sexta-feira, 11 de maio de 2012

A corajosa nomeação de Brizola Neto


Novo ministro teria muito a contribuir, tanto nos temas de Trabalho quanto na democratização das comunicações. Mas haverá em sua escolha mais que mera simbologia?
Por Antônio Martins
O Palácio do Planalto confirmou ontem o nome do novo ministro do Trabalho: Brizola Neto, descendente e inspirado pelo velho Leonel, deputado federal pelo PDT-RJ e participante ativo da blogosfera, onde mantém o polêmico (e muito bem-informado)Tijolaço. Há três simbologias implícitas no ato.
A primeira é uma tentativa de aproximação de Dilma com a primeira geração do trabalhismo brasileiro. Expressa nas figuras de Getúlio Vargas, Leonel Brizola e João Goulart, ela quase nada tem a ver com o PDT de hoje — mas o ministério do Trabalho é um de seus grandes símbolos. Foi criado por Getúlio, em 1930 (à época, como ministério do Trabalho, Indústra e Comércio). Mais tarde, ao ocupá-lo durante poucos meses (junho de 1953 a fevereiro de 1954), Jango iniciou a trajetória nacional que o levaria à Presidência. Elevou o salário-minimo em 100% (depois de quatro anos de congelamento). Atraiu a ira dos conservadores, que forçaram sua saída, no âmbito do movimento para depor o próprio presidente.
O segundo símbolo relaciona-se à mídia. Brizola Neto contrapõe-se a Miro Teixeira, que foi ministro das Comunicações e é conhecido por suas amplas ligações com o oligopólio instalado no setor. Ambos pertencem ao PDT fluminense. Mas Brizola Neto é uma defensor constante de políticas para ampliar a liberdade de expressão (intervém constantemente sobre o tema no Tijolaço, esteve presente nos dois primeiros Encontros Nacionais de Blogueiros Progressistas). Já Teixeira tem atuado na chamada “CPI do Cachoeira” para evitar que esta investigue os sinais de envolvimento da mídia (em especial da revista Veja) com o tráfico de influências protaganizado pelo bicheiro e seu parceiro, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). A tentativa de blindagem está narrada no site 247.
Por fim, Brizola Neto tem fortes laços com os movimentos sociais, como deixa claro o vídeo acima (para poupar formalidades protocolares, veja a partir de 1m30s), que registra sua fala, e a de João Pedro Stédile, na cerimônia em que a Câmara dos Deputados confere a medalha Mérito Legislativo ao líder do MST (e a dezenas de outros agraciados). A parte mais conservadora da plateia vaia Stédile. Ele e Brizola respondem em entrevistas onde denunciam o comportamento intolerante das elites brasileiras.
Haverá mais que simbologias na nomeação do novo ministro? A resposta virá nos próximos meses. O ministério do Trabalho é apenas uma sombra do que foi em 1954: todas as políticas que dizem respeito à distribuição de riquezas são hoje articuladas pela chamada “área econômica” do governo (deve-se reconhecer que tem havido, há seis anos, lenta recuperação dos salários). No terreno das Comunicações não surgiram, por enquanto, sinais de que o governo esteja disposto a grandes projetos de sentido democratizante. O Plano de Banda Larga arrasta-se, com a Telebras desativada e o governo apenas observando a má-vontade das empresas privadas que dominam o setor.
A nova nomeação significará novos rumos? Ou Brizola será refém da máquina e de seu posto? Quem o conhece sabe que ele dificilmente se conformaria a esta condição…

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