quinta-feira, 14 de março de 2013

Gostaria de ter fé…

fé versus razão

Gostaria de ter fé…

Por Renato Prata Biar(*)

De acreditar em santos, em deuses, em Deus
ou outra coisa qualquer.
Gostaria de ter fé…
Aquela fé cega, ociosa
Que retire as minhas culpas
e perdoe minhas palavras mentirosas
Apenas com um ato de genuflexão.
Gostaria de ter fé…
De acreditar numa vida após a morte e no paraíso eterno
De que tudo já está traçado
e que os homens maus vão realmente para o inferno.
Que terei uma segunda chance
Mesmo que não me lembre por um único instante
da outra vida que vivi;
Ficando livre para cometer os mesmos erros que,
na tal da outra vida, também aqui cometi.
Gostaria de ter fé…
De acreditar na ingênua e simples luta
do bem contra o mal.
De que o bem sempre vence
E que nunca será derrotado
De que todos os homens são bons
Quem os desvia do caminho do bem é o pobre do diabo.
Gostaria de ter fé…
De acreditar que a existência de ricos e pobres
Assassinos e vítimas
Fome e fartura
Alagamentos e secas
São consequências de uma incompreensível vontade divina –
e mais incompreensível ainda é a Sua justiça.
E que esse mesmo Ser, que tudo pode, tudo sabe e tudo vê
Mesmo vendo tudo isso e podendo reverter
Nada faz, nada ouve, nada vê.
Gostaria de ter fé…
Mas a fé é avessa às perguntas
Inimiga das dúvidas
e depreciadora da ação.
A fé não move nada!
É a mais completa paralisação
E, em muitos casos, uma verdadeira regressão.
Cada homem é uno, indivisível, imprevisível como ser.
Mas sem o outro não somos nada…
Somos apenas um livro, num lugar onde ninguém o deseja ler.
Homens, entendam de uma vez:
são os seus atos que mudam e transformam o mundo,
que criam e produzem a História;
Então é nos homens que se deve crer.
Enfim, gostaria de ter fé…
Mas, pensando bem,
Que dom maravilhoso é não tê-la.


*Renato Prata Biar é historiador.  Colabora com o “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Mar de Prata“.



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