Por Breno Altman
Se a vontade política da presidente Dilma Rousseff e seu partido for
realmente enfrentar a onda reacionária que tenta controlar as ruas, há
uma lição de casa a ser feita. O PT e o governo precisam se livrar da
quinta-coluna, que representa interesses alheios à esquerda e aos
setores populares.
O termo nasceu na guerra civil espanhola, nos anos trinta do século
passado. Quando Francisco Franco, líder do golpe fascista contra a
república, preparava-se para marchar sobre Madri com quatro colunas, o
general Quepo de Llano lhe assegurou: “A quinta-coluna está esperando
para saudar-nos dentro da cidade.” Referia-se às facções que,
formalmente vinculadas ao campo legalista, estavam a serviço do
golpismo.
Quinta Coluna
A maior expressão de quinta-colunismo no primeiro escalão atende pelo
nome de Paulo Bernardo e ocupa o cargo estratégico de ministro das
Comunicações. Não bastasse vocalizar o lobby das grandes empresas de
telefonia e a pauta dos principais grupos privados de comunicação,
resolveu dar entrevista às páginas amarelas da revista “Veja” desta
semana e subscrever causas do principal veículo liberal-fascista do
país.
Na mesma edição na qual estão publicadas as palavras marotas do
ministro, também foi estampado editorial que celebra a ação de grupos
paramilitares, na semana passada, contra o PT e outros partidos de
esquerda, além de reportagem mentirosa que vocifera contra as
instituições democráticas e os governos de Lula e Dilma.
Nesta entrevista, Bernardo referenda que se atribua, à militância
petista, um programa que incluiria a defesa da censura à imprensa. Vai
ainda mais longe, oferecendo salvo-conduto à ação antidemocrática da
mídia impressa e restringindo qualquer plano de regulação a perfumarias
que deixariam intactos os monopólios de comunicação, o maior obstáculo
no caminho para a ampliação da liberdade de expressão.
De quebra, o ministro chancela o julgamento do chamado “mensalão”,
ainda que escolhendo malandramente os termos que utiliza, caracterizando
a decisão como um resultado “normal e democrático”. Por atacar seu
partido nas páginas do principal arauto do reacionarismo, recebe de
“Veja” elogio rasgado, ao ser considerado “um daqueles raros e bons
petistas que abandonaram o radicalismo no discurso e na prática.”
Paulo Bernardo não é, porém, o único que flerta com o outro lado da
barricada, apenas o que mais saçarica. Está longe de ser pequena a trupe
de figuras públicas petistas que dormem com o inimigo, a maioria por
pânico em enfrentar os canhões da mídia ou desejosos de receberem afagos
por bom-mocismo.
Fogo Amigo
O governador baiano, Jacques Wagner, é outro exemplo de atitude
dúbia. Há algumas semanas bateu ponto, na mesma revista, para dar seu
aval aos maus-feitos jurídicos de Joaquim Barbosa e seus aliados. Mas
não parou por aí. Quando o presidente do PT, Rui Falcão, estava sob
cerrados ataques por chamar sua gente à mobilização, Wagner correu aos
jornais para prestar solidariedade. Não ao líder máximo de seu partido,
mas aos lobos famintos que se atiravam contra o comandante petista.
Nos últimos dias assistimos incontáveis cenas que igualmente merecem
uma séria reflexão. Não foi bonita ou honrosa a oferta do ministro da
Justiça à repressão da PM paulista contra a mobilização social. Ou o
prefeito paulistano fazendo companhia ao governador Alckmin na resposta
ao movimento contra o aumento das tarifas de transporte. Nesses casos,
contudo, não houve facada nas costas, mas flacidez político-ideológica
que não pode ser relevada.
A questão crucial é que, para avançar na luta contra o reacionarismo e
na reconquista das ruas, o PT e o governo precisam restabelecer uma
ética de combate. A defesa dos interesses populares e da democracia não
poderá ser feita, às últimas consequências, sem uma faxina de
comportamentos e representantes que favorecem os inimigos do povo no
interior das fileiras aliadas.
(*) Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel. Artigo publicado originalmente na Caros Amigos.
Fonte: Fazendo Média
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