Favela da Rocinha. Foto: Roberto Neves |
Por Cléber Araújo
Diferente da promessa de pacificação feita pelo Governo do Estado, Sérgio Cabral Filho, a Rocinha se encontra numa situação delicada, onde os moradores permanecem reféns da violência, talvez, mais do que antes.
A cinematográfica ocupação militar – vendida pela grande mídia como um sonho de liberdade para as comunidades sob o domínio do poder paralelo – trouxe consigo a esperança de dias melhores para muitos moradores, que acreditavam que essa iniciativa seria a primeira etapa, feita pelo Estado, para retomar um território periférico antes entregue à própria sorte.
Passado o processo de ocupação militar e instalada a UPP na comunidade, os moradores perceberam que ainda estão à mercê da própria sorte. A polícia que deveria proteger a população é a principal acusada do caso Amarildo – desaparecido desde uma abordagem feita por policiais da unidade comunitária.
Depois das acusações de tortura e assassinato de Amarildo outras pessoas tomaram coragem e tornaram público a prática de tortura na rotina policial na comunidade. Em tempos que muito se propaga os direitos do cidadão e a democracia, a Rocinha, assim como outras favelas que receberam intervenção militar, revive tempos da ditadura.
Paralelo aos problemas de conduta da polícia, os conflitos se intensificaram entre os becos da favela. A situação de instabilidade na Rocinha é um reflexo da realidade nos territórios ditos pacificados: O crime organizado não foi desarticulado.
O medo assombra os moradores de áreas da comunidade que passaram a conviver com o risco de ser mais um na estatística de vitimas de bala perdida, ocasionadas por essa guerra urbana que parece não ter fim.
A violência na Rocinha vai além dos enfrentamentos entre polícia e bandido. No dia 5 de março, mais uma vítima de violência sexual foi encontrada morta. É o segundo caso em menos de seis meses.
Dessa vez, a vitima foi Gleice Oliveira, com idade de 18 anos, que estava desaparecida desde segunda-feira (3/3). Ela foi encontrada morta no banheiro de um bar localizado na Cachopa. A polícia investiga o caso para encontrar o autor do crime.
Gleice Oliveira. Foto extraída de página pessoal em rede social |
Casos como esse levantam questionamentos do tipo: Por que antes da “pacificação” não era comum esse tipo de crime? Curiosamente, quando o poder paralelo era absoluto na comunidade, estabelecia regras (leis) de convivências que eram respeitadas por consequência das punições rigorosas.
Com a entrada do Estado, representado unicamente pela UPP, essas regras deixaram de existir. O problema não está na presença do Estado, e sim na sua ausência. A permanência da polícia, que deveria ser pacificadora, é apenas parcial…para fazer uma maquiagem social.
A falta de policiamento ostensivo faz da comunidade uma terra sem lei: nem o tráfico impõem suas regras e nem o Estado faz valer a lei e os direitos para assegurar um mínimo de segurança ao indivíduo favelado – tendo como resultado, uma barbárie como essa. Fica a ressalva, que estamos refletindo aqui – especificamente – a instituição militar urbana, sem levar em consideração outras instituições essenciais para uma vida social digna.
É importante questionarmos: para quê ou para quem está servindo essas intervenções políticas que não melhoraram em nada a vida na comunidade?
Fonte: Fazendo Média
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