domingo, 28 de dezembro de 2014

Por que a exceção vira regra? A epidemia de cesáreas no Brasil e a violência obstétrica

A praticidade com que o nascimento ocorre cirurgicamente é marca dos nossos tempos cada vez mais mercantilizáveis: “time is money” !

Foto de parto em manifestação no Uruguai pela liberdade de poder escolher onde parir. Foto: Caren Rhoden

Por Alcir Martins


Tenho o feliz destino de ser pai de duas meninas. Ambas nascidas no mês de abril. Ambas nascidas de cesarianas. Para a mais velha havia data e horário marcado para a realização da tal cirurgia. Para a caçula queríamos um parto normal, o mais natural e humanizado possível. As duas “estouraram” suas bolsas e indicaram o momento em que iriam nascer a despeito de previsões ou agendamentos de outros.

Minha filha mais velha, na véspera da cesariana agendada, rebentou a bolsa amniótica e decidiu nascer algumas horas antes do previsto – previsto pelo médico, não por ela, ora bolas! Ainda assim e apesar dos sinais que indicavam o início do trabalho de parto, foi realizada a cesariana por que não se realiza um parto pélvico por via vaginal – asseverou o doutor.

Parto pélvico ou posição pélvica é o nome que se dá ao “bebê sentado” no útero da mãe. Nesta condição, os quadris e os ombros do bebê saem primeiro do útero e, por fim, a cabeça, ao contrário do parto cefálico, considerado o correto.

Minha filha mais nova também decidiu dar uma beliscadinha e romper a bolsa no meio de uma madrugada dessas. A bolsa rota pode dar início – ou não – ao trabalho de parto. É possível que da ruptura da bolsa até o início do parto propriamente dito ocorra um intervalo de mais de 12 horas. Foi o que ocorreu: passaram-se as horas e, ao completarem-se 18 horas com a bolsa rota e sem dilatações, não tivemos outra alternativa que não a cesariana – orientou o doutor.

Estas duas histórias, com todas suas diferenças de tempo, lugar e conhecimento (empoderamento) sobre a gestação e o parto, guardam duas importantes semelhanças. A primeira delas é que não é verdade, para nenhuma das situações acima, que a cesariana era a única e derradeira alternativa para as mães e para as meninas. Partos pélvicos podem sim ocorrer pela via vaginal sem riscos para a criança ou para a mãe. Exige um maior trabalho, mais atenção e mais tempo do médico. Mas é possível! A bolsa rota sem o início das dilatações pode ser acompanhada pelo obstetra que induzirá ao trabalho de parto ao custo de paciência, dedicação, acompanhamento e tempo!

A segunda semelhança entre o nascimento das minhas duas filhas é que, com a ruptura das bolsas, elas indicaram que a hora de nascer estava próxima ou já havia chegado. A epidemia de cesáreas agendadas, entre outros perigos, traz ao mundo, de maneira muitas vezes (ou sempre) abrupta, um grande número de crianças prematuras. Bebês que poderiam e deveriam ficar mais alguns dias ou semanas no ventre de suas mães são arrancados em dia e hora marcado de maneira a garantir que o profissional da saúde não atrase suas férias nem perca um programa de final de semana ou evento qualquer. A proporção de nascimentos prematuros (antes de 37 semanas) é de cerca de 11,3% no Brasil. Em relação aos bebês que nasceram com 37 ou 38 semanas gestacionais, a proporção fica em 35%. Passadas as 37 semanas os bebês já não são tecnicamente prematuros mas poderiam ganhar mais peso e maturidade dentro do útero materno até a 39ª semana. Essa onda de nascidos com 37 ou 38 semanas no Brasil pode ser explicada pelo número de cesarianas agendadas antes do início do trabalho de parto. Dados alarmantes podem ser conferidos nas pesquisas da FIOCRUZ, “Nascer no Brasil” ou da UNICEF, “Toda Criança Conta”

A praticidade com que o nascimento ocorre cirurgicamente é marca dos nossos tempos cada vez mais mercantilizáveis: “time is money” !

Um parto normal pode demandar tempo. Um parto natural e humanizado se estenderia pelo prazo em que várias cirurgias cesáreas poderiam ser realizadas. Eis aqui uma imposição mercadológica que agride mulheres e crianças todos os dias. A Organização Mundial da Saúde indica como adequado um percentual de 10 a 15% dos partos por via cirúrgica. No Brasil temos mais da metade dos partos realizados por cesáreas, muitas delas desnecessárias ou evitáveis. Na rede privada o número de cesáreas chega a 9 em cada 10 nascimentos. Isso mesmo! Na rede hospitalar privada o índice alcança estratosféricos 88% de cesarianas.

No Brasil somos campeões mundiais da cesárea: 52%. Estamos na contramão! Nos EUA, o percentual de partos cirúrgicos era 33% há poucos anos, atualmente baixaram para 26% por recomendação do Colégio Americano de Obstetrícia. Suiça está em 30%, Alemanha em 29%. No vizinho Uruguai as cesáreas não passam dos 34%.

Os crescentes movimentos em defesa do parto natural, além de questionarem a mercantilização da vida e da saúde; questionam também o próprio discurso da autoridade do médico e, assim, questionam certa manifestação do patriarcado que retira o protagonismo da mulher sobre o seu corpo e o seu parto.

É opressor e atinge mulheres de todas as classes, a concepção que dá ao médico o controle sobre o parto, tirando da mulher, mais uma vez, o direito de decisão sobre seu próprio corpo. O parto, fisiológico e natural, não pode ser tratado como doença – esta sim exige atendimento e intervenção médica. Gestação e parto – que não são doenças – precisam de acompanhamentos e cuidados para que tudo transcorra bem e, apenas nos casos de complicações, atue o médico e seus procedimentos. O médico e a técnica dominam tudo: até o verbo parir está caindo em desuso, fala-se em ter um bebê, ou ganhar um bebê, que podem ser coisas bem diferentes.

O parto por via vaginal foi perdendo espaço para a cesareana apenas no século XX, quando a cesariana tornou-se aceitável como recurso extraordinário que é – extraordinário porque não é pra ser cotidiano e também porque salva vidas quando necessário – mas passou a ser praticada de maneira exagerada e irresponsável.

O caso é de violência obstétrica (VO). A medicina, neste caso, está direcionada pelo lucro. Repetimos: “time is money”! Uma cesárea se conclui com, no máximo, duas horas de trabalho da equipe médica; já o trabalho de parto é imprevisível, podendo durar até dois dias. Esta praticidade cirúrgica que cabe direitinho na agenda do médico retira da mulher qualquer direito de decidir. O discurso médico e sua autoridade autoritária influencia a mulher e a família envolvida na gestação. Falsos ou exagerados temores são convocados para justificar a suposta segurança e comodidade de uma cesárea. Comodidade para o médico. Ou, simplesmente, porque pelo plano de saúde só faz cesariana, o parto normal no setor privado custa caro.

A violência obstétrica tem muitos meios e formas de manifestação. São as cesáreas e episiotomias (um ‘pique’ no períneo para ‘permitir’(SIC) o parto via vaginal). Mas também são as agressões verbais, humilhações ou ridicularizações, realização de procedimentos sem consentimento, nem informação para que a mulher decida. Começando pela imposição da litotomia (ou posição ginecológica): a mulher fica na horizontal, numa mesa bem ao alcance das mãos médicas mas em posição completamente antinatural para o parto.

A luta pela garantia do direito ao parto humanizado – que não é aquele sem intervenção alguma mas apenas sem intervenção desnecessária – pode reorientar não só o serviço de saúde e a atuação dos profissionais e equipes que atuam nos partos, mas também pode nos provocar a repensar que tipo de seres humanos e de que maneira os estamos colocando no mundo. Não trata-se de um direito daqueles que deva trazer “proteção” às mulheres, mas é sim uma ferramenta de exercício e consolidação da autonomia sobre seus corpos e suas vidas. Sem a autodeterminação e o empoderamento das mulheres o parto nunca será humanizado.



domingo, 21 de dezembro de 2014

Adeus Che?


Por Francisco Toledo*


É hora de dizer adeus? A reconciliação diplomática entre Cuba e Estados Unidos, anunciada por Barack Obama e Raul Castro na terça-feira (17) pode marcar uma nova era de transformações na ilha socialista. Mas não se enganem: o embargo continua, e depende da maioria republicana no Congresso para cair. Afinal, serão os últimos dias da Cuba como conhecemos durante toda a nossa vida?

Não podemos ser ingênuos. A reaproximação entre Cuba e Estados Unidos, oficializada ontem por ambos os governos, não significa de forma alguma uma “vitória da revolução cubana”. Muito pelo contrário, é o começo de uma série de mudanças radicais que prometem balançar a ilha nos próximos anos. Mas por enquanto, vamos analisar o que aconteceu nos últimos dias para então imaginar como será o andamento desse processo histórico.

Primeiro: o embargo continua. O mesmo embargo que fez a ilha parar no tempo após a queda da União Soviética, e que colocou em risco a vida de milhões de pessoas. Se não fosse pela política de integração entre os países da América Latina, o regime socialista já teria se desfeito 20 anos atrás - provavelmente da mesma forma que aconteceu nos países do leste-europeu, gerando uma grave crise na qualidade de vida com nível de desemprego massivo, uma série de privatizações feitas “nas coxas” (vide o exemplo russo, com grandes estatais passando para as mãos da máfia), entre outras coisas mais. A vitória de Chavez na Venezuela e de governos de centro-esquerda em países como Equador, Bolívia e Brasil, acabaram tornando possível a permanência do regime revolucionário na ilha, pelo menos até agora. 

A reconciliação diplomática com os Estados Unidos não significa necessariamente uma “guinada ao mercado”, pelo menos não por enquanto. Seguindo o modelo chinês (e não o do leste-europeu), Cuba deve seguir uma abertura lenta ao capital privado, não afetando a qualidade de vida de sua população e também todas as conquistas que a revolução trouxe nas últimas décadas - emprego pleno, analfabetismo zero, sistema educacional totalmente gratuito, um dos melhores sistemas de saúde do mundo (também gratuito) e uma política de participação popular pouco reconhecida pela mídia ocidental. 

Mas se existe um setor que irá crescer ainda mais é o do turismo, praticamente o único que é “imune” ao embargo norte-americano. De resto? Por enquanto nada. Para o embargo cair, é preciso que o Congresso norte-americano aceite o pedido de Obama para revisá-lo, o que não irá acontecer (pelo menos não até 2017). Os motivos são muitos: os republicanos, comandados por ícones “a la Bolsonaro texano” do Tea Party, jamais permitirão que a ilha dos Castro ganhe enfim a sua liberdade. Vale lembrar também que em 2016 será ano de eleições nos Estados Unidos e, o ibope e moral dos democratas já esteve bem melhor. Aliás, para as próximas eleições, é bom os democratas esquecerem de vez a Flórida, porque depois do ato histórico de Barack Obama em relação à Cuba, é quase improvável uma vitória democrata no estado - que é inundado de votos de cubanos “exilados”, claramente anti-revolucionários, que pensam ao modo “Yoanni Sánchez”.

Aliás, a própria blogueira de oposição aos Castro se posicionou contra a reconciliação entre os dois países - mas por outros motivos. Segundo ela, antes de qualquer tipo de aproximação, é preciso que os comunistas “paguem pelos seus crimes”. É bom lembrar que Yoanni, diferente de Julian Assange que denunciou diversos crimes do governo norte-americano, hoje vive livre em seu país, em uma casa bancada pelo Estado, com um portal de notícias que é livremente acessado na ilha. É a ditadura que todo jornalista um dia já sonhou, não?

E se o embargo cair? Dai é bom se despedir. Claro que será bom para os cubanos se for administrado de forma correta pelo governo e pela própria população, mas os exemplos do leste-europeu deixaram marcas complicadas de gerir. É preciso, principalmente, evitar que as multinacionais (que já estão de olho na ilha) cresçam o olho no mercado cubano. Para tanto, o regime precisaria se manter o mesmo politicamente - ou seja, não aderir ao modelo democrático ocidental, o que seria difícil em um mundo com Fidel e Raúl já falecidos. Quem iria segurar a barra? 

Mas enfim. Aproveitem enquanto ainda dá tempo: Cuba é um país maravilhoso, com uma história única e com personagens únicos. Um pequeno país que, ao contrário do resto do mundo, tem em sua realidade duas opções a seguir. Já nós, meros mortais, temos apenas uma: o eterno capitalismo de terceiro mundo, que insiste em abaixar a cabeça e rezar. 

Para finalizar:


*Francisco Toledo é fotógrafo e Gestor de Conteúdos e Projetos do coletivo Guerrilha GRR

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Estados Unidos: o berço do narcocapitalismo


Em 13/12, o caderno Prosa, do Globo, trouxe matéria sobre o livro "Zero zero zero", de Roberto Saviano. Entre outros temas, o jornalista italiano falou sobre as conexões entre o tráfico e a economia legal. É o caso dos gigantes financeiros Citibank e o HSBC, cujo envolvimento com o comércio de drogas foi comprovado pela Justiça estadunidense.

Saviano também denuncia a existência de uma comunidade do tráfico na América Latina. Nela desempenhariam papel importante Colômbia, Peru e Brasil e seu centro seria o México. Mas a formação dessa multinacional das drogas só foi possível graças às intervenções do governo estadunidense, com sua cara e criminosa "Guerra às Drogas".

Não à toa, a organização ligada ao tráfico mais violenta e poderosa do México é formada por desertores do exército daquele país, treinados por americanos, israelenses e franceses. Trata-se de "Los Zetas", que podem estar, por exemplo, por trás do massacre de 43 estudantes mexicanos, em setembro passado.

Luiz Eduardo Soares fez um comentário sobre o livro na mesma edição. Ele lembra que quando explodiu a crise de 2008, só um setor da economia mundial contava com dinheiro de sobra. Era o tráfico de cocaína, que injetou US$ 352 bilhões nas instituições. "Cerca de um terço da liquidez mundial era dinheiro sujo de sangue", diz Soares.

Tudo isso mostra que a repressão ao tráfico acaba sendo a maior fonte de criminalidade. A legalização das drogas diminuiria muito esse problema e seria um golpe no narcocapitalismo, que patrocina a violência contra pobres, de um lado, e vende armas aos governos que as utilizam contra esses mesmos pobres, de outro.


sábado, 13 de dezembro de 2014

'Capitalismo criou ser humano adequado ao consumo', diz filósofa sobre decadência da burguesia



Opera Mundi - Ester Vaisman, organizadora de 'Lukács: Estética e Ontologia', diz que manipulação do capital atravessa relações humanas, apoiando conservadorismo.

O ano de 1848 marca, na Europa, a emergência de um novo sujeito histórico: a classe trabalhadora. A partir daí, o pensamento da direita, enraizado no capital, entra em declínio, no que é considerada a decadência ideológica burguesa. Essa é a análise de Ester Vaisman, professora de filosofia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais/Brasil). Organizadora do livro "Lukács: Estética e Ontologia", ela cita o filósofo búlgaro György Lukács para exemplificar como o capital mostrou no decorrer dos últimos séculos "uma sobrevida, uma capacidade de autoperpetuação e reprodução inimagináveis".


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Não vivamos mais como escravos (2013)



Um filme de Yannis Youlountas

Agosto 2013 / Duração: 89 minutos


Emergindo das catacumbas gregas da Europa, um murmúrio pelo continente devastado, “Não vivamos mais como escravos” (pronuncia-se “Na min zisoume san douli”em grego).

Nas paredes das cidades e nas rochas do campo, nos outdoors vazios ou destruídos, em jornais alternativos e rádios rebeldes, em ocupações, squats e centros auto-organizados que se multiplicam… este é o slogan que a resistência grega esta difundindo, dia após dia, e estão nos convidando para nos juntar a eles em uníssono às melodias do filme.

Um sopro de ar fresco, emoções e utopias em ação que emergem do mar Egeu.




sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Por uma intervenção popular

A mobilização de Junho de 2013 é um dos componentes que motivou a ida da direita às ruas no ano seguinte. Créditos: Maria Objetiva/Creative Commons.


Por Alexandre Haubrich


Junho de 2013 trouxe à tona a insatisfação e deu a ideia: para se alcançar algo, é preciso se movimentar. 2013 passou, a Copa passou, e 2014 vai acabando com um país onde a água esquentando e formando suas primeiras bolhas de fervura é a imagem mais próxima de descrever as ruas. De um lado, movimentos populares em luta por direitos, o MTST de pé, os sindicatos se reorganizando, os negros em marcha, a população de rua mostrando a cara de quem quer direitos, o meio sindical em reorganização. De outro lado, a direita também vai às ruas, brigando por sua parcela do legado de Junho – sim, ela também estava lá – e unificada em torno de duas insígnias: Fora Dilma. Fora PT. Ao mesmo tempo, ao centro do espectro político se coloca um governo federal reeleito com pequena margem, e um PT que, pressionado por uma eleição difícil, pela mídia dominante e pela Operação Lava Jato – e a narrativa construída sobre ela – parece não saber ao certo para que lado pender. Com a militância petista falando em guinada à esquerda e com Kátia Abreu no Ministério da Agricultura, 2014 vai terminando e um difícil 2015 se anuncia.

Há um claro crescimento das manifestações de rua do setor da direita – organizada ou não – que pede às vezes impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), às vezes anulação da última eleição presidencial, às vezes o que chama de “intervenção militar”, eufemismo para golpe militar e uma nova ditadura. Até o momento não há um movimento verdadeiramente amplo nesse sentido, mas há um crescimento de fato.

A mídia dominante, por enquanto, não comprou abertamente esse discurso, mas enche capas de jornais e portais com os rescaldos da Operação Lava Jato, empurrando a pauta até o seu limite e mantendo-a com grande destaque mesmo quando não há notícias relevantes a respeito; e, ao mesmo tempo, vai trazendo editoriais e colunas que sugerem o impeachment. Há poucos dias, editorial do jornal Zero Hora, do Grupo RBS, sob o lema “Chega de corrupção, chega de impunidade”, desacreditou a potencialidade da Presidência da República e do Congresso Nacional para levar ao fim as investigações e punições necessárias. Antes disso, o Estadão pedia, em editorial que atacava Dilma e Lula, que “todos os envolvidos” paguem “pelo que fizeram – ou não fizeram”, sugerindo “crime de responsabilidade”. Enquanto isso, lideranças midiáticas dos manifestantes da direita – como o músico Lobão – seguem pela mesma linha, e rechaçam a ideia de golpe. Aparece como estratégia para reduzir a rejeição aos protestos e buscar mais apoiadores entre os setores médios da população. É esse setor, pouco politizado, que irá definir os rumos dessas movimentações.

Os protestos da direita têm características claras: além da mídia oligárquica, há novas e antigas lideranças da direita à frente. Timidamente, os partidos mais reacionários do país também se somam às fileiras, assim como figuras de destaque em partidos da própria base do governo, como o deputado do PP Jair Bolsonaro. Aloysio Nunes, senador do PSDB e ex-candidato à vice-presidência na chapa de Aécio Neves, é outro que tem participado dos atos. Além dessas lideranças, dotadas de uma consciência complexa do que estão fazendo, há uma grande massa de manobra com uma compreensão muito limitada do sistema político, da dinâmica social e da realidade da política e da população brasileira. Influenciados pela mídia hegemônica e/ou por um desejo disperso de mudança, setores da classe média e até alguns personagens das classes populares, atuando contra os próprios interesses pessoais e de classe, encorpam as manifestações. A classe média ali presente ignora quase completamente o que a rodeia. Os oprimidos que dispõem de suas vozes para esse tipo de manifestação fazem isso por uma compreensão apenas superficial da própria situação e/ou por não enxergar alternativas palpáveis que de fato poderiam melhorar sua situação. Junto a eles, as elites do país enxergam uma oportunidade de voltar diretamente ao poder. Se é verdade que com o PT essas elites nunca estiveram de fato alijadas do poder, também é verdade que mantêm o desejo de governar sem intermediários e sem as contradições colocadas em um partido com o histórico de luta que o PT construiu – embora o tenha, em grande medida, abandonado.

Esse processo é fruto de três situações fundamentais: a ideia de mobilização de Junho, o tensionamento da eleição presidencial, e as dificuldades (internas e externas) enfrentadas pela esquerda para se colocar como alternativa viável a um governo de centro.

Pressionado por uma vitória apertada, por um Congresso ainda mais conservador e por uma militância que esteve nos últimos anos afastada das ruas e em processo de burocratização, o PT tem uma escolha a fazer: ou vai mais à direita para aplacar os ânimos e aprofunda a aliança com os velhos donos do país; ou vai à esquerda, aliando-se aos novos movimentos populares, reaproximando-se de sua própria base, e levando as mudanças do país a um novo patamar, que não se restrinja mais apenas a acréscimos de consumo.

Por parte da esquerda, se colocam como dificuldades a histórica divisão interna; a pouca penetração popular; as contradições e paradoxos envolvidos na dura tarefa de criticar um governo de centro sem colocar-se ao lado da direita; e a própria institucionalidade brasileira, que apresenta sistemas político e midiático que criam imensos obstáculos a transformações progressistas e vinculadas aos interesses populares. Encontrar seu lugar no espectro político; acelerar o processo nascente de reorganização dos movimentos populares, sindicatos e partidos; qualificar a formação política de forma a vencer o sectarismo; e aprofundar o trabalho de base e o enraizamento social são os desafios que precisam ser enfrentados pela esquerda e pelas forças populares. Apenas assim será possível enfrentar a direita nas ruas, impedir o golpismo – militar ou civil – e evitar uma guinada do governo que o leve ainda mais à direita, empurrando-o à esquerda e reforçando a luta pelas duas mudanças mais urgentes ao avanço da democracia brasileira: a reforma política e a democratização da mídia.



domingo, 30 de novembro de 2014

Detesto o futebol gourmet



Por Mauro Cezar Pereira, blogueiro do ESPN.com.br


Gosto de arquibancadas divididas, por massas gigantescas se possível.

Detesto torcida única, um crime contra o futebol.

Gosto de times entrando em campo um de cada vez, para serem festejados ou vaiados.

Detesto equipes pisando juntas o gramado, ainda mais quando acompanhadas do pessoal da arbitragem.

Gosto de bandeiras, papel picado e bobinas desenrolando no ar.

Detesto torcidas que se comportam como platéias de teatro e se limitam a aplaudir.

Gosto de sinalizadores, não aquele naval, que mata, mas o inofensivo, de efeito meramente visual. E, admito, sinto saudades do espocar dos rojões.

Detesto bandeirinhas de plástico, em geral encomendadas pelo próprio clube ou seus patrocinadores, que coxinhas balançam abobadamente.

Gosto de ver grades e alambrados repletos de faixas. Trapos, como dizem os vizinhos de sudamerica. E grandes bandeiras agitadas até com bola rolando.

Detesto o aspecto asséptico das tais arenas esterilizadas com suas lanchonetes que servem capuccino e são planejadas apenas para esse tal torcedor-cliente.

Gosto de ver a casa lotada, o que só costuma ser possível quando os cartolas cobram pelos ingressos preços compatíveis com o poder de compra do torcedor.

Detesto ver uma final esvaziada como a da Copa do Brasil 2014. Dois jogos em estádios que, juntos, poderiam receber mais de 80 mil pessoas e pouco mais de 70% dos espaços ocupados pelo povo.

Gosto do apoio incondicional, das vozes incessantes que vêm das arquibancadas e tomam a cancha. Da galera participando dos destinos da peleja.

Detesto animadores de torcida que determinam o que as pessoas devem gritar, cantar.

Gosto do futebol como ele é. Ou como era. Gosto do futebol como sempre foi.

Detesto esse tal futebol gourmet.





terça-feira, 25 de novembro de 2014

Recife, cidade roubada



O Movimento Ocupe Estelita apresenta o vídeo “Recife, cidade roubada”. Mais uma contribuição para demonstrar a ingerência do capital imobiliário na política urbana e a urgente necessidade de cancelamento do Projeto Novo Recife, um empreendimento amplamente prejudicial à saúde de nossa cidade.

Realização: 
Ernesto de Carvalho, Leon Sampaio, Luis Henrique Leal, Marcelo Pedroso e Pedro Severien

Participação:
Irandhir Santos
Kleber Mendonça Filho
Lucas Alves
Leonardo Cisneiros
Valdimarta Lino
Liana Cirne Lins
Norma Lacerda
Cristiano Borba
Dona Leo de Sibamba
Luana Varejão
Caetano Lessa
Integrantes do Movimento Ocupe Estelita

Assista ao vídeo abaixo.


sábado, 22 de novembro de 2014

EUA: o país das oportunidades... e das férias não remuneradas

Trabalhadores da iniciativa privada americana não têm direito a férias pagas por lei

Edmund McCombs mudou-se para Sydney, na Austrália, há seis anos - e não tem planos de ir embora. Não foram só os restaurantes do porto ou as praias do litoral australiano que cativaram este diretor de sustentabilidade de 33 anos.

O americano, nascido na Flórida, está lá por um estranho motivo: seu chefe quer que ele tenha mais tempo de férias e aproveite mais a vida fora do trabalho.

McCombs diz que seu supervisor está de olho em cada dia de folga tirado, não para evitar que McCombs folgue demais, mas para garantir que ele não esteja trabalhando em excesso.

Essa cultura de folga obrigatória é um choque cultural para McCombs e os costumes americanos dele. "Na Austrália, as pessoas saem e se envolvem com suas 'vidas de verdade', sem medo de que isso vá repercutir por estarem longe do ambiente de trabalho", diz.

Os australianos têm direito, por lei, a 20 dias de férias remuneradas por ano, além de outros sete dias de feriados, também pagos. Só no último ano, McCombs viajou de férias para o Oeste do país, para a Flórida e para as ilhas Fiji.

Quando trabalhava em uma empresa do ramo de segurados, há seis anos, em Atlanta, nos Estados Unidos, ele só tinha direto a dez dias de férias pagas por ano. Mesmo assim, nunca podia tirar mais de cinco dias de uma só vez.

Na Austrália, diferente dos Estados Unidos e também do Brasil, o empregado não precisa trabalhar um ano inteiro antes de começar a gozar de suas férias.

A nação sem férias

Os Estados Unidos são o único país desenvolvido que trata férias como um "presente" ao empregado, não como um direito.

Em países como Áustria, Alemanha, Itália e Espanha, os trabalhadores têm direto a 30 dias pagos, entre férias e feriados. Nos Estados Unidos, a lei garante aos trabalhadores... zero dias.


A lei que regula isso é o Ato de Padrões Justos de Trabalho, de 1938, que regula o máximo de horas semanais que se pode trabalhar, o mecanismo de pagamento de hora extra, o salário mínimo e o trabalho infantil. A lei não mencionada nada sobre férias.

Isso significa que decisões sobre férias, ausências por doença ou feriados nacionais são negociados caso a caso entre empregador e empregado.

O padrão de várias empresas americanas é dar de 5 a 15 dias de férias pagas por ano a seus trabalhadores, mas um estudo recente do instituto americano Center for Economic and Policy Research mostrou que um em cada quatro trabalhadores da iniciativa privada não recebem nenhum dia de férias pagas.

Carrie Stevens é uma desses trabalhadoras. Ela trabalha servindo bebidas em uma cervejaria em Charlottesville, na Virgínia, e não tem nenhum dia de folga no ano - sequer por doença ou feriado.

"Mesmo que eu ganhe férias pagas ou dias de folga por doença, se o pagamento fosse feito com base na tabela de horas, ele seria mínimo", conta.

Ela recentemente recebeu um aumento de US$ 2,13 por hora para US$ 3,50 - mas a maior parte de sua remuneração são as gorjetas que recebe. O salário mínimo americano é US$ 7,25 por hora, mas pessoas que recebem gorjeta podem ter remuneração básica inferior a isso.

Nos seis anos que trabalha na cervejaria, ela calcula que tirou só cinco dias de férias por ano, que são pagas com suas próprias economias.

"Eu consigo sentir quando estou precisando de férias, porque minha paciência e tolerância com os clientes se esgotam", conta.

Cultura do medo

Mesmo os que recebem dias de férias pagos precisam se esforçar para consegui-los.

Há um estigma nos Estados Unidos de que quem pede férias ou folgas está sendo preguiçoso ou desleal com os colegas. Isso causa uma distorção no equilíbrio entre vida pessoal e trabalho - algo mais grave do que em qualquer outra economia do mundo avançado.


Uma pesquisa do site de carreiras Glassdoor.com, em abril, mostrou que o trabalhador americano com direito a férias pagas só tirou, em média, metade dos dias que poderia.

Entre os entrevistados, 28% disseram ter medo de ficar para trás no trabalho se tirassem mais férias. Para 17%, o medo era de perder o emprego. Outros 19% evitaram férias por quererem se manter mais competitivos que os colegas.

"Está claro que o significado da palavra 'férias' já não é o mesmo hoje em dia", diz Rusty Rueff, da Glassdoor.com.

Tentando mudar a lei

Volta e meia algum parlamentar americano tenta mudar a lei. O deputado democrata Alan Grayson, da Flórida, já tentou levantar essa bandeira diversas vezes.

Ele acredita que o estresse causado pela falta de férias tem um impacto negativo na produtividade e saúde dos trabalhadores, com custo anual de US$ 344 bilhões para a economia americana.

Ele tentou passar, em 2013, o Paid Vacation Act (projeto de lei das férias remuneradas), obrigando empresas com mais de cem funcionários a dar uma semana de férias pagas a todos que trabalham em turno integral.

O projeto se arrasta por comissões parlamentares há mais de um ano. Ironicamente, os parlamentares que estão analisando essa proposta têm direito a um mês inteiro de férias pagas.

Os políticos americanos são uma das poucas categorias nos Estados Unidos com direitos trabalhistas semelhantes aos de outras economias avançadas.

"Se eu nunca tivesse deixado os Estados Unidos, o conceito de um mês inteiro de férias nunca teria passado pela minha cabeça", diz McCombs, em Sydney. "Na Austrália, isso não é nada inovador - é apenas o normal e o esperado."

Fonte: BBC

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Canabidiol, uma revolução para autistas e epiléticos


Por Renato Malcher*


Aos onze anos, Carly Fleischmann comunicou-se com o mundo pela primeira vez. Diagnosticada com autismo aos três, jamais pronunciou uma palavra e parecia perdida no mundo, à deriva dentro de si. Mas em uma tarde de inquietação, gritos e perturbadora agressividade, ela foi ao computador e digitou: “ajuda dente dói”. Após anos de treinos, frustrações, lentos e minúsculos progressos, seus pais ficaram estarrecidos: “Percebemos que dentro de Carly havia uma pessoa articulada, inteligente e emotiva que nós jamais havíamos conhecido!”.

A partir desse primeiro contato imediato com o misterioso mundo da mente autista, segredos impactantes foram revelados: “Vocês nunca saberão como é quando não consigo me manter quieta porque minhas pernas ardem como se estivessem em chamas, ou quando eu sinto como se centenas de formigas subissem pelo meu corpo.”

Ambientes cheios de estímulos sonoros e visuais também causavam tempestades de ruídos insuportáveis em sua mente, levando-a a violentos ataques, comuns entre os autistas, mas que — agora ela revelava — serviam para tentar dissipar essas terríveis sensações (supostamente causadas por ativação caótica de circuitos cerebrais).


Recentemente, um grupo de Harvard constatou que cerca de 50% das crianças diagnosticadas como autistas exibem focos cerebrais de atividade caótica que as tornam incapazes de conexão com o mundo exterior (mesmo quando na ausência de ataques ou convulsões).

Há também diversas síndromes que apresentam simultaneamente convulsões e autismo. Este é o caso das síndromes de Dravet e de CDKL5, das quais sofrem, respectivamente, as meninas Charlote, protagonista do documentário “Weed”, realizado pela CNN, e Anny, do documentário “Ilegal”, de Raphael Erichsen e Tarso Araújo.

“Weed” foi dirigido pelo neurologista Sanjay Gupta, consultor da CNN famoso por sua histórica oposição ao uso medicinal da maconha. Mas ambos documentários mostram que, graças ao óleo extraído de um tipo de Cannabis sativa rica em canabidiol, Charlote e Anny tiveram suas vidas praticamente salvas. As convulsões caíram de devastadoras centenas por semana, para três ou menos. Em ambas, assim como em outros relatos sobre crianças autistas, o uso de canabidiol causou melhoras extraordinárias de sintomas como ataques de agressividade e autoflagelação, hiperatividade e falta de contato visual.


Em 2013 descobriu-se que mutações presentes em síndromes semelhantes acarretam defeitos no chamado sistema endocanabinoide, o qual normalmente protege o cérebro de hiperativação e controla percepção sensorial, atenção, cognição, emoções, adaptação ao estresse e interação social. O sistema é assim nomeado por ser controlado por moléculas produzidas no próprio cérebro, as quais são imitadas por componentes da Cannabis, tais como o canabidiol.

O documentário “Weed” mostrou que, em um contexto controlado, seja na forma de óleo, compostos isolados, ou de material in natura, o uso medicinal da Cannabis representa uma nova revolução na medicina. Por isto, hoje em dia, Dr. Gupta pede desculpas por ter se enganado.

Menino autista durante ataque de auto-agressividade (esquerda) e depois sob o efeito de medicação à base de Cannabis.


*Neurobiólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB)


Vídeos relacionados







Fonte: Libertas

domingo, 9 de novembro de 2014

Reds - Link para download do filme


TÍTULO DO FILME: REDS (Reds, EUA 1981)
DIREÇÃO: Warrem Beatty
ELENCO: Warren Beatty, Diane Keaton, Jack Nicholson, Gene
Hackman, Mureen Stapleton, Paul Sorvino, 188 min. CIC.


RESUMO

O filme retrata a vida do jornalista norte-americano John Reed, desde a época em que era repórter do periódico socialista The Masses no início do século XX, até a fundação do Partido Comunista dos Estados Unidos. Sua vida conjugal com Louise Bryant, também merece destaque especial na primeira parte do filme.
O filme prossegue, mostrando a participação de John na Revolução Russa em 1917, seus contatos com importantes lideranças e as divergências internas que já aparecem no movimento comunista da União Soviética. Dessa participação John realizou a mais famosa cobertura jornalística da revolução, imortalizada no livro Os dez dias que abalaram o mundo, um clássico sobre a história da Revolução Bolchevique, altamente elogiado por Lênin.
Durante a existência da União Soviética, John sempre foi tratado como uma espécie de herói na visão internacionalista do socialismo. Morreu em Moscou vítima de tifo com 44 anos. Trata-se do único estrangeiro, que morrendo na União Soviética, teve seu corpo enterrado com grandes honras nas muralhas do Kremlim, ao lado do mausoléu de Lênin.


CONTEXTO HISTÓRICO

O início do século XX foi marcado por tragédia e transformação com a "Grande Guerra" e a Revolução Russa.
A disputa de mercados promovida pelo neocolonialismo, associou-se à corrida armamentista e às questões nacionalistas na península Balcânica, resultando na Primeira Guerra Mundial. Pela primeira vez na história, diversas nações de todos os continentes se envolviam em um mesmo conflito. A Grande Guerra, como ficou conhecida, ocorreu entre os anos de 1914 e 1918 e deixou destruída grande parte do continente europeu, com um salde de cerca de 13 milhões de mortos.
O ano de 1917, já na fase final do conflito foi considerado singular na história, em razão da saída da Rússia e da entrada dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos resolveram participar do conflito somente em sua fase final. A guerra acabará em 1918, ou seja, de 1914 a 1917 os Estados Unidos estão assistindo de camarote, a destruição da Europa. Era um grande negócio para o capitalismo norte-americano, pois as dívidas de França e Grã-Bretanha aumentavam a cada dia.
Na Rússia, Lênin, líder bolchevique, tomava o poder juntamente com o povo organizado em sovietes, os conselhos revolucionários que representaram a mobilização popular para viabilizar a formação do primeiro Estado socialista da história. A retirada da Rússia da Primeira Guerra, através do Tratado de Brest-Litovsky com a Alemanha, a reforma agrária e a socialização dos meios de produção, ocorrem sob o comando de Lênin, que transformou a velha Rússia em União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
A Nova Política Econômica (NEP) de Lênin, que adotou medidas provisoriamente capitalistas e a morte prematura do comandante bolchevique em 1924, levaram o secretário do Partido Comunista, Josef Stálin ao poder. Inicia-se um período de crescimento econômico-militar que, com os Planos Quinquenais, rapidamente transformaram a URSS em uma potência mundial.


Link para baixar o filme via torrente CLIQUE AQUI.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Alguns registros fotográficos da Revolução Bolchevique de 1917

Postagem em homenagem ao maior acontecimento do Século XX.

Revoluções Final
A Guarda Vermelha desfila durante o enterro das vítimas da revolução de fevereiro, em Petrogrado, em 23 de março de 1917.

Revoluções Final 3
Manifestação de mulheres nas ruas de Petrogrado, em abril de 1917.

Revoluções Final 2
Assembleia do soviete de Petrogrado na sala da Duma, em março de 1917.

Soldados bolcheviques nas ruas de Moscou, durante a Revolução Russa de 1917

Lênin discursando para as massas em Moscou

Resistência Bolchevique

Lênin e o Comissariado

Reunião dos sovietes

Manifestação em Moscou

Manifestação em Petrogrado

Stálin, Lênin e Kalinin em 1919

Junho de 1917, congresso de operários e soldados.

Lênin discursando e Trotsky

Manifestação de soldados e operários

domingo, 2 de novembro de 2014

Como homem, Pelé é um anão perto de Muhammad Ali

Pelé foi um grande atleta do futebol, o maior do mundo com a bola nos pés.

Muhammad Ali foi o maior boxeador de todos os tempos - e algo mais: foi o primeiro esportista do planeta a reunir esporte e política em suas ideias e posturas. O sucesso nos ringues não lhe calou a voz crítica ao status quo racista dos Estados Unidos, seu país de origem e onde vivia.

A posição de ambos quanto à questão racial é um exemplo das diferenças entre eles.

Pelé e Muhammad Ali: posições e posturas diferentes em relação ao racismo e outras injustiças

Em relação ao racismo, Pelé sempre foi submisso, "cativo". Ao ser aceito no meio branco dominante, por seu talento nos gramados, baixou a cabeça para o preconceito e, mesmo sendo a personalidade mundial que é, nunca ergueu sua voz para combatê-lo.

Pelé sempre foi covarde politicamente, como agora no caso do goleiro Aranha, ofendido por torcedores do Grêmio durante jogo em Porto Alegre. Veja o que ele disse ao canal SporTV: 

"Acho que o Aranha se precipitou um pouco em querer brigar com a torcida. Se eu fosse parar o jogo cada vez que me chamassem de macaco ou crioulo, não tinha jogo”.

Já Muhammad Ali nunca teve receio de confrontar o sistema - numa América francamente racista. Claro, pagou preços por isso, mas não os temeu: cassaram-lhe o título de campeão mundial (que veio a recuperar mais tarde no Congo, numa luta histórica), condenaram-lhe à cadeia, oficialmente, por ter se recusado a ir à guerra do Vietnã. "Os vietcongues nunca me chamaram de crioulo. Não tenho nada contra os vietcongues", disse ele. Na verdade, foi condenado pelo conjunto de suas posições. Na época de sua prisão, ele era uma voz ativa e forte contra a discriminação racial nos EUA.

Ali aguentou no osso do peito e confundiu sua vida com a história. Venceu nos ringues e no campo das ideias. Será lembrado pela eternidade como um homem muito maior do que o grande boxeador que foi.

Um documentário, premiado com o Oscar, intitulado Quando Éramos Reis, mostra quem foi Ali. Perto dele, Pelé, com aquele jeito 'bonzinho' e cara de cordeiro, é um anão.

Abaixo, em cena de Quando Éramos Reis, Ali fala sobre os "negros"


Abaixo, o filme na íntegra


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O escravo da Casa Grande e o desprezo pela esquerda


Por Mauro Iasi

Malcom X comparou, certa vez, os negros que defendiam a integração na sociedade norte americana com escravos da casa. Para defender suas pequenas posições de acomodação na ordem escravista, buscavam imitar seus senhores, copiar seus maneirismos, usar suas roupas, sua linguagem, adotando o nome da família de seus senhores. Daí o “X” no lugar do sobrenome do revolucionário norte americano.

Não é de se estranhar que os escravos da Casa Grande se incomodassem com as revoltas vindas da Senzala, pois poderiam atrapalhar sua instável acomodação, sua sobrevivência subserviente.

Dois textos recentes me chamam a atenção, não sei se produzidos pela mesma pena, mas certamente movidos pelo mesmo ódio e desprezo contra a esquerda em nosso país. Um deles é de autoria do sociólogo Emir Sader neste blog (“Não é a Copa, imbecil, são as eleições”), que recentemente comparou os manifestantes a cachorros vira-lata, outro é o editorial do Brasil de Fato de 03/06/2014 (“Eleições presidenciais e o papel do esquerdismo“) que, não contente em se aliar ao campo de apoio a Dilma, abriu as baterias contra a esquerda – aquela mesma que em muitas situações apoiou esse jornal, não apenas nas campanhas para sua sustentação, mas participando de seu conselho editorial e apoiando nos momentos mais difíceis.

Tanto o sociólogo como o jornal têm o direito de apoiar quem quiserem, de emitirem suas opiniões, mas o que nos chama a atenção é a necessidade de atacar a esquerda e a forma deste ataque. Como em todo o debate que busca fugir do mérito da questão (talvez pela dificuldade em realizar o debate neste campo) lança-se mão de estigmas. É preciso caracterizar os oponentes como “esquerdistas”, “minorias”, “intelectuais vacilantes da academia”, ou mais diretamente de “imbecis”.

Por vezes devemos aceitar o debate não pela qualidade dos argumentos ou a seriedade dos adversários, mas em respeito àqueles que poderiam se beneficiar do bom debate. Para isso temos que supor que o debate é sério e que há uma questão de fundo, ainda que para isso tenhamos que separar uma grossa camada de retórica que visa desqualificar o debate para não enfrentá-lo.

O argumento central da posição expressa nos textos citados, mas explícita e de forma mais clara no editorial do Brasil de Fato, poderia ser assim resumida: os governistas teriam uma “visão ampla da luta de classes”, que articularia três dimensões – a luta social, a ideológica e a institucional – atuando com “firmeza ideológica e flexibilidade tática”; enquanto os supostos esquerdistas “ignoram a correlação de forças” no Brasil e na America Latina e concentram muito mais nas criticas do que nas realizações dos governos “populares”. Isso porque subordinam suas posições, como “vacilantes intelectuais da academia” ou partidos “sem o mínimo peso eleitoral”, não a uma análise concreta de uma situação concreta, mas a uma “fidelidade” ao marxismo ortodoxo.

O resultado desta premissa, segundo a posição expressa, é o seguinte:

“Por isso, para serem condizentes com uma análise concreta de uma situação concreta, os partidos de esquerda sem o mínimo de peso eleitoral, que não conseguem enraizar sua mensagem programática e nem contribuir para o avanço da consciência de classe das massas populares durante as eleições deveriam estar fortalecendo a candidatura de Dilma, mesmo sabendo que o neodesenvolvimentismo em curso não é uma alternativa popular.”

Mesmo na posição de um “vacilante intelectual do mundo acadêmico, fiel ao marxismo e de um partido sem peso eleitoral”, gostaria de iniciar o debate afirmando que nossos colegas deveriam seguir, antes de mais nada seus conselhos. Se não vejamos. O erro do “esquerdismo”, que o impediria de realizar uma análise concreta de uma situação concreta, é que “não conseguem identificar frações de classes e seus diversos interesses em torno do governo Dilma”.

Então vamos lá. Quais são as classes e frações de classe que se somam aos governos do PT? O PT produziu-se como experiência histórica da classe trabalhadora que acabou por projetar-se numa organização política que, sem perder a referencia passiva desta classe, assumiu posturas políticas que se distanciam dos objetivos históricos dos trabalhadores. Não se trata de uma questão de origem de classe, mas do caráter de classe da proposta política apresentada em nome dos trabalhadores.

É preciso explicar aos leitores que nós (intelectuais vacilantes fieis ao marxismo) não concebemos a classe social como mera posição nas relações sociais de produção e formas de propriedade, mas como uma síntese de determinações que partindo da posição econômica, devem se somar a ação política, a consciência de classe e outros aspectos. Dessa forma, um setor da classe trabalhadora, ainda que partindo originalmente deste pertencimento, pode em sua ação política e na sua intencionalidade, afirmar outro projeto societário que não aquele que nossa experiência histórica constitui como meta – o socialismo –, sendo capturado pela hegemonia burguesa, naquilo que Gramsci chamou de “transformismo”.

No caso do PT acaba por se consolidar um projeto que tem por principal característica quebrar as reivindicações sociais do proletariado e dar a elas uma feição democrática; despir as formas puramente políticas das reivindicações da pequena burguesia e apresentá-las como socialistas, e tudo isso para exigir instituições democráticas republicanas “não como meio de suprimir dois extremos, o capital e o trabalho assalariado, mas como meio de atenuar a sua contradição e transformá-la em harmonia.” (Karl Marx, O 18 de brumário de Luís Bonaparte, p. 63).

Assim o PT em seu projeto (e prática) de governo apresenta em nome da classe trabalhadora um projeto pequeno-burguês. Mas o PT não governa sozinho, têm razão nossos colegas. É necessário seguir nossa análise para responder quais classes e setores de classe compõem o governo Dilma. Como o centro do projeto político foi deslocado para chegar ao governo federal e lá se manter, são necessárias alianças e até mesmo o programa de reformas democrático-populares é por demais amplo (seria o que André Singer chama de “reformismo forte”), então, rebaixa-se o programa (um “reformismo fraco”) e amplia-se as alianças. Para qual direção?

Não podemos confundir a sopa de letrinhas do leque de alternativas partidárias com segmentos de classe, mas eles são um indicador das personificações desses interesses. As alianças inicialmente pensadas como um leque entorno da classe trabalhadora, setores médios e pequenos empresários, se amplia bastante agora no quadro de um Pacto Social. Vejamos:

“Um novo contrato social, em defesa das mudanças estruturais para o país, exige o apoio de amplas forças sociais que dêem suporte ao Estado-nação. As mudanças estruturais estão todas dirigidas a promover uma ampla inclusão social – portanto distribuir renda, riqueza, poder e cultura. Os grandes rentistas e especuladores serão atingidos diretamente pelas políticas distributivistas e, nestas condições, não se beneficiarão do novo contrato social. Já osempresários produtivos de qualquer porte estarão contemplados com a ampliação do mercado de consumo de massas e com a desarticulação da lógica financeira e especulativa que caracteriza o atual modelo econômico. Crescer a partir do mercado interno significa dar previsibilidade para o capital produtivo.”

Resoluções do 12.º Encontro Nacional (2001). Diretório Nacional do PT (São Paulo, 2001, p. 38).

Este pacto social com “empresários produtivos de qualquer porte” não deixaria de fora nem mesmo os “rentistas”, como se comprovou. A chamada governabilidade exigiria que as personificações partidárias destes interesses estivessem na sustentação do governo, de forma que o governo de “centro” (pequeno-burguês) buscou e conseguiu se aliar com siglas da direita (PMDB, PTB, PP, PSC e outras). Na composição física do governo vemos setores de classes diretamente representados, como o caso dos interesses dos grandes monopólios no Ministérios da Indústria, dos bancos no Banco Central, do agronegógio no Ministério da Agricultura, assim como o controle das agências reguladores e outros espaços formais e informais de definição da política governamental.

Evidente que haverá participação dos “trabalhadores”, mas há aqui uma diferença essencial. Enquanto os setores do grande capital monopolista levam suas demandas à política de governo e as efetivam, as demandas dos trabalhadores são, por assim dizer, filtradas. Enquanto a CUT defendia suas resoluções em defesa da previdência pública, um ex-presidente da entidade assume o ministério para implementar a reforma da previdência, assim como a luta pela reforma agrária é tolerada, mas filtrada e peneirada em espaços intermediários para que os militantes comprometidos não cheguem aos espaços de decisão sobre a questão fundiária e agrária, estes reservados aos representantes do agronegócio.

Podemos ver militantes e personificações de segmentos importantes da classe trabalhadora em áreas como a saúde, a assistência social e outras, no entanto, o espaço efetivo de implementação de políticas ficaria constrangida pelas áreas de planejamento e a lógica da reforma do Estado para produzir a subserviência à lei de responsabilidade fiscal e a política de superávits primárias que tanto agrada aos banqueiros.

Recentemente a presidente Dilma, através da deputada Kátia Abreu (aquela mesmo!!!) da bancada ruralista, garimpava apoio entre os diferentes setores do agronegócio (gado, soja, milho, etc.), enquanto Paulo Maluf posava sorridente ao lado do candidato do PT ao governo de São Paulo em troca de alguns minutos no tempo de TV.

O governo de pacto social com os setores da grande burguesia monopolista e a pequena burguesia que sequestrou a representação da classe trabalhadora, implica nos limites da ação de governo, isto é, impedem o “reformismo forte” e impõe um “reformismo fraco”. Para atender as exigências da acumulação de capital dos diversos segmentos da burguesia monopolista, as demandas dos trabalhadores têm que ser contingenciadas, focalizadas, gotejadas, compensatórias.

Queria-se acabar com a fome e a miséria, mas devemos nos contentar em combater as manifestações mais agudas da miséria absoluta. Queríamos uma reforma agrária (e mais que isso, não é, uma nova política agrícola e de abastecimento, etc.), mas devemos nos contentar com crédito para assentamentos competirem com o agronegócio e assistência para os que não conseguem. Não se revertem as privatizações realizadas e cresce a lógica privatista com as fundações público privadas, as OSs e outras formas diretas ou indiretas de privatização.

O problema é que, mesmo assim, dando tanto à burguesia monopolista e tão pouco aos trabalhadores, a burguesia sempre vai jogar com várias alternativas, e, na época das eleições, vai ameaçar, chantagear e negociar melhores condições para dar sua sustentação. O leque de alianças da governabilidade petista não implica fidelidade dos setores do capital monopolista, adeptos do amor livre, entendem o apoio ao governo do PT como uma relação aberta. Por isso aparecem na época das eleições na forma de suas personificações como partidos de “oposição”.

Tal dinâmica produz um movimento interessante. Amor e união com a burguesia monopolista durante o governo e pau na classe trabalhadora (combinada com apassivamento via políticas focalizadas e inserção como consumidores); e briga com a burguesia e promessas de amor com os trabalhadores na época de eleição!

A abertura da Copa e a hostilização vinda da área VIP contra a presidente funciona aqui como uma metáfora perfeita: eles fazem a festa para os ricos, enchem o estádio com a elite branca e rica, esperando gratidão, mas a elite xinga a presidente.

A artimanha governista é circunscrever a propalada análise concreta de uma situação concreta à conjuntura da eleição e não do período histórico em que esta conjuntura se insere. Graças a esta mágica, desaparece o governo real entre no lugar um mito que resiste ao neoliberalismo contra as forças do mal igualmente mitificadas e descarnadas de sua corporalidade real. É o odioso “neoliberalismo”, que vai retroceder nos incríveis ganhos sociais alcançados e desestabilizar os governos progressistas na America Latina. Vejam, nos dizem, como são piores que nosso governo, precisamos derrotá-los para evitar o retrocesso e as privatizações. Mas uma vez derrotados eleitoralmente os adversários de direita… quem privatizou o Campo de Libra? Colocando exército para bater em manifestantes? Quem aprovou a lei das fundações público-privadas que abriu caminho para a privatização da saúde e outras? Quem aprovou a lei dos transgênicos, o código florestal e de mineração?

Não são iguais, é verdade. São duas versões distintas disputando a direção do projeto burguês no Brasil. Um o capitalismo com mais mercado e menos Estado, outro o capitalismo com mais Estado para garantir a economia de mercado.

Precisamos circunscrever a análise da correlação de forças ao momento eleitoral para evitar a derrota do governo Dilma, vejam, “mesmo sabendo que o neodesenvolvimentismo em curso não é uma alternativa popular”!

Então, comecemos por aí: o atual governo NÃO É UM ALTERNATIVA POPULAR! Já é um bom começo. Mas tenho uma péssima notícia… também não é neodesenvolvimentista, seja lá o que isso queira dizer. É um governo de pacto social que, partindo de um programa e uma concepção pequeno-burguesa, crê ser possível manter as condições para a acumulação de capitais o que leva a uma brutal concentração de renda e riqueza nas mãos de um pequeno grupo, ao mesmo tempo em que, pouco a pouco e muito lentamente, apresenta a limitada intenção de diminuir a pobreza absoluta e incluir os trabalhadores na sociedade via capacidade de consumo (bolsas, salários e crédito, etc.).

Ora, o que deve fazer a esquerda “sem o mínimo de peso eleitoral, que não consegue enraizar sua mensagem programática e nem contribuir para o avanço da consciência de classe das massas populares”? Dizem os governistas: votar na Dilma. No entanto, desculpe a insistência de quem faz análise concreta de situação concreta não só quando chegam as eleições e água bate na bunda; mas, e se for exatamente este processo de pacto social e de implementação de um social-liberalismo que está impedindo o “avanço da consciência de classe”? Depois de 12 anos de governos desta natureza a consciência de classe está mais avançada que estava nos anos 80 e 90? Nos parece que não.

Se somos tão insignificantes, irrelevantes e idiotas… por que é necessário bater desta forma na esquerda? Pelo simples fato que nossa existência, a existência de uma ESQUERDA (não a pecha de esquerdismo que tenta se impor contra nós como estigma), é a denuncia explícita dos limites e contradições que o governismo e seus lacaios querem jogar para debaixo do tapete.

Para manter a “imagem” do governo petista (Sader está preocupado com a imagem) é preciso uma operação perversa: atacar quem denuncia os limites desta experiência, não importando o quanto desqualificado e hipócrita seja o ataque, estigmatizando, despolitizando o debate. Primeiro foi necessário destruir a esquerda dentro do PT e sabemos os métodos que foram usados nesta guerra suja. Na verdade o que vemos agora contra a esquerda fora do PT é uma projeção do ataque vil e brutal que companheiros da esquerda petista sofreram e (aqueles que ainda resistem lá no PT) ainda sofrem (esquerdistas, isolados das massas, sem expressão eleitoral, irresponsáveis, etc.). E depois que conseguirem isolar, estigmatizar e satanizar a crítica de esquerda a essa experiência centrista e rebaixada de governo? Quando forem atacados pela direita que não guarda nada a não ser desprezo para com os escravos da casa grande?

As manifestações seriam, segundo os governistas, uma ofensiva da direita para sujar a imagem bela e idealizada do governo e o esquerdismo joga água neste moinho. Interessante que a necessidade de uma análise concreta de uma situação concreta, da correlação de forças e das classes não é necessária quando se trata das manifestações. MTST, garis, metroviários, professores, são todos imbecis marionetes da direita, manipulados por ela e quando pensam lutar por seus direitos e demandas estão fazendo o jogo da direita. Somos nós que fazemos o jogo da direita… tem certeza?

De nossa parte, não nos incomodamos, porque não esperamos nada mais que isso como consequência do progressivo, e triste, processo de descaracterização e rebaixamento político. Não será a primeira vez que a política pequeno-burguesa, que se diz representante de todo o povo, se alia ao trabalho sujo da direita para combater a esquerda.

Respondemos àqueles que acreditam que estamos isolados com as palavras de Lenin, com quem aprendemos a fazer análise concreta de uma situação concreta:

Pequeno grupo compacto, seguimos por uma estrada escarpada e difícil, segurando-nos fortemente pela mão. De todos os lados, estamos cercados de inimigos, e é preciso marchar quase constantemente debaixo de fogo. Estamos unidos por uma decisão livremente tomada, precisamente a fim de combater o inimigo e não cair no pântano ao lado, cujos habitantes desde o início nos culpam de termos formado um grupo à parte, e preferido o caminho da luta ao caminho da conciliação. Alguns dos nossos gritam: Vamos para o pântano! E quando lhes mostramos a vergonha de tal ato, replicam: Como vocês são atrasados! Não se envergonham de nos negar a liberdade de convidá-los a seguir um caminho melhor? Sim, senhores, são livres não somente para convidar, mas de ir para onde bem lhes aprouver, até para o pântano; achamos, inclusive, que seu lugar verdadeiro é precisamente no pântano, e, na medida de nossas forças, estamos prontos a ajudá-los a transportar para lá os seus lares. Porém, nesse caso, larguem-nos a mão, não nos agarrem e não manchem a grande palavra liberdade, porque também nós somos “livres” para ir aonde nos aprouver, livres para combater não só o pântano, como também aqueles que para lá se dirigem!
(Lenin, Que fazer?, São Paulo: Expressão Popular, 62).

***

Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB. É autor do livro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da consciência (Boitempo, 2002) e colabora com os livros Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil e György Lukács e a emancipação humana (Boitempo, 2013), organizado por Marcos Del Roio.

domingo, 26 de outubro de 2014

Aécio omite de biografia trabalho durante a Ditadura Militar

Foto: divulgação do site oficial da campanha do candidato Aécio Neves.

Na eleição de 2010, a grande imprensa noticiou amplamente uma iniciativa de Dilma Rousseff (PT) para se tornar empresária. De acordo com reportagens da época, a candidata à reeleição abriu uma loja de produtos importados em Porto Alegre. O negócio, que durou um ano e cinco meses, fechou em julho de 1996 e foi omitido da biografia da presidente.

Excluir da biografia fatos considerados negativos é uma prática condenável dos políticos. Aécio Neves (PSDB) representa a evolução dessa artimanha.

No site oficial da campanha do tucano – e também na campanha no rádio e na televisão –, foi largamente divulgada a relação dele com o avô, Tancredo Neves, eleito indiretamente presidente da República e morto antes de tomar posse. O que o oposicionista não cita são dados de sua biografia divulgados pela Câmara dos Deputados.

De acordo com o site da Câmara, Aécio trabalhou para o CADE, órgão vinculado ao Ministério da Justiça, em 1977, durante o governo militar. Nessa época, o candidato do PSDB estava com 17 anos e o ministro da Justiça era Armando Ribeiro Falcão, ocupante do cargo de 1974 a 1979. Falcão foi o artífice da Lei Falcão, que impedia o acesso dos políticos ao rádio e à televisão com o objetivo de evitar a vitória oposicionista nas eleições municipais de 1976 e nos pleitos seguintes. A relação do ministro com a imprensa ficou marcada pela frase “nada a declarar”, por se recusar a comentar qualquer assunto considerado polêmico.

Trecho da biografia de Aécio publicada pela Câmara dos Deputados.


O site da Câmara também registra que Aécio foi contratado em 1980 como assessor do pai, Aécio Cunha, que foi deputado federal pela Arena e pelo PDS, partidos que deram sustentação ao regime militar. Aécio morava e vivia no Rio de Janeiro, mas a contratação foi pela Câmara dos Deputados, em Brasília.

O presidente na época era o general Ernesto Geisel.

É papel da imprensa mostrar as omissões dos políticos nas biografias que alardeiam. Mas as informações devem ser dadas de todos os políticos, sem cores partidárias. Dilma, como é largamente divulgado, atuou em organizações de guerrilha contra os militares, foi presa e torturada. Esse fato não pode ser omitido, como também não é aceitável que se esconda a proximidade de Aécio com personagens que estiveram ao lado e colaboraram com os militares. Essas informações estão registradas e o tucano não pode ignorá-las nem tentar a tecla “delete”.




sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Revista britânica ironiza ato pró-Aécio: “Só faltou champanhe”


Revista britânica ironiza ato pró-Aécio: “Só faltou champanhe”

The Economist chamou o protesto de “Revolução da Cashmere”, pela quantidade de socialites, roupas caras e iPhones vistos durante o ato em prol do candidato tucano; segundo a publicação, isso apenas reforça a imagem de que Aécio seria um verdadeiro representante da elite

Por Redação

A revista britânica The Economist publicou um texto ontem (23) sobre a mobilização de eleitores do presidenciável brasileiro Aécio Neves (PSDB). O evento ocorreu na noite de quarta-feira na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. Mesmo tendo anunciado apoio ao candidato tucano, a publicação foi irônica e chamou a manifestação de “Revolução da Cashmere”, em referência à lã utilizada normalmente em roupas caras.

“Sujeitos de terno com camisas bem passadas e gravadas com suas iniciais, portando bandeiras de Aécio. Socialites bem vestidas, envoltas em elegantes cachecóis para afastar o frio fora de estação, entoando slogans contra o PT. Todos tirando selfies com caros iPhones”, dizia a matéria, que afirmou ter faltado apenas “taças de champanhe” no protesto.

A revista ressaltou que o ato foi uma cena sem precedentes na história das eleições, e não somente no Brasil, já que “barões dos negócios e financistas” não costumam ir às ruas para esse tipo de manifestação. Segundo o texto, a atitude e o perfil dos eleitores reforçariam ainda mais a imagem do candidato tucano de ser um “fantoche da elite rica”, como afirmam seus opositores.