quarta-feira, 17 de julho de 2013

Imprensa burguesa depreda a verdade e incita a repressão

O monopólio dos meios de comunicação que opera no Brasil aplaude polícia e pacifistas e tenta domesticar os protestos, tapando o sol da rebelião com a peneira da reação, mas não sem encher a boca para falar de "democracia", aquela do tipo que perpetua a opressão do povo brasileiro.

 

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Manifestantes protestam em frente a Rede Globo, no Rio de Janeiro, no dia 03 de julho de 2013

Por Hugo R. C. Souza


Em junho o Brasil se levantou em justa, massiva e combativa revolta contra o velho Estado semicolonial, semifeudal, autoritário, e tudo o que compõe esta "democracia" de fachada, de industriais e latifundiários.

Neste contexto de gigantescas e retumbantes marchas populares e de protestos radicalizados como há muito não se via no país, a imprensa burguesa vem cumprindo o papel político que lhe cabe quando o povo se insurge de maneira retumbante contra esta ordem moribunda. E este papel não é outro senão o da difamação das lutas populares e do açulamento da violência contra o povo rebelde, em luta contra seus opressores.

Quando os primeiros protestos mais avolumados e combativos contra o aumento dos preços das passagens de ônibus começaram a estourar, em Goiânia, Natal, Rio de Janeiro, São Paulo, nos dias seis e sete de junho, com a juventude enfrentando com violência a violência das forças policiais, usando paus, pedras e barricadas em chamas para se defender da feroz repressão, o monopólio da imprensa, tendo a Rede Globo como o cabeça de sempre, apressou-se em exercitar todo o seu repertório.

A 'democracia' das bombas de 'efeito moral'

 

Globo e companhia colocaram em prática o roteiro reacionário de sempre que prevê:
  • Contrapropaganda do elogio da "iniciativa privada" como detentora do "direito divino" de oferecer os serviços públicos. Isso sem considerar a absoluta contradição entre o direito do povo, no caso, o transporte público barato e de qualidade e o imperativo das companhias que exploram o setor de multiplicarem seus lucros às custas da qualidade e da exploração cada vez maior dos seus funcionários (como a determinação de que o motorista deve acumular a função de cobrador) e na base dos aumentos das tarifas. 
  • Tentativas de desqualificação das justas reivindicações do povo. No caso das tarifas dos transportes públicos, martelando que os aumentos das passagens estavam "previstos em contrato" e que os reajustes seriam feitos "abaixo da inflação", como se contratos não pudessem ser questionados e até rasgados quando cotejados com a realidade que não os sustenta ou quando assim exige a autoridade das ruas.
  • Dobradinha com as "autoridades" nas tentativas de criminalização das formas de luta do povo (até por volta do dia 15 de junho, tampouco a "passeata pacífica" era tolerada), abrindo espaço para os gerentes de turno acossados pelos protestos invocarem a lei e a ordem. Arrotam democracia para explicar a repressão e para tentar abafar o grito das multidões com a amplificação, via TV e nas páginas dos jornais, de tergiversações e ataques verbais. Exemplo disso foi quando, em 14 de junho, quando já haviam se realizado cinco grandes protestos em São Paulo e a PM paulista já havia prendido 232 manifestantes, o "governador" de São Paulo, Geraldo Alckimin, foi ao monopólio da imprensa para tentar minimizar os protestos, dizendo se tratarem de "um movimento político" (no sentido de ter algum partido eleitoreiro por trás das manifestações) e para defender a violência com que a polícia paulista reprimiu uma manifestação no dia anterior, sem que fosse questionado acerca disso por um só veículo.
  • Foco exacerbado e dramatização da violência empregada pelos manifestantes contra a polícia, noticiando a autodefesa da juventude combatente como ataques criminosos de "vândalos" e "baderneiros", e deixando em segundo plano ou mesmo escamoteando a brutalidade da própria repressão policial aos protestos, não obstante a abundância de imagens e relatos atestando a ferocidade das hordas fardadas a serviço do Estado e das empresas, como as de ônibus.

 

Só faltou pedir sangue. Faltou?

O papel político do monopólio da imprensa no Brasil é o de desqualificar a juventude combativa, criminalizar a revolta popular e açular a reação violenta do Estado às mobilizações das massas trabalhadoras - sobretudo as mobilizações mais radicalizadas -, o de tentar esvaziar as ruas com os megafones da desinformação e, acima de tudo, preparar o terreno para outras marchas: as das tropas de choque das polícias militares da semicolônia Brasil.

Todos os órgãos mais proeminentes do monopólio clamaram abertamente por repressão, faltando apenas pedir expressamente o sangue dos manifestantes. Ecoaram as palavras de Alckmin e Haddad, que, de Paris, onde apresentavam a candidatura de São Paulo à Expo 2020, foram os primeiros a classificar os protestos e a resistência à violência policial em São Paulo como "vandalismo", e os primeiros a chamar os estudantes insubordinados de "baderneiros". Vale lembrar, tudo isso antes dos primeiros saques ao pequeno comércio, o que seria o mais próximo de algo que poderia ser classificado como tal, ainda que esse tipo de atitude nada tenha a ver com manifestação política.

Assim, o Jornal Nacional de 12 de junho já falava que "protesto contra aumento do transporte dá lugar ao vandalismo" para se referir à revolta dos manifestantes que tomaram o centro de São Paulo no dia anterior, no terceiro protesto contra o aumento das passagens, depois que a Polícia Militar de Alckmin levou a cabo violentas e autoritárias tentativas de dispersão. O JN festejou a ação violenta da polícia e a prisão de 20 jovens manifestantes enquadrados em acusações de crimes inafiançáveis, e ainda foi cobrar da Polícia Federal a investigação dos protestos "violentos" em São Paulo e no Rio de Janeiro.

No carro-chefe do "jornalismo" da Rede Globo, Haddad sofismou como um autêntico gerente militar para tentar desqualificar as manifestações, dizendo que "a liberdade de expressão está sendo garantida, mas as pessoas não estão fazendo uso adequado dessa liberdade de expressão".

Estadão: 'a PM agiu com moderação'

 

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Manifestantes protestam contra a TV Globo durante ato na final da Copa das Confederações, 30 de junho

No dia seguinte, 13 de junho, os dois maiores jornais da imprensa burguesa paulista, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo empolavam o discurso da lei e da ordem e se apressavam em requisitar que o Estado agisse "já" contra o povo nas ruas, dando a senha para o aumento da repressão policial aos protestos, que se avolumavam e já faziam tremer a espinha dos inimigos do povo, dos gerentes políticos às elites parasitárias, entre as quais estão os próprios donos dos jornalões.

Em editorial intitulado "Chegou a hora do basta", o "Estadão" afirmou que os protestos contra o aumento das passagens em São Paulo eram promovidos por "baderneiros", incitou a polícia contra os manifestantes, dizendo que, "daqui para a frente, ou as autoridades determinam que a polícia aja com maior rigor do que vem fazendo ou a capital paulista ficará entregue à desordem", cravou que a "A PM agiu com moderação" e festejou que o "governador" Geraldo Alckimin parecia disposto a "endurecer o jogo".

Já a Folha de S. Paulo exortava o Estado a "Retomar a Paulista", título do seu editorial do dia 13 de junho, no qual o jornal afirmava que esta "Avenida vital de São Paulo se tornou território preferido de protestos abusivos, que prejudicam milhões para chamar a atenção do público", expressando a postura da imprensa burguesa no momento imediatamente anterior ao agigantamento das manifestações em todo o território nacional, quando os jornais e emissoras do monopólio se viram obrigados a abandonar, momentaneamente, o seu discurso de que o povo não pode ocupar as vias públicas em protesto porque isso cercearia o "direito de ir e vir" das "pessoas de bem"...

Dizia ainda o editorial da Folha, transbordando ódio de classe:

"Os poucos manifestantes que parecem ter algo na cabeça além de capuzes justificam a violência como reação à suposta brutalidade da polícia, que acusam de reprimir o direito constitucional de manifestação. Demonstram, com isso, a ignorância de um preceito básico do convívio democrático: cabe ao poder público impor regras e limites ao exercício de direitos por grupos e pessoas quando há conflito entre prerrogativas."
E seguia:

"O direito de manifestação é sagrado, mas não está acima da liberdade de ir e vir - menos ainda quando o primeiro é reclamado por poucos milhares de manifestantes e a segunda é negada a milhões."

Mudança na cobertura?

Ficou marcada como peça reacionária exemplar desta "cobertura" a intervenção de Arnaldo Jabor no Jornal da Globo do dia 12 de junho. Jabor comparou os jovens que participavam de manifestações a integrantes da organização criminosa paulista PCC, dizendo que os manifestantes não valiam "nem 20 centavos", entre outras patifarias.

Centenas de milhares de pessoas saíram às ruas das principais cidades do Brasil, mas também nas cidades pequenas e médias, sob o grito de que não era apenas por 20 centavos que as massas trabalhadoras, sempre com a juventude na linha de frente, levantavam-se para afirmar toda a sua autoridade. A partir de então, com a repercussão de casos de jornalistas alvejados por balas de borracha e a enxurrada de imagens da violência policial registradas pelo próprio povo, observou-se uma mudança de postura na cobertura da imprensa reacionária, mas não a ponto de contradizer suas características antipovo nem tampouco de maquiar a quem e a quê ela realmente serve. Ao contrário.

Assim, ao mesmo tempo que se viu obrigada a recuar nos elogios à repressão policial e nas requisições do "basta" aos protestos, diante do gigantismo das manifestações populares que se espalharam pelo país, os jornais e emissoras de TV da burguesia reforçaram o discurso legalista, esmerando-se na contrapropaganda de que manifestações legítimas eram só aquelas que se limitavam ao "exercício da cidadania" e às formas de "liberdade de expressão" previstas na Constituição Federal, em uma clara tentativa de subtrair à efervescência política que tomou conta do país a sua marca identificadora, que é a sua combatividade, tentando mesmo criminalizar tudo e todos que pudessem ser identificados pejorativamente como "radicais".

Além disso, os integrantes do monopólio dos meios de comunicação tentaram dirigir os protestos, tentando fazer crer que eram aceitáveis apenas as manifestações cujas pautas se balizassem por questões da esfera institucional, ou seja, reformistas, que remetessem à possibilidade de "melhoria" do Estado e "aprimoramento" desta "democracia" só de nome, como se o povo devesse reivindicar melhores condições para seguir sendo explorado e oprimido, e não lutar para fazer arrebentar os seus grilhões e para construir uma democracia de novo tipo.

E foi assim que se desencadeou uma das maiores e mais ferozes campanhas de contrainformação por parte da imprensa reacionária em toda a história desta semicolônia Brasil.

"Vândalos" e "baderneiros", ad infinitum...

Tentando minimizar esta ameaça,buscaram transformar a generalizada rebelião popular exatamente no seu avesso, ou seja, em manifestações politicamente estéreis, vazias das questões de classe.

E dá-lhe elogios às marchas "pacíficas", menções à PEC 37 (da qual o Congresso Nacional abriu mão com o maior prazer), e à pequena corrupção, que é a corrupção do gabinete parlamentar e do cartão corporativo, tudo para fazer fumaça à grande corrupção que constitui, baliza e sustenta a semicolônia Brasil, desde os primeiros acordos visando a próxima farsa eleitoral até as decisões políticas sobre o trabalho, o campo e as "políticas sociais", passando pelo passe-livre (este sim, com tarifa quase zero!) dado aos monopólios internacionais para fazerem o que bem entendem com nosso chão e com nossa gente.

E nesse momento eis que volta à cena o Arnaldo Jabor, pedindo desculpas por ter dito alguns dias antes que os manifestantes sequer valiam 20 centavos, mas bem à caráter para a tal "mudança na cobertura da imprensa", ou seja, tentando dizer ao povo como se comportar, afirmando que a energia do movimento deveria ser canalizada justamente para questões que passam ao largo das mais prementes questões de classe, citando justamente ecologia, corrupção, inflação e a "terrível ameaça da PEC 37"...

E foi também em meio a toda esta picaretagem "informativa" que aconteceu uma das patuscadas mais ilustrativas deste esforço desesperado da imprensa reacionária para apaziguar as ruas do país. O apresentador de TV José Luiz Datena, conhecidoo por seu "radicalismo" na defesa do Estado penal máximo, colocou ao vivo, em seu programa na Band, uma enquete perguntando se a audiência era favorável a protestos com "baderna", palavra que a imprensa burguesa adotou para (des)qualificar ações violentas contra o Estado. Pois os telespectadores não caíram na armadilha, e a grande maioria respondeu que "sim", ou seja, que protesto que é protesto tem que ser radicalizado, não obstante as gaguejadas do Datena e os estratagemas para tentar, sem sucesso, fazer com que o resultado da enquete seguisse o receituário da difamação aos manifestantes em luta por uma democracia de verdade.

Os verdadeiros vândalos

A reação feroz ao levante popular no Brasil se manifestou, sobretudo, nas repetições ad infinitum das palavras "vândalos" e "baderneiros" para classificar quem participa da resistência ativa aos ataques da repressão com ataques aos símbolos da opressão e da podridão generalizadas, caso de agências bancárias e prédios do Estado onde se delineiam as artimanhas desse fascismo maquiado, como a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e o prédio da prefeitura de São Paulo.

A reação alardeia em torno dos vitrais franceses quebrados na Alerj, tentam tapar o sol da rebelião com a peneira da reação, clamando por "paz" em meio à retumbante rebelião popular que varre o país de norte a sul. Incita o coro de "Sem violência" em meio às marchas, o coro da ilusão de que este Estado assassino pode e deve ser confrontado e enfrentado com flores, abraços e até com "amor", e incentivam até mesmo a delação dos mais radicalizados, tentando jogar povo contra povo, com direito à divulgação de um telefone especial do disque-denúncia para alcaguetes "exercerem a cidadania"que a imprensa burguesa, as elites e os poderosos tanto gostam de cultivar entre os desavisados e os analfabetos políticos.

Tudo como se os maiores destruidores do patrimônio público deste país não fossem os políticos empoleirados no Congresso Nacional e nos sucessivos turnos de gerenciamento desta pobre semi-colônia cujo slogan oficial diz que somos um "país rico e país sem pobreza", com suas privatizações, olíticas vende-pátria e depredações sem fim dos direitos dos trabalhadores e dos serviços prestados à população.

Foi esta a mudança na cobertura da imprensa? Foi esta a guinada radical na forma como a imprensa burguesa apresentou os protestos populares no Brasil em seus jornais e telejornais, em seus plantões, editoriais e análises políticas, com seus "especialistas" chamados para opinar sobre o que acontece nas ruas?

O papel da imprensa popular e democrática

O máximo de "mudança" foi que, quando os protestos se agigantaram, a imprensa burguesa aumentou, pelo menos por ora, a sua paciência com manifestações de ocupação das ruas. Atém ontem, diziam: "O direito de manifestação não pode tolher o direito de ir e vir"; Agora, cacarejam ainda mais alto: "Os baderneiros não podem atrapalhar o direito de manifestação". Mas a juventude rebelde, o grosso dela, sabe muito bem identificar quem é quem.

Equipes de "jornalismo" da Rede Globo foram escorraçadas das manifestações. Carros das emissoras Record e SBT foram incendiados. A Globo foi obrigada a filmar os protestos dos seus helicópteros, por de trás das tropas de choque ou com câmeras escondidas e repórteres à paisana.

Também passaram a insistir em noticiar casos isolados de policiais, fuzileiros, gente da direita, "golpistas" e até de "neonazistas" e "skinheads" infiltrados nas manifestações, em mais uma nuance das patéticas tentativas de desqualificar a rebelião popular, tentando fazer esquecer que a centelha para a explosão da revolta agigantada e espalhada é o ódio represado contra tanta política antipovo.

Neste momento de embates nas ruas e de acirramento da luta de classes no país, salta às vistas mais que nunca a importância da imprensa popular e democrática, cujo papel é apoiar as lutas radicalizadas do povo contra o velho Estado e seus sócios, ajudar a deter a contraofensiva reacionária na batalha ideológica, mostrar que os protestos das massas trabalhadoras e estudantis brasileiras não têm que desaguar nas urnas, como pedem as classes dominantes, porque as urnas são viciadas pelo poder econômico e servem apenas para legitimar, via farsa eleitoral, a miséria e o fascismo que estão por toda parte.

É dever da imprensa popular e democrática espelhar a necessidade e a urgência de rumos e mudanças de fato radicais e encabeçadas pelas classes populares. É atribuição histórica da imprensa popular e democrática contribuir com a formatação de um programa revolucionário para as massas trabalhadoras brasileiras, insistir na necessidade de uma direção mais consequente para ocupar o lugar da ausência de lideranças tão festejada pela imprensa burguesa, festejada justamente porque esta lacuna nas lutas populares abre caminho para o rearranjo das forças retrógradas, para conformações anti-povo, para a direita cavalgar a rebelião e para o reformismo estéril, e não para o caminho libertador de uma nova democracia.


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