domingo, 6 de julho de 2014

Caracas, falência total




La Tiradera - [Enrique Bethencourt, tradução do Diário Liberdade]


É difícil encontrar no mundo um meio urbano que tenha retrocedido tanto na última década. Passando de ser um local de prosperidade e esperança a uma cidade de desemprego e pobreza, na qual as pessoas fogem em massa à procura de uma vida melhor que aqui veem negada. Neste caso não adianta dissimular ou tentar ocultar a realidade por maiores ou menores simpatias políticas.


Trata-se de dados objetivos, de fria realidade impossível de mascarar.

O desemprego é uma das chaves. Os dados oficiais assinalam um desemprego de 18,1%. Mas as autoridades reconhecem que a percentagem está completamente maquilhada e que alcança na realidade os 50%. Metade da população não tem emprego. Muitos carecem por completo de rendimentos. Um enorme drama social comparável ao dos países mais empobrecidos do planeta.

A situação da administração pública é simplesmente caótica. Tanto que pode ser dito, sem medo a se enganar, que a urbe se encontra em situação de verdadeira falência, incapaz de assumir as dívidas nem de desenvolver suas obrigações em infraestruturas ou em funcionamento dos serviços públicos essenciais, deixando desabrigados os seus habitantes.

Êxodo

O êxodo populacional foi uma constante nos últimos anos, o que tem significado que dezenas de milhares de casas, centenas de edifícios tenham ficado devolutos, mortos. Uma cidade fantasma começa a se configurar sobre as ruínas da que já foi urbe dinâmica, viva, orgulho de seus habitantes e do conjunto do país, que atraia pessoas do resto de cidades e estados.

Os especialistas discordam a respeito de qual seja a dívida real da cidade. 20.000 milhões de euros para alguns. Outros levam-na até os 30.000. Uma dívida que arrasou com o público mas também com numerosas empresas privadas que nem cobraram nem cobrarão e que despediram milhares de pessoas.

O problemas multiplicam-se. A atmosfera fica a cada vez mais irrespirável. A conflitualidade social é inclusive baixa, para a gravidade das circunstâncias que atravessa a maioria da população, que em poucos anos viu cair a pique os seus parâmetros de qualidade de vida.

O desastre vai in crescendo de mês a mês. Dia-a-dia. Agora, destacam as numerosas vítimas dos cortes de água. Milhares de pessoas que por não poder fazer frente aos pagamentos, ficam sem esse elemento substancial para a vida -para fazer de comer, para lavar-se, para limpar sua roupa e seus próprios lares- que é contar com água corrente em suas casas.

Pessoas, famílias, colégios ou instituições, com atraso há mais de dois meses no pagamento do recibo da água, veem como se lhes corta o serviço em uma mostra de absoluta falta de humanidade.

Calcula-se que 30.000 lares ficarão sem água este verão. Tanto que ativistas sociais, completamente desesperados pelo que está ocorrendo, decidiram pedir a ajuda de Nações Unidas.

Todo o que lhes conto é verdade. Salvo um detalhe. Não é Caracas a cidade afetada. É Detroit, nos Estados Unidos. Se fosse Caracas, a notícia abriria telejornais e seria eixo dos debates radiofónicos e as tertúlias televisivas. O jornalismo, a informação, também, se encontram em estado ruinoso, em falência total, há muito tempo. E não só em Detroit.




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