sexta-feira, 7 de junho de 2013

Convoca!: surge uma plataforma para reunir multidões



Desenvolvido por programadores ligados aos “Indignados” espanhóis, sistema permite propor mobilizações, registrar presença em uma delas e verificar, em instantes, quais são capazes de atrair grande público.

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Por Bernardo Gutierrez | Tradução: Bruna Bernacchio

A partir de agora, já é possível anunciar, por celular, presença em uma manifestação. Utilizando a plataforma Convoca! (convoca.cc) que o coletivo Outliers acaba de lançar, qualquer usuário pode criar um encontro público. Além disso, seja um show de música ou uma manifestação, qualquer pessoa que utiliza o Twitter pode registrar sua participação em uma multidão.  Convoca! também oferece a possibilidade de acrescentar diferentes narrativas multimídia (fotos, vídeos, textos) geolocalizadas. No blog do projeto, estas facilidades estão expostas em detalhes.

Convoca! é uma evolução natural da plataforma Voces25S, que o Outliers lançou, em setembro de 2011, para mapear a manifestação Rodea el Congresso, um protesto diante do Legislativo espanhol. A plataforma associava uma cor a diferentes hashtags de Twitter. como #tranquilo, #repressão, #fotos #aovivo. Assim, mapeava em tempo real, através da geolocalização de cada usuário, o cenário de Rodea el Congreso. Bastava tuitar com a geolocalização ativada e usar os hashtags propostos. O êxito foi tal — mais de um milhão de visitas — que o Outliers dedicou-se a melhorar a plataforma.

 Praça do Sol, Madrid, sem vagas


Convoca! é uma ferramenta que oferece muito mais possibilidades que Voces25S. Para começar, dá mais liberdade ao usuário, que já não precisa restringir-se a determinadas hashtags. Convoca! empodera o usuário: qualquer um pode criar um encontro e acrescentar sua própria narrativa. O sistema conecta a inteligência coletiva nos espaços comuns, cidade ou campo. Talvez a novidade mais interessante seja a destacada no início deste texto: a possibilidade de anunciar a presença numa mobilização — e não em um espaço comercial, como no Foursquare. A presença de cada usuário amplia o destaque do ponto no mapa do sistema. Quanto mais gente houver na mobilização, mais próximos estaremos do conceito de multidão inteligente (smart mob), criado por Howard Rheingold.


Enviei ao coletivo Outliers um questionário sobre Convoca!, para elaborar esse texto. As respostas de Oscar Marín Miró (@oscarmarinmiro) são tão interessantes que reproduzo-as na íntegra, em formato de entrevista.

Como evoluiu a plataforma #Voces25S, que vocês lançaram antes do Rodea el Congreso, até chegar à Convoca!?

Voces25S foi um protótipo rápido para averiguar se a ideia que tínhamos na cabeça (o cruzamento semântica-espaço-tempo) tinha algum sentido prático no contexto de Rodea el Congreso, de 25 de setembro de 2011. Também não sabíamos se haveria problemas pelo fato de a comunicação ser 100% através do Twitter; mas o mapa, uma página web externa. Os usuários iriam confundir-se?. Devido ao grande êxito (cerca de um milhão de visitas, durante o 25-S), confirmou-se a utilidade e os criadores foram colocados diante de novos desafios: que a plataforma fosse de código aberto; e que fosse possível abrir o vocabulário utilizado, tornando livres as hashtags. Quer dizer, que a semântica fosse livre e emergente.

 Milhares de pessoas ocupam a praça Porta do Sol, em Madri, para protestar contra as altas taxas de desemprego

Consideramos que Convoca! é a evolução natural. É uma plataforma de código aberto, com semântica (hashtags) livre e otimizada para grande número e diversidade de usuários simultâneos. Qualquer um pode baixar o código (Django+MySQL), abrir uma conta de Twitter e começar a usar. Se quiser mapear concursos de fotografia geolocalizados, pode. Se quiser mapear manifestações, também. E se quiser mapear eventos, de qualquer tipo, idem. Basta usar uma conta de Twitter com sua narrativa particular e incentivar o mapeamento — por exemplo, por meio de retuitagens.

Por que potencializar o espaço público com tecnologia social?

Porque pensamos que, para a criação de uma dinâmica “de baixo para cima”, na organização urbana, é preciso começar pelo espaço público. E mais importante ainda: os próprios cidadãos precisam gestionar este espaço. Ele é constituído graças a seus impostos! Enquanto a gestão “de cima para baixo” tem um viés de eficiência, dinâmicas de sentido oposto podem voltar a nos unir em torno de um direito básico e essencial para a felicidade — o de voltar a valorizar as atividades sociais e as afastadas dos circuitos econômicos.

Manifestantes com as bandeiras tricolores da Terceira República marcham em Madri - Foto: Agência Efe

Essas conexões voltam a nos unir, para poder retomar a noção de tribos auto-organizadas. O elemento proximidade nos permite escapar de uma circunstância muito associada com a socialização da rede: temos relações com gente de perfil muito semelhante ao nosso, que muitas vezes nunca vimos fisicamente, mas talvez não nos relacionemos tanto com nossos vizinhos. O espaço público pode ser aglutinador desses fatores: proximidade e ações sociais à margem dos circuitos comerciais.

Convoca! incentiva o encontro de pessoas, de forma muito diferente da FourSquare, por exemplo, onde se priorizam os pontos comerciais para o encontro. Por que essa mudança?

Estamos fartos de ver que as sinalizações são, na maioria dos mapas, um exercício de monetização, através da geolocalização de serviços comerciais. Também se veem muitos mapas não comerciais, mas que acabam morrendo. Por que? Não sabemos, mas intuímos que tem a ver com herdarmos, nas novas aplicações “de baixo para cima” a maneira tradicional de utilizar um mapa.

 http://afinsophia.files.wordpress.com/2010/09/greve-geral-espanha.jpg

Uma das respostas de Convoca! a essa problemática é a implementação do registro dos usuários em mobilizações. Isso permite verificar, numa rápida espiada, onde estão ocorrendo coisas com uma certa presença. Ou seja, informa-se o usuário que sua presença em um determinando evento faz dele algo mais relevante.


Bernardo Gutierrez (@bernardosampa) é jornalista, escritor e consultor digital. Pesquisa o mundo P2P e as novas realidades da cultura open source. Fundador da rede de inovação Futura Media.net. O acervo de seus textos publicados em Outras Palavras pode ser consultado aqui.


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