Por Edgard Catoira e Piero Locatelli
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), foi filmado dançando funk na favela do Vigário Geral, zona norte do Rio, em janeiro de 2009. A cena era constrangedora: o político tentava imitar, sem sucesso, dançarinos do grupo Afroreggae que faziam uma coreografia.
No último fim de semana veio a público um vídeo do mesmo ano com outra dança do governador. Sérgio Cabral está abraçado com a primeira dama, Adriana Ancelmo, em um show do U2 em Paris.
O constrangimento no novo vídeo de Cabral não é mais a sua dança, agora discreta, mas a companhia de Fernando Cavendish, dono da construtora Delta e acusado de envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Os vídeos e imagens de Cabral na Europa foram todos divulgados desde o último fim de semana pelo deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) em seu blog.
Há outros momentos vexatórios, como fotos que mostram o governador a dançar no meio de um restaurante e imagens de seus amigos com guardanapos pendurados na cabeça. Em outra foto, a primeira-dama mostra, com as amigas, sapatos de sola vermelha da caríssima marca Christian Louboutin.
De Paris à CPI?
Cavendish já havia declarado ter uma grande amizade com o governador. E Cabral também já fez o mesmo. Mas as imagens levam a relação a outro patamar.
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Não é crime ser amigo de um empresário ou dançar em restaurantes europeus. Mas, se for à CPI, Cabral ainda terá que explicar como pagou suas viagens, os sapatos e os ingressos para o show do U2.
Com a divulgação dos vídeos, Cabral torna-se o terceiro governador a se complicar nos recentes escândalos de Cachoeira e da Delta, depois de Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, e Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal.
Deputados já pediram a convocação de ambos para a CPI de Cachoeira, mas os requerimentos ainda devem ser votados nos próximos dias. Os tucanos no Congresso já disseram que vão tentar levar Cabral à comissão.
Em seu blog, o deputado Garotinho usa um tom agressivo e diz ter mais a mostrar. “Tudo o que já mostrei e o que ainda vou revelar aqui no blog é aperitivo perto do que vou levar para a CPI”.
Garotinho, agora em tom de paladino da compostura, diz que vai pressionar para que haja uma investigação rigorosa, em Brasília. É preciso não esquecer que essa investigação deve passar, também, pelas ligações dele próprio, Garotinho, com Cavendish e seu séquito de amigos no poder. Mas, Garotinho mesmo, em texto postado neste dia 3 de maio em seu blog, afirma que “as relações promíscuas de Cabral com Fernando Cavendish, da Delta, são maiores do que as suspeitas e indícios que atingem os governadores Marconi Perillo (GO) e Agnelo Queiroz (DF). Se pouparem Cabral de ir à CPI, não terão argumentos para convocar Marconi Perillo e Agnelo Queiroz. E se fizerem isso acabou a CPI e o Congresso Nacional estará desmoralizado.”
O pano de fundo: as eleições à prefeitura do Rio
Garotinho é pai de Clarissa Garotinho, a futura candidata a vice-prefeita do Rio, na chapa encabeçada por Rodrigo, filho de Cesar Maia (DEM). Como político e pai, ele atira pedras no telhado do vizinho e não vai brincar em serviço na campanha que também tem Cabral (PMDB) apoiando a reeleição de Eduardo Paes, cujo secretário de Urbanismo, Sérgio Dias, estava na festa de Paris.
Já Cabral optou pelo silêncio. Sua única aparição pública desde então ocorreu no palácio da Guanabara nesta quarta-feira 2, onde não falou sobe o assunto. Ao mesmo tempo, no Congresso Nacional, ocorria a seção da CPI mista que investiga o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Ele limitou-se a divulgar notas através de sua assessoria de imprensa nos últimos dias: “Nunca neguei minha amizade com o empresário Fernando Cavendish. Jamais imaginei e, muito menos tinha conhecimento, que a sua empresa fizesse negócios com um contraventor no Centro-Oeste brasileiro”, diz Cabral em uma das notas.
O ex-prefeito Cesar Maia, agora aliado de Garotinho – de quem foi grande inimigo – é reconhecido economista. Tem grande conhecimento em áreas de estatísticas e comunicação social. Mas, neste momento, está quieto. Também no seu ex-blog, enviado diariamente a seus assinantes, já famosos por conter textos informativos, só nesta terça 1º, ele, sem alarde, mas com ironia, postou números do governo:
2009 FOI O ANO DAS FOTOS E DA INTIMIDADE LÚDICA DE CABRAL COM A DELTA!
1. Contratos da Delta com o Governo do Estado do Rio:
2001 – R$ 47 milhões / 2002 – R$ 61,8 milhões / 2003 – R$ 15,1 milhões / 2004 – R$ 76,1 milhões / 2005 – R$ 142,8 milhões / 2006 – R$ 163,9 milhões / 2007 – R$ 67,2 milhões / 2008 – R$ 126,8 milhões / 2009 – R$ 243,4 milhões / 2010 – R$ 554,8 milhões / 2011 – R$ 358,5 milhões / 2012 – 138,4 milhões** Valor empenhado até 11 de abril.
Fernando Gabeira, do PV, também resolveu repercutir as denúncias de Garotinho. Ele não toma partido do deputado nem de Cabral, mas se vinga por ter perdido, em 2010, seu programa partidário, que foi tirado do ar pelo Tribunal Regional Eleitoral depois de ele ter comentado a amizade de Cabral com Cavendish. Ele sustenta que o centro real de suas denúncias era a “corrupção na Saúde, com Toesas e Locantys, botando para quebrar”.
Ele prossegue contando que, inexplicavelmente, a imprensa se calou. E, assim, o governo fingiu que não era com ele.
Gabeira afirma que os fatos, “durante a campanha e agora, em 2012, revelam que a corrupção na Saúde continuou”. E desabafa:
“Sérgio Côrtes com a toalha na cabeça e sua mulher exibindo sapatos caros em Paris me indignam porque ele comanda a saúde no Rio. Um estado que convive alegremente com a corrupção na Saúde, enquanto os responsáveis pelo setor festejam em Paris, chegou a um ponto de degradação interna que só um grande movimento popular pode superar.”
Também nesta quarta, dia 2, ele posta mais um recado – para estressar mais ainda o meio político: conta quem é o personagem que estava na festa com Cabral e Cavendish. Diz que era “George Sadala, o homem que tem a concessão do Poupa Tempo, em Minas e no Rio”. Muita gente queria saber quem era o homem de copo na mão que posava perto das mulheres exibindo sapatos Christian Loboutin.
Gabeira conta que ele “é amigo de Cabral e também de Aécio Neves que foi seu padrinho de casamento”, e no qual o filho de Cabral foi pagem.
Sadala é dono de uma factory chamada Lavoro. Ela compra dividas que as empreteiras têm a receber do governo. Em seguida, ele recebe o dinheiro do governo.
Terminando esse texto, ele adverte, em tom de editor:
”Sadala é o novo personagem. Se a imprensa não se interessar por ele, tudo bem. Os fatos acabarão aparecendo e todo esse período será esclarecido um dia. Ele não aparece com um guardanapo branco branco na cabeça, entre secretários de estado, por acaso.”
lamentável!!!!!
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