
Por Cléber Eduardo
A História atualizada por indivíduos
Existem
dois “eventos históricos” e um contemporâneo em Hércules 56, de Silvio
Da-Rina. Durante seu desenrolar, vemos e ouvimos ex-militantes de esquerda que,
de forma direta, estiveram envolvidos nos dois eventos históricos, ambos em 1969:
o seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick (representado como brincadeira
de moleques em O Que é Isso Companheiro?, de Bruno Barreto) e a conseqüente
libertação de 15 prisioneiros políticos (de diversas correntes), que seguiram
rumo ao exílio no México a bordo do avião Hércules 56. O segundo evento, esse
contemporâneo, é o próprio filme: Da-Rin reúne cinco cérebros e protagonistas
do seqüestro (da Dissidência da Guanabara e da ALN) e, juntos, atualizam a memória
dos eventos históricos e suas motivações pessoais, expondo bastidores da escalação
dos 15 (dos quais nove continuam vivos).

Eles estão reunidos
ao redor de uma mesa, em um estúdio, no qual vemos os microfones de captação de
som, assumindo o caráter de encontro provocado. É o evento-filme – não menos histórico,
porque, na soma dessa discussão em grupo com os depoimentos solos, desenha-se,
sem nenhuma abstração, sem distanciamento analítico e sem mitificação heróica,
o contexto da luta armada. Não se trata de museu verbal do passado recente, mas
de experiências individualizadas, relatadas por quem esteve lá, no epicentro dos
acontecimentos, moldando seu momento histórico e sendo moldado por ele. Muitos
homens e “uma mulher” (Maria Augusta), hoje maduros, talvez cicatrizados, atualizam
suas juventudes (a maioria), assim como as trevas do Brasil. O encontro em torno
da mesa é filmado com várias câmeras, quase sempre se mantendo a continuidade
da conversa nos cortes de um ângulo para outro, o que, como núcleo organizador,
garante a fluência narrativa e não atravanca as lembranças de cada um, como se
a câmera circulasse pelo grupo, sem deixar de lhes dar tempo para a verbalização
da memória.

Imagens
pulsantes de arquivo, cuja conexão com os relatos os revitalizam na integração
com o presente (deles em primeiro lugar, do Brasil conseqüentemente), potencializam
o fluxo (de imagens, da narrativa, dos tempos). Chega-se a uma sobreposição e
fusão de momentos históricos e de fases de vidas. Alguns dos entrevistados olham
imagens de outros militantes. Em alguns momentos, na mesa redonda, divergem. No
choque de perspectivas, abre-se a fenda na qual se constrói a História. Antes
de tudo: histórias de pessoas, de indivíduos, com seu teor dramático, mas também
emancipador.
Hércules 56 não nos deixa esquecer de que não chegamos ao Brasil de 2006, com todos os problemas, sem determinadas pessoas terem intervido no Brasil da virada dos 60 para os 70. É uma homenagem, sem dúvida nenhuma: a Paulo Tarso, Daniel Aarão Reis, José Dirceu, Franklin Martins, Manoel Cyrillo, Cláudio Torres, Flavio Tavares, Ricardo Zarattini, José Ibrahim, Ricardo Villas Boas, Maria Augusta, Vladimir Palmeira, Mario Zanconatto, Agnaldo Pacheco, Luis Travassos, Onofre Pinto, Rolando Fratti, João Leonardo Rocha, Ivens Marchetti e Gregório Bezerra.
Hércules 56 não nos deixa esquecer de que não chegamos ao Brasil de 2006, com todos os problemas, sem determinadas pessoas terem intervido no Brasil da virada dos 60 para os 70. É uma homenagem, sem dúvida nenhuma: a Paulo Tarso, Daniel Aarão Reis, José Dirceu, Franklin Martins, Manoel Cyrillo, Cláudio Torres, Flavio Tavares, Ricardo Zarattini, José Ibrahim, Ricardo Villas Boas, Maria Augusta, Vladimir Palmeira, Mario Zanconatto, Agnaldo Pacheco, Luis Travassos, Onofre Pinto, Rolando Fratti, João Leonardo Rocha, Ivens Marchetti e Gregório Bezerra.
Fonte: Cinética
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