Por Fábio Py Murta de Almeida (*)
Sou professor desde que me conheço por gente. Só sei fazer isso na vida. Não por força de não apreender outra função/profissão (ou, não querer), mas é parte integrante do eu. Tomando a vida na mediação da leitura, crítica e explanação como linhas fundamentais da prática cotidiana. Passei por instituições públicas e privadas, tanto dos meios urbanos e nas áreas mais agrícolas. Trabalhei nos setores básicos: ensino fundamental e médio.
Agora, difícil/duro é passar pela formação de 4 ou 5 anos nos quadros da licenciatura e receber a matrícula do valor próximo das bases do salário mínimo. O que se percebe já quando se olha nos quadros das profissões e se afere que sua profissão, na qual estudou se formando e se pós-graduou tendo aceitação grande na população e das partes governamentais, tem um valor pífio.
Deve ter algo errado nesse quadro, não? Mas, não é só isso. Infelizmente, isso já é parte domodus operandi de como são tratados a classe professoral. O que foi proposto na área do Rio de Janeiro foi uma medíocre reformulação no sistema de plano de cargos, que, ainda sim, não chega a dois terços dos valores das demais profissões. Proposto por uma ex-funcionária das grandes empreiteiras que levam a hegemonia do Estado.
O que significa que a atual gestão não conhece a lógica docente, e faz uma horrenda troca da atividade docente pelos botijões empresariais capitalistas. Só conhecem metas mercadológicas. Nunca pisaram na complexidade das salas de aulas. Ainda assim, mesmo na lógica patronal capitalista da educação, os valores do que se paga para os docentes frente aos demais países da própria América Latina é uma piada. A piada ainda é maior, porque o governo propõe um plano de cargo que a totalidade dos professores não pode aderir, pois senão o governo vai falir. Constroem um plano que não serve para toda classe. Segregam ainda mais um grupo historicamente abandonado nos mandatos.
Daí, o que esperar dos professores? Que aceitem? Que se calem? Jamais! Professores: aqueles que acreditam na humanização da prática docente vão da teoria para prática! Acham que movimentos sociais que brotam nos nossos solos foram feitos e construídos apenas de demandas comuns? De forma alguma. Há neles uma prática/reflexão classista.
Logo, há uma demanda educacional crítica. Assim, os professores com o compromisso à função sempre deram exemplo de luta, seja em Niterói ou agora no Rio de Janeiro. Afinal, ocupar um espaço público é um ato político! Mostra que as atividades desses locais ocupados não servem a quem merece e tem direito sobre esse. Por isso, merecem a interdição. Pois, da forma que se encontram só servem ao ócio!
Engraçado que os autores da velha mídia, os representantes do estado e da prefeitura, ou não tratam dos atos, e/ou se preocupam em caracterizar o movimento de professores de “vândalos”. Quando não apelam à polícia-política com seus porretes e gás pimenta. Como se não bastasse, professores lutam contra escolas sem condições, o desprezo da mídia e os contra-cheques de todos os meses. Merece nota o fato de o atual prefeito do Rio de Janeiro num canal público ter indicado que hoje o governo tem condições de repartir os valores, e governar melhor para todos.
O dito foi digno de risada – daquelas escandalosas. Pois, depois sua secretária de educação afirma que não tem condições de onerar a toda classe professoral o bendito plano de cargos de 40 horas semanais. Vai quebrar o quê? As parcerias que se fazem em prol do sistema Rio-Copa-Olimpíadas? De fato, é isso que não querem mexer. Os eventos foram eleitos os mais importantes para o Brasil, se esquecendo que sem educação não temos atletas e pessoas formadas para fazer jus a esses eventos.
Enquanto isso, o Rio de Janeiro ironicamente caracterizado como capital da cultura segue tendo os piores índices de ensino-educação do Brasil. Efetivamente, não dá para entender que condições são essas que o Estado e a Prefeitura entendem que dá para gerir para todos. No meio disso tudo, os professores seguem se organizando e lutando. Apanham de todos os lados. Na luta por melhores condições e um plano educacional mais justo. Afinal, lutam também para não acumular materiais fora de sua formação, para favorecer o sistema ensino-aprendizagem.
Lutam pelo melhor, no processo educacional. Por isso, que podem sim ser chamados de “vândalos” – nomeação que não é tão ruim. Isso por que os vândalos são outros povos e grupos que não estão no poder dos impérios, dos assassinos disfarçados. É uma nomeação da antiguidade, dada pelo Império Romano contra os outros povos que lutavam e os invadiam e tinham outro modo de vida.
Assim, os professores em greve vandalizam: não assumem o projeto apresentado pelas lideranças governamentais. Não aceitam (a merda!) de vida proposta pelas elites governamentais. Cruzam os braços, manifestam, vão contra a corrente ao invés de seguir as atividades de apoio ao governo. Vândalos sim! Confrontam os espaços legislativos com o ócio, pois as reuniões normais não servem a população geral.
Preferindo apanhar do Estado que aceitar o descaso na forma que são tratados hoje. Optam por sangrar, do que permanecer com a educação que segue. Mostram que para ser professor no Rio de Janeiro não apenas basta ganhar mal, tem que apreender a apanhar! Me disseram que esse será mais um ponto acrescentado ao próximo edital de concurso público da prefeitura e do estado do Rio de Janeiro.
Fábio Py Murta de Almeida é professor e doutorando em Teologia pela PUC-RJ. Articulador do blog: fabiopymurtadealmeida.blogspot.com
Fonte: Fazendo Média
Força aí! De todo o Brasil acompanhamos indignados a luta de nossos companheiros. Mas essa luta nos trás também esperança. Como disse o revolucionário: é melhor morrer de pé do que viver ajoelhado.
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