segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Indignação....

foto capturada do Ninja Rio

Por Regina Bruno

Ontem à noite (sábado, 28), após arrombar o cadeado da porta central e invadir o salão principal da Câmara Municipal do Rio de Janeiro onde os professores grevistas encontravam-se acampados, a força policial deu início ao ritual de agressões aos manifestantes. Marca registrada de uma polícia que não sabe lidar com mobilizações de rua nem com grupos sociais que reivindicam direitos e ensinam o significado histórico da desobediência civil – condição da construção da cidadania e da recusa à barbárie.
A certa altura um dos policiais se vê face a face com a sua professora. Os dois, atônitos, por um instante se olham e se reconheceram.
- Fulano, sou eu a sua professora! Sou eu! Olhe para mim!
- Professora!
Por um momento ele não sabe o que fazer e o que dizer. Seguir em frente?! Recuar?! Informá-la que “apenas” cumpre ordens?!. Entretanto o empurra-empurra os arrasta e os separa.
A partir daquele instante se desfaz a relação professor-aluno cuidadosamente construída na sala de aula e fora dela. Rompe-se e se esgarça essa intrincada, rica, difícil, bela e cansativa vivência cotidiana voltada para a troca de conhecimentos e de aprendizados que possibilita o cultivar dos afetos. Enfraquece os laços de amizade, “condição para a recusa de servir” como nos ensina Marilena Chauí ao refletir sobre o “Discurso da Servidão Voluntária” de La Boethie. E todos (as) nós também perdemos com isso.
A prática policial dessa noite de sábado registrada na mídia mal se distingue e muito se assemelha à violência policial nos momentos de reintegração de posse junto às ocupações de terra e aos assentamentos de reforma agrária.
Instaura-se, então, a ilegitimidade do dever policial do Estado. Desordeira foi a policia porque violenta em nome da ordem. E isso anula a legalidade de sua prática institucional.
A classe política, por sua vez, acostumada a conviver tão somente com os lobbies de representantes diretos da elite econômica e patronal que circula cotidianamente os corredores do poder sente medo, sente-se acuada quando se adentram na Câmara Municipal a sociedade civil organizada, os professores, o povo.
Igual a Alexis de Toqueville (1805-1859) – aristocrata, normando, pensador e político que em suas “Lembranças de 1848” descobre-se apavorado com o fedor, a feiúra e a sujeira da “ralé” parisiense “invadindo” o Parlamento Frances – os políticos da Câmara Municipal do Rio de Janeiro têm medo dos professores acampados. Tem medo da velha senhora irreverentemente sentada. Tem medo da jovem professora dependurada na amurada de madeira. Têm medo de suas reivindicações e, sobretudo, do modo como professores e professoras se constituem em identidades políticas e em movimentos sociais.
As reivindicações dos professores e professoras em greve são justas, são legais, são legítimas. Injusta é a Prefeitura do Rio de Janeiro. Injustas são as instituições públicas responsáveis pela educação no estado e no país. Injustas e imorais.
Que venham os sacis-pererês.
Que venham os homens-aranhas.
Que venham todo(as).

Regina Angela Landim Bruno é professora associada do I do Curso de Pós-Graduação em Ciências Sociais em Desenvolvimento Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA/DDAS/UFRRJ).


O vídeo abaixo, mostra a forma truculenta que o Estado do Rio trata os professores.

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