sexta-feira, 12 de junho de 2015

Mais escolas, menos Revista Veja

Mais escolas, menos Revista VejaPor Francisco ToledoNa semana passada, o colunista gourmet Rodrigo Constantino destilou seu ódio de forma ainda mais agressiva através de sua coluna na revista VEJA. Com o título “Menos escolas, mais prisões”, o colunista disse que a educação no Brasil é propaganda marxista - mas esqueceu que foi o aparelho estatal de Geraldo Alckmin que renovou 5,2 mil assinaturas da própria revista Veja para distribuir onde? Nas escolas públicas![[MORE]]A publicação do Grupo Abril tem a fama de ser o representante chave do conservadorismo político e liberalismo econômico no Brasil. Mas quando bate o desespero por atenção (ou simplesmente a falta de pautas), eles costumam ser piores do que o normal. E na última semana, conseguiram.Pra começar, o famoso “menino maluquinho”, ou “colunista gourmet”, Rodrigo Constantino, resolveu cagar através do teclado em sua coluna no site da revista Veja. No dia 4 de junho, postou um artigo com o título: Menos escolas, mais prisões. Na realidade, o nível de mediocridade do artigo já poderia parar por ai. Mas o texto conta com aquele variado montante de péssimo jornalismo e desinformação já tradicionais de pessoas como ele, e de publicações como a Veja. Porém, tais argumentos são fáceis de driblar, questionar e refutar:1) A educação no Brasil, segundo Constantino, promove o “marxismo cultural”, e por isso, seria melhor desistir de uma vez: o colunista gourmet nunca deve ter vivido em uma sociedade pautada pelo marxismo para dizer a quantidade de absurdos como tal. Aliás, ele ignora completamente o fato de que, nas últimas décadas, a juventude brasileira tem se tornado cada vez mais vítima do consumismo pregado pelo capitalismo, isso envolvendo até os alunos das camadas mais pobres, que estudam nas escolas públicas - vide os “rolezinhos”.2) "E há garantia de que mais escolas levam a menos crime, por exemplo?“: Sim, Constantino, essa garantia existe. A economista Kalinca Léia Becker, em seu doutorado em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, resolveu estudar a relação entre educação e a violência, apontando como a escola pode contribuir para reduzir o crime. A pesquisa aponta que para cada 1% do orçamento investido em educação, a violência diminui em 0,1%. Nas escolas com atividades extracurriculares, como esporte, artes e cultura, há uma redução de 0,96% na possibilidade de um aluno cometer um ato agressivo.Outro exemplo, ainda sobre a relação educação/crime, é a Finlândia. Para o ódio do colunista gourmet, que odeia o Estado e acha que a iniciativa privada é Jesus em forma de dinheiro, a Escandinávia possui hoje o mais elevado padrão de vida, mesmo entre as nações desenvolvidas, e nos últimos anos tem se destacado positivamente no cenário europeu, focando no sistema educacional, que tem papel fundamental na obtenção de tal status quo. Hoje, países como a Finlândia, obtém na sua "sala de troféus” a primeira colocação no exame do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos). Observação: nos países da região, a educação é tratada como obrigação do Estado. Com isso, a Finlândia é considerado o segundo país mais seguro do mundo - atrás apenas da Islândia, outra nação onde a educação é problema do Estado, seguido dos social-democratas Noruega e Irlanda, Dinamarca e Canadá. O Brasil, país onde a educação é vista como objeto de lucro de terceiro mundo (até em um governo comunista, quem diria?), conta apenas com a 87º posição. Os dados pertencem ao Índice de Prosperidade de 2012, uma pesquisa global sobre a riqueza e bem-estar da população de 142 países ao redor do mundo.Foto: DivulgaçãoPosteriormente, o colunista gourmet afirmou que a sua coluna foi “distorcida” pela militância de esquerda, que leu apenas o título. Oras, qualquer estudante de jornalismo saberia dizer que o título de uma obra, seja um livro ou um artigo na internet, representa a ideia central da publicação. Sem contar que, se você ler o artigo por completo, verá que não existe drama: o cara realmente acredita naquilo. Constantino, a cagada já tá feita. O choro é livre. Sorte sua, que vivemos em um país comunista que censura a oposição, não? Não, pera…Enfim, ironicamente a revista que paga os salários de Constantino não parece odiar tanto assim o Estado. Prova disso é a renovação de 5,2 mil assinaturas da revista Veja pelo governo do estado de São Paulo. Observação: o processo foi realizado sem licitação, e adivinha pra ser distribuido onde? Nas escolas públicas de São Paulo! Seria a Veja, de Constantino, parte do plano diabólico do MEC&Paulo Freire para instaurar o marxismo cultural em nossa sociedade?Disso não sabemos, porém o que realmente temos certeza é de que a semana não tá sendo fácil pra Veja. Prova disso é o próximo tópico.A parada LGBT e a cruzNo domingo, ativistas realizaram uma intervenção na Parada LGBT em São Paulo, com uma travesti pregada em uma cruz. Apesar disso ter acontecido no domingo, só no dia seguinte as redes sociais começaram a bombar sobre o assunto. Inicialmente, foram os “líderes evangélicos” que começaram a apedrejar a atitude dos ativistas incitando o ódio.Mas foi o Facebook da revista Veja que deu maior destaque ainda para a pauta. Compartilhando “notícias” sobre o que havia ocorrido e a reação da ala cristã da sociedade, a publicação não incentivou o debate (que no bom jornalismo seria pesquisar e buscar a opinião de ambos os lados sobre o ocorrido), e sim a criminalização da intervenção e de todos os envolvidos. A partir dai virou uma verdadeira farra, um jogo de caça e caçador em pleno Facebook.Poucas horas depois do tema viralizar, o ocorrido já era pauta até no Congresso - claro, onde falta trabalho, sobra de tempo pra repercutir besteira. Os deputados da bancada evangélica chegaram a falar até sobre “cristofobia”.Mas a publicação do Grupo Abril parece esquecer que a própria, uma vez na história, já promoveu o uso da simbologia cristã para conseguir “comprovar seus argumentos”.Foto: capa de uma edicação da revista Veja, em 1981A imagem acima é de uma capa da revista Veja no ano de 1981, onde a publicação criticava a quantidade de impostos pagos pelo cidadão brasileiro através do uso da simbologia cristã: o trabalhador, de terno e gravata, crucificado pelos impostos que o Estado o obriga a pagar.Claro que, para a turminha de Constantino, a quantidade de impostos pagos pela classe média e 1% dos ricos é muito mais importante do que a vida de minorias que são perseguidas todos os dias. Claro que eu, homem branco de classe média alta, tenho meu sofrimento muito mais justo do que o de um homossexual - afinal, eu tenho de pagar quase 50% de impostos em um produto estrangeiro da Apple. Isso vale muito mais do que a quantidade absurda de 1 homossexual assassinado no Brasil a cada 28 horas, não?Na época, não ouvimos burburinho da bancada evangélica. Por que será?» Francisco Toledo é fotógrafo e Gestor de Conteúdos e Projetos do coletivo Guerrilha GRR

Por Francisco Toledo*

Na semana passada, o colunista gourmet Rodrigo Constantino destilou seu ódio de forma ainda mais agressiva através de sua coluna na revista VEJA. Com o título “Menos escolas, mais prisões”, o colunista disse que a educação no Brasil é propaganda marxista - mas esqueceu que foi o aparelho estatal de Geraldo Alckmin que renovou 5,2 mil assinaturas da própria revista Veja para distribuir onde? Nas escolas públicas!

A publicação do Grupo Abril tem a fama de ser o representante chave do conservadorismo político e liberalismo econômico no Brasil. Mas quando bate o desespero por atenção (ou simplesmente a falta de pautas), eles costumam ser piores do que o normal. E na última semana, conseguiram.

Pra começar, o famoso “menino maluquinho”, ou “colunista gourmet”, Rodrigo Constantino, resolveu cagar através do teclado em sua coluna no site da revista Veja. No dia 4 de junho, postou um artigo com o título: Menos escolas, mais prisões. Na realidade, o nível de mediocridade do artigo já poderia parar por ai. Mas o texto conta com aquele variado montante de péssimo jornalismo e desinformação já tradicionais de pessoas como ele, e de publicações como a Veja. Porém, tais argumentos são fáceis de driblar, questionar e refutar:

1) A educação no Brasil, segundo Constantino, promove o “marxismo cultural”, e por isso, seria melhor desistir de uma vez: o colunista gourmet nunca deve ter vivido em uma sociedade pautada pelo marxismo para dizer a quantidade de absurdos como tal. Aliás, ele ignora completamente o fato de que, nas últimas décadas, a juventude brasileira tem se tornado cada vez mais vítima do consumismo pregado pelo capitalismo, isso envolvendo até os alunos das camadas mais pobres, que estudam nas escolas públicas - vide os “rolezinhos”.

2) "E há garantia de que mais escolas levam a menos crime, por exemplo?“: Sim, Constantino, essa garantia existe. A economista Kalinca Léia Becker, em seu doutorado em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, resolveu estudar a relação entre educação e a violência, apontando como a escola pode contribuir para reduzir o crime. A pesquisa aponta que para cada 1% do orçamento investido em educação, a violência diminui em 0,1%. Nas escolas com atividades extracurriculares, como esporte, artes e cultura, há uma redução de 0,96% na possibilidade de um aluno cometer um ato agressivo.

Outro exemplo, ainda sobre a relação educação/crime, é a Finlândia. Para o ódio do colunista gourmet, que odeia o Estado e acha que a iniciativa privada é Jesus em forma de dinheiro, a Escandinávia possui hoje o mais elevado padrão de vida, mesmo entre as nações desenvolvidas, e nos últimos anos tem se destacado positivamente no cenário europeu, focando no sistema educacional, que tem papel fundamental na obtenção de tal status quo. Hoje, países como a Finlândia, obtém na sua "sala de troféus” a primeira colocação no exame do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos). Observação: nos países da região, a educação é tratada como obrigação do Estado. Com isso, a Finlândia é considerado o segundo país mais seguro do mundo - atrás apenas da Islândia, outra nação onde a educação é problema do Estado, seguido dos social-democratas Noruega e Irlanda, Dinamarca e Canadá. O Brasil, país onde a educação é vista como objeto de lucro de terceiro mundo (até em um governo comunista, quem diria?), conta apenas com a 87º posição. Os dados pertencem ao Índice de Prosperidade de 2012, uma pesquisa global sobre a riqueza e bem-estar da população de 142 países ao redor do mundo.


Posteriormente, o colunista gourmet afirmou que a sua coluna foi “distorcida” pela militância de esquerda, que leu apenas o título. Oras, qualquer estudante de jornalismo saberia dizer que o título de uma obra, seja um livro ou um artigo na internet, representa a ideia central da publicação. Sem contar que, se você ler o artigo por completo, verá que não existe drama: o cara realmente acredita naquilo. 

Constantino, a cagada já tá feita. O choro é livre. Sorte sua, que vivemos em um país comunista que censura a oposição, não? Não, pera…

Enfim, ironicamente a revista que paga os salários de Constantino não parece odiar tanto assim o Estado. Prova disso é a renovação de 5,2 mil assinaturas da revista Veja pelo governo do estado de São Paulo. Observação: o processo foi realizado sem licitação, e adivinha pra ser distribuido onde? Nas escolas públicas de São Paulo! Seria a Veja, de Constantino, parte do plano diabólico do MEC&Paulo Freire para instaurar o marxismo cultural em nossa sociedade?

Disso não sabemos, porém o que realmente temos certeza é de que a semana não tá sendo fácil pra Veja. Prova disso é o próximo tópico.

A parada LGBT e a cruz

No domingo, ativistas realizaram uma intervenção na Parada LGBT em São Paulo, com uma travesti pregada em uma cruz. Apesar disso ter acontecido no domingo, só no dia seguinte as redes sociais começaram a bombar sobre o assunto. Inicialmente, foram os “líderes evangélicos” que começaram a apedrejar a atitude dos ativistas incitando o ódio.

Mas foi o Facebook da revista Veja que deu maior destaque ainda para a pauta. Compartilhando “notícias” sobre o que havia ocorrido e a reação da ala cristã da sociedade, a publicação não incentivou o debate (que no bom jornalismo seria pesquisar e buscar a opinião de ambos os lados sobre o ocorrido), e sim a criminalização da intervenção e de todos os envolvidos. A partir dai virou uma verdadeira farra, um jogo de caça e caçador em pleno Facebook.

Poucas horas depois do tema viralizar, o ocorrido já era pauta até no Congresso - claro, onde falta trabalho, sobra de tempo pra repercutir besteira. Os deputados da bancada evangélica chegaram a falar até sobre “cristofobia”.

Mas a publicação do Grupo Abril parece esquecer que a própria, uma vez na história, já promoveu o uso da simbologia cristã para conseguir “comprovar seus argumentos”.

Capa de uma edicação da revista Veja, em 1981

A imagem acima é de uma capa da revista Veja no ano de 1981, onde a publicação criticava a quantidade de impostos pagos pelo cidadão brasileiro através do uso da simbologia cristã: o trabalhador, de terno e gravata, crucificado pelos impostos que o Estado o obriga a pagar.

Claro que, para a turminha de Constantino, a quantidade de impostos pagos pela classe média e 1% dos ricos é muito mais importante do que a vida de minorias que são perseguidas todos os dias. Claro que eu, homem branco de classe média alta, tenho meu sofrimento muito mais justo do que o de um homossexual - afinal, eu tenho de pagar quase 50% de impostos em um produto estrangeiro da Apple. Isso vale muito mais do que a quantidade absurda de 1 homossexual assassinado no Brasil a cada 28 horas, não?

Na época, não ouvimos burburinho da bancada evangélica. Por que será?

*Francisco Toledo é fotógrafo e Gestor de Conteúdos e Projetos do coletivo Guerrilha GRR