quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Com Aécio Neves a direita está no cio

aecio-direita

Uma coisa é o meu desejo, a outra coisa é o meu ponto de vista analítico, que pode ou não coincidir. O fiasco das eleições do ponto de vista popular. Diante disso não adianta nem rir, nem chorar, mas compreender.


Por Gilberto Felisberto Vasconcellos*


Esculhambar como partido de direita o PSDB é fácil; o difícil é explicar por que ele seduz o proletariado e o subproletariado em São Paulo. Basta examinar a fisionomia de Aécio (na foto: centro), de Alckmin (à direita), de Serra (à esquerda) e daí inferir o que essas personas podem seduzir a população andraja.

Tampouco a mim não me parece fácil explicar a recepção popular da fala desses tucanos. Não cabe aqui também apontar a chatice de seus discursos. Claro que são insuportáveis. Todavia eles já se tornaram uma generalizada mala sem-alça. Isso leva a supor que há alguma coisa que converte em denominador comum a vítima e o seu assassino. Para mim esse denominador comum é a comunicação de massa, mais especificamente o programa de auditório e a telenovela.

Não é absolutamente uma provocação afirmar que a política é um produto da telenovela. Isto já foi dito por mim quando escrevi em 1989 a plaquete intitulada Collor a cocaína dos pobres.

Atenção: a cocaína aí no caso, não era o pó branco aspirado para dar barato, mas sim a televisão como a droga dos pobres. Poderia ter usado a palavra ópio, mas não quis repetir Karl Marx.

Será que é um espanto constatar que o proletariado e o subproletariado de São Paulo votaram na plutocracia tucana?

Operários

Talvez fosse mais racional afirmar que a classe operária desintegrou-se como classe e tornou-se uma massa boçal. O que aliás já foi aventado pelo grande crítico Walter Benjamin na década de 30 em correspondência epistolar com Theodor Adorno, o qual foi desmarxizado pela bonecagem acadêmica local.

Atenção: não estou aqui a fim de repisar o estribilho segundo o qual a classe operária se perdeu como sujeito da história. A moda agora é afirmar que o motor da história não é mais a luta de classes, e sim a democracia, concepção esta que aglutina os petistas e os tucanos. Isto é mais um signo de que houve uma cópula linguística e política entre o PSDB e o PT. Essa cópula foi por mim batizada de petucanismo.

Não é preciso afirmar que separar agora o PT do PSDB não é uma operação fácil, sobretudo depois que houve um pacto de cavalheiros entre Lula e FHC em 2002. Ambos diversos, mas não adversos, colocaram debaixo do tapete suas supostas divergências. Isso ganhou o nome antipático de governabilidade.

O fundamento sociológico do petucanismo é a ideia colonial e lacaia de que os políticos devem administrar a dependência e não erradicá-la. Afinal, quem a administra melhor? A resposta vai ao som da valsa. É uma resposta pendular: ora Armínio Fraga, ora Mantega. Destarte, ambos são fãs um do outro, como aliás o amor secreto de Lula sempre foi FHC, e não aquele que rompia com o arranjo colonial: Leonel de Moura Brizola.

Ninguém nessa altura do campeonato espera que Lula vá ajoelhar-se no milho do arrependimento. A história não é uma dama afável que você tira para dançar. Também não se pode esperar da história gratidão. Quantas e quantas vezes Lula não teve o apoio de Leonel Brizola!

Houve protestos de rua, mas parece não ter havido conexão entre tais protestos e o resultado das eleições. Afinal, Alckmin não participou da barricada reivindicando a redução da tarifa de ônibus. O velho Trotsky estava certo: nem a miséria é a razão da transformação histórica, nem o protesto difuso e anárquico consegue alguma coisa duradoura se não tiver um partido revolucionário e uma direção revolucionária comandando este partido. E, convenhamos, não temos nem uma coisa nem outra.

Bandeirantes

Há um inequívoco sentimento de perplexidade, cuja origem remonta à expansão bandeirante no Planalto Paulista. Refiro-me à volúpia que a coletividade paulista sente pelo tipo policial que mata e arrebenta. Meu amigo Rogério Sganzerla filmou muito bem a viatura policial em São Paulo a fim de mostrar com isso que o paulista tem tesão é no cassetete, como se houvesse conexão entre o Borba Gato e o Bandido da Luz Vermelha.

Não vamos porém jogar os bandeirantes ao lixo. É que a razão do sentimento policial no eleitorado é uma reação ao desenvolvimento desigual do capitalismo na periferia, na qual São Paulo se converteu em ponta-de-lança do progresso às expensas de outras regiões.

Acontece porém que o paulista eleitor e leitor da Folha de São Paulo atribui esse progresso às qualidades intrínsecas da Avenida Paulista, na qual transita um povo trabalhador infatigável, enquanto nos outros brasis o que vinga é o tipo vagabundo, preguiçoso e malandro.

Então perguntada essa questão para o paulista boçal, seguramente ele vai defender e justificar a repressão policial para impedir que o campo cerque a cidade, como diria Mao Tsé-Tung.

Não vamos deixar de responsabilizar a produção intelectual da elite paulista, que são cúmplices desse desenvolvimento desigual iníquo, vivendo das migualhas da superexploração do trabalho, o que os levou a proclamar pela imprensa e universidade a obsolescência do conceito de imperialismo.

Imperialismo

Para a classe letrada paulista, o imperialismo é tesudo, é a flor da modernidade, portanto invejado na ânsia de falar inglês. O pior de tudo é que essa mentalidade grotesca e colonial se espraia por todos os brasis universitários, então o brasileiro em geral converteu-se num testa de ferro apaulistado, ainda que não tenha um maldito puto no bolso.

Estamos falando hoje em ofensiva da direita, todavia arriscaria dizer que estamos vivendo em pleno fascismo. A denominação ainda não surgiu nítida, se videofascismo, se fascismo virtual, se fasciopentecaevangélico, mas a realidade se apresenta antes do nome. O que na verdade nos define é menos o regime político do que a condição colonial de País subdesenvolvido.

Paranoia minha esse receio com o fascismo? Negativo. O cientista egípcio Samir Amim está alertando sobre o retorno do fascismo no capitalismo contemporâneo. Entre nós volta a discussão se a ditadura de 64 foi ou não fascista, assim como não está devidamente esclarecido se o Estado Novo de 1937 a 1945 terá sido uma espécie de regime fascista ou semi-fascista.

O importante é não deixar de perguntar: a quem serviu e favoreceu economicamente a ditadura de 64? Qual a classe social que abocanhou a mais-valia?

A ditadura serviu ao capital dominante estrangeiro.

Então, é possível que o regime atual possa servir às grandes empresas multinacionais sem que no entanto seja abolida a democracia formal, as eleições e os partidos políticos. Claro que pela metodologia do cinismo é melhor dependência econômica com democracia do que com Estado policial.

A malandragem tucana, ditada pelo Pentágono, foi denominar de "autoritarismo" o período iniciado em 1964, o que era uma maneira sacana de deixar oculto o domínio do capital estrangeiro. Essa perversidade, que não foi atacada como devia ter sido pelo governo do PT, não somente persiste hoje, como corre o risco de guiar o Estado se porventura o ventríloquo néscio de FHC tomar as rédeas do poder.

Não digo mais nada e nem me foi perguntado.


*Gilberto Felisberto Vasconcellos é jornalista, sociólogo e escritor.


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

“Quem aposta na via eleitoral para explicar Junho está completamente equivocado”


Lucas Legume, membro do Movimento Passe Livre (MPL), rebate as críticas que foram direcionadas às manifestações de junho de 2013 quando comparadas aos resultados das eleições: “Junho foi a prova de que a esquerda precisa voltar a fazer trabalho de base”

José Francisco Neto

Da Redação

Após o resultado do primeiro turno das eleições do dia 5 de outubro, diversas análises atribuíram a ascensão de parlamentares conservadores no Congresso Nacional às manifestações de junho do ano passado. As críticas foram voltadas, principalmente, a questão de que os protestos não foram eficientes, uma vez que o resultado das urnas foi um retrocesso.

Lucas Legume, membro do Movimento Passe Livre (MPL), movimento que iniciou as mobilizações em junho de 2013, rebate as críticas que foram direcionadas às mobilizações. De acordo com ele, quem estabelece uma correlação entre mobilização popular e votação tenta distorcer o sentido dos protestos que ocorreram.

“Quem aposta na via eleitoral para explicar a Junho está completamente equivocado. Se você espera que é a mobilização popular que vai alterar as eleições, você não entendeu nada sobre mobilização popular nem sobre eleições. A grande questão de junho é que foi uma via não institucional, que a gente apostou e que a gente continua apostando”, explica.

Legume reforça que a esquerda tinha que fazer uma autocrítica e rever sua ausência dos movimentos de base. “Então, se o projeto eleitoral não se realizou, isso não tem a ver com as mobilizações de junho. Junho foi a prova de que a esquerda precisa voltar a fazer trabalho de base, se organizar diretamente, para a partir daí poder crescer.”

O membro do MPL ainda ressaltou que o legado das Jornadas de Junho estimulou as pessoas a lutarem ainda mais e a se articularem de maneira autônoma. Legume também declarou que o posicionamento do movimento no segundo turno "será o mesmo."

“Não são das urnas que virão as transformações reais para a população, e sim da organização popular. As ruas não estavam pedindo um novo salvador, mas estavam se organizando para se criar outra coisa”, conclui.