não é cultura, reconhecendo sua enorme importância no Rio de Janeiro, no Brasil e sua influência internacional.

 Sem fazer muito esforço, a funkeira Tati Quebra Barraco acaba de entrar na disputa das neodivas e subcelebridades pelo amor do público gay

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Capitães de Abril, um filme sobre a “Revolução dos Cravos” - Link para download do filme




O filme é mostrado pelos olhos de uma menina, filha de um casal que vive a fratura de sua união. A mulher quer lutar por transformações, acha que o marido militar é reacionário. Na verdade, ele integra o movimento revolucionário. A menina descobre que o seu pai é um herói, mas este fato não salva o casamento.

O povo saiu às ruas para apoiar os militares e os canhões. A florista distribui cravos aos revolucionários, como ocorreu na realidade, e o movimento ficou conhecido como Revolução dos Cravos. 
 

Tudo começou com uma senha, quando uma rádio veiculou, na madrugada de 24 para 25 de Abril de 1974, uma canção proibida pela ditadura - Grândola Vila Morena de Zeca Afonso. A partir daí, começou a movimentação dos militares, que logo teve o apoio dos civis.

A Revolução dos Cravos foi comandada por jovens oficiais de baixa patente, muitos dos quais inspirados em ideais democráticos e socialistas. Dentre estes heróis, observamos Salgueiro Maia, que rejeitou o poder político pessoal e que queria transferi-lo para o povo e que assistiu decepcionado o rumo dos acontecimentos.

 

Além das palavras de ordem políticas contra o fascismo, outras palavras de ordem mais prosaicas eram gritadas pelas ruas pelas mulheres e pelo povo português: “homens na cozinha”, “liberdade sexual”. Por tudo isso, o filme é obrigatório para todos.


Link para download do filme via torrent: Capitães de Abril 

Filme completo online:

 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Obama, o matador

http://www.anovademocracia.com.br/108/04.jpg

Por Fausto Arruda

Ao receber o Nobel da paz, logo após sua posse como porta-voz do imperialismo ianque, Barack Obama, como todos os chefes do império que o antecederam, usou a palavra 'paz' com o sinal invertido, ou seja, fez em seu discurso a apologia da guerra e, mais que isso, reivindicou para o USA o conceito de guerra justa.

O USA, juntamente com sua parceira Inglaterra, são historicamente as nações mais belicistas do mundo. Belicismo este a serviço da pilhagem, da espoliação, exploração e dominação de nações e regiões inteiras da face da Terra. Praticantes da guerra de agressão, estes países jamais poderiam se outorgar o direito de reivindicar a si o conceito de guerra justa, direito sagrado dos grupos, classes, povos e nações agredidas, espoliados e explorados.

Obama incrementa a guerra

 

Em sua recente visita ao Oriente Médio, com a esfarrapada desculpa de retomar as conversações de paz entre o sionismo e os palestinos, Obama desatou um nó que impossibilitava abreviar o desfecho de uma ofensiva com vistas à invasão da Síria: a ruptura entre Israel e Turquia após o ataque sionista ao barco turco, em 2010, com ajuda humanitária aos palestinos.

Sob a cortina de fumaça das conversações de paz entre judeus e palestinos, a diplomacia ianque costurou a reaproximação entre Israel e Turquia visando formar um eixo de ataque no qual estes países promovam sob a bandeira da Otan um ataque sanduíche sobre a Síria, capaz de destruir toda a resistência de Assad.

Para seus planos de dominação de um ampliado Oriente Médio, que iria desde o norte da África até o Irã, a queda da Síria abriria caminho para uma futura invasão do Irã, objetivo perseguido pelo USA e Israel e, também, pela própria Turquia. Obama pressionou Israel a pedir desculpas pelo ataque ao barco turco e a indenizar as famílias das vítimas, no que foi atendido. E, sem chamar atenção, num gesto aparentemente desproposital, pegou o telefone e ligou para Erdogan, o gerente turco, e passou para que Netanyahu "humildemente" formalizasse o pedido de desculpas. Feito isso, estava concluído o objetivo principal da viagem.

Com esta iniciativa, Obama não tem mais como sustentar a menor veleidade de se passar por um defensor da paz como tem apregoado em seus discursos.

Matador por "delivery"

 

Na verdade, sua prática desde o primeiro mandato tem sido, inclusive, de contradizer os discursos de campanha quando, por exemplo, prometia fechar os centros de tortura de Guantánamo e de Abu Ghraib, como também retirar suas tropas do Iraque e do Afeganistão. Ao retirar parte dos efetivos do exército os substituiu por mercenários, além de passar a usar em larga escala os drones – aviões não tripulados – para fazer ataques em série, atingindo os seus pretensos alvos e um sem número de populações civis.

Os drones são usados pelo USA para fazer trabalho de espionagem e aniquilamentos seletivos em qualquer lugar do mundo, a partir de bases militares no território ianque e, possivelmente, na Arábia Saudita. O uso de tais aparelhos tem sido contestado por juristas e entidades defensoras de direitos humanos por contrariarem as convenções de guerra internacionalmente consagradas, além de desrespeitarem a soberania dos países como Iemem, Etiópia, Paquistão, isto para não falar de Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria, locais onde o USA direta ou indiretamente faz a guerra.

O uso de tais aparelhos, iniciado na administração Bush filho, foi ampliado exponencialmente  por Obama e, segundo observadores, já eliminou cerca de 2.600 supostos "terroristas" escolhidos a dedo por informantes infiltrados nestas regiões. Acontece que o brinquedo, inicialmente apontado como extremamente "cirúrgico" pelos seus fabricantes e usuários, provoca uma tremenda destruição ao redor de seus alvos que atinge uma escala de dez civis para cada alvo, dito militar, eliminado.

Obama, portanto se arvora o direito de decidir sobre a morte de seus alvos militares, aos quais não possibilita a menor chance de defesa e sequer cogita fazer capturas com vida ou mesmo feridos, como defendem aqueles que modernamente procuram elaborar normas para a guerra. Quanto aos civis assassinados, o matador se resume a enviar pedidos de desculpas às famílias das vítimas com promessas de apuração as quais nunca se sabe o resultado.

A substituição de efetivos militares por aparelhos não tripulados tende a ser aplicada em larga escala pelo matador ianque, uma vez que com isso consegue reduzir em alguns milhões de dólares os gastos militares além de iludir o povo estadunidense que a cada guerra vê seus filhos retornarem em sacos pretos ou, na melhor das hipóteses, viciados em drogas ou em estado demencial.

A verdadeira guerra justa

 

O assassinato em massa desencadeado por Barack Obama não arrefece os ânimos daqueles que, em seus países, lutam para expulsar o invasor ianque através da justa guerra de libertação nacional ou daqueles que desenvolvem guerras populares. Estas, sim, por serem verdadeiramente guerras justas, multiplicam seus combatentes a cada mártir que cai. Enquanto persistir a dominação imperialista eles não darão um minuto sequer de tranquilidade ao inimigo.



segunda-feira, 22 de abril de 2013

Datas memoráveis do proletariado: 143 anos do nascimento de Lenin

http://www.anovademocracia.com.br/107/16a.jpg

Vladimir Ilitch Ulianov Lenin, dirigente do Partido Bolchevique, condutor da primeira revolução socialista, criador do Estado Socialista Soviético, grande mestre da ciência marxista, nasceu em Simbirsk (cidade russa que, após sua morte, em 1924, passou a se chamar Ulianovsk).

Ao ingressar na faculdade de direito, aos 17 anos, foi preso e expulso da universidade por participar de manifestações estudantis contra o czarismo. Na ocasião, um policial lhe disse: "Estás a lutar contra um muro de pedra", o que foi respondido prontamente pelo jovem Lenin: "Um muro sim, mas apodrecido e cairá com um pontapé".

Como organizador do primeiro círculo marxista em Samara, no final dos anos de 1890, Lenin destacou-se pelo profundo conhecimento da ciência do proletariado, pela dedicação ao estudo e pela incansável luta por aplicar o marxismo às condições concretas da Rússia, desenvolvendo-o a uma nova e segunda etapa com a realização e triunfo da revolução socialista. Sob sua direção, deu-se a unificação de todos os círculos operários marxistas de Petersburgo na ‘União de Luta pela Emancipação da Classe Operária’, primeiro gérmen do partido proletário revolucionário na Rússia.

Perseguido pela reação, no desterro, no outono de 1900 criou o primeiro jornal político dos marxistas para toda a Rússia, a Iskra (a Centelha). E foi através da Iskra que Lenin travou o mais implacável combate contra todo tipo de oportunismo, tal como o economicismo e o espontaneísmo que grassavam no seio do movimento operário russo e europeu.

O trabalho hercúleo de organização da luta prática do proletariado não foi obstáculo para que Lenin produzisse sua vasta obra, muito ao contrário, enfatizou que "sem teoria revolucionária não pode haver prática revolucionária". Em março de 1902 foi publicado o Que fazer?, que aplastou o economicismo e lançou as bases ideológicas e políticas para a construção do partido revolucionário do proletariado russo como partido de novo tipo.

Travou ferrenha luta contra os mencheviques e outras correntes oportunistas que ameaçavam frear o desenvolvimento da revolução, tal como em 1905. Em sua magistral obra Duas táticas da socialdemocracia na revolução democrática, Lenin demonstrou sua assimilação aguda do marxismo e o manejo da dialética materialista, dando aos comunistas russos e de todo o mundo a justa compreensão sobre os problemas da relação entre a revolução democrática burguesa e a revolução socialista, de como o proletariado era o mais interessado na revolução democrática para aprofundá-la e transformá-la em revolução socialista.

Sob a direção de Lenin e Stalin foi criado, em 1912, o periódico de massas Pravda (Verdade), importante instrumento de agitação e propaganda dos comunistas.

http://www.anovademocracia.com.br/107/16b.jpg

Lenin, estudando e compreendendo que o capitalismo teria esgotado sua fase de livre concorrência e entrara em outra, denominou-a como sua fase superior e revelou a sua particularidade de ser o capitalismo monopolista, parasitário ou em decomposição e agonizante. Mostrou que esta fase era a continuação de todas as características essenciais do capital, que tornara-se uma tendência para a reação e a guerra, que seu advento dividira o mundo em um punhado de nações opressoras por um lado, e do outro, a imensa maioria de nações oprimidas por aquelas potências, numa disputa constante pela partilha e repartilha  do mundo. Assim compreendeu como inevitável o desencadeamento da I Guerra Mundial. Lenin desmascarou os oportunistas encobertos pelo nome de marxistas que, seguindo a burguesia de seus países, abandonaram a bandeira da revolução e apoiaram seus governos na grande carnificina sobre as massas populares. Ao contrário disto, Lenin convocou os comunistas e o proletariado russo a transformar a guerra imperialista em guerra civil revolucionária. Nos ásperos tempos da guerra, Lenin aprofundou ainda mais seus estudos do marxismo e da realidade russa, produziu inúmeras obras no campo da filosofia marxista.

Em fevereiro de 1917 explode a revolução democrática depondo o Tzar e criando o governo provisório. Lenin rechaçou tomar parte nesse governo revelando-o como a resistência burguesa à continuação da revolução proletária. Formulou suas famosas Teses de abril, com que mostrava que surgira uma dualidade de poder e que o novo poder revolucionário não era o governo provisório e sim os Sovietes (conselhos) de delegados operários, camponeses e soldados. E que através de se passar todo o poder para os Sovietes se realizaria a transformação da revolução democrático-burguesa em revolução socialista.

Em duras condições de clandestinidade, a partir de julho daquele ano, Lenin segue dirigindo o partido. Nesse período, expõe com clarividência única toda a concepção marxista sobre o Estado e a Revolução com a obra de mesmo nome, desenvolvendo a teoria de Marx e Engels da ditadura do proletariado, da necessidade não de se tomar a máquina estatal da reação, senão que destruí-la e sobre suas cinzas erigir uma nova organização estatal como expressão do poder armado das massas sob hegemonia e direção do proletariado, através de seu partido.

Nos tormentosos meses de setembro e outubro de 1917, Lenin mantinha ligações com o Comitê Central do partido e mostrou que chegara a hora de assaltar o poder, de passar à tarefa da insurreição armada e que o partido teria de se incumbir dela, já que a maioria da direção dos Sovietes, dominada pelos mencheviques e esseristas1, havia passado para o lado da burguesia e assim a revolução perigava sob a iminência de se desencadear a contrarrevolução. Na noite de 24 de outubro (6 de novembro no calendário ocidental) de 1917, desatou a insurreição. Na madrugada do dia 25, Lenin pronunciou perante os delegados do Congresso dos Sovietes de toda a Rússia que o poder do proletariado em aliança com o campesinato pobre estava estabelecido.

Os anos que se seguiram foram de luta pela edificação do primeiro Estado socialista. As massas populares do campo e da cidade, dirigidas pelo agora Partido Comunista da Rússia (Bolchevique), demoliram golpe a golpe a velha ordem feudal/burguesa/imperialista e edificaram uma nova política, uma nova economia, um novo país.

Em 1919, como resultado do trabalho encabeçado por Lenin para reagrupar e reorganizar as forças do proletariado revolucionário internacional, foi criada a Terceira Internacional, ou Internacional Comunista, em oposição à traidora II Internacional, renegada do marxismo.

Lenin dedicou sua vida ao proletariado russo e internacional. Seu trabalho infatigável e sua abnegação sem limites, somadas aos constantes ataques da reação e atentados de que foi alvo por parte da reação, levaram a sua morte prematura, aos 53 anos de idade, no dia 1 de janeiro de 1924. Mesmo com a saúde bastante debilitada, Lenin foi até seu último suspiro o gigante de espirito indomável, homem de ciência e ação, titã do combate revolucionário e de inquebrantável fé nas massas e no futuro luminoso da humanidade.

__________________________________
 
1 Mencheviques: O menchevismo foi a principal corrente reformista pequeno burguesa na social-democracia da Rússia. Variedade do oportunismo internacional. O menchevismo se formou em 1903, no II Congresso do Partido Operário Social-Democrata da Rússia (POSDR), unificando adversários do princípio leninista de estruturação do partido de novo tipo, que ao serem eleitos os organismos centrais do partido, resultaram em minoria (o nome menchevique, em russo, significa minoria).

O menchevismo foi organicamente entrelaçado com o "marxismo legal" e o "economismo", assim como com o "bernsteinianismo" (do nome de E. Bernstein). Considerando que a burguesia era a principal força motriz da revolução democrática burguesa, e o campesinato, uma classe reacionária, o menchevismo refutava a hegemonia do proletariado naquela revolução e incitavam a classe operária a submeter-se à burguesia liberal [Fonte: Breve Diccionário Político - Editorial Progresso].

Esseristas: Membros do Partido Socialista-Revolucionário, partido pequeno-burguês que surgiu na Rússia nos fins de 1901 e princípios de 1902, em resultado da fusão de vários grupos e círculos populistas. O partido dos bolcheviques desmascarava as tentativas dos socialistas-revolucionários de se fazerem passar por socialistas, travava uma luta tenaz com os socialistas-olucionários pela influência sobre o campesinato, mostrava o prejuízo que a sua táctica do terror individual acarretava para o movimento operário. 

Nos anos da primeira guerra mundial a maioria dos socialistas-revolucionános ocuparam as posições do social-chauvinismo. Depois da vitória da revolução democrática burguesa de Fevereiro de 1917, os socialistas-revolucionários, em conjunto com os mencheviques e os democratas-constitucionalistas, foram o apoio principal do governo provisório contra-revolucionário da burguesia e dos latifundiários, e os seus dirigentes (Kérenski, Avéntiev, Tchernov) faziam parte dele.

O partido dos socialistas-revolucionários negou-se a apoiar as exigências do campesinato de liquidação da propriedade latifundiária da terra, pronunciando-se a favor da sua conservação. Os ministros socialistas-revolucionários do governo provisório mandavam destacamentos punitivos contra os camponeses que se apoderavam das terras dos latifundiários [Fonte: Lenin, Obras Escolhidas em três tomos].