quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Docência como vandalismo!



Por Fábio Py Murta de Almeida (*)
Sou professor desde que me conheço por gente. Só sei fazer isso na vida. Não por força de não apreender outra função/profissão (ou, não querer), mas é parte integrante do eu. Tomando a vida na mediação da leitura, crítica e explanação como linhas fundamentais da prática cotidiana. Passei por instituições públicas e privadas, tanto dos meios urbanos e nas áreas mais agrícolas. Trabalhei nos setores básicos: ensino fundamental e médio.
Agora, difícil/duro é passar pela formação de 4 ou 5 anos nos quadros da licenciatura e receber a matrícula do valor próximo das bases do salário mínimo. O que se percebe já quando se olha nos quadros das profissões e se afere que sua profissão, na qual estudou se formando e se pós-graduou tendo aceitação grande na população e das partes governamentais, tem um valor pífio.
Deve ter algo errado nesse quadro, não? Mas, não é só isso. Infelizmente, isso já é parte domodus operandi de como são tratados a classe professoral. O que foi proposto na área do Rio de Janeiro foi uma medíocre reformulação no sistema de plano de cargos, que, ainda sim, não chega a dois terços dos valores das demais profissões. Proposto por uma ex-funcionária das grandes empreiteiras que levam a hegemonia do Estado.
O que significa que a atual gestão não conhece a lógica docente, e faz uma horrenda troca da atividade docente pelos botijões empresariais capitalistas. Só conhecem metas mercadológicas. Nunca pisaram na complexidade das salas de aulas. Ainda assim, mesmo na lógica patronal capitalista da educação, os valores do que se paga para os docentes frente aos demais países da própria América Latina é uma piada. A piada ainda é maior, porque o governo propõe um plano de cargo que a totalidade dos professores não pode aderir, pois senão o governo vai falir. Constroem um plano que não serve para toda classe. Segregam ainda mais um grupo historicamente abandonado nos mandatos.
Daí, o que esperar dos professores? Que aceitem? Que se calem? Jamais! Professores: aqueles que acreditam na humanização da prática docente vão da teoria para prática! Acham que movimentos sociais que brotam nos nossos solos foram feitos e construídos apenas de demandas comuns? De forma alguma. Há neles uma prática/reflexão classista.
Logo, há uma demanda educacional crítica. Assim, os professores com o compromisso à função sempre deram exemplo de luta, seja em Niterói ou agora no Rio de Janeiro. Afinal, ocupar um espaço público é um ato político! Mostra que as atividades desses locais ocupados não servem a quem merece e tem direito sobre esse. Por isso, merecem a interdição. Pois, da forma que se encontram só servem ao ócio!
Engraçado que os autores da velha mídia, os representantes do estado e da prefeitura, ou não tratam dos atos, e/ou se preocupam em caracterizar o movimento de professores de “vândalos”. Quando não apelam à polícia-política com seus porretes e gás pimenta. Como se não bastasse, professores lutam contra escolas sem condições, o desprezo da mídia e os contra-cheques de todos os meses. Merece nota o fato de o atual prefeito do Rio de Janeiro num canal público ter indicado que hoje o governo tem condições de repartir os valores, e governar melhor para todos.
O dito foi digno de risada – daquelas escandalosas. Pois, depois sua secretária de educação afirma que não tem condições de onerar a toda classe professoral o bendito plano de cargos de 40 horas semanais. Vai quebrar o quê? As parcerias que se fazem em prol do sistema Rio-Copa-Olimpíadas? De fato, é isso que não querem mexer. Os eventos foram eleitos os mais importantes para o Brasil, se esquecendo que sem educação não temos atletas e pessoas formadas para fazer jus a esses eventos.
Enquanto isso, o Rio de Janeiro ironicamente caracterizado como capital da cultura segue tendo os piores índices de ensino-educação do Brasil. Efetivamente, não dá para entender que condições são essas que o Estado e a Prefeitura entendem que dá para gerir para todos. No meio disso tudo, os professores seguem se organizando e lutando. Apanham de todos os lados. Na luta por melhores condições e um plano educacional mais justo. Afinal, lutam também para não acumular materiais fora de sua formação, para favorecer o sistema ensino-aprendizagem.
Lutam pelo melhor, no processo educacional. Por isso, que podem sim ser chamados de “vândalos” – nomeação que não é tão ruim. Isso por que os vândalos são outros povos e grupos que não estão no poder dos impérios, dos assassinos disfarçados. É uma nomeação da antiguidade, dada pelo Império Romano contra os outros povos que lutavam e os invadiam e tinham outro modo de vida.
Assim, os professores em greve vandalizam: não assumem o projeto apresentado pelas lideranças governamentais. Não aceitam (a merda!) de vida proposta pelas elites governamentais. Cruzam os braços, manifestam, vão contra a corrente ao invés de seguir as atividades de apoio ao governo. Vândalos sim! Confrontam os espaços legislativos com o ócio, pois as reuniões normais não servem a população geral.
Preferindo apanhar do Estado que aceitar o descaso na forma que são tratados hoje. Optam por sangrar, do que permanecer com a educação que segue. Mostram que para ser professor no Rio de Janeiro não apenas basta ganhar mal, tem que apreender a apanhar! Me disseram que esse será mais um ponto acrescentado ao próximo edital de concurso público da prefeitura e do estado do Rio de Janeiro.
Fábio Py Murta de Almeida é professor e doutorando em Teologia pela PUC-RJ. Articulador do blog: fabiopymurtadealmeida.blogspot.com

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Como empresas privadas de tecnologia coletam dados sobre você



Por Pratap Chatterjee


O que o FBI faz hoje é pequeno comparado ao que a NSA sonha em fazer: adquirir e armazenar o tráfego de dados não só de uma nação, mas do planeta todo.



O Grande Irmão está te vigiando. Dentro do seu celular e escondido por trás do seu navegador na internet estão os pouco conhecidos produtos de software, comercializados por pessoas contratadas pelo governo, e que podem te seguir por qualquer lugar. Não são mais fantasias de teóricos da conspiração, essas tecnologias são rotineiramente instaladas em todos os seus dispositivos de dados por companhias que os vendem para Washington.

Isso não é o que eles dizem que estão vendendo, é claro. Não, a mensagem é muito mais sedutora: Dados, como costuma dizer o Vale do Silício, é o novo petróleo. E a mensagem do Vale é clara o suficiente: nós podemos transformar suas informações digitais em combustível por prazer e lucro – se você nos der apenas acesso a sua localização, a sua correspondência, a sua história e ao seu entretenimento favorito.

Já jogou Farmville? Fez check-in no Foursquare? Ouviu música no Pandora? Esses novos aplicativos sociais vêm com um preço óbvio: as propagandas irritantes que acreditamos ser o que pagamos para nos divertir. Mas tem um segundo preço mais disfarçado – os nossos dados que damos de presente. Assim como petróleo bruto, isso pode ser refinado em muitas coisas – o jato de combustível de alta octanagem para nossas mídias sociais e o asfalto e breu do nosso passado que preferíamos esconder ou esquecer.

Abrimos mão de todas essas informações voluntariamente para as grandes companhias de dados e em troca eles facilitam nossa comunicação e nos enchem de diversão. Como o Google, que nos oferece email grátis, armazenamento de dados, e telefones para muitos de nós, ou o Verizon, que fornece conexão para smartphones e telefones residenciais.

Mas há um segundo tipo de companhia de dados do qual muitas pessoas não sabem: aparelhagem de alta tecnologia que simplesmente permite ao governo dos Estados Unidos escavar o nosso passado e o presente. Alguns desses serviços são legais, desde que muitos de nós concordemos em entregar os direitos das nossas informações digitais assinando termos que poucos se preocupam em ler. Porém, muitos desses serviços são, para dizer educadamente, questionáveis.

Essa segunda categoria é formada por profissionais de empresas de vigilância. Eles geralmente trabalham ou vendem seus produtos para o governo – em outras palavras, são pagos com o dinheiro de nossos impostos – mas não temos nenhum controle sobre eles. Harries Corporation disponibiliza tecnologia ao FBI para seguir, por nossos celulares, onde nós vamos; Glimmerglass constrói ferramentas que o órgão de inteligência dos Estados Unidos pode usar para intervir em nossas ligações para o exterior; e companhias como a James Bimen Associates projetam software para invadir nossos computadores.

Ainda tem uma terceira categoria: corretores de dados como o Acxiom, empresa do Arkansas. Essas companhias monitoram as nossas buscas do Google e vendem as informações para anunciantes. Eles possibilitam à Target oferecer roupas de bebês para adolescentes grávidas, mas também podem acompanhar seus hábitos de leitura e qualquer questão que você busca no Google, de pornografia a terrorismo, provavelmente para te vender Viagra e rifles de assalto.

Localizando você

Edward Snowden fez ao mundo um grande serviço nos dizendo o que Agência de Segurança Nacional (NSA) faz e como manipularam, ameaçaram e intimaram companhias de primeira categoria para entregarem nossos dados. Como resultado, talvez você considere mudar seus provedores de AT&T para T-Mobile ou Dropbox para o mais seguro SpiderOak. Depois de tudo, quem quer um burocrata anônimo do governo escutando e monitorando nossa vida online e nossas ligações?

No entanto, as companhias que possuem contratos para invadir nossas casas em plena luz do dia e roubar as informações dos pagadores de impostos estão ausentes deste debate. Estamos falando sobre uma indústria multibilionária cujas ferramentas também estão disponíveis para que vendam aos outros e até para eles mesmos usarem por lucro ou prazer.

Então o que essas companhias fazem e quem são eles?

A forma mais simples de vigilância tecnológica é um apanhador de IMSI (IMSI significa Identidade Internacional de Usuário Móvel, que é único para cada celular). Esses dispositivos altamente portáteis encontram o posicionamento de um celular e podem capturar todos os seus sinais em uma área. Dessa forma, eles podem efetivamente identificar e localizar todos os usuários de celular em um lugar particular. Alguns são pequenos o suficiente para caber em uma pasta, outros não são maiores que um celular. Uma vez implantado, o apanhador de IMSI captura e transmite informações de um telefone sem fio.

Colocando vários apanhadores de IMSI em uma área e medindo a velocidade das respostas e os “bipes” de um celular, um analista consegue seguir os movimentos de qualquer um com celular, mesmo que ele não esteja o usando.

Um dos principais atores esta área é a Harris Corporation, de Melbourne, na Flórida. Essa empresa ganhou quase 7 milhões de dólares em contratos públicos com o FBI desde 2001, a maioria por equipamentos de comunicação de rádio. Por anos, a companhia também projetou software para a agência Centro de Informação Nacional de Crime, para encontrar pessoas desaparecidas, fugitivos, criminosos e propriedades roubadas.

Harris revelou recentemente ter projetado um apanhador de IMSI para o FBI que foi chamado de “Stingray”. Um agente do FBI confirmou para a Justiça que esses dispositivos existem desde pelo menos 2002. Outras companhias como a James Bimen Associates of Virginia já alegaram que inventaram um software customizado para ajudar o FBI a invadir computadores pessoais, de acordo com uma pesquisa de Chris Soghoian da União das Liberdades Civis Americanas (ACLU – American Civil Liberties Union).

O FBI ainda não negou as denúncias. O chefe “contrata pessoas que possuem habilidades de hackers, e então compram ferramentas que são capazes de fazer essas coisas,” um antigo oficial da divisão virtual do FBI disse ao Wall Street Journal recentemente. “Quando você aceita, é porque você não tem outras escolhas.”

As tecnologias que esse tipo de companhia exploram muitas vezes dependem das vulnerabilidades de software. Softwares de invasão podem ser instalados por USB, ou entregues remotamente disfarçadas em um anexo de email ou atualizações. Uma vez instalado, um analista pode atingir os arquivos de seu alvo, registrar todas as senhas, e tirar fotos da tela a cada segundo. Por exemplo, SS8 de Milpitas, California, vende um programa chamado Intellego que permite às agências do governo “ver o que [os alvos] veem, em tempo real” incluindo “rascunhos de e-mails, arquivos anexados, imagens e vídeos.” Tal tecnologia também pode ligar microfones de celulares e computadores, tanto como câmeras para espiar o alvo em tempo real.

Mapeando Você

O que o FBI faz, mesmo que intrusivo, é pequeno comparado ao que a NSA sonha em fazer: adquirir e armazenar o tráfego de dados não só de uma nação inteira, mas do planeta todo. Isso se tornou uma realidade tangível há duas décadas, desde que a indústria de telecomunicações começou a adotar em massa a tecnologia de fibra ótica. Isso significa que os dados não são mais transmitidos como sinais eletrônicos ao longo de fios, em que era possível interferir, mas sim como feixes de luz.

Digite companhias como Glimmerglass, outra do norte da Califórnia. Em setembro de 2002, Glimmerglass começou a vender um novo produto patenteado que consistia em uma pastilha de silicone. Isso pode ajudar a transmitir dados em forma de feixes de luz através dos cabos submarinos de fibra ótica que carregam aproximadamente 90% dos dados de telecomunicações além das fronteiras. A vantagem dessa tecnologia é que ela é barata e – para os fins das agências de inteligência – os feixes de luz podem ser facilmente copiados com quase nenhuma perda em qualidade.

“Com Sistema de Inteligência Ótica (IOS) do Glimmerglass, qualquer sinal sendo transmitido por fibra pode ser redirecionado em milissegundos, sem prejudicar o tráfego do cliente,” diz a companhia em seu site público.

Glimmerglass não nega que seu equipamento pode ser usado por agências de inteligência para capturar o tráfego global de internet. Na verdade, ela assume que isso provavelmente está acontecendo. “Nós acreditamos que nossa tecnologia 3D MEMS – usada por governos e várias agências – está envolvida na coleta de inteligência de sensores, satélites, e sistemas de fibras submarinas,” Keith May, diretor de desenvolvimento de negócios da Glimmerglass, disse à revista comercial Aviation Week em 2010. “Estamos implantando em vários países que estão usando para intercepções legais.”

Em um panfleto confidencial, a Glimmerglass tem uma série de gráficos que mostra o que seu software é capaz de fazer. Um disponibiliza um gráfico visual das mensagens de Facebook do supostamente fictício “John Smith.” Seu perfil é ligado a um número de outros indivíduos (identificados com imagens, nomes de usuário, e IDs) através de setas que indicam quantas vezes ele se conectou a cada um deles. Um segundo gráfico mostra uma grade de chamadas de celular feitas por uma única pessoa que permite um operador a selecionar e ouvir o áudio de qualquer uma dessas conversas específicas. Outro mostra o software da Glimmerglass sendo usado para monitorar e-mails e mensagens instantâneas em chats.

“O desafio de controlar informações começou com o desafio de controlar a luz,” disse o anúncio em um vídeo da companhia publicado em seu site. “Com o Glimmerglass, clientes têm total controle de fluxos massivos de inteligência a partir do momento que eles o acessam.” Essa descrição espelha as tecnologias denunciadas em documentos fornecidos por Edward Snowden ao jornal Guardian.


Prevendo Você

Ouvir ligações de celular, registrar localizações e invadir computadores são apenas uma parte do kit de ferramentas que as empresas mineradoras de dados oferecem ao serviço de inteligência dos Estado Unidos (e de outros países). Pense que os dados são equivalentes a companhias de petróleo e gás natural, que estão prontos para extrair as riquezas subterrâneas que estiveram escondidas ao longo dos anos em cofres nos nossos porões.

O que as agências do governo realmente querem, no entanto, não é só a habilidade de minar, mas de refinar essas riquezas no que equivale a combustível de alta octanagem para suas investigações em nossa forma de organização de dados para conduzir relacionamentos importantes, encontrar restaurantes ou descobrir música nova nos nossos celulares e computadores.

Essas tecnologias – muitas vezes chamada de análise de redes sociais ou ferramentas de análise semântica – estão agora sendo apropriadas pela indústria de vigilância como forma de expor potentes ameaças que poderiam surgir de comunidades online de manifestantes ou ativistas antigoverno. Como Raytheon, uma grande fabricante de produtos militares, que faz mísseis Sidewinder (de ar para ar), e mísseis Maverick (de ar para terra), mísseis Patriot (da superfície para o ar) e os mísseis Tomahawk, lançados em cruzeiros submarinos. Seu último produto foi um pacote de software estranhamente chamado “Riot”, que afirma ser capaz de prever onde indivíduos costumam ir, usando tecnologia que combina dados de redes sociais como Facebook, Foursquare e Twitter.

Raytheon’s Rapid Information Overlay Technology (Tecnologia Rápida de Sobreposição de Informações) software – sim, foi assim que eles conseguiram a sigla Riot – extrai dados de localização através de fotos e comentários publicados online por indivíduos e analisa essa informação. O resultado é uma variedade de diagramas que mostram onde o indivíduo provavelmente irá em seguida, o que ele gosta de fazer, e com quem ela se comunica ou provavelmente se comunicará em um futuro próximo.

Um vídeo de demonstração de 2010 do software foi publicado online recentemente peloGuardian. Nele, Brian Urch, da Raytheon, mostra como o Riot pode ser usado para rastrear “Nick” – um funcionário da companhia – permitindo prever o melhor momento e lugar para roubar seu computador ou colocar um software de espionagem nele. “Seis da manhã aparenta ser o tempo mais frequente de visita à academia,” diz Urch. “Então, se você quisesse tentar ganhar um abraço de Nick – ou talvez pegar seu laptop –, você deva tentar visitá-lo na academia às 6h na segunda-feira.”

“Riot é um grande projeto de sistema de análise de dados no qual estamos trabalhando com indústrias, laboratórios nacionais e parceiros comerciais para transformar uma quantidade massiva de dados em informações úteis, para ajudar a nação a mudar rapidamente suas necessidades de segurança,” Jared Adams, o porta-voz do departamento do sistema de informação e inteligência da Raytheon, disse ao Guardian. A companhia nega que alguém já comprou o Riot, mas as agências do governo dos Estados Unidos estão certamente ansiosas para possuir tais ferramentas.

Por exemplo, em janeiro de 2012, o FBI publicou o pedido de um aplicativo que permitiria “oferecer uma busca automática e ter acesso total às redes sociais, incluindo Facebook e Twitter, além de traduzir imediatamente tweets em línguas estrangeiras em inglês.” Em janeiro de 2013, a Administração de Segurança dos Transportes (Transportation Security Administration ) pediu que contratantes proporcionassem aplicativos “para gerar uma avaliação dos riscos que um indivíduo específico pudesse colocar ao sistema de transporte de aviação” usando “correntes de fontes específicas, precisas, e dados completamente não governamentais.”

Ativistas da privacidade dizem que o pacote Riot é problema certo. “Esse tipo de software permite que o governo vigie todo mundo,” Ginger McCall, a diretora do programa não governamental Centro de Informações Eletrônicas Privadas (Electronic Privacy Information Center’s), disse ao NBC News. “Ele apanha um monte de informações sobre pessoas totalmente inocentes. Não parece ter razões legítimas para conseguirem isso.”

Refinar combustível de depósitos do subsolo nos permitiu viajar vastas distâncias por ônibus, trens, carros e aviões por prazer e lucro, mas com um custo não intencional: o crescente aquecimento do nosso planeta. Do mesmo modo, o refinamento dos nossos dados em aplicativos sociais por prazer, lucro e vigilância do governo também está vindo com um custo: a erosão crescente da nossa privacidade e, finalmente, a nossa liberdade de expressão.

Já tentou gritar de volta para uma câmera? Você sabe que ela está ligada. Você sabe que alguém está assistindo o trajeto, mas ele não responde a reclamação, ameaças ou insultos. Em vez disso, ele apenas te observa de forma ameaçadora. Hoje, o estado de vigilância está tão profundamente alojado em nossos dispositivos de dados que nós nem mesmo gritamos de volta porque companhias de tecnologia nos convenceram que precisamos estar conectados a eles para sermos felizes.

Com muita ajuda do setor de vigilância, o Grande Irmão já ganhou a batalha para vigiar todos nós a todo tempo – a não ser que nós decidamos fazer algo sobre isso.


Fonte: Diário Liberdade

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Professores do Rio de Janeiro: “Educação na rua, a luta continua”



Por Gabriela Gonçalves


Revoltados com a aprovação antidemocrática do Plano de Carreira e também com a atuação truculenta da policia militar fascista, os trabalhadores de educação do Rio de Janeiro realizaram uma grande passeata ano dia 7 de outubro, a qual reuniu cerca de 50 mil educadores e teve o apoio de diversos setores da sociedade: estudantes, pais de alunos, artistas e outras categorias profissionais. A passeata mostrou o repúdio da população às agressões da polícia aos professores e ao tratamento dado pela Prefeitura e pelo Governo estadual em relação à educação pública.
A violência da polícia do estado do Rio tem sido uma constante. A PM age com extrema truculência contra o cidadão comum e desrespeita os mínimos direitos humanos. Essa forma de atuar é uma herança direta da ditadura militar e ficou mais clara na repressão das manifestações dos professores. Tanto na desocupação violenta da Câmara Municipal, sábado, 28 de outubro, que esteve ocupada por educadores por três dias, quanto no ato do dia 1º de outubro em protesto contra a votação do plano de cargos e salários proposto pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB), a Polícia Militar deixou claro seu caráter fascista. Os profissionais da educação protestavam pacificamente desde as 10hs da manhã na tentativa de pressionar os vereadores a não aprovarem um plano meritocrático que põe em risco a educação publica carioca. No final da tarde, o plano foi aprovado com a Câmara cercada pelo Batalhão de Choque que jogava bombas de gás lacrimogênio e spray de pimenta nos milhares de educadores que lá protestavam.
O Plano de Cargos e Salários (PCCS) enviado à Câmara Municipal pelo prefeito em regime de urgência fere gravemente os interesses da categoria e os acordos assinados entre o Sindicato (SEPE) e a Prefeitura. Entre os pontos polêmicos estão o fim da paridade entre os ativos e pensionistas, a criação do professor leigo (professores poderão dar aulas de qualquer matéria que não sejam a sua), além de não reconhecer a pós-graduação lato sensu, doutorado e pós-doutorado, e de obrigar quem tem duas matrículas a abrir mão de uma.
É importante ressaltar que o PCCS apresentado pela Prefeitura e aprovada pela Câmara, além de ferir os interesses da categoria, interrompeu uma negociação que previa a elaboração do PCCS pela prefeitura para posterior análise e retificação do SEPE. Tal atitude mostra a postura antidemocrática da Prefeitura do Rio que, embora diga que está aberta a negociação, age de forma autoritária impondo um PCCS que atende a interesses econômicos neoliberais.
Ato na OAB
Na manhã do dia 7 de outubro, foi realizado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) um ato público contra a violência policial no Rio e em repúdio aos casos de agressão policial contra os profissionais de educação. O ato teve a presença de parlamentares, centrais sindicais, representantes do movimento estudantil e outros setores da sociedade civil. O encontro foi idealizado logo após o conselheiro federal e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB nacional, Wadih Damous, propor uma moção de repúdio à violência policial no Rio de Janeiro. A iniciativa foi aprovada por unanimidade pelo Pleno do Conselho Federal e um documento foi enviado ao governador do estado, Sérgio Cabral.
A mesa foi composta por representantes da OAB-RJ, SEPE, CUT, ABI, CNBB e Ibase. Todos que falaram criticaram muito a política de segurança do governo Sérgio Cabral (PMDB). Wadih disse que “essa política de segurança não sabe conviver com o regime democrático”, que ela “remonta à ditadura militar” e que os policiais são “verdadeiros jagunços nas ruas”.
Um assunto destacado por grande parte dos que se pronunciaram foi a questão da desmilitarização da polícia. O senador Lindbergh Farias relatou ter apresentado um projeto que trata desta questão, a PEC 51.
Ao final do ato foi definida uma comissão para tentar marcar um encontro com o secretário estadual de Segurança Pública e outra para falar com o prefeito e exigir a retirada do plano de carreira aprovado.
Todos essas manifestações revelam que, mesmo com o governo do Rio gastando milhões em publicidade sem licitação, na tentativa de colocar a população contra os professores, o povo carioca acredita nos que estão na luta.


Fonte: A Verdade

domingo, 13 de outubro de 2013

A “nova” tática da mídia para demonizar protestos

Título e imagem da “Folha de S.Paulo”, em 8/10


Apoiando-se nos “black-blocs” e nos provocadores policiais, jornalões procuram ofuscar reivindicações sociais, associá-las a violência e convocar repressão
Por Mauro Malin no Observatório da Imprensa
Virou rotina a colaboração da mídia jornalística com as polícias militares (leia-se governos estaduais), black blocs e provocadores infiltrados pelas autoridades. Finalidade: esvaziar e/ou manipular passeatas no Rio e em São Paulo.
A demonstração está nas imagens abaixo. Os jornais valorizam a violência de centenas, não a manifestação pacífica de milhares. E, sobretudo, não perguntam por que as polícias militares ou agem violentamente contra manifestantes pacíficos, ou, alternativamente, observam passivamente os agentes da violência até que eles cheguem a extremos.
Começou em São Paulo
Esse padrão foi observado pela PM de São Paulo nas manifestações de junho. No dia 13 de junho houve uma tentativa de esvaziar mediante o uso de violência extrema todo o processo iniciado pelo Movimento Passe Livre. Foi o dia em que uma repórter da TV Folha e um fotógrafo autônomo foram atingidos nos olhos por balas de borracha. Como se disse aqui, tratou-se de ato destinado a sufocar os protestos (“Gás de provocação”).
Depois, as autoridades mudaram de tática. Aparentemente, os comandantes teriam ficado preocupados com a má repercussão da pancadaria e passado a determinar que os policiais assistissem passivamente até mesmo às ações de manifestantes que empregam a violência como arma. Na verdade, deixaram sistematicamente que a situação chegasse a um ponto em que se justificasse o emprego da força (não a ponto de deixar mortos e feridos graves, até aqui).
Contra os professores
Nas recentes manifestações de professores no Rio de Janeiro, a sequência foi idêntica. Na terça-feira (1/10), a PM fluminense partiu para a ignorância, como se dizia antigamente. A constatação é do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame: “Houve, sim, preliminarmente, excesso dos policiais, mas esse excesso veio também, por vezes, dos dois lados” (noticiário da Agência Brasil, 5/10).
O presidente da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB, Wadih Damous, declarou: “O que vemos no Rio é uma política de extermínio de manifestantes, pondo em risco a vida das pessoas com o uso indiscriminado de balas de borracha e sprays de pimenta” (Agência Estado, 7/10).  Essa retórica fora de propósito não ajuda a entender as coisas. Damous deve ter se expressado mal, ou não sabe o significado da palavra “extermínio”. Em todo caso, constata-se que a violência policial causou comoção.
Na segunda-feira seguinte (7/10), a PM-RJ passou à segunda modalidade. Deixar acontecer e depois dar combate. Nem o Globo, cujo noticiário segue um padrão de calhordice cada vez mais esmerado, deixou de notar que “a PM reduziu o número de policiais mandados ao local e, desta vez, demorou para reprimir a ação dos mascarados”.
A quem interessa?
Quem chegou mais perto de fazer a pergunta correta (mas não de tentar respondê-la) foi o Dia. Em box no alto da página 5 (“Sepe condena vandalismo no protesto”), reproduz declaração do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro segundo a qual “agentes infiltrados na manifestação iniciaram o vandalismo com a intenção de esvaziar as próximas passeatas”. Um diretor do Sepe, Jalmir Ribeiro, foi mais explícito. Segundo ele, pode ter havido “PMs infiltrados entre os professores e sindicalistas”.
Nenhum dos jornais faz a pergunta óbvia: por que a PM usa esse duplo padrão, do qual no final das contas resulta a mesma coisa, a pressão para esvaziar os protestos? A resposta, que acabará aparecendo em declaração de alguma personalidade política mais independente, é: a PM funciona a serviço da tentativa de evitar prejuízo político e tirar o maior proveito possível para o grupo do governador Sérgio Cabral Filho no xadrez eleitoral de 2014.
E por que a pergunta não é feita? Porque esses veículos são, em grau maior ou menor, aliados políticos de Cabral e do prefeito Eduardo Paes. Aventar as razões dessa aliança ultrapassa os limites deste tópico.
Show de pirotecnia
Eis as imagens das primeiras páginas de terça-feira (8/10). Da manchete do Extra foi copiado o título deste tópico. A imagem da esquerda é do jornal O Estado de S. Paulo. Só o título das fotos está acima da dobra. Foi o único jornal que deu a foto do mascarado em cima de um carro tombado da polícia.
A mídia Ninja também deu, comprazendo-se. Mas seus ativistas não pretendem ter compromisso com a defesa da democracia, tal como entendida pelos constituintes de 1988, que representavam os cidadãos votantes de 1986. Se o carro da democracia capotar, a tarefa do ninja de plantão será fotografar a derrocada. Antes de ser preso e…
Dia destinou a capa inteira às fotos assustadoras.
É uma disputa de sensacionalismo, dentro de uma diretiva de solidariedade política aos governos. Essa mídia jornalística está brincando com fogo. A evolução possível deste cenário, com a imprensa curvada diante da estratégia das polícias militares (de seus chefes políticos), aponta na direção de potenciais prejuízos para as liberdades democráticas. Não falta quem esteja à espera de um momento propício à aceitação popular de restrições ao direito de manifestação. Para dizer o mínimo.