Por João Pedro Stedile
Mais uma rodada de leilões do petróleo deve acontecer nos dias 14 e 15 de maio no Rio de Janeiro.
O
11ª Rodada de Licitações de Blocos para a Exploração de Petróleo e Gás
Natural é organizada pela famigerada Agência Nacional do Petróleo (ANP),
criada pelo governo FHC para privatizar uma das nossas maiores
riquezas.
Essa rodada é tão importante que ninguém sabe ainda ao certo onde acontecerá.
Esses
leilões, que têm base em uma lei dos tempos do neoliberalismo tucano
(lei 9478/1997), já foram contestados em juízo como inconstitucionais.
Mesmo assim, o governo Dilma e a ANP usam-na para legitimar a entrega de nossas reservas.
Os
289 blocos de petróleo que serão leiloados nos próximos dias foram
descobertos pela Petrobrás no nosso continente, 123 deles em terra e o
restante no pós-sal no mar.
A empresa arcou com todos os custos de
pesquisa e mapeamento. Agora, que estão descobertos e identificados os
volumes depositados pela natureza, o governo fará um leilão e qualquer
empresa estrangeira poderá explorá-lo.
O discurso oficial é que
esses leilões são realizados para que as empresas invistam em pesquisa e
corram o risco de não encontrar o volume de petróleo esperado. No
entanto, esses estudos já foram feitos pela Petrobrás.
Especialistas
apontam que cerca de 60 empresas transnacionais se inscreveram para
participar desse leilão, ávidas por essa riqueza quase doada. Por que
tanto interesse?
Pelas regras do leilão, cada empresa pode se
candidatar aos diversos blocos, que têm 54 bilhões de barris estocados. A
extração do ouro negro desses blocos não vai exigir nenhuma tecnologia
especial, tampouco usarão mão-de-obra brasileira.
As empresas entrarão com o custo de produção de extrai-lo e pagarão ao governo apenas 10% de royalties.
Depois,
carregarão seus navios, sem pagar nada de impostos, pois a Lei Kandir
também dos tempos do FHC isenta exportações de matérias-primas (soja,
minério de ferro e petróleo).
Assim, levam o líquido negro bruto para vender no mercado internacional.
Existe
uma burrice maior do que entregar uma riqueza natural, que está no
nosso território, para as empresas transnacionais em troca de 10% do
valor em royalties?
Se garantíssemos o monopólio de exploração à Petrobras, não exportaríamos petróleo bruto, sem valor agregado.
O Brasil pode refinar o petróleo, criando empregos para brasileiros e desenvolvendo tecnologia.
Dessa
forma, o governo pode arrecadar impostos no processo de
industrialização, além do imposto de renda sobre pessoa jurídica sobre
os lucros da Petrobrás.
Segundo o engenheiro e especialista em
energia Paulo Metri, da Sociedade de Engenharia do Rio de Janeiro, os
blocos que serão entregues têm um valor estimado em petróleo de U$S 1,5
trilhões.
Ele aponta que as empresas espoliadoras terão apenas a
obrigação de pagar em royalties para o governo brasileiro US$ 225
bilhões, ao longo dos trinta anos de concessão.
Portanto, serão
pagos em torno de US$ 7,5 bilhões por ano. Se essa riqueza fosse
explorada pela Petrobrás, o Brasil ficaria com US$ 900 bilhões ao longo
de trinta anos, ou seja, US$ 30 bilhões por ano.
Assim, os leilões
representam uma perda de US$ 675 bilhões em trinta anos, o que poderia
ser investido em educação para libertar finalmente todo o nosso povo da
falta de escolas de qualidade em todos os níveis, com o investimento de
R$ 44 bilhões por ano.
Os especialistas da área jurídica também
advertem que esses leilões são inconstitucionais, pois a Constituição de
1988 é clara ao determinar que toda riqueza do petróleo pertence ao
povo brasileiro. Portanto, os governos não têm o direito de transferir
essa riqueza para empresas transnacionais.
Já foram ajuizadas
dezenas de ações que tratam desse tema, mas nossos juizes – que se
arrogando uma total neutralidade – são lerdos como tartarugas quando
julgam ações contra o capital. No entanto, são rápidos como os felinos
para analisar ações contra o povo e os trabalhadores.
Basta
lembrar que uma ação de diversos deputados foi ajuizada em 1997 para
anular o leilão de privatização da empresa Vale do Rio Doce.
Em
2005, já em 2ª instância, o Tribunal Regional Federal de Brasileia
considerou o leilão foi fraudulento e anulou a privatização.
No entanto, o processo foi para a 3ª instância a pedido dos advogados do Bradesco. E lá dorme um sono eterno…
Assim, podemos concluir que as instâncias judiciais superiores se movem apenas por interesses da classe dominante.
Nenhum
brasileiro pode se calar diante de tamanha entrega das nossas riquezas,
que afronta a soberania nacional e coloca em dúvida os interesses
presentes no governo Dilma.
Não paira dúvidas sobre os interesses
defendidos pelo ministro de Minas e Energia Edison Lobão, desde quando
era um flamante jornalista defensor da ditadura, que foi escolhido
porta-voz do governo militar por José Sarney, então presidente da Arena.
De lá para cá, Lobão fez uma carreira camaleônica, tentando passar de
jornalista defensor dos militares a democrata especialista em energia e
mineração.
A presidenta Dilma deve – e pode – suspender o leilão.
Precisamos protestar e denunciar para o conjunto da sociedade o que
representa a entrega dos blocos de petróleo.
Assine e ajude a divulgar o abaixo-assinado para barrar os leilões (clique aqui)
Precisamos
intensificar essa luta para impedir essa rodada e para nos prepararmos
para enfrentar em novembro o primeiro leilão das reservas do pré-sal,
que foram encontradas pela Petrobrás em mar brasileiro.
A
presidenta Dilma entende do assunto e, certamente, com toda sua história
de defesa dos interesses nacionais, não quer entrar para a história do
Brasil como a líder do governo que entregou nosso petróleo para as
empresas estrangeiras.
Dilma sabe que o leilão de petróleo não é
vontade do povo brasileiro, que fez uma grande campanha na década de
1950 para fundar a Petrobras, nem representa os interesses dos setores
populares que contribuíram para a sua eleição à presidência.
Fonte: Brasil de Fato
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