sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A corrupção ainda no primeiro plano



Por Marco Aurélio Nogueira


Nem seria preciso a recente descoberta de um vasto esquema de fraudes, ilícitos e cobrança de propinas no coração da Prefeitura de São Paulo para que a corrupção voltasse ao primeiro plano. Correndo ao lado da CPI do Cachoeira, da cassação do senador Demóstenes Torres e do vaivém que cerca o início do julgamento dos acusados pelo mensalão de 2005, as novas suspeitas turbinaram o problema. 

O caso paulistano é escabroso, para dizer o mínimo. Deixa patente que a corrupção tem mil tentáculos. Não é comandada por um centro articulador claramente localizado. Sua cabeça não está em Brasília, por exemplo. O fenômeno está disseminado, podendo se manifestar em qualquer canto do País, e talvez seja até mais grave quanto mais baixo se desce na estrutura político-administrativa do Estado, em que há menos fiscalização e controle. Também não é monopólio de nenhum grupo ou partido: todos estão sujeitos a ela e todos podem vir a praticá-la, ativa ou passivamente. Não reconhecer isso é limitação ideológica. 

Se quisermos enfrentar a sério o problema, vale a pena dilatar o conceito, para nele incluir, além dos crimes financeiros, uma série de procedimentos e atos que produzem menos frisson, mas são igualmente graves. Ou não haveria corrupção, por exemplo, na atitude de um parlamentar que se ausenta do plenário, mas permite que seus assessores registrem sua presença e votem em seu nome? Não seria corrupto um servidor público que exige do usuário dos serviços uma lista enorme de documentos e exigências só para postergar o atendimento ou justificar uma falha do sistema? Um policial que achaca e humilha um suspeito só pelo prazer de vê-lo acatar sua autoridade é tão corrupto quanto o cidadão que sonega o Imposto de Renda porque se convenceu de que o governo usa mal o dinheiro que arrecada. 

A corrupção é uma falha ética. Anda junto com o poder (político, econômico ou ideológico), como se fosse uma espécie de efeito colateral: onde há poder e poderosos há sempre a probabilidade de abuso, e no abuso está a raiz da corrupção. 

Nos tempos hipermodernos em que nos encontramos, a corrupção tornou-se um problema que desafia e surpreende. Redes, tecnologias de informação e comunicação, uso intensivo do espaço virtual, uma mentalidade que transforma tudo em mercadoria, oportunidade e negócio, um desejo socialmente incontido de consumir e ostentar, tudo isso atiça a corrupção. Faz com que ela tenda a ficar fora de controle, a ultrapassar fronteiras, a se sofisticar. O crime organizado, o narcotráfico, os atentados ambientais, a luta sôfrega por mercados, a facilidade com que se obtêm informações, são muitos os combustíveis. 

Mas o que a impulsiona também ajuda a freá-la: os mesmos fluxos virtuais funcionam como vitrines de atos escabrosos, roubando legitimidade deles e de certo modo controlando-os. A democratização da vida social faz o poder tornar-se mais visível e menos onipotente. Além do mais, o Estado brasileiro não é indefeso, está institucionalizado e bem aparelhado, dispõe de atualizados sistemas de controle internos e externos à administração pública, que criam incentivos à accountability, ao controle da burocracia, à isenção e à transparência. O poder público é vigiado pela sociedade civil, pela mídia, pela opinião pública, tem seus serviços avaliados cotidianamente pelos cidadãos. A corrupção é condenada pela opinião pública, algumas punições ocorrem e há muitos esforços governamentais para debelá-la. 

Mesmo assim, o problema persiste. O que sugere que ainda não conhecemos suficientemente os seus meandros e as suas determinações. 

Ainda não avaliamos, por exemplo, a real força que o dinheiro tem na modelagem do Estado, no exercício do poder político, no funcionamento do sistema representativo, no processo eleitoral e no modo de fazer política. Talvez por acreditarmos que um regime democrático esteja vacinado contra desvios e defeitos, menosprezamos a análise das relações entre os negócios e a democracia. Abandonamos a discussão sobre a qualidade da democracia, tema que agora frequenta alguns núcleos acadêmicos, mas ainda não estacionou no centro da agenda pública. 

Também não conhecemos a fundo o efeito que a falência dos partidos como sujeitos de programa, vontade e ação tem na maré montante da corrupção. Nossos partidos não são mais “escolas de quadros”, espaços privilegiados de seleção de lideranças ou organizadores de consensos sociais. Passaram a potencializar os defeitos do sistema partidário, sua permissividade exagerada, sua flexibilidade e sua falta de critério institucional. Colaboram, com ou sem intenção, para rebaixar a qualidade da política e aproximá-la do submundo. 

Esses dois fatores se combinam perversamente em nosso “presidencialismo de coalizão”, minando o que se tem de avanço institucional em termos de controles sobre o Estado. 

Por fim, precisamos acertar as contas com os fatores culturais da corrupção. Culpar a formação nacional ou a cultura política pelo que há de corrupção na sociedade é um mau caminho, em especial se não se levar em conta a dinâmica social e a construção do Estado. Não há uma maldição cultural oprimindo a sociedade, por mais que se tenha de reconhecer que nenhum povo é livre de moldes culturais e tradições, que aderem a seu corpo como uma segunda pele. Cultura política é uma construção social, que acompanha o desenvolvimento histórico. Não podemos ignorá-la, mas será um erro se a empregarmos para naturalizar a corrupção. 

Se juntarmos as pontas desse novelo, compreenderemos que a corrupção não é uma força da natureza, mas uma coisa dos homens. Em suma, algo que pode ser enfrentado e combatido, ainda que não possa ser peremptoriamente eliminado. 

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Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Unesp. 


Fonte: Acessa.com

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A nova batalha de Hugo Chávez


Em luta contra câncer, presidente reúne e encanta multidões. Suas conquistas são inegáveis. Ele promete: “quando eu me for, serei vocês”.
Por Ignacio Ramonet | Tradução: Antonio Martins
É a décima quarta. Desde qua ganhou sua primeira eleição presidencial, em dezembro de 1998, Hugo Chávez já submeteu-se – direta ou indiretamente – treze vezes ao sufrágio dos eleitores da Venezuela. Quase sempre, ganhou [1], em condições de reconhecida legalidade democrática, avalizada por missões de observadores enviadas pelas instituições internacionais mais exigentes (ONU, União Europeia, Centro Carter e outras).
O pleito do próximo 7 de outubro constituirá, pois, o décmo quarto encontro do mandatário com os cidadãos venezuelanos [2]. Desta vez, joga-se sua reeleição à presidência. A campanha eleitoral começou em 1º de julho, com duas singularidades notáveis em relação às votações anteriores. Primeiro, Hugo Chávez está saindo de treze meses de tratamento contra um câncer, detectado em junho de 2011. Segundo, a principal oposição conservadora aposta, desta vez, na unidade. Reagrupou-se no seio de uma Mesa da Unidade Democrática (MUD), que escolheu como candidato, por meio de eleições primárias (em 12 de fevereiro), Hugo Capriles Radonski, um advogado de 40 anos, governador do Estado de Miranda.
Filho de uma das famílias mais ricas da Venezuela, Henrique Capriles foi um dos artífices do golpe de Estado de 11 de abril de 202 e participou, com um grupo de putschistas, no assalto à embaixada de Cuba em Caracas [3]. Embora tenha origem na organização ultraconservadora Tradição, Família e Propriedade [4] e seja apoaido pelos setores mais direitistas (entre eles, os meios de comunicação de massa privados, que continuam dominando amplamente a informação), Capriles faz campanha habilmente. Reivindica todas as conquistas sociais do governo bolivariano. E até jura que seu modelo político é o de esquerda, do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva… [5] Mas aposta, sobretudo, no debilitamento físico do presidente Chávez [6].
Nisso, equivoca-se. O autor destas linhas, presente em julho passado na Venezuela, acompanhou as duas primeiras semanas de campanha do presidente, conversou várias vezes com ele, assistiu a alguns de seus extenuantes comícios para multidões. E pode testemunhar sua boa saúde e sua excepcional forma física e intelectual.
Desmentindo as falsas notícias que circularam em alguns meios de comunicação (Wall Street Journal El País], segundo as quais devido a supostas “metástases nos ossos e na espinha dorsal” teria apenas “seis ou sete meses de vida”, Chávez – que completou 58 anos em 28/7 – afirmou, para consternação de seus adversários: “Estou totalmente livre da enfermidade; a cada dia, sinto-me melhor”.
E voltou a surpreender os que apostavam numa presença apenas virtual na campanha, anunciando sua decisão de “retomar as ruas” e começar a percorrer os rincões da Venezuela, para conquistar seu terceiro mandato. “Disseram de mim: ‘Ele estará trancado em Miraflores (o palácio presidencial), numa campanha virtual por twitter e vídeos’. Zombaram de mim como quiseram. Pois aqui estou de novo, retornando, com a força indômita do furacão bolivariano. Já sentia falta do cheiro das multidões e do rugir do povo nas ruas”.
Este rugir, poucas vezes ouvi tão poderoso e tão fervoroso como nas avenidas de Barcelona (Estado de Anzoátegui) e de Barquisimeto (Estado de Lara), que acolheram Chávez em 12 e 14 de julho, respectivamente. Um oceano de povo. Uma torrente escarlate de bandeiras, símbolos, camisas vermelhas. Um maremoto de gritos, cantos, paixões, arrebatamentos.
Ao longo de quilômetros e quilômetros, no alto de um caminhão colorado que avançava abrindo espaço entre a multidão, Chávez saudou sem descanso a centenas de milhares de simpatizantes que foram vê-lo em pessoa, pela primera vez desde sua doença. Com lágrimas de emoção e beijos de agradecimento para um homem e um governo que, respeitando as liberdades e a democracia, atenderam aos humildes, resgataram a dívida social e deram a todos, por fim, educação gratuita, emprego, previdência social e habitação.
Para tirar as esperanças da oposição, Chávez, nos longos discursos eleitorais que pronunciou sem dar sinais de cansaço, começou dizendo: “Sou como o eterno retorno de Nietzche, porque na realidade venho de várias mortes… Que ninguém se engane, enquanto Deus me der vida estarei lutando pela justiça dos pobres. Mas quando eu me for fisicamente, ficarei com vocês por estas ruas e sob este céu. Porque já não sou eu, sinto-me encarnado no povo. Chávez já se fez povo e agora somos milhões. Chávez é você, mulher. Chávez é você, jovem. Chávez é você, criança; é você, soldado; são vocês, pescadores, agricultores, camponeses e comerciantes. Ocorra o que ocorrer comigo, não poderão resistir a Chávez, porque Chávez agora é um povo invencível”.
Em suas intevenções, não hesitou inclusive em criticar duramente alguns governadores e prefeitos de seu próprio partido, que descumpriram compromissos com os eleitores. “Tornei-me o primeiro opositor”, declarou. Mas também advertiu: “Pode-se criticar a revolução, mas não se pode votar na burguesia. Isso seria traição. Às vezes, podemos falhar, mas temos no coração amor de verdade pelo povo”.
Orador incomum, seus discursos são amenos e coloquiais, ilustrados de histórias, rasgos de humor e até canções. Mas são também, mesmo que não pareçam, verdadeiras composições didáticas muito elaboradas, muito estruturadas, preparadas de maneira muito séria e profissional, com objetivos concretos. Trata-se, em geral, de transmitir uma ideia central, que constitui o tronco de seu percurso discursivo. Nesta campanha, vai expondo e explicando metodicamente seu programa [7].
Mas, para não cansar nem ser pesado, Chávez afasta-se amiúde deste tronco principal e realiza o que poderíamos chamar de excursões em campos anexos (histórias, recordações, chistes, poemas), que não parecem ter nexo com seu propósito central. Mas sempre têm. E isso permite ao orador, depois de ter aparentemente abandonado por bastante tempo seu curso central, regressar a ele e retomá-lo no ponto exato onde o deixou. O que produz, de modo subliminar, um prodigioso efeito de admiração no auditório. Esta técnica retórica permite-lher fazer discursos de enorme duração.
Em seus recentes discursos eleitorais, Chávez compara as políticas de demolição do Estado de bem-estar social, executadas em vários países da União Europeia (cita, em particular, os brutais cortes feitos por Mariano Rajoy, na Espanha), com as importantes conquistas sociais de seu governo, empenhado em seguir “construindo o socialismo venezuelano”.
Em seus catorze anos de existência (1999-2012), a Revolução Bolivariana conseguiu, em âmbito regional, avanços consideráveis: criação da Petrocaribe, da Petrosul, do Banco do Sul, da ALBA, do Sucre (Sistema Único de Compensação Regional), da Unasul, da Celac, ingresso da Venezuela no Mercosul. E tantas outras políticas, que fizeram da Venezuela de Hugo Chávez um manancial de inovações para avançar até a independência definitiva da América Latina.
Ainda que campanhas agressivas de propaganda afirmem que, na Venezuela bolivariana, os meios de comunicação estão controlados pelo Estado, a realidade – verificável por qualquer testemunha de boa-fé – é que apenas uns 10% das emissoras de rádio são públicas; as 90% restantes são privadas. E não mais que 12% dos canais de TV são públicos, ficando 88% em mãos privadas ou comuntárias. Entre os jornais impressos, os principais diários, El Universal El Nacional, são privados e sistematicamente hostis ao governo.
A grande força do presidente Chávez é que sua ação concentra-se sobretudo no social (saúde, alimentação, educação, habitação), o que mais interessa aos venezuelanos humildes (75% da população). Consagra 42,5% do orçamento do Estado a inversões sociais. Reduziu à metade a mortalidade infantil. Erradicou o analfabetismo. Multiplicou por cinco o número de professsores nas escolas públicas (de 65 mil para 350 mil). A Venezuela à hoje o segundo país da região com maior número de estudantes matriculados no ensino superior (83%), atrás de Cuba mas à frente da Argentina, Uruguai e Chile; e é o quinto no plano mundial, superando Estados Unidos, Japão, China, Reino Unido, França e Espanha.
O governo bolivariano generalizou saúde e educação gratuitas. Multiplicou a construção de casas. Elevou o salário mínimo (o mais alto da América Latina). Concedeu aposentadorias a todos os trabalhadores (inclusive os informais e donas-de-casa) e todos os idosos, mesmo aqueles que nunca contribuíram. Melhorou a infra-estrutura dos hospitais. Oferece às famílias modestas, por meio do sistema Mercal, alimentos 60% mais baratos que nos supermercados privados. Limitou os latifúndios, multiplicando por dois a produção de alimentos. Assegurou formação técnica a milhões de trabalhadores. Reduziu as desigualdades. Rebaixou a pobreza a menos de 1/3. Reduziu a dívida externa. Acabou com a pesca de arrasto, antiecológica. Impulsionou o ecossocialismo…
Todas estas ações, desenvolvidas há 14 anos, explicam o apoio popular a Chávez, que promete, em sua campanha: “Tudo o que fizemos é pouco, comparado ao que faremos”.
Testemunhei que milhões de pessoas humildes o veneram como um santo. Ele – que foi garoto pobre, vendedor ambulante de doces, nas ruas de sua cidade – repete com calma: “Sou candidato dos humildes, e me consumirei a serviço dos pobres”. Seguramente irá fazê-lo. Certa vez, a escritora Alba de Céspedes perguntou a Fidel Castro como pôde ter feito tanto por seu povo. Ele respondeu simplesmente: “Com grande amor”. A respeito da Venezuela, Chávez poderia dizer o mesmo. E que pensarão os eleitores venezuelanos? Respostas em 7 de outubro.
  
[1] Perdeu apenas, por margem ínfima, o referendo de 2 de dezembro de 2007, sobre um “projeto de reforma constitucional”.
[2] Além de Hugo Chávez, outros seis candidatos disputam as eleições de 7 de outubro: Henrique Capriles Radonski, pela Mesa da Unidade (MUD); Orlando Chirinos, pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSL); Yoel Acosta Chirinos, pelo partido Vanguarda Bicentenária Republicana (VBR); Luís Reyes Castillo, pela Organização Renovadora Autêntica (ORA); María Bolivar, pelo Partido Democrático Unidos pela Paz e Liberdade (PDUPL) e Reina Sequera, pelo Partido Poder Popular (PP).
[3] Leia-se, de Gilberto Maringoni, “En Venezuela, Chávez sigue favorito”, Le Monde Diplomatique em espanhol, maio de 2012. Leia-se também, de Romain Mingus, “Henrique Capriles, candidat de la droite décomplexée du Venezuela”, Mémoire des luttes, 28/2/2012.
[4] Foi co-fundador de seu braço venezuelano.
[5] Lula enviou a Chávez, em 6 de julho, uma mensagem pública em que lhe manifestou pleno apoio na caompanha eleitoral, afirmando: “Tua vitória será nossa vitória”.
[6] Em meados de julho, as principais pesquisas de opinião davam a Chávez uma vantagem entre 15 e 20 pontos percentuais sobre Henrique Capriles.
[7] Propuesta del candidato de la patria Comandante Hugo Chávez para la gestión bolivariana socialista 2013-2019, Comando de Campanha Carabobo, Caracas, junho de 2012.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A Negação do Brasil - Links para Downloads do Documentário e do Livro





A Negação do Brasil é um dos documentários mais importantes dos últimos dez anos, pois tem como gancho para discutir a questão racial no Brasil uma coisa muito comum no cotidiano dos brasileiros, as telenovelas. Qual brasileiro que tem televisão em casa nunca teve uma novela da sua preferência? As novelas se tornaram algo muito importante de certa forma influenciadoras da nossa sociabilidade contemporânea. 

O problema não é assistir ou não as novelas, mas perceber como elas reforçam ou revitalizam certos imaginários sociais preconceituosos e racistas. O diretor, Joel Zito, vai fundo nas telenovelas ao apresentar os papéis que os atores negros tem feito faz uma discussão muito profunda sobre preconceitos, racismo, esteriótipos e construção da brasilidade, ou seja, dos parâmetros que dizem o que é ser brasileiro.

O diretor mostra que apesar do sucesso de Isaura Bruno, primeira atriz negra na novela “Direito de Nascer”, em 1965, a carreira dela não "foi para frente". Se o padrão não se repetiu totalmente, pois tivemos diversos atores(izes) trabalhando em novelas, a permanência foi o tipo de papéis que os diretores ofereciam para esses atores, independente da suas qualidades profissionais. Ela fez o papel de uma empregada, a “mamãe Dolores”, e sem saber iniciou o que seria uma constante, ou seja, os papéis de empregados subordinados. Depois de algumas décadas foi montado outro padrão que é o de famílias negras cheias de problemas e desestruturadas, quando comparadas a famílias da mesma novela.

O documentário é uma excursão na história das telenovelas no Brasil onde não é possível sair ileso ao assisti-lo. É como um véu caindo. Como entender a ausência de atores em personagens diversos. Só uma explicação é plausível para explicar o que acontece nestes mais de 40 anos de telenovelas, o racismo.

A negação do Brasil é um aviso de como as novelas negaram (e negam) espaço a metade do povo brasileiro, ou seja, os negros.


Junto com o documentário foi publicado um livro.






Filme completo online no link: A Negação do Brasil



Links para downloads do documentário e do livro:


terça-feira, 7 de agosto de 2012

INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE EDUCAÇÃO EM GREVE: O QUE ESTÁ EM DISPUTA?


Por André Lázaro*


A greve de professores das instituições federais de educação levanta o debate necessário sobre o que está em disputa neste momento na educação brasileira. Após seis anos sem qualquer paralisação por motivos salariais, a maioria das Universidades e boa parte dos Institutos Federais, além do Colégio Pedro II, estão em greve. Trata-se do esgotamento de um modelo antigo ou da crise de um novo modelo que mal se iniciou? 

A educação tem merecido atenção crescente no debate público. A crítica feroz aos resultados atuais dos estudantes da educação básica, no entanto, nem sempre se recorda dos baixíssimos investimentos e péssimo acompanhamento da qualidade que orientaram a política da educação superior nos anos de 1990. Hoje ainda colhemos frutos desses equívocos: baixa qualidade da formação de professores, disputas de mercado entre as instituições privadas com redução de custos por meio da demissão de profissionais qualificados, instituições públicas que ignoram o compromisso com a educação básica.

Os investimentos públicos no ensino superior nos anos de 1990, sua expansão e interiorização, foram frutos dos esforços das universidades estaduais. A política que vigorou até o início dos anos 2.000 apostava no fortalecimento da iniciativa privada em educação, deixando as instituições federais à mingua. A partir do início da década passada o Governo Federal passou a investir na visão sistêmica da educação e tomou diversas iniciativas para fortalecer a educação superior, inclusive em sua articulação com a educação básica. Em destaque, a reestruturação das universidades federais pelo Reuni (Programa de Apoio a Planos de reestruturação e Expansão das Universidades Federais), que significou mais recursos de investimento e de custeio e contratação de professores e técnicos, tanto para suprir as deficiências herdadas da década anterior quanto para sustentar a expansão em curso. Do mesmo modo, a rede de educação profissional e tecnológica, negligenciada na década de 1990, recebeu novos recursos de investimento e de custeio e contratação de pessoal. Em parceria com diversas instituições de educação superior, a Universidade Aberta do Brasil foi ampliada e a educação a distância chega a municípios bastante afastados das cidades universitárias. São iniciativas de grande porte que demandam sustentação de longo prazo e políticas de Estado para lhes darem o tempo de maturação necessário. Construir é mais demorado do que desmontar...

Por outro lado, o Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior) ganhou consistência e consequência: mesmo instituições federais foram advertidas quando seus resultados estavam aquém do necessário. E, pela primeira vez na história do país, foram fechadas vagas em cursos de baixo rendimento, tanto em pedagogia quanto em medicina e direito.

Hoje os estudantes no nível superior, pouco mais de 6,3 milhões, estão distribuídos entre instituições privadas, com 74,2% das matrículas, e instituições públicas, com 25,8%. As instituições públicas, no entanto, têm papel a cumprir: foram as que iniciaram ações afirmativas para inclusão da diversidade, são elas que seguem abrindo campi no interior do país, são elas que oferecem a maioria dos cursos de pós-graduação, que desenvolvem pesquisas e extensão universitárias.

A atual expansão da educação superior recoloca questões que já estavam à mesa, mas agora se tornam urgentes visto o papel estratégico que as Instituições passam a ter no modelo que se pretende fortalecer no país. A carreira que está em debate na greve precisa ser reformulada em valores e em estrutura. É preciso valorizar adequadamente a dedicação exclusiva, oferecer as adequadas condições para as pessoas que dedicam a vida a produzir conhecimento novo (pesquisa), formar as novas gerações (ensino) e a disseminar o conhecimento pela sociedade (extensão), além de levar esse conhecimento ao setor produtivo, numa via de mão dupla (inovação tecnológica). Isso não se faz sem professor ou sem os técnicos. 

Portanto, a greve em curso deve ser lida no contexto do crescimento e da expansão, diferente de como se dava nos anos de 1990, quando havia um contexto de agonia e esfacelamento da rede federal frente ao fortalecimento do setor privado.

Após a década de 90, repleta de greves e impasses, as negociações caminhavam para consolidar um rumo e etapas a serem cumpridas. No entanto, mudanças de governo e o trágico falecimento do secretário do planejamento que conduzia as negociações, Duvanier Ferreira (cuja morte por negligência motivou a lei recente que criminaliza a exigência de cheque caução nos hospitais) trouxeram consequências inesperadas. Parece que se perdeu o rumo da prosa e o horizonte da carreira.

Vivemos um novo momento e a greve expressa exatamente essa tensão entre o novo e o velho. A greve atual, por mais forte que seja e mais ampla que possa se tornar, representa a necessidade de superar definitivamente tanto um desenho de carreira inadequado quanto um padrão de negociação burocratizado. A dedicação que se espera das Instituições Federais de educação superior não pode estar sujeita a variações anuais. A educação é investimento de longo prazo, inclusive – e talvez principalmente – para professores e pesquisadores que necessitam de tempo e condições para desenvolver o trabalho de ensino, pesquisa e extensão. 

O país ainda está construindo as soluções que foram negadas na década de 90. Como todo percurso histórico, o atual tem suas tensões e contradições, mas tem também uma direção: dotar o Brasil de um parque de instituições capaz de produzir inteligência e inovação, ser inclusivo de sua diversidade étnico-racial, social e cultural e se distribuir por todo o território, visando à superação das históricas desigualdades regionais.



* Professor da Faculdade de Comunicação Social da UERJ e Coordenador Executivo do GEA-ES (Grupo Estratégico de Análise da Educação Superior no Brasil) da Flacso-Brasil. Foi Diretor no MEC de 2004 a 2006 e Secretário de 2006 a 2010.


Fonte: FLACSO

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Debate - Prefeitura Rio (Marcelo Freixo x Eduardo Paes) - BAND Eleições 2012


Separei algumas falas de Marcelo Freixo do debate realizado na Rede Bandeirantes, abaixo encontra-se um vídeo com o embate do verdadeiro candidato da esquerda com o atual Prefeito.

“É política de promoção pessoal, gasto abusivo e desnecessário (referente ao aumento de gastos em 13700% com publicidade na Prefeitura). É o uso de dinheiro público para interesse privado” (...) “A saúde do Rio é uma emergência. Os dados são os piores do Brasil. Não sou eu que estou dizendo: é o governo federal, aliado da prefeitura. A prefeitura vai terminar o ano gastando R$ 2,4 bilhões em Organizações Sociais. É dinheiro mal aplicado”

"Há um registro de crescimento de 13.700% dos gastos com publicidade na gestão do atual prefeito. Paralelamente, temos a cidade com a pior saúde pública do país, segundo dados do próprio Ministério da Saúde, aliado do prefeito. A nossa educação teve a pior nota do Ideb. Por que o prefeito não usa a publicidade para combater a tuberculose e a dengue? Tem como usar o dinheiro para fins realmente úteis para a população. Mas a prioridade da atual gestão é empregar a verba em prol do interesse privado" Freixo voltou a reproduzir na tréplica.

"Pelo visto o silêncio em relação ao metrô vai continuar. Esse sim é transporte de massa. Ônibus não é transporte de massa nem no Rio nem em qualquer lugar do mundo. Você sabe disso, vocês viajam muito no PMDB. Se você for para Paris ou Londres, lugares que são muito frequentados por lideranças política do Rio (citando o governador do Estado, Sérgio Cabral, que foi fotografado jantando na capital francesa com o empreiteiro Fernando Cavendish), vai perceber que o metrô funciona"

"Eu quero dizer que a licitação que você fez em 2010 para os ônibus, a que indicou o BRT, (sistema no qual) vocês anunciam que vai carregar 30 mil por hora, sendo que o BRT (cada ônibus) tem 160 vagas. Ou seja, só se passar um BRT a cada 20 segundos. Então não é verdade o que vocês dizem. Na licitação de 2010, o Tribunal de Contas do Município viu indícios fortíssimos de formação de cartel. É isso que tem por trás do seu grande apoio a Fetranspor"

“Não podemos tolerar uma transformação tão profunda sem um verdadeiro debate democrático. Questões sobre educação e saúde ficaram muito claras aqui dentro. Estamos em segundo lugar nas pesquisas. Se cada eleitor conseguir mais um voto, conseguimos ir para o segundo turno” (...)  “No PSOL nós temos princípios, diferente de alguns, como o nosso atual prefeito que já foi do PSDB, do DEM e do PFL e já foi do PV” (...) “Não fui buscar no meu vice alguém que me desse mais tempo de televisão. O Marcelo Yuka agrega valores na sua vida, que nós queremos para a política. Teremos uma campanha de rua e de rede. Não teremos tempo de TV. É uma militância que tem ideais. É com e inteligência e proposta que queremos um novo Rio de Janeiro”


Vídeo do Debate - Prefeitura Rio (Marcelo Freixo x Eduardo Paes) - BAND Eleições 2012