quarta-feira, 11 de julho de 2012

Sobre a RAF (Fração do Exército Vermelho) / Grupo Baader-Meinhof


Logo da Fração do Exército Vermelho (RAF, em alemão), com uma submetralhadora MP5

Após a II Guerra Mundial, a Alemanha Ocidental tornou-se um Estado vassalo dos EUA, fornecendo a estes bases aéreas sem as quais estes jamais teriam ameaçado a paz no Leste Europeu ou promovido massacres e genocídios em lugares como o Oriente Médio. Para se ter uma idéia do que isso significa, nenhum porta-aviões americano seria capaz de transportar bombardeiros invisíveis, caças F-16 (que podem atacar alvos terrestres e aéreos) e caças F-15, de superioridade aérea. Assim, o nazismo havia acabado, mas havia sido erguido uma nova ordem tão nociva quanto este regime.

Reinhard Gehlen, criminoso nazista acobertado pelo governo da então República Federal Alemã e empregado oficialmente pela Agência Central de Inteligência(CIA), ex-diretor da Rádio Europa Livre

Durante os anos 60, milhares de alemães eram contra a volta do fascismo em seu país, justamente aquilo que os americanos e os novos políticos representavam em ações criminosas como a Guerra do Vietnã, dentre outras. É nesse contexto que surge a RAF, isto é, a "Facção do Exército Vermelho", organização revolucionária que desejava estirpar da Alemanha Ocidental quaisquer resquícios de fascismo e tornar seu país uma República Democrática, como sua vizinha oriental. Sua orientação política era de natureza internacionalista, maoísta (alegadamente adaptada ao contexto da Europa Ocidental), guevarista e de outros filósofos da chamada "Nova Esquerda", embora alguns de seus membros fossem anarquistas. Esse movimento surgiu no mesmo contexto de outros como o Exército Simbionês de Libertação, americano, que teve por êxito a conversão de Patrícia Heart em revolucionária, o Partido dos Panteras Negras, também americano, e outros como as Brigadas Vermelhas, italiano.

O grupo Baader-Meinhoff conta a saga dos jovens revolucionários que desafiaram o imperialismo na Alemanha Ocidental

Com a união de segmentos do movimento estudantil, intelectuais e alguns trabalhadores, surge uma nova organização que promovia ataques diretos contra os sucessores do fascismo, fossem eles a editora Springer(uma versão alemã da VEJA), a polícia alemã, responsável pela repressão e violência desmoivada contra manifestantes pacíficos anti-imperialistas, ou mesmo bases americanas na Alemanha Ocidental, promovendo ainda resgates de prisioneiros políticos. Por estas ações, cuja liderança muitas vezes partia de Andreas Baader ou da jornalista Ulrike Meinhoff, o grupo ficou conhecido como Baader-Meinhoff, termo usado pela imprensa, sob orientação do serviço secreto alemão, destinado a equiparar o grupo político a criminosos comuns.

Cartaz alemão apresentando os membros da RAF como um "bando anarquista"

Muitas das ações da Fração do Exército Vermelho tiveram grande impacto na Alemanha Ocidental, milhares de unidades da polícia foram mobilizadas para empreender uma verdadeira caça às bruxas contra um grupo que combatia o neofascismo naquele país. Junto com a operação policial, teve lugar uma intensa campanha de demonização através de jornais impressos e na TV, uma vez que em certa altura, de acordo com estudos do Instituto Allensbacher, 23% dos jovens alemães abaixo dos 30 anos simpatizava com a RAF, a maioria dos jovens alemães apoiava as ações da RAF, isto é, cerca de 7 milhões de pessoas. Segundo o historiador britânico Eric Hobsbawn, esta organização tinha enorme apoio dentro das faculdades. Muitos jovens da Alemanha alegavam publicamente que esconderiam um mebro da Fração do Exército Vermelho em suas casas, eles manifestavam seu apoio a seus militantes durante os julgamentos. As ações da RAF, conforme foi descoberto nos anos 90, acabaram chamando a atenção da Stasi,  órgão de inteligência da Alemanha Oriental, que forneceu a eles suporte logístico e identidades falsas.

A atriz Nadia Uhl, no papel da revolucionária Brigitte Mohnhaupt

A despeito de seu caráter revolucionário, seu erro, entretanto, foi não ter construído um movimento de massas forte, que apoiasse seus atos e compartilhasse a sua causa, como ocorreu com os bolchevistas na Rússia. Acreditar que o capitalismo será derrubado com "ações de comandos" ou mero golpismo é uma enorma ilusão esquerdista, outrora criticada por nomes como Vladimir Lenin.

 À esquerda, os atores Moritz Bleibtreu e Johanna Wokalek, nos papéis de Andreas Baader e Gundrun Eslinn
 
Um ponto polêmico do filme, bastante atual, é a constante demonização dos movimentos revolucionários e sociais, bem como os constantes apelos sentimentais midiáticos feitos a respeito de "policiais vítimas do terror revolucionário sem compaixão", ignorando que estes policiais nada mais são que agentes do Estado, que, uma vez mobilizados para a repressão a estes movimentos, não são mais "pais de família" ou "trabalhadores que vendem sua força de trabalho", mas sim "cães de guarda" da burguesia que agem concientes de seu papel de agentes políticos repressores. Ações como os ataques às bases americanas, que mataram militares americanos, jamais devem parecer algo mais espetacular do que os ataques empreendidos pela organização gangster chamada US Marine Corps(USMC), que é criminosamente exaltada em filmes holywoodianos e até video gamesque podem ser facilmente adquirindos por jovens, transmitindo assim a sua ideologia reacionária e genocida através de um eficiente processo de lavagem cerebral

O filme "The Baader-Meinhoff complex" retrata muito da história desta organização revolucionárias, embora muitas vezes o equipare a criminosos comuns. No filme há muita ação, mas sem dúvidas uma importante ênfase nos textos de Ulrike Meinhoff, tão perigosos quanto as armas e atentados promovidos por sua organização. Uma das cenas é marcante, quando, após o atentado contra a "Veja alemã", a editora Springer, após esta recusar a exigência de cessar a publicação de mentiras sobre os movimentos de libertação do terceiro mundo, ela alega em escrito que "mesmo tendo sido avisada sobre o atentado à bomba, os donos da editora preferiram seus lucros a evacuar do prédio seus funcionários", uma vez que "para o capitalismo, lucro é tudo, as pessoas que acreditam nisso são sórdidas e indignas de consideração".

            A Ulrike Meinhoff real(à esquerda) e a atriz Martina Gedeck, no papel da revolucionária alemã(à direita)

A despeito de seus erros, a RAF é uma organização digna de grande respeito, porém seus métodos não podem ser copiados, uma vez que acabam resultando em foquismo, erro cometido por grandes personalidades que vão de Che Guevara ao General de Exército Valentin Varennikov. A organização que os alemães criaram para impedir seu país de regressar ao fascismo lutou contra a injustiça e o imperialismo de Estados que semeiam pelo mundo a cultura do ódio e da violência,  por ideais nobres, ao contrário das gerações atuais mergulhadas nas drogas, na prostituição, vítimas da anomia do homem pós-moderno.





Link para Download do filme com legenda: Baader-Meinhof Complex

Trailer do filme:

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