Personalidade do movimento operário inglês e internacional, filha mais
nova de Marx, companheira do socialista inglês Eduard Aveling.
Participou da Federação Democrática liderada por Henry Hyndman no início
dos anos 1880. Junto com Eduard Aveling e William Morris participou da
formação da Liga Socialista, tendo publicado, no Commonwal - jornal
mensal da entidade - vários artigos e comentários sobre a questão
feminina e outras questões. Foi uma ativa militante sindical, e em 1889
participou, como delegada, da fundação da Segunda Internacional. Após a
morte de Engels dedicou-se à tarefa de organizar os manuscritos de Marx.
Suicidou-se em 31 de março de 1898 com a idade de 43 anos.
Não se passou muito tempo, talvez muito pouco, para escrever a biografia
de um grande homem quase que imediatamente após sua morte, e a tarefa é
duplamente difícil quando recai sobre uma pessoa que o conhecia e o
amava. Para mim, neste momento, só é possível apresentar um breve resumo
da vida do meu pai. Vou me limitar a uma simples demonstração de fatos,
e não vou sequer tentar fazer uma exposição de suas grandes teorias e
descobertas; teorias que são a base do Socialismo Moderno — descobertas
que estão revolucionando toda a ciência da Economia Política. Espero,
contudo, poder fazer futuramente uma análise para a Progress da grande obra do meu pai, “O Capital”, e das verdades nela contidas.
Karl Marx nasceu em Trier, em maio de 1818, de pais judeus. Seu pai —
um homem de grande talento — era advogado, muito influenciado pelas
ideias francesas do século XVIII sobre religião, ciência e arte; sua mãe
era descendente de judeus húngaros que no século XVII se estabeleceram
na Holanda. Entre seus amigos de infância mais antigos estavam Jenny —
que mais tarde tornou-se sua esposa — e Edgar von Westphalen. Com o pai
deles, o Barão von Westphalen — meio escocês — Marx aprendeu a gostar da
“Escola Romântica” e, enquanto seu pai lia Voltaire e Racine,
Westphalen lia Homero e Shakespeare, que se tornaram seus escritores
preferidos.
Muito amado e, ao mesmo tempo, temido por seus colegas de escola —
amado por suas travessuras e temido por sua aptidão para escrever
versos sarcásticos e difamar seus inimigos — Karl Marx teve uma rotina
escolar normal, e depois seguiu para as Universidades de Bonn e
Berlim, onde, para agradar seu pai, cursou Direito por algum tempo, e
para satisfazer a si mesmo foi estudar História e Filosofia. Em 1842,
Marx estava prestes a habilitar-se como “Livre Docente” em Bonn, mas o
movimento político que surgia na Alemanha desde a morte de Frederick
William III em 1840 levou-o para outra carreira. Os líderes da
burguesia liberal renana — Kamphausen e Hansemann
— haviam fundado a Gazeta Renana em Colônia, com a colaboração de
Marx, cuja crítica brilhante e ousada do parlamento provinciano causou
tanta comoção que, embora tivesse apenas vinte e quatro anos de idade,
lhe foi oferecido o cargo de redator-chefe do jornal. Ele aceitou, e
com isso começou sua longa luta contra todas as tiranias e,
particularmente, contra a tirania prussiana. Obviamente o jornal estava
sob a supervisão de um censor — mas o pobre censor se via impotente. A
Gazeta invariavelmente publicava todos os artigos importantes, e o
censor nada podia fazer. Então um segundo censor, um “especial”, foi
enviado de Berlim, mas mesmo esta dupla censura não teve êxito e,
finalmente, em 1843 o governo simplesmente proibiu todo o jornal. No
mesmo ano, em 1843, Marx casou-se com sua velha amiga de infância, com
quem havia sido noivo por sete anos, Jenny von Westphalen, e com sua
jovem esposa mudou-se para Paris. Lá, junto com Arnold Ruge,
publicou os Anais Franco-Alemães, iniciando sua longa série de artigos
socialistas. Sua primeira contribuição foi uma crítica sobre a “filosofia do direito” de Hegel; a segunda, um ensaio sobre a “Questão Judaica”. Quando os Anais deixaram de existir, Marx contribuiu para o periódico Vorwärtz, do qual ele era tido como editor. De fato, o cargo de editor deste jornal, que também contou com a colaboração de Heine, Everbeck, Engels
etc., era um tanto irregular, e um editor realmente responsável nunca
existiu. A próxima publicação de Marx foi “A Sagrada Família” escrita
com Engels, uma crítica sarcástica dirigida contra Bruno Bauer e sua escola de idealistas hegelianos.
Apesar de, naquela época, dedicar a maior parte de seu tempo para o
estudo de Economia Política e Revolução Francesa, Karl Marx continuou a
travar uma guerra raivosa contra o governo da Prússia e, por essa razão,
este governo exigiu de M. Guizot — conforme relato da agência de Alexander von Humboldt em Paris — a expulsão de Marx da França. E a essa exigência Guizot
atendeu com firmeza, e Marx teve de deixar Paris, mudando-se para
Bruxelas, e lá, em 1846, publicou em francês o “Discurso sobre o livre
comércio”. Proudhon
havia publicado “Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria” e
escreveu a Marx, dizendo que aguardava sua “férula crítica”. Ele não
teve de esperar muito tempo, pois, em 1847, Marx publicou “Miséria da Filosofia, resposta à Filosofia da Miséria de Proudhon” e a “férula” foi aplicada com uma austeridade que Proudhon provavelmente não esperava. Neste mesmo ano, Marx fundou uma Associação dos Operários Alemães em Bruxelas e, o mais importante, participou, junto com seus amigos políticos, da “Liga dos Comunistas”. Toda a organização da Liga
foi modificada por ele; de uma conspiração secreta passou a ser uma
organização para a propaganda dos princípios comunistas, e só era
secreta porque as circunstâncias existentes na época faziam do sigilo
uma necessidade. Onde houvesse uma associação de operários alemães, a Liga
também existia, e este foi o primeiro movimento socialista de caráter
internacional, que tinha como membros ingleses, belgas, húngaros,
poloneses, escandinavos. Esta foi a primeira organização do Partido
Social Democrata. Em 1847 foi realizado um Congresso da Liga em Londres, onde Marx e Engels assistiram como delegados; e eles foram convocados para escrever o célebre “Manifesto do Partido Comunista”
— publicado pela primeira vez imediatamente antes da Revolução de
1848, e posteriormente traduzido em quase todas as línguas europeias.
O manifesto começa com uma análise das condições existentes da
sociedade. E passa a mostrar como pouco a pouco a velha divisão de
classes feudal desapareceu, e como a sociedade moderna foi dividida em
apenas duas classes — a dos capitalistas, ou classe burguesa, e a dos
proletários; dos expropriadores e dos expropriados; da classe burguesa
em posse da riqueza e do poder sem nada produzir e da classe
trabalhadora que produz riqueza, mas não possui nada. A burguesia, após
usar o proletariado para lutar em suas batalhas políticas contra o
feudalismo, usou o poder então adquirido para escravizar o proletariado.
Para a acusação de que o Comunismo visa “abolir a propriedade”, o Manifesto
respondeu que os Comunistas visam apenas abolir o sistema burguês de
propriedade, porque para nove décimos da Comunidade a propriedade já
está abolida; para a acusação de que os Comunistas visam “abolir o
casamento e a família”, o Manifesto
respondeu perguntando que tipo de “família” e “casamento” eram
possíveis para os operários, já que para eles o verdadeiro significado
dessas palavras nunca existiu. Quanto a “abolir a pátria e a
nacionalidade”, essas estão abolidas para o proletariado e, graças ao
desenvolvimento da indústria, para a burguesia também. A burguesia tem
feito grandes revoluções na história; ela revolucionou todo o sistema de
produção. Sob suas mãos, foram desenvolvidos a máquina a vapor, o tear
mecânico, o martelo-pilão a vapor, as ferrovias e navios a vapor de
nossos dias. Mas a sua produção mais revolucionária foi a produção do
proletariado, de uma classe cujas próprias condições de existência
obrigam-na a destruir toda a sociedade real. O Manifesto termina com as palavras:
“Os comunistas recusam-se a esconder seus propósitos e
suas opiniões. Declaram abertamente que os seus objetivos só poderão
ser alcançados através da derrubada violenta de todas as condições
sociais existentes. Deixem que as classes dominantes estremeçam diante
de uma revolução comunista. Nela, os proletários nada têm a perder a não
ser suas próprias correntes. Eles têm um mundo a ganhar. Proletários de
todos os países, uni-vos!”
Entretanto, Marx continuou no jornal Brusseler Zeitung seu
ataque contra o governo da Prússia e, novamente, o governo prussiano
exigiu sua expulsão — mas, em vão, a Revolução de Fevereiro organizou um
movimento entre os operários belgas, quando Marx, sem recusa alguma,
foi expulso pelo governo da Bélgica. Entretanto, o governo provisório da
França, através de Flocon,
convidou-o a retornar a Paris, e este convite foi aceito. Em Paris ele
permaneceu durante algum tempo, até depois da Revolução de Março, em
1847 quando retornou para Colônia, e lá fundou a Nova Gazeta Renana
— o único jornal que representava a classe trabalhadora e tinha
ousadia para defender os rebeldes de Junho de Paris. Em vão, vários
jornais revolucionários e liberais denunciaram a Gazeta
por sua audácia em atacar tudo aquilo que é sagrado e que desafia toda
a autoridade — e que se encontra em uma fortaleza prussiana! Em vão,
as autoridades, em virtude do Estado de Sítio, suspenderam o jornal
por seis semanas. Este apareceu novamente sob os olhos da polícia. Sua
reputação e circulação crescia à medida que os ataques lhe eram feitos.
Após o Golpe de Estado de Novembro da Prússia, a Gazeta,
nas manchetes de cada número, convocava as pessoas a recusarem os
impostos e encontrarem a força pela força. Por isso, e por conta de
certos artigos, o jornal foi duas vezes processado — e absolvido.
Finalmente, após a revolta de maio (1849) em Dresden, Províncias
Renanas e Alemanha do Sul, a Gazeta foi violentamente proibida. O último número - impresso em vermelho - foi publicado em 19 de maio de 1849.
Marx retornou a Paris, mas algumas semanas após a manifestação de 13
de junho de 1849, o governo francês deu a ele a opção de se retirar
para a Grã-Bretanha ou deixar a França. Ele preferiu a última
alternativa, e foi para Londres — onde viveu por trinta anos. Foi feita
uma tentativa de publicar a Nova Gazeta Renana na forma de uma análise,
publicada em Hamburgo, mas esta não foi bem sucedida. Imediatamente após
o golpe de estado de Napoleão, Marx escreveu seu “18 Brumário de Luis Bonaparte”
e, em 1853, “Revelações sobre o Processo dos Comunistas de Colônia” —
onde revelou as tramas infames do governo e da polícia da Prússia.
Após a condenação dos membros da Liga Comunista em Colônia, Marx
afastou-se da vida política ativa durante algum tempo, dedicando-se aos
seus estudos económicos no Museu Britânico, contribuindo com editoriais e
correspondências à Tribuna de Nova Iorque, e escrevendo panfletos e
prospectos atacando o regime de Palmerston, amplamente divulgados por David Urquhart.
Os primeiros frutos de seus longos e dedicados estudos sobre a Economia Política surgiram em 1859 na “Crítica à Economia Política” — uma obra que apresenta a primeira exposição de sua Teoria de Valor.
Durante a Guerra Italiana, Marx, no jornal alemão “O Povo”,
publicado em Londres, denunciou o Bonapartismo, que se escondia sob a
aparência da aprovação liberal para as nacionalidades oprimidas, e a
política prussiana que, sob o disfarce de neutralidade, pretendia pescar
em águas agitadas. Naquela ocasião, foi preciso atacar Carl Vogt que, a serviço do “assassino da meia-noite”, estava incentivando a neutralidade alemã. Deliberadamente caluniado por Carl Vogt, Marx respondeu a ele e a outros cavalheiros de sua laia em “Herr Vogt”, em 1860, acusando Vogt de estar a serviço de Napoleão.
Só dez anos mais tarde, em 1870, comprovou-se que esta acusação era
verdadeira. A Defesa Nacional do governo francês publicou uma lista de
mercenários bonapartistas e abaixo da letra V apareceu: Vogt, recebeu, em agosto de 1859, 10.000: francos”. Em 1867, Marx publicou em Hamburgo sua principal obra: “O Capital”, uma reflexão que retomarei no próximo número da Progress.
Entretanto, o movimento operário havia avançado tanto que Karl Marx
poderia pensar em executar um plano há muito tempo almejado — a fundação
de uma Associação Internacional dos Trabalhadores
em todos os países mais avançados da Europa e América. Em abril de
1864, foi realizado um encontro público para expressar solidariedade com
a Polônia. Esse encontro trouxe operários de várias nacionalidades e,
então, decidiu-se fundar a Internacional. E, em 28 de setembro de 1864,
foi realizado um encontro, presidido pelo Professor Beesley no St. James’ Hall. Foi eleito um conselho geral provisório, e Marx redigiu o Discurso Inaugural
e as Medidas Provisórias. Neste discurso, após um terrível quadro de
miséria das classes trabalhadoras, mesmo nos anos da chamada
prosperidade comercial, ele evoca os operários de todos os países para
se associarem, e, quase vinte anos antes no Manifesto Comunista, ele concluiu com as palavras:
“Proletários de todos os países, uni-vos!” As “Medidas” afirmam as razões para a fundação da Internacional:
“Considerando,
Que a emancipação das classes trabalhadoras deve ser
conquistada pelas próprias classes trabalhadoras; que a luta pela
emancipação das classes trabalhadoras significa não uma luta por
privilégios e monopólio de classe, mas por direitos e deveres iguais, e a
abolição de todo regime de classe;
Que a submissão econômica do operário ao monopolizador
dos meios de trabalho, ou seja, as fontes de vida, está na base da
servidão em todas as suas formas de miséria social, degradação mental e
dependência política;
Que a emancipação econômica das classes trabalhadoras
é, portanto, o grande objetivo para o qual todo movimento político deve
estar subordinado como um meio;
Que todos os esforços que visam o grande final
fracassaram até agora por falta de solidariedade entre as várias
divisões de trabalho em cada país e pela ausência de laço de união
fraternal entre as classes trabalhadoras de diferentes países;
Que a emancipação do trabalho não é um problema local
nem nacional, mas um problema social que engloba todos os países onde
existe a sociedade moderna, e que depende da sua solução sobre a
concorrência, prática e teórica, dos países mais avançados;
Que a renovação das classes trabalhadoras nos países
mais industrializados da Europa, ao despertar uma nova esperança,
adverte solenemente contra uma recaída nos antigos erros e clama pela
associação imediata dos movimentos ainda desunidos.
Por essas razões
Foi fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores.”
Para dimensionar a importância de Marx na Internacional
seria preciso escrever uma história da própria Associação — pois, além
de ser secretário correspondente da Alemanha e Rússia, ele foi o
espírito de liderança de todos os conselhos gerais. Os Discursos, com
raríssimas exceções — desde o Inaugural ao último — sobre a Guerra Civil na França”,
todos foram escritos por ele. Neste último discurso, Marx explicou o
real significado da Comuna — “essa esfinge que tanto atormenta o
espírito burguês”. E com palavras tão fortes quanto belas, ele
qualificou o governo corrupto de “deserção nacional que abandonou a
França nas mãos da Prússia”, denunciou o governo de homens como o
falsário Jules Favre, o agiota Perry e o três vezes infame Thiers,
esse gnomo monstruoso. Após contrastar os horrores perpetrados pelos
Versailistas e a devoção heróica dos operários parisienses, que morreram
pela preservação da república da qual M. Perry agora é o
Primeiro-Ministro, Marx conclui:
“A Paris dos operários com sua Comuna
será para sempre celebrada como o arauto glorioso de uma nova
sociedade. Seus mártires são consagrados no grande coração da classe
trabalhadora. A história de seus exterminadores já está pregada naquele
pelourinho eterno do qual nem todas as orações de seus padres vão
resgatá-los”.
A queda da Comuna colocou a Internacional
em uma posição impossível. Era preciso mudar o Conselho Geral de
Londres para Nova Iorque, e essa decisão, por sugestão de Marx, foi
tomada pelo Congresso de Haia em 1873. Desde então, o movimento tomou
outra forma; a relação contínua entre os proletários de todos os países —
um dos milhares frutos da Associação Internacional
— mostrou que já não há mais necessidade de uma organização formal.
Mas de qualquer forma, o trabalho continua e deve continuar enquanto
existir as atuais condições da sociedade.
Até 1873, Marx havia se dedicado quase que totalmente ao seu
trabalho, embora este tivesse sido postergado por alguns anos por
problemas de saúde. O segundo volume d’O Capital, sua principal obra, será editado pelo seu mais velho, mais verdadeiro e mais querido amigo, Frederick Engels. Há outros volumes d’O Capital que também poderão ser publicados.
Limitei-me nos detalhes estritamente históricos e biográficos do
HOMEM. De sua personalidade marcante, sua imensa erudição, seu espírito,
humor, gentileza e compaixão não dá para falar. Para somar todos
“os elementos
tão misturados nele que a Natureza poderia se levantar,
E dizer a todo o mundo, Este era um Homem!”
tão misturados nele que a Natureza poderia se levantar,
E dizer a todo o mundo, Este era um Homem!”
Eleanor Marx. (Maio de 1883)
Fonte: Arquivo Marxista da Internet
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