Por Glauber Ataide
O desenvolvimento da computação e das tecnologias da informação atingiu tal proporção nas últimas décadas que os softwares estão hoje praticamente em todo lugar. Não só quando ligamos o computador, digitamos um texto ou navegamos pela internet estamos utilizando diversos softwares ao mesmo tempo, mas até ao atender uma ligação no mais simples telefone celular estamos utilizando um programa. Os softwares dão “vida inteligente” a dispositivos que, sem eles, seriam pouco mais que um limitado aglomerado de placas e circuitos.
No entanto, como tudo mais numa sociedade capitalista, os softwares não pertencem aos trabalhadores que os desenvolvem, mas apenas aos capitalistas que empregam esses trabalhadores – o que Karl Marx definiu como alienação do trabalho.
Os softwares assim produzidos, chamados softwares proprietários, representam um grande desperdício de esforços ao multiplicar trabalhos isolados que tem a mesma finalidade, pois as empresas não compartilham seu código-fonte (1) com a sociedade e com isso não propiciam a troca de informações e conhecimento – uma consequência da anarquia da produção capitalista. Isso mostra que o capitalismo é hoje um grande entrave ao desenvolvimento tecnológico, o qual se encontra ainda muito aquém do que já seria possível avançar, não obstante a difundida ilusão de que justamente neste aspecto residiria uma das provas do seu sucesso.
Por isso, ainda em 1983, o estadunidense Richard Stallman, partindo do ponto de vista de que “pagar por software é um crime contra a humanidade”, fundou o Movimento Software Livre, um movimento social que tem por objetivo alcançar e garantir liberdades para os usuários de softwares.
Uma das mais conhecidas contribuições de integrantes do movimento foi o desenvolvimento de um sistema operacional livre hoje conhecido como GNU\Linux. Este sistema, que substitui o Windows, pode ser utilizado gratuitamente por qualquer usuário ou instituição, além de ser mais seguro, mais rápido, imune a vírus e outras “pragas virtuais” típicas do sistema da Microsoft.
Por que usar software livre
Os escândalos recentes que revelaram toda a rede de espionagem dos EUA em conluio com as mega corporações de informática como Microsoft, Google, Facebook e Yahoo mostram que o objetivo dessas empresas não é dar liberdade às pessoas, mas vigiá-las. A burguesia nunca hesitará em utilizar todas as suas armas contra o povo. O seu predomínio no campo tecnológico significa que importantes informações sobre as pessoas estão em seu poder e serão utilizadas contra elas quando necessário.
Dessa feita, substituir softwares proprietários por softwares livres resulta não apenas em mais segurança, liberdade e conhecimento, mas é também uma contribuição na luta contra a “propriedade intelectual” e mitiga os efeitos da formação de monopólios no setor. Como ressalta Richard Stallman, “software livre é igual a desenvolvimento”.
É por isso que Bill Gates, ao se referir certa vez à luta do Movimento Software Livre por reformas na propriedade intelectual nos EUA, associou o movimento ao comunismo. Em uma entrevista à revista eletrônica CNET, em 2005, o bilionário afirmou: “Há um novo tipo de comunistas modernos que querem se livrar dos incentivos [...] aos produtores de softwares sob vários disfarces.” Para Bill Gates, portanto, quem defende software livre é comunista.
Mas o caráter progressista do software livre não é reconhecido somente por quem tem a perder com ele, como é o caso de Bill Gates. Os que têm a ganhar também já o perceberam. Quando Cuba lançou sua própria distribuição GNU\Linux, em 2009, Hector Rodriguez, diretor da Universidade de Ciências da Informação, afirmou que “o movimento de software livre está mais próximo da ideologia do povo cubano, sobretudo por sua independência e soberania”.
A versão cubana do Linux, chamada Nova, tem o objetivo de substituir o Windows nos computadores da ilha devido às falhas de segurança, à espionagem e às dificuldade de atualização do sistema da Microsoft.
Outros países não alinhados com os EUA também buscam sua independência tecnológica, como a Coreia do Norte, por exemplo, que desenvolveu sua própria distribuição GNU\Linux, chamada Red Star (Estrela Vermelha).
A Venezuela também, em 2006, emitiu um decreto para substituir todos os softwares proprietários por softwares livres nos órgãos do governo. A chamada Declaração de Caracas, documento do Primeiro Encontro da Fundação de Software Livre da América Latina, proclamou “a Liberdade de Software como um ideal comum, pelo qual todas as nações da América Latina devem se esforçar.”
Glauber Ataide é diretor do SINDADOS-MG (Sindicato dos Trabalhadores em Informática e Processamento de Dados)
Notas
1) Código-fonte é uma sequência de instruções escritas em uma linguagem computacional próxima à linguagem humana. Todo software é escrito pelos programadores neste tipo de linguagem. Sem o código-fonte não sabemos como exatamente um software foi desenvolvido.
Fonte: A Verdade
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