sábado, 19 de maio de 2018

O que é a “Geringonça portuguesa”?

 
Antonio Costa (Valter Campanato / Agência Brasil)
“Geringonça” é o apelido dado ao governo que assumiu o poder em Portugal em novembro de 2015. O gabinete é liderado pelo primeiro-ministro Antonio Costa, do Partido Socialista (PS), de centro-esquerda, e se sustenta em acordos com três siglas cujas ideias são em geral classificadas como de extrema-esquerda no contexto europeu — o Partido Comunista Português (PCP), o Bloco de Esquerda e o partido Os Verdes.

A Geringonça se formou de maneira improvável. Após governar Portugal por quatro anos entre 2011 e 2015, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, do Partido Social Democrata (PSD), de centro-direita, venceu as eleições legislativas de 4 de outubro de 2015 com 38,5% dos votos (coligado com o Partido Popular), cerca de seis pontos à frente do PS, que disputou sozinho.

Passos Coelho não conseguiu, no entanto, manter a maioria no parlamento português, a Assembleia da República, que havia lhe permitido implantar a política de austeridade exigida pela União Europeia em meio à crise da dívida no continente.

Em 10 de novembro de 2015, o gabinete provisório da centro-direita foi derrubado por uma coalizão de partidos de esquerda e extrema-esquerda, que detinham maioria na formação pós-eleitoral da assembleia.

União das esquerdas

A derrubada do governo de centro-direita só foi possível por conta da união das esquerdas em torno do nome de Antonio Costa e do Partido Socialista. Tal acordo se deu meio a uma saraivada de críticas.

Economicamente, analistas avaliavam que a coalizão esquerdista colocaria o país em apuros, uma vez que Costa prometia “virar a página da austeridade” e reduzir o alcance de uma política econômica que agradava ao mercado financeiro, mas que aumentou o desemprego no país.

Cartoon de Vasco Gargalo realizado para uma reportagem do canal RTP que regista o segundo aniversário dos inéditos acordos de Governo entre PS, Bloco de Esquerda, PCP e Verdes (Reprodução)

Politicamente, a coalizão era criticada por ser apontada como frágil, uma vez que havia muitas diferenças entre os integrantes da união. Neste contexto, Paulo Portas, então presidente do CDS — Partido Popular, um partido conservador, fez um duro discurso contra Antonio Costa e afirmou que a coalizão não era “um governo, mas uma geringonça”. Tratava-se de uma paráfrase de uma crônica de Vasco Pulido Valente, no jornal Público.

Literalmente, geringonça significa o que é malfeito, com estrutura frágil e funcionamento precário; um aparelho ou mecanismo de construção complexa.

O epíteto, então depreciativo, passou a ser adotado por comentaristas políticos e também por integrantes da “geringonça”, e hoje ganhou uma conotação positiva, por designar a força de um governo apontado como fraco em sua origem.


Fonte: Medium