Estes últimos atos de terrorismo israelense são, no entanto, medidos
para irritar Assad, presidente da Síria, e forçá-lo a retaliar, causando
dois efeitos perigosos para si e para a Síria.
Por Raphael Tsavkko Garcia
Os recentes
ataques aéreos israelenses contra alvos sírios, inclusive nas
proximidades de Damasco, capital do país árabe, coroados com constantes
invasões do espaço aéreo sírio só podem ser chamados por um nome:
Terrorismo.
O último ataque com mísseis nas proximidades de
Damasco tinha como objetivo, afirmam fontes israelenses, um carregamento
de mísseis iranianos destinados ao Hezbollah libanês e são
injustificáveis por três razões principais.
Em primeiro lugar,
não há qualquer prova de que tal carregamento, que se encontrava nos
arredores de Damasco, a centenas de quilômetros da fronteira libanesa,
iria para o Hezbollah ou qualquer outro grupo, o que nos leva ao segundo
ponto, que é o fato de não ser da alçada israelense intervir, sem
mandato internacional, dentro da Síria, em carregamentos militares,
mesmo que este fosse efetivamente destinado ao Hezbollah.
Caberia
ao governo libanês se movimentar contra a iniciativa se fosse de sue
interesse e não Israel se imiscuir nos assuntos de dois Estados
soberanos.
Terceiro ponto é a hipocrisia que chama atenção no
caso, quando Israel e aliados (notadamente EUA) financiam e mesmo
equipam guerrilhas islâmicas anti-Assad na Síria, intervindo
indevidamente e mesmo ilegalmente em um conflito interno sírio, buscando
desestabilizar o governo central.
E desestabilizar é o que
Israel faz de melhor, haja visto as invasões ilegais ao Líbano no
passado, levando à morte centenas de civis com bombardeios "cirúrgicos" a
alvos supostamente militares, em geral escolas, hospitais e
residências. Além disso, não podemos esquecer as pressões políticas aos
vizinhos, a insistência por parte de Israel em manter o controle sobre
as Colinas de Golã (território sírio ao norte de Israel) e que Israel
manteve por anos o controle sobre porção significativa do sul do Líbano.
Estes
últimos atos de terrorismo israelense são, no entanto, medidos para
irritar Assad, presidente da Síria, e forçá-lo a retaliar, causando dois
efeitos perigosos para si e para a Síria.
De um lado, Israel
explora a batida tática de dividir para conquistar, ou seja, enquanto a
Síria busca se defender dos ataques de diversos grupos guerrilheiros e
terroristas, com o maior deles, a Frente Al-Nusra, ligado à Al Qaeda e
sendo pesadamente financiado pelos EUA, Israel pressiona para que Assad
abra uma nova frente, conta Israel. Este conflito, aliás, tem ainda o
entusiasmo da Arábia Saudita que, como os EUA, financia a Frente
al-Nusra e a Al Qaeda.
Mesmo a preocupação em se defender das
agressões israelenses impõe um dilema a Assad, que teria de desviar
atenção e recursos para se defender. Do outro lado, e como consequência,
Israel provoca sabendo que qualquer reação síria seria pequena em
comparação ao poderio militar israelense e que, caso atacada, ganharia
ainda mais apoio internacional, ou ao menos dos EUA e União Europeia,
fazendo-se de vítima, no que continua sendo o principal recurso do
teatro retórico vitimista israelense.
Os EUA continuam em sua
posição comodista e cúmplice. De um lado apoiam a Al Qaeda na Síria, do
outro defendem e garantem sustentação à retórica e aos ataques
israelenses. De quebra, conseguem, via propaganda, acusar o Irã de estar
ligado, mesmo que indiretamente, por ser o responsável por suprir a
Síria e o Hezbollah de mísseis.
Israel mantêm-se confortável,
atacando um inimigo livremente, fazendo sua economia bélica girar e,
caso haja resposta, poderão intervir mais diretamente contra um inimigo
histórico.
Tanto Obama quanto representantes do Reino Unido
manifestaram seu apoio ao "direito israelense de se defender", sem
explicar de que forma Israel estaria se defendendo ao atacar a síria em
sua capital e sem qualquer tipo de provocação.
É a velha desculpa
dos "ataques preventivos" que serviram para justificar ataques,
invasões e guerras americanas pelo oriente médio sem que houvesse
efetivamente nenhum perigo aos EUA ou qualquer aliado.
A crise
síria não tem solução fácil e, na verdade, sequer tem uma solução, se
isto pressupõe uma saída pacífica ou que resulte em menos derramamento
de sangue.
Uma vitória de grupos ligados aos EUA, Israel, Arábia
Saudita e a Al Qaeda - acreditem, não há contradição nesta aliança -
provavelmente abririam caminho para um banho de sangue imenso, com
perseguições às minorias cristãs, drusas e alauítas (grupo ao qual
pertence Assad) e uma crise humanitária sem precedentes aliada à
possível imposição de um regime islâmico no país.
Isto, bem ao
gosto dos EUA e Israel, poderia facilitar uma intervenção e imposição de
governo simpático aos interesses "ocidentais", como no Iraque (que, por
sua vez, continua em franca escalada violenta). A acusação - até o
momento infundada - por parte de Israel de que a Síria teria armas
químicas vai nesta direção, na preparação do terreno para uma invasão.
Uma
vitória de Assad significaria a perseguição aos remanescentes dos
grupos que lutaram para derrubá-lo e talvez um recrudescimento do
regime, assim como um aumento de animosidade contra Israel e a ampliação
do financiamento do Hezbollah e outros grupos anti-Israel.
Os
caminhos para a vitória de um ou outro lado são todos sangrentos,
violentos e extremamente complicados e mesmo improváveis. E a situação
se complica quando, em uma guerra civil, diversos interesses
estrangeiros colidem e resultam em terrorismo e declarações veladas de
guerra.
Fonte: Brasil de Fato
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