segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Centenário do nascimento de Maurício Grabois


Comunista de elevada envergadura
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Maurício Grabois ingressou nas fileiras do Partido Comunista do Brasil em 1932, quando o partido tinha então dez anos de existência e o jovem militante ainda não completara seu 20° aniversário. A partir de então, participou ativamente das principais batalhas ideológico-políticas do proletariado brasileiro e de sua vanguarda, do Levante Popular Revolucionário de 1935, da Constituinte de 1946 na bancada do PCB, destacou-se no combate ao revisionismo de Kruschov e na cisão com seus representantes no partido. Foi dos mais ativos na luta de Reconstrução do partido em 1962, bem como defensor da estratégia da guerra popular prolongada como caminho para a revolução brasileira. Como dirigente comunista e comandante militar da Guerrilha do Araguaia (1972 a 1974), combateu e tombou de armas nas mãos como selo de ouro de toda uma vida dedicada a servir às massas, à revolução e à causa do comunismo.

No centenário do nascimento deste grandioso dirigente comunista brasileiro rendemos nossas homenagens e humilde saudação: Glória Eterna a Maurício Grabois!
Breve biografia de Maurício Grabois
Victória Lavínia Grabois Olímpio*
Maurício Grabois nasceu em 2 de outubro de 1912, em Salvador, Bahia. Ele foi o quinto filho do casal Augustin Grabois e Dora Kaplan, judeus russos que fugiram da Ucrânia em 1905, durante a guerra do Japão contra a Rússia. Augustin viajou para o Novo Mundo com Dora e a primeira filha, em busca de melhores condições de vida. Viveram na Argentina, onde a família cresceu, e desembarcaram no Brasil, fixando residência em Salvador, depois de passar por Belém e Recife.
Em 1925, Maurício Grabois ingressou no Ginásio da Bahia, tendo como colega de turma Carlos Marighela. Nesse colégio, fez os estudos secundários e sofreu forte influência do diretor, Bernardino José de Souza - um profundo conhecedor da realidade nacional.
Antes de completar 20 anos, em 1932, optou pela carreira militar. Ainda na escola militar, Grabois ingressou no Partido Comunista, passando a dedicar sua vida por inteiro à atividade partidária.
Em 1934 participou das jornadas contra o nazi-fascismo. Em 1935, trabalhou na criação e fortalecimento da Aliança Nacional Libertadora, sendo já então dirigente regional da organização.
Nos dez anos da ditadura Vargas, quando se desencadeou brutal repressão policial contra os comunistas, Maurício Grabois, desenvolveu incansável atuação política de resistência. Foi preso em 1941, passando um ano e meio na prisão. Ao ser libertado, integrou imediatamente o Secretariado Nacional Provisório do Partido, no qual teve como tarefa a rearticulação e a realização da Conferencial Nacional, realizada em 1943, na Serra da Mantiqueira, onde se tornou membro do Comitê Nacional, da Comissão Executiva e do Secretariado do Comitê Central.
Em 1945, foi eleito deputado constituinte e desenvolveu intensa atividade parlamentar. Foi líder da bancada na Câmara Federal por dois anos, até a cassação dos mandatos dos deputados comunistas e passou a viver na clandestinidade.
As grandes divergências ideológicas do mundo comunista ao longo dos anos de 1950 levaram-no a se opor frontalmente à linha partidária do PCB, sendo expulso do Partido em 1961. Após essa dissensão, reconstruiu o Partido Comunista do Brasil, cujo programa contou com sua destacada colaboração.
Em 1964, com o golpe militar, Grabois, sua mulher Alzira e seus filhos foram morar em São Paulo e toda a família voltou a viver na clandestinidade, um período difícil para todos. O último encontro, de Maurício Grabois com a família foi no início de janeiro de 1972, antes do início do movimento guerrilheiro do Araguaia. Ele nunca mais foi visto pela mulher e a filha.
O golpe de 1964 intensificou os debates, os conflitos, as análises políticas que o empolgavam. Assim, Grabois partiu para a ação direta, dando toda sua força à preparação da luta armada no Araguaia. Ali esteve desde os primeiros momentos, ali conviveu com o povo explorado, ali comandou as Forças Guerrilheiras do Araguaia.
A luta política cruzou o destino das tragédias pessoais. André Grabois, seu filho, foi assassinado quando, em 14 de outubro de 1973, os militares realizaram uma importante mobilização, preparando uma emboscada na fazenda Caçadora, no sul do Pará. Seu genro, Gilberto Olímpio Maria, também desapareceu, no dia de Natal de 1973; Criméia Alice Almeida, mulher de André, grávida de cinco meses, deixou a guerrilha e voltou para São Paulo, onde foi presa dois meses depois. Seu filho João Carlos, neto de Grabois nasceu no DOI-CODI de Brasília.
Maurício Grabois escreveu após a morte de seu filho: "O destacamento A perdeu seu comandante, homem capaz e um dos mais puros revolucionários. Estava ligado ao P desde os 16 anos e podia dar muito à revolução. Era excelente comandante. O primeiro erro que, no entanto, cometeu, lhe foi fatal. Tinha 27 anos e seu verdadeiro nome era André Grabois"
Maurício foi Abel, Mário, Freitas, Chico, Velho. Os nomes do guerrilheiro cintilam como reflexo da arma ao luar. A revolução foi a sua razão de viver. O seu grande sonho era terminar com a opressão capitalista imposta ao povo brasileiro. Contra a ditadura militar, ele escolheu a luta armada.
Maurício Grabois caiu fuzilado, no dia 25 de dezembro de 1973, segundo o relato de moradores da região. No coração crivado de balas, levou a dor de muitas mortes: do seu filho André; de Gilberto; de inúmeros jovens guerrilheiros do Araguaia; do grande Che Guevara, assassinado anos antes. Deixou o exemplo de sua integridade, da sua ironia e humor, da sua dedicação e lealdade aos companheiros e ao seu Partido, do seu otimismo e entusiasmo pela revolução. Sua vida será fonte de inspiração constante para os jovens que acreditam em uma sociedade mais justa e igualitária.
Vale ressaltar, o corpo de Maurício Grabois; de seu filho – André Grabois; seu genro – Gilberto Olímpio Maria e dos outros 67 guerrilheiros e camponeses da Guerrilha do Araguaia nunca foram encontrados. E durante as operações militares na região do Araguaia, os agentes públicos foram autores de graves violações aos direitos humanos, como detenções ilegais e arbitrárias, torturas, execuções sumárias e desaparecimentos forçados, as quais foram perpetradas contra os militantes do Partido Comunista do Brasil e também aos camponeses locais.
Por muitos anos o Estado brasileiro manteve segredo sobre as operações realizadas na região. Assim mesmo, as investigações realizadas pelo Estado, no palco da guerrilha foram inócuas. Até a presente data, não averiguou as responsabilidades individuais nem processou os perpetradores dos crimes cometidos.
Destarte, passaram-se quase 40 anos desde a ocorrência dos fatos, os responsáveis permanecem no mais absoluto silêncio. Isto decorre principalmente da interpretação prevalecente da Lei nº 6.883, conhecida como Lei de Anistia, segundo a qual, os agentes públicos que cometeram crimes durante o Regime militar seriam beneficiados pela extinção da punibilidade, tem representado na prática, um obstáculo para o acesso à justiça e conhecimento da verdade dos familiares e da sociedade brasileira.
*Vitória Grabois é filha de Maurício Grabois e presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro.

Nota da Redação
Maurício Grabois desempenhou papel destacado na luta ideológico-política no seio do Partido Comunista do Brasil pela assimilação e encarnação da ideologia do proletariado, à época, o marxismo-leninismo e prestou importante contribuição para a luta no seio do Movimento Comunista Internacional.
Desde a direção central do PCB, ao lado de Pedro Pomar, Carlos Danielli, Lincoln Oest, entre outros, levantou sua voz, junto a outros camaradas, contra o revisionismo.
Após o XX Congresso do PCUS (1956), quando Nikita Kruschov abriu ataque pérfido contra a linha revolucionária do partido de Lênin e Stalin e o caminho trilhado até então pela Revolução de Outubro de 1917, Grabois assumiu seu posto de combate em defesa do marxismo-leninismo.
As posições revolucionárias do IV Congresso do partido (dezembro de 1954/janeiro de 1955), ainda que sofrendo da influência ideológica pequeno-burguesa, impulsionaram o partido pelo caminho revolucionário. Porém, logo Prestes lidera a posição direitista de autocrítica de suas resoluções, retomando o caminho eleitoreiro, aderindo à campanha presidencial de JK. Esta fora nova guinada do partido para a direita, inaugurando a política reboquista à grande burguesia. Com o advento do XX Congresso do PCUS, o grupo de Prestes se viu encorajado a aprofundar-se no reformismo. Logo lançaram a "Declaração de Março de 1958", expressão concentrada da linha oportunista de direita imposta ao PCB, particularmente no que toca à questão do poder. Na declaração, Prestes defende a linha kruschovista de transição "pacífica" para a revolução brasileira. 
Em resposta a essa declaração, em 1960, Grabois passou ao ataque com o seu"Duas concepções, duas orientações políticas". Em dura crítica à linha revisionista assumida pelo PCB que propunha, de fato, a salvação do velho Estado e sua democratização como caminho para a revolução brasileira, essa foi a resposta mais contundente formulada até então. Pela primeira vez se caracterizou como revisionistas as posições oportunistas de direita defendidas por Prestes e seu grupo.
"As tendências oportunistas de direita da Declaração se manifestam com maior nitidez na questão do poder – problema fundamental da revolução. (....) a Declaração chega a uma conclusão falsa ao abdicar por completo da luta por esse objetivo, limitando-se a reivindicar modificações parciais na política e na composição de sucessivos governos, nos marcos do regime vigente.
A Declaração considera que as forças revolucionárias chegarão ao poder através da acumulação de reformas profundas e consequentes na estrutura econômica e nas instituições políticas."
Como AND já mostrou (n° 63, março de 2010), a profunda crítica de Maurício Grabois serve como uma luva para o combate às posições assumidas hoje pela sigla pecêdobê, outro partido revisionista, caudatário da social-democracia petista e defensora da ensebada e velha fórmula de então do "desenvolvimentismo", agora com o aporte medíocre do "desenvolvimentismo popular".
A partir do XX Congresso do PCUS, acirra-se a luta de duas linhas no seio do Movimento Comunista Internacional. Essa luta, que vinha se desenvolvendo internamente, cujas posições foram se externando nas reuniões e congressos de partidos comunistas nos anos seguintes, aprofundaram-se até que, em 1963, essa luta atinge um novo patamar com a publicação da Carta Chinesa, como ficou conhecida a Proposições acerca da Linha Geral do Movimento Comunista Internacional. À esta contundente e demolidora crítica às concepções do novo revisionismo seguiram-se outros documentos (os Nove Comentários) sobre a carta de resposta da direção do PCUS à carta do Partido Comunista da China. A Grande Polêmica, como ficou conhecida a vigorosa luta de linhas no MCI, sob a condução do "Grande Timoneiro" Mao Tsetung, serviu como um potente instrumento para a orientação dos autênticos partidos comunistas Marxistas-Leninistas no combate ao revisionismo contemporâneo.
O Partido Comunista do Brasil, à época reconstruído sob a sigla PCdoB, dirigido por Maurício Grabois, Pedro Pomar, Carlos Danielli, Lincoln Oest, João Amazonas, entre outros quadros revolucionários provados em décadas de luta, era nominalmente atacado pelo PCUS, acusado de "prática antipartido" por haver denunciado e rompido com o grupo revisionista de Luiz Carlos Prestes.
O Partido Comunista do Brasil se integra à tormentosa batalha em defesa do Marxismo-Leninismo e Grabois se encarrega de formular a Resposta a kruschov, publicada como documento do Comitê Central em 1963.
Ali, Grabois questiona "que poderiam fazer os verdadeiros revolucionários? Não lhes restava outro caminho senão reorganizar o Partido Comunista do Brasil".
Na sequência, defendendo os princípios do Marxismo-Leninismo, a Revolução de Outubro e o significado do PCUS, partido de Lênin e Stalin, para a revolução mundial, Grabois desenvolve uma crítica avassaladora:
"Para os revolucionários brasileiros é verdadeiramente chocante que tais ataques procedam justamente de homens que estão à  frente do Partido fundado por Lênin e que, no curso de sua história, combateu implacavelmente os oportunistas e apoiou com decisão, em todas as circunstâncias, os revolucionários. Educados como comunistas no exemplo do Partido Bolchevique, sempre vimos na União Soviética uma base poderosa do movimento revolucionário mundial. Por isso não podemos aceitar a conduta daqueles que, na direção do maior país socialista, renegam as gloriosas tradições do bolchevismo e apóiam abertamente os revisionistas em todas as partes do mundo.
(...) A América Latina é cenário de uma guerra surda entre o imperialismo ianque e as massas populares. Por isso, somente a luta mais enérgica, em particular a luta armada, pode abrir o caminho da emancipação aos povos oprimidos deste Hemisfério.
(...) Os verdadeiros revolucionários não podem aceitar as palavras de Kruschov que embelezam o imperialismo dos Estados Unidos."
Com o desenvolvimento da luta no seio do Partido Comunista do Brasil, seus mais destacados dirigentes, notadamente Pedro Pomar, se acercaram do pensamento Mao Tsetung, como se referia à época aos aportes do maoísmo ao Marxismo-Leninismo.
Com decisão da deflagração da Guerra Popular no Brasil, Maurício Grabois transferiu-se para o campo, onde assumiu o posto de Comandante Militar das Forças Guerrilheiras do Araguaia. Sexagenário, o comandante comunista transbordava vigor e otimismo revolucionário.
Em 1° de agosto de 1972, primeiro ano de combates nas selvas do Araguaia, em uma página de seu diário, ele fez um resgate histórico sobre essa data, entre outros acontecimentos, Grabois destacou:
"Também a 1º de agosto, comemora-se o 45º aniversário do Exército Popular de Libertação da China. Em 1927 levantavam-se contra Chiang Kai-Shek unidades militares de Nanchang, que se uniram aos camponeses da Revolta da Colheita de Outono, chefiada por Mao Tsetung, e aos mineiros rebeldes de Anuiang. Surgiu um exército de novo tipo, profundamente ligado ao povo e dirigido pelo Partido Comunista. Desde então o EPL realiza notáveis façanhas. Foi fator decisivo para derrotar os invasores japoneses e para tornar vitoriosa a Revolução Chinesa. Hoje, é o mais forte sustentáculo da Revolução Mundial. Todos os revolucionários autênticos têm profunda admiração pelos combatentes do EPL. Este se forjou e se desenvolveu na guerra de guerrilhas até se tornar um poderoso exército regular. Seus chefes e, em especial, Mao Tsetung são consumados mestres da guerra popular.
Por tudo isso, nós, que nos encontramos lutando nas selvas do Araguaia, usando a tática de guerrilha, inspiramo-nos nas gloriosas tradições de luta do Exército Popular de Libertação. Chegará também o nosso dia, em que, de pequenos grupos de guerrilheiros, nos transformaremos em poderosa força armada regular. Viva o 45º aniversário do EPL."


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