sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Os Deolinda, lusofônico com certeza!


Os Deolinda é a mais nova sensação da Península Ibérica e devido a massificação importada das músicas de língua inglesa, deixamos de conhecer música de língua portuguesa aqui do Brasil e ainda mais músicas de Portugal, Galícia e países luso-africanos.

A música "Movimento Perpétuo Associativo" embalou e embala os protestos das massas populares portuguesas.
Vale escutar Os Deolinda sem preconceitos com os portugas. São dois álbuns Canção Ao Lado (2008) e Dois Selo e Um Carimbo (2010).


Viva a Lusofonia!



Os Deolinda
por Antonio Pires

Há uma longa série de clichés associados ao fado. Por exemplo, o fado tem que ter guitarra portuguesa. Os Deolinda não usam guitarra portuguesa. Ou, o fado tem que ser sisudo, sério, compenetrado, fatalista e triste. Os Deolinda não são nada disso. Ou ainda, o fado não pode ser dançado. E dança-se com os Deolinda. Ou, para terminar, a fadista tem que vestir de preto, como se estivesse no seu próprio funeral. Ana Bacalhau, a voz dos Deolinda (a Deolinda, ela própria?), veste roupas garridas, alegres, coloridas.

Mas os Deolinda são... fado, apesar disso tudo, e são muito mais que fado, por causa disso tudo e de tudo o mais que a sua música contém. Uma música que vai à música popular portuguesa - um universo que aqui abarca José Afonso e António Variações, Sérgio Godinho, Madredeus e os «muito mais que fadistas» Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro - e vai ainda à rembetika grega, à música ranchera mexicana, ao samba, à música havaiana, ao jazz e à pop, numa confluência original e rara de músicas-irmãs ou primas umas das outras e que, nos Deolinda, fazem todo o sentido.

Nos Deolinda, a música e as letras (geralmente de um humor fino, mordaz, por vezes absurdo, de outras surrealista, mas também capazes de fazer lembrar a pena de José Afonso, como em «Clandestino») são, em todas as canções, de Pedro da Silva Martins, guitarrista do grupo que, juntamente com o irmão - e igualmente guitarrista dos Deolinda - Luís José Martins, tinha antes feito parte dos Bicho de 7 Cabeças. Há dois anos, convidaram a prima Ana Bacalhau, então vocalista dos Lupanar, a cantar algumas das primeiras canções compostas para um novo projecto, ainda sem nome. E foi com ela - e com o contrabaixista Zé Pedro Leitão, também dos Lupanar, que se juntou ao projecto logo de seguida - que o conceito Deolinda começou a tomar forma. Um conceito que, com o desmembramento das duas bandas anteriores (Lupanar e Bicho de 7 Cabeças) nesse ano de 2006 e a vontade dos quatro em abraçar um projecto novo e original, cristalizou nos Deolinda.

Dois anos - e vários concertos memoráveis depois -, os Deolinda lançam agora o seu álbum de estreia, «Canção ao Lado», com catorze temas originais gravados pelos quatro nos estúdios Valentim de Carvalho, em Paço de Arcos, com produção do grupo e de Nélson Carvalho. No álbum participam ainda o percussionista João Lobo (pandeiro em «Garçonete da Casa de Fado») e muitos amigos dos Deolinda - Mitó Mendes (A Naifa), Norberto Lobo (Norman/Munchen), Mariana Ricardo (ex-Pinhead Society/Munchen), Joana Sá (também ex-Pinhead Society, agora nos Power Trio, ao lado de Luís José Martins), Gonçalo Tocha, Didio Pestana (ambos ex-Lupanar), Artur Serra e Carlos Penedo (ambos ex-Bicho de 7 Cabeças), entre outros - nos coros de «Movimento Perpétuo Associativo» e «Garçonete da Casa de Fado». Um grupo de amigos que se estende ao autor de banda-desenhada João Fazenda, que ilustrou o disco, e a Catherine Villeret e (mais uma vez) Gonçalo Tocha, que realizaram o divertidíssimo e surreal teledisco de «Fado Toninho», o primeiro single retirado de «Canção ao Lado».

O álbum «Canção ao Lado» é editado dia 21 de Abril, numa parceria da Sons em Trânsito com a iPlay.

Os Deolinda são:
Ana Bacalhau (voz)
Pedro da Silva Martins (composição, textos, guitarra clássica e voz)
Zé Pedro Leitão (contrabaixo e voz)
Luís José Martins (guitarra clássica, ukelele, cavaco, guitalele, viola braguesa e voz)



Movimento Perpétuo Associativo:


Um Contra O Outro:


Fon Fon Fon


O Fado Não É Mau:

Mal Por Mal:

Parva Que Sou:

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